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Estado de Minas VIDA DE PROFESSOR

Dia do professor: educadores no limite

Ansiedade, depress�o, dores. Docentes enfrentam adoecimento f�sico e mental, aponta estudo


15/10/2023 04:00 - atualizado 15/10/2023 07:16
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Professor em sala: desequilíbrio entre o esforço e recompensa marca a atividade
Professor em sala: desequil�brio entre o esfor�o e recompensa marca a atividade (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press- 31/8/18)
 
Neste domingo � comemorado o Dia do Professor. A data tem o objetivo de homenagear profissionais da atividade conhecida por especialistas por como uma das mais estressantes. Para al�m de um dia de descanso e honras, a celebra��o tamb�m demanda maior valoriza��o do trabalho que, a cada dia, tem sido respons�vel por causar o adoecimento f�sico e mental de docentes. � isso que mostra uma pesquisa publicada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre os principais fatores para o agravamento da situa��o est�o a falta de reconhecimento, sal�rios baixos, altas demandas, intimida��o e ass�dios.

No rol do adoecimento, o estudo lista transtornos mentais comuns, como ansiedade, depress�o e sofrimento emocional; dores musculoesquel�ticas na regi�o lombar, ombros, bra�os e pernas; e S�ndrome de Burnout, tamb�m conhecida como S�ndrome do Esgotamento Profissional, que provoca sintomas mentais e f�sicos.
A pesquisa identificou que as doen�as est�o associadas principalmente ao baixo apoio social, carga elevada de trabalho, altas demandas, baixo controle no trabalho, clima organizacional, ambiguidade de pap�is, condi��es estressantes, desequil�brio entre esfor�os e recompensa, baixo apoio da fam�lia, demandas relacionais – professor, pais, alunos –, intimida��o e a seguran�a no trabalho.

“Os professores est�o expostos a quest�es de ru�dos e de doen�as vocais. E a outros fatores como o sal�rio baixo, a falta de apoio social, de seguran�a e de valoriza��o do trabalho. Se o professor trabalha em uma �rea vulner�vel, ele pode estar mais suscet�vel a quest�es de viol�ncia, por exemplo”, pontua Nayara Ribeiro Gomes, pesquisadora respons�vel pelo levantamento e doutoranda do Programa de P�s-Gradua��o em Ci�ncias Fonoaudiol�gicas da UFMG.
Apesar de o estudo ter sido feito entre 2022 e 2023, os dados apontados se assemelham, e muito, com outro levantamento, publicado pela primeira vez em 1999, nota o professor e pesquisador em Educa��o Carlos Roberto Jamil Cury, indicando que o adoecimento de professores n�o � uma pauta nova. De acordo com o especialista, as condi��es de trabalho s�o o principal desencadeador do adoecimento de profissionais da �rea.

“A pesquisa da UFMG, de certo modo, confirma os elementos que comp�em esse combinado de fatores pelo qual os professores chegam ao adoecimento. O primeiro deles s�o as condi��es de trabalho. Elas variam muito de cidade para cidade, principalmente se pensarmos em munic�pios maiores, como Belo Horizonte, e os compararmos com menores, como Soledade de Minas. E tem tamb�m uma variabilidade com rela��o �s etapas da educa��o b�sica”, afirma Cury. Ele cita ainda o desequil�brio entre esfor�o e recompensa – ou seja, trabalho e sal�rio – como causa de afastamentos. “Muitos professores trabalham em mais de uma escola para recompor a renda familiar. E isso leva ao adoecimento”, explica.

AFASTAMENTOS

Cristina Ribeiro tem 50 anos, dos quais 21 dedicados a lecionar na educa��o infantil –  18 na educa��o p�blica de Belo Horizonte. H� sete anos, ela foi afastada de sala de aula depois de ter sido diagnosticada com bursite e tendinite,  quadros musculoesquel�ticos dolorosos. A professora conta que o diagn�stico veio quando ela dava aula para crian�as de at� 3 anos e era respons�vel tamb�m por cuidados b�sicos, como banhos e troca de fraldas. Cada sala tinha 16 alunos. E todos os esfor�os necess�rios foram intensificando a condi��o m�dica.

Dar aula sempre foi o sonho de Cristina e ter que se afastar foi, al�m de tudo, “frustrante”. As doen�as tamb�m afetaram sua vida particular, j� que, na �poca, a professora tinha em casa tr�s crian�as para cuidar, sendo uma de 2 anos. “Depois do diagn�stico, eu passei pelas per�cias m�dicas e quando fui afastada de sala de aula tive que parar de lecionar para crian�as de at� 3 anos. Ao mesmo tempo, eu tinha tr�s filhos em casa,  de 6, de 4 e de 2 anos, e tive que parar de dar colo e cuidar como antes. N�o podia pegar peso acima de 3kg, e atividades comuns do dia a dia, como lavar vasilha, estender uma roupa, e cuidar dos meus filhos se tornaram pesarosas. Sentia muita dor”, conta.

Afastada, Cristina perdeu tamb�m oportunidades. Entre elas,  a possibilidade de ser cotada para uma vaga de coordena��o, mesmo tendo as qualifica��es necess�rias. “H� casos de professores que escolhem n�o passar por per�cia ou n�o procurar um diagn�stico, por medo desse afastamento. Por n�o quererem perder esses benef�cios e por terem medo de sofrer rejei��o pelo grupo. Muitos tentam mascarar a doen�a, para n�o cair na readapta��o funcional. E nesse caso, v�o procurar atestados, que melhoram no momento, mas o que tem causado as dores, por exemplo, continua”, observa.

TRANSTORNOS

A mais recente pesquisa sobre adoecimento de professores publicada pela UFMG aponta que mais da metade dos profissionais inquiridos t�m quadros de transtornos mentais comuns. De 59,9% dos entrevistados, 53,3% foram diagnosticados com ansiedade, depress�o ou sofrimento emocional; e 6,6% com S�ndrome de Burnout.

De licen�a em decorr�ncia de um quadro de depress�o e fortes crises de ansiedade, uma professora de geografia que leciona para turmas do ensino fundamental e m�dio e n�o quis se identificar acredita que seu adoecimento foi agravado pela profiss�o.

“Inicialmente o afastamento me ajudou, pois a depress�o me fazia ficar na cama o tempo todo. Agora ela est� tratada. Voltei a me sentir uma pessoa �til. No entanto, tenho muita ansiedade, sobretudo em lugares cheios e fechados. Tinha taquicardia de pensar em ter que entrar numa sala de aula. Hoje sinto falta, quero voltar, mas ainda com medo. As salas est�o muito cheias”, relata.

Fl�vio Luiz Gomes � psic�logo e tem percebido aumento de estresse entre alunos e professores no per�odo p�s-pandemia da COVID-19, quadros que t�m sido agravado pelo temor de ataques �s comunidades acad�micas. “A viol�ncia nas escolas tem aumentado o temor tanto de alunos quanto dos professores, que muitas vezes s�o continuamente agredidos, principalmente os que trabalham em �reas de periferia. H�  situa��es de adoecimento geradas pelo contexto do trabalho, seja de gest�o, da realidade das escolas ou do p�blico delas”, explica.

 Entre as principais reivindica��es de sindicatos representantes da categoria em Minas Gerais est� o pagamento do piso salarial.  “O desafio � continuar existindo como profiss�o, como profissionais que investem na sua carreira, que estudam, que se formam. Da forma como o estado pensa a educa��o, n�o � poss�vel ter sonhos, s�o s� desafios e obst�culos. A cada dia menos jovens querem ingressar nos cursos de licenciatura. N�o existe mais um sonho de ser professor, de atuar na educa��o. Isso � muito grave”, desabafa Denise Romano, coordenadora-geral do Sindicato �nico dos Trabalhadores em Educa��o em Minas Gerais. 


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