
Para o governo racista da �frica do Sul nos tempos do apartheid, Nelson Rolihlahla Mandela n�o passava de um terrorista. Para quase todo o restante do mundo, por�m, sua luta pela liberdade o elevou ao status de her�i.
Nascido em Transkei, na prov�ncia do Cabo Oriental, em 18 de julho de 1918, Mandela ainda era um jovem estudante de Direito quando envolveu-se com a oposi��o ao apartheid. De ativista, sabotador e guerrilheiro, Mandela converteu-se em Pr�mio Nobel da Paz e em um dos maiores estadistas do crep�sculo do s�culo 20.
Primeiro, ele foi condenado a cinco anos de reclus�o por viajar ilegalmente ao exterior. Meses depois, por�m, Mandela acabou condenado � pris�o perp�tua pelo regime sul-africano por envolvimento em atos de sabotagem. A senten�a m�xima prevista para as acusa��es era a de morte por enforcamento.
Entretanto, a pena de pris�o perp�tua n�o seria cumprida na �ntegra. A partir da d�cada de 1980, a press�o internacional sobre o regime racista sul-africano se intensificou. O pa�s tornou-se alvo de san��es econ�micas a partir de 1986.
Eleito presidente da �frica do Sul em 1989, Frederik Willem de Klerk suspendeu a proscri��o do Congresso Nacional Africano (CNA) e de outros grupos de oposi��o e anistiou os opositores do regime. Nelson Mandela, membro do CNA, foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, ap�s 27 anos de cadeia - entre 1964 e 1982, foi mantido na famosa pris�o de Robben Island, perto da Cidade do Cabo.
Por seu papel de resist�ncia na brutal repress�o do sistema do apartheid, que segregava negros e brancos, Mandela recebeu o Nobel da Paz em 1993. A biografia dispon�vel no site do Nobel lembra que Mandela defendeu a luta armada nos anos 1960, por�m na pris�o tornou-se o mais significativo l�der negro sul-africano e "um potente s�mbolo da resist�ncia, quando o movimento antiapartheid ganhava for�a".
Em 1994, Madiba, o nome de cl� de Mandela que os sul-africanos usam para cit�-lo afetuosamente, foi eleito presidente da �frica do Sul, tornando-se chefe de um governo de unidade nacional tamb�m representado por grupos minorit�rios, inclusive o Partido Nacional do ex-presidente De Klerk.
No novo governo, o arcebispo Desmond Tutu, que j� ganhara o Nobel da Paz em 1984, foi indicado para chefiar uma Comiss�o de Verdade e Reconcilia��o, hist�rica tentativa de lidar com as feridas deixadas na sociedade pelo apartheid, quando os negros eram separados, n�o podendo, por exemplo, sentar ao lado de um branco no �nibus ou nos mesmos bancos escolares que eles. Al�m de expor a verdade sobre o per�odo, a comiss�o anistiou os respons�veis pela viol�ncia durante o apartheid, com as lideran�as preferindo buscar um pa�s mais unido, evitando aprofundar as polariza��es do passado.
Comentando o trabalho da comiss�o, Mandela pediu ao povo que “celebre e reforce o que fizemos como na��o em um momento no qual deixamos para sempre para tr�s nosso terr�vel passado”. Mesmo ap�s deixar o poder, Mandela manteve-se como uma voz poderosa no cen�rio internacional, sobretudo em quest�es relativas aos direitos humanos, e nos �ltimos anos era apontado como um s�mbolo da busca pela paz.
Sa�de fr�gil
Mandela teve v�rios problemas de sa�de durante a vida e contraiu tuberculose durante seu longo per�odo na pris�o. Seus problemas de sa�de fizeram com que ele decidisse se aposentar ap�s cumprir o mandato presidencial de cinco anos. Apesar disso, ele se manteve como importante ator da pol�tica internacional at� 2004, quando decidiu se retirar da vida p�blica.
Em 1985, ele passou por uma cirurgia por causa do aumento do volume da pr�stata e em 2001 foi diagnosticado um c�ncer no mesmo �rg�o, mas ele superou a doen�a ap�s sete semanas de radioterapia.
Os problemas respirat�rios intensificaram-se nos �ltimos anos. Mandela foi internado em janeiro de 2011 em um hospital de Johanesburgo. Autoridades disseram inicialmente que ele passaria por exames de rotina, mas foi revelado depois que ele sofria de uma s�ria infec��o respirat�ria. O caos provocado pelos jornalistas e curiosos que entravam nas alas o hospital p�blico onde ele estava internado fez com que o Ex�rcito sul-africano assumisse a responsabilidade pelos cuidados m�dicos do ex-presidente e o governo se tornasse respons�vel pelo controle das informa��es a respeito de sua sa�de.
Em fevereiro de 2012, Mandela passou a noite em um hospital para diagnosticar as causas de persistentes dores abdominais. Em 8 de dezembro do mesmo ano, o presidente sul-africano Jacob Zuma informou que Mandela havia dado entrada num hospital militar de Pret�ria, a capital executiva do pa�s, para exames de rotina, mas dias mais tarde foi revelado que ele estava com infec��o pulmonar.
Em dezembro do mesmo ano, outra infec��o pulmonar levou Mandela ao hospital, onde passou tr�s semanas internado. O ex-presidente teve alta em 28 de dezembro e foi liberado pelos m�dicos para terminar o tratamento em casa. Logo ap�s, o presidente Jacob Zuma chegou a pedir aos sul-africanos que rezassem por Mandela. Dias depois, o gabinete da presid�ncia africana divulgou comunicado informando que o Nobel da Paz havia passado por uma cirurgia para remover c�lculos biliares, e que havia se recuperado do procedimento cir�rgico e tamb�m da infec��o pulmonar. Foi a interna��o mais longa de Mandela desde que foi libertado da pris�o, em 1990.
Em abril de 2013, Mandela recebeu alta do hospital ap�s uma interna��o de dez dias, a terceira em cinco meses, devido � recorrente infec��o pulmonar. No entanto, um v�deo divulgado por uma rede de televis�o da �frica do Sul mostrou o ex-presidente em uma poltrona, com sua cabe�a sobre um travesseiro e suas pernas estendidas e cobertas por um len�ol, com aspecto cinza e s�rio. Suas bochechas mostravam marcas do que parecia ser uma m�scara de oxig�nio removida recentemente.
Mandela voltou a apresentar problemas respirat�rios e em 8 de junho voltou a um hospital de Pret�ria para tratamento de uma infec��o pulmonar recorrente. Desde ent�o, o estado de sa�de do ex-presidente sul-africano e pr�mio Nobel da Paz se tornou cada vez mais cr�tico.
A �ltima apari��o p�blica de Nelson Mandela foi na final da Copa do Mundo de Futebol, em junho de 2010.
Na noite de hoje, em pronunciamento � na��o, o atual presidente da �frica do Sul, Jacob Zuma, anunciou o falecimento de Mandela, aos 95 anos.