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Estado de Minas LI��O DE VIDA

Aos 92 anos, moradora de BH se diverte e at� custeia a sa�de fazendo ter�os

Com mobilidade reduzida por doen�a pulmonar, dona Mariquita preenche o tempo livre com trabalho artesanal cheio de f� e sucesso de vendas em rede social


04/07/2023 04:00 - atualizado 04/07/2023 05:35
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Maria Simões, a dona Mariquita, de 92 anos
Maria Sim�es, a dona Mariquita, de 92 anos: "Fa�o o que consigo. Mas quando a gente come�a n�o consegue parar (...) � um trabalho bacana e que mexe muito com a gente" (foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press )

“N�o gosto de ficar parada. O trabalho diverte a gente”. O coment�rio � da dona de casa Maria Sim�es, conhecida como dona Mariquita, de 92 anos, m�e de 15 filhos, av� e bisav� de 33 netos e 18 bisnetos. A idosa � portadora de Doen�a Pulmonar Obstrutiva (DPO), uma enfermidade cr�nica que obstrui as vias a�reas e dificulta a respira��o. H� dois anos, precisa usar um respirador, 24 horas por dia, para conseguir respirar. Por causa da restri��o de mobilidade, j� que est� ligada ao aparelho, as filhas fizeram de tudo para ocupar o tempo da m�e. Depois de v�rias tentativas, dona Maria come�ou a fazer ter�os que s�o vendidos para ajudar na compra de mais material, medicamentos e fraldas geri�tricas.

“Gostei demais. � um trabalho bacana e que mexe muito com a gente”, afirma. Ela diz que fazer os ter�os � um tipo de divers�o, al�m de aumentar a f�. A idosa � muito religiosa. Agora n�o consegue mais ir � igreja com tanta frequ�ncia por causa do respirador. “Mas tenho f� e Deus est� ouvindo a gente. Temos um grupo de ora��o e, todo �ltimo s�bado do m�s, nos reunimos para rezar o ter�o.”

O ritual ocorre em uma capela anexa � casa onde mora h� 70 anos, no Bairro Olhos D’�gua, Regi�o Oeste de BH. Foi a pr�pria dona Maria que pediu aos filhos para o local ser constru�do. A ideia surgiu ap�s a fam�lia visitar um s�tio de uma amiga em Conselheiro Lafaiete, na Regi�o Central de Minas. A capela � repleta de imagens de santos, com destaque para a padroeira do Brasil no altar. Segundo os filhos, os santos s�o presentes que a idosa recebe. Antes de usar o respirador, a fam�lia costumava ir � cidade de Aparecida, no interior de S�o Paulo, anualmente.

Sempre muito ativa, dona Mariquita perdeu mobilidade quando come�ou a usar o respirador. Agora quase n�o sai de casa. “Mas sempre fui muito caseira, n�o podia sair. A meninada n�o deixava, largar s� n�o podia”, relembra. Um dos filhos da idosa, o gerente de produ��o Esio Dias, de 61 anos, conta que em 2020 ela teve uma crise de bronquite e precisou ser internada duas vezes. “A partir da�, ela teve uma regress�o muito grande no pulm�o, apesar de sempre ter o problema pulmonar.” O quadro se agravou. “Achamos que ir�amos perd�-la.” Depois que saiu do hospital, a idosa precisou usar o respirador por 24 horas. “Foi um trauma para ela. Antes era muito ativa, viajava para S�o Paulo, Aparecida, Caldas Novas.” E Mariquita completa: “� ruim, mas o que eu posso fazer? A gente tem que aceitar tudo, com f� em Deus.”.

O filho explica que a casa onde a idosa vive � toda adaptada para as necessidades dela. “A casa � toda preparada para ela, n�o tem degraus. Mas, de vez em quando, a levamos para a casa dos filhos que n�o tem escadas.” Por�m, segundo o filho, dona Maria n�o fica muito satisfeita com a situa��o. O gerente diz que agora a dificuldade de locomo��o da m�e aumentou por causa do respirador. “Mesmo saindo um pouquinho, a satura��o dela chega a n�veis cr�ticos. Ficamos com um pouco de medo de ela passar mal por problema no oxig�nio. De 2020 para c�, tivemos que nos readaptar.”

Esio teve a ideia de fazer uma escala para que os irm�os se revezem nos cuidados di�rios com a matriarca. “A escala tem 30 dias. Todos os dias, algu�m dorme com ela. Hoje, por exemplo, � o meu dia”, afirma. Ele diz que uma cuidadora poderia cuidar da idosa, mas, segundo ele, o carinho e a presen�a dos filhos � essencial. “Ela fica muito feliz e o dia que um dos filhos n�o vem, ela questiona a aus�ncia.”

Nos fins de semana, a casa tamb�m fica cheia de filhos, netos e noras. O filho conta que dona Maria ficou vi�va h� 25 anos. “Tamb�m pensamos que ir�amos perd�-la, mas vimos a resist�ncia que ela tem.” Esio destaca ainda a vontade da m�e de ajudar os mais necessitados. “Hoje vem menos pessoas, mas antigamente, todo morador de rua, pedinte que passasse aqui precisando de alimento, ela nunca negou um prato de comida.”

Terços produzidos pela idosa e que são vendidos por meio de rede social
Ter�os produzidos pela idosa e que s�o vendidos por meio de rede social

Ocupa��o

Os filhos ressaltam que a m�e recebe todos os cuidados e que os ter�os s�o, principalmente, para que ela ocupe o tempo. “Ela tem plano de sa�de e assist�ncia 24 horas. N�o falta absolutamente nada pra ela. N�o � carente”, afirma Esio. O valor arrecadado com a venda dos ter�os � usado, principalmente, para a compra de mais material. Mas, o que sobra ajuda nos custos com medicamentos e fraldas geri�tricas. “� mais para ocupar o tempo dela e para que se sinta �til. A gente tem, inclusive, que control�-la para n�o acordar cedo e come�ar a fazer os ter�os.”

Outra filha de Dona Maria, a cozinheira Lucin�sia Dias, de 65, mora na casa dos fundos e est� sempre atenta � rotina da m�e. Ela tamb�m fala da grande mudan�a depois que a idosa passou a usar o respirador. “Era muito ativa e quando ficou doente foi muito dif�cil adaptar. Agora que est� aceitando o respirador.” Apesar da limita��o de locomo��o, Lucin�sia diz que a m�e est� atenta a tudo. “Ela � esperta, vigia todo mundo.” Para tentar ocupar o tempo livre da idosa, ela diz que tentaram de tudo. “Tentamos v�rias atividades: ca�a-palavras, bordado, fuxico. Mas sempre come�ava e cansava. E se ela n�o ocupar a cabe�a, bate a tristeza.”

A ideia dos ter�os veio de uma amiga da fam�lia. “Minha irm� tem uma amiga que a m�e fazia os ter�os e indicou pra gente. Come�amos e ela gostou. Essa foi a melhor ideia.” Dona Maria diz que n�o escolhe as cores, apenas recebe as contas coloridas e come�a a produzir. “S�o elas (filhas) que escolhem. Eu fui m�e e hoje sou filha. Ela � minha m�e”, diz rindo e apontando para Lucin�sia.

A idosa tamb�m n�o estabelece uma meta de produ��o di�ria. “Fa�o o que consigo. Mas quando a gente come�a n�o consegue parar”, brinca. “Fiz fuxico durante muito tempo, mas agora est� meio ruim. A vista tamb�m n�o ajuda”, reclama. Uma outra filha de Dona Maria teve a ideia de fazer uma publica��o nas redes sociais para divulgar a hist�ria. Desde a postagem, as encomendas aumentaram. “Teve uma pessoa que j� encomendou 50 ter�os”, conta a cozinheira.

Gratid�o

Mesmo diante das limita��es, dona Maria diz que n�o tem do que reclamar. “S� tenho que agradecer a Deus e pedir prote��o para eles (filhos). Pe�o a Nossa Senhora para aben�o�-los e n�o deixar ningu�m cair em coisas erradas. Sou muito feliz, n�o tenho nada para reclamar. Mas para pedir, eu tamb�m pe�o”, brinca. E emenda: “Minha vida foi muito boa, gra�as a Deus.” Perguntada sobre o que espera para o futuro, dona Maria � categ�rica. “O que Deus determinar pra mim. Estou aqui com alegria. A vida � muito boa. Mas o que Deus determinar est� feito. N�o tenho nada para reclamar, s� a agradecer.”


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