A expectativa de que o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, enfrentaria uma grande press�o ao prestar depoimento no Senado americano nesta ter�a-feira n�o se realizou. Apesar da grande como��o em torno da apari��o do executivo em Washington -- que levou a protestos em defesa da privacidade do lado de fora do Capit�lio e filas para acompanhar a audi�ncia do lado de dentro -- o executivo est� respondendo rapidamente a perguntas pouco aprofundadas sobre a responsabilidade da rede social em proteger os dados pessoais de seus mais de 2,13 bilh�es de usu�rios. A audi�ncia continua em andamento.
No in�cio da audi�ncia, que j� dura mais de tr�s horas, os senadores tentavam mostrar que colocariam Zuckerberg contra a parede. "A hist�ria da empresa que voc� criou representa o sonho americano, mas voc� tem a responsabilidade de n�o transformar a vida dos usu�rios em um pesadelo de privacidade", afirmou o senador republicano John Thune, presidente do Comit� de Com�rcio, Ci�ncia e Transportes do Senado americano. O depoimento est� sendo realizado em conjunto com o Comit� do Judici�rio do Senado -- o executivo vai enfrentar, ainda, uma nova audi�ncia nesta quarta-feira, 11, com o Comit� de Energia e Com�rcio da C�mara dos Deputados.
Zuckerberg iniciou a audi�ncia com express�o angustiada e, de forma quase mec�nica, repetiu o mesmo discurso feito em conversa com jornalistas na semana passada, no qual assumiu os erros da rede social ao n�o antecipar como ela poderia ser usada para o mal. Ele tamb�m aproveitou a oportunidade para afastar os rumores de que ele poderia ser retirado do cargo, em virtude do esc�ndalo do uso il�cito de dados pela Cambridge Analytica.
"Enquanto eu administrar o Facebook, os usu�rios ter�o prioridade em rela��o aos desenvolvedores e anunciantes", disse o executivo, que refor�ou as formas positivas como a rede social � utilizada. "Quando olharmos para tr�s daqui a alguns anos, vamos ver que dar voz �s pessoas teve um impacto positivo no mundo."
Mas logo que as perguntas come�aram, Zuckerberg pareceu mais tranquilo, em alguns momentos, at� sorriu, sinalizando que estava mais confort�vel. A primeira vez em que isso aconteceu foi quando o senador republicano Orrin Hatch fez uma das perguntas mais b�sicas da oitiva, na qual questionou o executivo sobre como o Facebook ganhava dinheiro, j� que n�o cobra nada de seus usu�rios. "N�s exibimos an�ncios, senador", respondeu Zuckerberg, enquanto era poss�vel ouvir risadas ao fundo na sala.
A falta de profundidade dos senadores sobre como o Facebook funciona, sobre as tecnologias usadas pela rede social para conter abusos, como intelig�ncia artificial, t�m ficado evidentes em v�rios momentos e foram um dos fatores que contribu�ram para que a audi�ncia perdesse for�a. Em diversos questionamentos, os senadores prosseguem com cautela ao formular as perguntas e, com tempo limitado a quatro minutos para falar com Zuckerberg, muitos deles terminam ouvindo explica��es sobre como o funcionamento da plataforma.
Isso aconteceu, por exemplo, quando o republicano Ted Cruz sugeriu que o Facebook criasse uma ferramenta para que os usu�rios pudessem baixar todos os dados pessoais compartilhados na rede social. "J� fizemos isso", afirmou Zuckerberg, lembrando que o recurso est� em funcionamento na rede social desde 2010 -- nas �ltimas semanas, a rede social melhorou o acesso aos seus controles de privacidade e, agora, � poss�vel baixar as informa��es classificadas por categoria.
At� agora, foram raros os momentos em que Zuckerberg ficou perto de ser encurralado. Isso aconteceu nas falas dos democratas Dick Durbin, Richard Blumenthal e Brian Schatz. O primeiro questionou Zuckerberg se ele revelaria o hotel em que estava dormindo em Washington, ao que Zuckerberg afirmou que n�o compartilharia essa informa��o publicamente; o segundo trouxe cartazes com termos de uso e frases antigas do executivo sobre erros, refor�ando que Zuckerberg j� pediu desculpas por erros anteriores; j� o terceiro questionou por que o Facebook diz que seus usu�rios s�o donos de seus dados, se � a empresa quem fatura com eles.
Doa��es
Outro fator que gerou pol�mica em rela��o � audi�ncia foi o fato de que v�rios senadores questionaram Zuckerberg sobre o esc�ndalo de privacidade est�o entre os maiores benefici�rios de doa��es feitas por funcion�rios do Facebook. Os membros do Comit� de Com�rcio, Ci�ncia e Transportes, que interrogou Zuckerberg nesta ter�a-feira, recebeu US$ 369 mil em doa��es ligadas aos Facebook, segundo dados do Center for Responsive Politics, obtidos pelo jornal americano USA Today.
J� o Comit� de Energia e Com�rcio do Senado dos EUA, que vai questionar Zuckerberg nesta quarta-feira, 11, � o que mais recebeu dinheiro de funcion�rios da empresa. Segundo o Center for Responsive Politics, este comit� recebeu perto de US$ 381 mil em contribui��es ligadas ao Facebook desde 2007.
Rea��o
O desempenho de Zuckerberg animou os investidores. As a��es do Facebook ficaram em alta ao longo de toda a tarde e fecharam o preg�o negociadas a US$ 165,04, em alta de 4,5%. O desempenho positivo das a��es continuou mesmo nas negocia��es ap�s o fechamento do mercado. A empresa encerrou o dia avaliada em US$ 479,4 bilh�es - US$ 58 bilh�es abaixo do que valia na �poca da publica��o das reportagens que revelaram o esc�ndalo da Cambridge Analytica.
(Claudia Tozetto e Bruno Capelas)