
Quem passava pela movimentada Fetter Lane, na regi�o Oeste da capital inglesa, viu o grupo de quase 20 pessoas com faixas, cartazes e adere�os. Durante todo o tempo, eles cantaram can��es t�picas da cultura, tamb�m vaiaram os advogados das empresas que entravam no pr�dio e pediram por justi�a.
“Protestamos contra as mineradoras que mataram nosso rio sagrado, o Rio Doce. Ele que nos d� o sustento material e imaterial. Com o rompimento da barragem, muitos materiais pesados ca�ram no rio e nossa cultura foi afetada. Precisamos mostrar ao mundo como essas empresas agem no Brasil. Eles v�o l�, desmatam, poluem e fingem que isso n�o � nada. Tratam as pessoas como nada. � triste ver que eles n�o nos enxergam, s� o dinheiro e n�o se importam com vidas”, explicou Maycon Krenak, um dos representantes de sua etnia presente em Londres.
Audi�ncia
A audi�ncia come�ou �s 10h no hor�rio local. Os jornalistas que est�o presentes na cidade n�o foram autorizados a acompanhar as discuss�es iniciais.
A BHP entrou com um pedido para que a Vale seja inclu�da como r� no processo e, assim, tamb�m tenha que pagar a indeniza��o de US$ 44 bilh�es, caso sejam condenadas. As duas compartilham do quadro societ�rio da mineradora Samarco, respons�vel pelo rompimento da barragem em 2015.
A a��o n�o foi vista com bons olhos pelos advogados que defendem os atingidos pelo desastre. Tom Goodhead, do escrit�rio Pogust Goodhead, explicou que a manobra pode ser utilizada para adiar ainda mais o julgamento principal. “Tudo que fizeram at� agora foi adiar. � triste que as duas maiores mineradoras do mundo estejam aqui, em Londres, lutando uma contra a outra ao inv�s de pagar as v�timas do caso”.
Inicialmente, o julgamento estava marcado para abril de 2024. Por�m, a BHP pediu para que a justi�a adiasse em 15 meses para analisar documentos. Entretanto, a nova data para o julgamento � outubro do ano que vem. “A BHP havia pedido uma extens�o indeterminada do prazo. Esses seis meses que deram n�o era o que gostar�amos, mas vemos de forma positiva. S�o seis meses de atrasos, mais recursos que vamos gastar, mais processos at� o julgamento, de certa forma � revoltante”, explicou o advogado Felipe Hotta.
As discuss�es voltam a acontecer amanh� (13). Enquanto as empresas debatem as quest�es jur�dicas dentro da corte, o grupo de ind�genas vai realizar mais uma a��o, desta vez na porta da sede da BHP, tamb�m na capital inglesa. � tarde, eles v�o entregar uma carta endere�ada ao Primeiro-Ministro brit�nico Rishi Sunak e representantes do parlamento.
A expectativa � de que o resultado da audi�ncia dessa semana saia em at� dois meses.
Em nota, a BHP Biliton disse que a a��o ajuizada contra a Vale foi uma medida necess�ria, j� que a empresa brasileira n�o constava como r� na a��o movida no Reino Unido. “Caso a defesa da BHP n�o seja acolhida e haja uma ordem de pagamento no processo ingl�s, a Vale dever� contribuir com no m�nimo 50% de qualquer valor a ser pago”, diz o comunicado.
O desastre
A barragem em Mariana se rompeu em 5 de novembro de 2015. Dezenove pessoas morreram e mais de 500 mil foram atingidas pelos 40 milh�es de metros c�bicos despejados na Bacia do Vale do Rio Doce. O mar de lama passou pelo estado do Esp�rito Santo e chegou at� o Oceano Atl�ntico. Dos 56,6 milh�es de m³ da barragem, 43,7 milh�es vazaram.
O que dizem as empresas
Em nota, a Vale informou que "se trata de quest�o discutida judicialmente e todos os esclarecimentos v�m sendo oportunamente apresentados no processo".
A BHP Billiton sustenta que "se a defesa n�o for acolhida e houver qualquer ordem de pagamento no processo ingl�s, a Vale deve contribuir com qualquer responsabilidade no processo do Reino Unido, uma vez que det�m 50% das a��es da Samarco". E prossegue, em nota: "a BHP contestou anteriormente a jurisdi��o dos tribunais ingleses sobre as reivindica��es do Reino Unido (dado o processo em andamento no Brasil e o papel ativo dos tribunais brasileiros no processo de repara��o), mas os tribunais ingleses j� tomaram sua decis�o final e as reivindica��es contra a BHP est�o em processo no Reino Unido. Sendo assim, a posi��o da BHP � que a Vale tamb�m deve participar do processo no Reino Unido e compartilhar qualquer responsabilidade potencial por quaisquer valores a pagar. O caso est� em seus est�gios iniciais, com muitos anos pela frente antes que qualquer decis�o sobre indeniza��o e pagamento seja tomada."
* A reportagem do Estado de Minas viajou a convite do escrit�rio Pogust Goodhead.