(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PAI DA AVIA��O

Santos Dumont, 150 anos: como nasce um g�nio (e como ele vira her�i)

Trajet�ria do "conquistador do ar" come�a com legado do pai, passa pela dedica��o aos estudos, transita por v�rias inven��es e decola com o 14-Bis, na Fran�a


13/08/2023 04:00 - atualizado 13/08/2023 07:40
432

França. Alberto Santos Dumont em seu Demoiselle
Alberto Santos Dumont com seu "Demoiselle" na Fran�a, onde o mineiro nascido na Zona da Mata se tornaria conhecido pela imprensa como o "conquistador do ar" (foto: Monde Et Camera/O Cruzeiro/Arquivo EM - 1909 )


Uma foto de Alberto Santos Dumont no Egito, passeando entre as pir�mides com o amigo Pedro Lima Guimar�es, mostra que o mineiro era realmente um cidad�o do mundo. E que o c�u, onde estivesse, era seu limite. Para conhecer melhor seus sonhos e projetos, vale come�ar pela fam�lia. Filho de Henrique Dumont e de Francisca Paula Santos, era o sexto entre os irm�os: antes dele, vieram ao mundo Henrique, em Ouro Preto, e depois Maria Rosalina. Virg�nia, Lu�s e Gabriela, nasceram na Fazenda da Jaguara, em Matozinhos. Depois dele, chegaram Sofia e Francisquinha, em Valen�a (RJ). O pai, natural de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, era engenheiro formado pela Escola Central de Artes e Manufaturas de Paris, na Fran�a.

Em 1873, a fam�lia foi morar na Fazenda Cabangu, hoje museu e parque, onde nasceu em 20 de julho daquele ano o menino Alberto Santos Dumont. Mais tarde, com as obras da estrada de ferro conclu�das, os Dumont rumaram Valen�a (RJ), onde nasceram mais dois filhos, e depois para Ribeir�o Preto (SP), dedicando-se � planta��o de caf�. 

Conforme material divulgado pela Prefeitura de Santos Dumont, Alberto, desde crian�a, dedicou-se, com seriedade aos estudos e � leitura. Aos 7 anos, foi para Campinas (SP) estudar no Col�gio Culto � Ci�ncia, e depois no Instituto dos Irm�os Kopke e no Col�gio Morethzon, no Rio de Janeiro.

Tornou-se estudante e pesquisador not�vel, explorando a biblioteca de seu pai. Em 1891, viajou com a fam�lia para a Fran�a, �poca em que despertou ainda mais seu interesse pela mec�nica, sobretudo os motores de combust�o interna.
Emancipado pelo pai, Alberto se aprofundou nos estudos de mec�nica e f�sica, come�ando suas experi�ncias com extrema disciplina e persist�ncia. Ao longo da carreira, desenvolveu in�meros bal�es dirig�veis, at� alcan�ar o apogeu com a aeronave mais pesada que o ar, o 14-Bis.

Processo de desmontagem para restauro da réplica do 14-Bis. O monumento fica em Santos Dumont, na Zona da Mata de Minas Gerais. A equipe de restauro é do Senai/juiz de fora
Processo de desmontagem para restauro da r�plica do 14-Bis (foto: Senai/divulga��o)


DECOLAGEM 

Em 23 dias de outubro de 1906, no Campo de Bagatelle, em Paris, diante da presen�a de outros inventores, p�blico e imprensa, o mineiro decolou com seus pr�prios meios, sem catapulta, e percorreu 60 metros voando a uma altura de dois metros do solo. Ap�s esse feito, Santos Dumont construiu, em 1908, o “Demoiselle”, que serviu de modelo a projetos futuros e fabrica��o em escala.

O “conquistador dos ares” � conhecido como “Pai da Avia��o”, mas foi respons�vel por muitos outros inventos. Apresentou ao mundo o primeiro hangar e port�es de correr, motores a gasolina leves e potentes, o rel�gio de pulso – pedido pessoal ao seu famoso amigo relojoeiro, Louis Cartier –, bal�es e um sem n�mero de outros produtos. Para orgulho dos brasileiros, Alberto Santos Dumont tem o t�tulo de Patrono da Avia��o Brasileira, com a honraria de Marechal do Ar e est� inscrito no Livro de A�o do Pante�o de Her�is da P�tria, em Bras�lia (DF).

A restaura��o do ‘filho’ mais ilustre


Desmontagem para restauro da réplica do 14-Bis pela equipe de restauro do Senai/Juiz de Fora
Desmontagem da r�plica do 14-Bis na entrada da cidade de Santos Dumont por equipe do Senai/Juiz de Fora, para onde o modelo foi levado para restaura��o (foto: Senai/divulga��o )


Na entrada da cidade de Santos Dumont, na rodovia BR-040, foi concebida uma homenagem de peso, e com a devida leveza criativa, ao “Pai da Avia��o”. Trata-se de uma r�plica do c�lebre 14-Bis, o modelo inventado e pilotado por Santos Dumont, chamado pela imprensa francesa, em 1906, de “Conquistador do ar”.

H� dois meses, o monumento, em espa�o tombado pelo munic�pio, saiu de cena para minucioso trabalho de restaura��o, j� conclu�do, devendo voltar t�o logo a Pra�a Bagatelle esteja revitalizada. A data ainda n�o foi marcada pela prefeitura. � frente da equipe de restaura��o est� Vander Jos� Montesse do Amaral, diretor das Unidades do Senai em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e profundo conhecedor da obra. “Penso que Santos Dumont ficaria orgulhoso do nosso trabalho; pelo menos, n�s nos esfor�amos para isso.”

Com 8 metros de comprimento e 10 de envergadura, 75% do tamanho original, e pesando 1,2 mil quilos, a r�plica com estrutura de chapas e tubos galvanizados se encontra na unidade do Senai Luiz Adelar Scheuer, em Juiz de Fora. Vander explica que, ap�s a desmontagem, foram identificados problemas como pontos de corros�o, necessidade de substitui��o dos cabos de a�o e de soldagem, e outros resultantes da a��o do tempo e vandalismo. “Esse � um aspecto que merece aten��o, pois at� mesmo pedras j� foram atiradas contra o monumento, que fica entre a rodovia e a linha f�rrea”, afirma.

O servi�o custeado pela Prefeitura de Santos Dumont (por licita��o, no valor de R$ 75 mil) para as comemora��es, at� dezembro, dos 150 anos de nascimento do “Pai da Avia��o”, tem um cap�tulo especial relacionado � vida de Vander. Em 1999, ele participou da idealiza��o e da confec��o do monumento, e depois, em 2003, da primeira restaura��o.

“Na �poca, isso foi feito pelo Centro de Forma��o Profissional de Santos Dumont, escola da qual fui aluno, professor e diretor. Vinte anos depois, estar com a equipe do Senai, desta vez com a responsabilidade de conduzir a restaura��o, � muito gratificante”, diz Vander.

O Senai iniciou o trabalho com a desmontagem do modelo, que foi i�ado e levado para unidade em Juiz de Fora. “Aqui, dispomos de todos os recursos, conforme o que a legisla��o determina em respeito �s leis ambientais”, conta o diretor.

Da gl�ria mundial ao desespero e morte

 O garçom Seu Olympio, funcionário mais antigo do bar Cantina do Lucas, no edifício Maletta, teria testemunhado as últimas palavras de Santos Dumont quando era ascensorista em hotel no Guarujá onde o pai da aviação morreu
Seu Olympio relatou ter testemunhado os �ltimos momentos do inventor (foto: EVANDRO SANTIAGO/EM/D.A PRESS 1983)

O Edif�cio Maletta, no Centro de Belo Horizonte, sempre foi um endere�o com marca cultural e gastron�mica. Nessa trajet�ria, o restaurante Cantina do Lucas tornou-se refer�ncia, tanto pelo ambiente quanto pela presen�a do gar�om mais ilustre da cidade, Olympio Peres Munh�z, o “Seu Olympio”.

Educado e impec�vel no servi�o em mais de 40 anos na Cantina do Lucas, Seu Olympio morreu aos 84 anos, em 2003. Mas o que esse filho de espanh�is, natural de Santos (SP), tem a ver com a hist�ria do “Pai da Avia��o”? Esse elo � revelado no livro “Asas da loucura – A extraordin�ria vida de Santos Dumont” (Editora Record), em nova edi��o, do pesquisador norte-americano Paul Hoffman, que se interessou pelo personagem quando era diretor da Enciclop�dia Brit�nica.

Hoffman escreveu: “Em Belo Horizonte, uma cidade cerca de 320 quil�metros a Oeste do Rio, conheci um gar�om de 82 anos, na Cantina do Lucas, um estabelecimento noturno de vinhos e massas. Quando tinha 14 anos de idade, Olympio Peres Munh�z era o ascensorista do hotel no Guaruj� onde Santos Dumont passou os �ltimos dias. Munh�z, a �ltima pessoa a v�-lo com vida, revelou as circunst�ncias perturbadoras em que ele deixou o mundo”.

O escritor conta que “a fam�lia de Santos Dumont conspirou, junto com amigos e militares brasileiros, para suprimir quaisquer aspectos de sua vida e de sua morte que pudessem depreciar seu status de her�i. Hoje, entretanto, seus parentes buscam a verdade e me ajudaram enormemente na minha pesquisa”.

SANGUE 

As �ltimas “palavras angustiadas” de Santos Dumont, ao sair do elevador em dire��o � sua su�te, conforme Hoffman narra, ficaram na mem�ria de seu Olympio: “Eu nunca pensei que minha inven��o fosse causar derramamento de sangue entre irm�os. O que eu fiz?”

O aeronauta se referia � Revolu��o Constitucionalista (1932), “opondo rebeldes pr�-democr�ticos do estado de S�o Paulo � crescente ditadura de Get�lio Vargas”. Alberto, que estava antes em uma casa de repouso em Biarritz, na Fran�a, veio para o Brasil, ficou uns dias na capital paulista e foi, seguindo recomenda��o m�dica, para o balne�rio de Guaruj�, com o sobrinho Jorge.
“Jorge levantava-se cedo todas as manh�s e escondia o jornal matutino para evitar que o tio soubesse que as tropas federais estavam bombardeando os paulistas. No entanto, n�o era poss�vel mant�-lo afastado das not�cias por muito tempo. Em 23 de julho de 1932, quando estava no sagu�o do hotel, ouviu um avi�o bombardear um alvo pr�ximo.”

De volta ao quarto, o aeronauta revolveu o arm�rio at� encontrar duas gravatas. “Atou-as em volta do pesco�o, pegou uma cadeira e foi para o banheiro. Seu sobrinho, que temia deix�-lo sozinho, retornou tarde demais. Santos Dumont, com idade de 59 anos, estava pendurado pela extremidade das gravatas presas a um gancho”, narra Hoffman.

A pol�cia , continua o escritor, “isolou o quarto do hotel e, agindo sob ordens superiores, talvez de Vargas, declarou que ele tinha morrido de parada card�aca. O m�dico legista forjou o atestado de �bito. Quando a not�cia de sua morte chegou aos seus compatriotas, eles decidiram dar uma tr�gua de tr�s dias na guerra civil”.

O livro apresenta momentos marcantes, como o encontro de Santos Dumont com a exilada Princesa Isabel (1846-1921) e o joalheiro Louis Cartier (1875-1942), a visita a Thomas Edison (1847-1931), inventor da l�mpada incandescente, a aquisi��o do primeiro autom�vel a circular na Am�rica do Sul e as visitas aos Estados Unidos e � Inglaterra, al�m das pol�micas sobre a paternidade do avi�o.

O mapa de Minas na rota de voo dos Dumont


1832 – Nasce em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, Henrique Dumont, descendente de franceses.

1856 – Henrique Dumont se casa com Francisca Paula Santos, em Ouro Preto, onde nasce o primeiro filho, Henrique (1857).

1866 – J� residindo na Fazenda da Jaguara, em Matozinhos (ent�o pertencente a Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de BH), o casal teve mais tr�s filhos: Virg�nia, Lu�s e Gabriela

1871 – Inaugura��o da ponte sobre o Rio das Velhas, em Sabar� (RMBH), projetada por Henrique Dumont.

1872 – Henrique Dumont assume a empreitada da constru��o do trecho ferrovi�rio na Serra da Mantiqueira, e passa a residir em Cabangu, na Zona da Mata.

 Santos Dumont - MG. Casa de Santos Dumont sede da fazenda Cabangu, local onde nasceu o pai da aviação, Alberto Santos Dumont
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press 14/6/2016)


• 1873 – Em 20 de julho, nasce na Fazenda Cabangu Alberto Santos Dumont.

1903 – Aos 30 anos e residindo na Fran�a, Alberto Santos Dumont � recebido com “apote�ticas manifesta��es”, em Belo Horizonte. Naquele ano, havia constru�do a aeronave “Baladeuse”, que tinha a apar�ncia de um bal�o robusto.

1923 – J� com reconhecimento internacional, Santos Dumont volta a BH em 1º de dezembro.

1932 – No ano da morte do “Pai da Avia��o”, a terra natal do aeronauta ganha o nome de Santos Dumont.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)