
Durante meses, o presidente russo, Vladimir Putin, vinha negando que planejava atacar a Ucr�nia. No dia 24/02, no entanto, for�as militares russas iniciaram uma ampla invas�o do pa�s.
A a��o de Putin aconteceu dias depois de ele ter ignorado um acordo de paz e ordenado que tropas fossem para duas regi�es do leste controladas por rebeldes — em suas palavras, para "manter a paz".
A seguir, veja 7 perguntas para entender a crise:
1. Como a R�ssia est� invadindo a Ucr�nia?
No dia 24/02, as for�as militares russas iniciaram a invas�o da Ucr�nia. Suas tropas cruzaram diversos pontos da fronteira e explos�es foram registradas perto das principais cidades ao redor do pa�s — e n�o apenas na regi�o de Donbas, onde grupos separatistas foram reconhecidos e apoiados recentemente pela R�ssia.
O presidente da Ucr�nia, Volodymyr Zelensky, informou que pelo menos 137 cidad�os ucranianos — entre soldados e civis — foram mortos no primeiro dia do ataque militar russo. Mais de 300 pessoas ficaram feridas.
H� relatos de ataques � infraestrutura militar ucraniana em todo o pa�s e de comboios russos chegando de todas as dire��es.
Nesta sexta-feira, fortes explos�es e sirenes de alerta foram ouvidas no centro de Kiev. Muitos moradores da capital ucraniana e de Kharkiv se refugiaram em esta��es de metr� e abrigos subterr�neos (bunkers) por medo de ataques a�reos russos.
Mais de 100 mil pessoas abandonaram suas casas e dezenas de milhares fugiram da Ucr�nia.
Em pronunciamento televisionado �s 05h55 (hor�rio de Moscou) do dia 24/2, Putin anunciou uma "opera��o militar" na regi�o de Donbas, no leste da Ucr�nia.
Ele afirmou que n�o planeja ocupar a Ucr�nia, mas desmilitarizar e "desnazificar" o pa�s. E alertou que a resposta ser� "imediata" contra qualquer um que tente parar a opera��o.
Putin instou os soldados ucranianos a se renderem e voltarem para casa — do contr�rio, segundo ele, a pr�pria Ucr�nia seria culpada pelo derramamento de sangue.
No mesmo dia, o presidente da Ucr�nia decretou lei marcial em todo o pa�s — o que significa que os militares assumem o controle temporariamente — , instaurando um regime de guerra e substituindo a legisla��o vigente at� em ent�o. Grande parte dos reservistas foi convocada.
"Sem p�nico. N�s somos fortes. Estamos prontos para qualquer coisa. N�s vamos derrotar qualquer um porque n�s somos a Ucr�nia", disse Zelensky na ocasi�o.

2. Qual � o problema de Putin com a Ucr�nia?
A R�ssia h� muito tempo resiste ao movimento da Ucr�nia de aproxima��o das institui��es europeias, tanto a Otan quanto a Uni�o Europeia. Agora, Putin afirmou que a Ucr�nia � uma marionete do Ocidente e nunca foi um Estado adequado.
Ele exige garantias de que a Ucr�nia n�o se juntar� � Otan, uma alian�a militar de 30 pa�ses, e para que a Ucr�nia se desmilitarize e se torne um Estado neutro.
Como ex-rep�blica sovi�tica, a Ucr�nia tem profundos la�os sociais e culturais com a R�ssia, e o idioma russo � amplamente falado l�, mas desde que a R�ssia invadiu a Crimeia e Sevastopol em 2014 essas rela��es se desgastaram.
A R�ssia atacou a Ucr�nia quando seu presidente pr�-R�ssia foi deposto no in�cio de 2014. Desde ent�o, a guerra no leste j� custou mais de 14 mil vidas.
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3. Por que o reconhecimento de �reas rebeldes � perigoso?
Na semana da invas�o, Putin reconheceu oficialmente a independ�ncia de duas regi�es separatistas na Ucr�nia: Donetsk e Luhansk. O decreto de reconhecimento de Putin permite que a R�ssia construa bases militares.
Ao colocar tropas russas em uma �rea com centenas de viola��es di�rias do cessar-fogo, o risco de uma guerra aberta se tornou muito maior.
O secret�rio-geral da ONU, Ant�nio Guterres, condenou o reconhecimento da independ�ncia da R�ssia como uma viola��o da integridade territorial e da soberania da Ucr�nia. O Ocidente diz que � uma viola��o do direito internacional.

Dois acordos de paz de Minsk de 2014-15 destinados a acabar com o conflito teriam dado aos rebeldes um status especial dentro da Ucr�nia. Os acordos nunca foram cumpridos, mas as negocia��es ainda estavam em andamento, com Fran�a e Alemanha envolvidas nelas. Mas agora as negocia��es parecem ter fracassado.
O que torna a situa��o mais alarmante � que os dois estados rebeldes n�o apenas reivindicam o territ�rio limitado que ocupam, como tamb�m cobi�am todas as regi�es ucranianas de Donetsk e Luhansk. "N�s os reconhecemos, n�o reconhecemos, e isso significa que reconhecemos todos os seus documentos", disse Putin.
A R�ssia j� havia preparado o terreno para o reconhecimento dos rebeldes, com acusa��es infundadas de que a Ucr�nia havia cometido "genoc�dio" no Leste. A R�ssia distribuiu cerca de 700 mil passaportes em �reas controladas por rebeldes, para que possa argumentar depois que qualquer a��o militar ter� como objetivo proteger seus pr�prios cidad�os.

4. At� onde o Ocidente pretende ir pela Ucr�nia?
Os EUA e outros aliados da Otan deixaram claro que n�o t�m nenhum plano de enviar tropas de combate para a Ucr�nia, mas est�o oferecendo apoio, na forma de conselheiros, armamentos e hospitais de campanha.
Quatro unidades de combate, num total de 5 mil soldados, foram enviadas aos pa�ses B�lticos (Est�nia, Let�nia e Litu�nia) e � Pol�nia. Outros 4 mil soldados poderiam ser enviados a Rom�nia, Bulg�ria, Hungria e Eslov�quia.
Aliados da Otan deixaram claro que n�o h� planos de enviar tropas de combate para a pr�pria Ucr�nia. Em vez disso, ofereceram � Ucr�nia conselheiros militares, armas e hospitais de campanha.
As principais resposta foram san��es contra a R�ssia:
- A Alemanha suspendeu a aprova��o do gasoduto Nord Stream 2 da R�ssia, um grande investimento da R�ssia e de empresas europeias
- A UE concordou com san��es amplas que incluem 351 parlamentares que apoiaram a "decis�o ilegal" da R�ssia de reconhecer as regi�es controladas pelos rebeldes como Estados independentes no parlamento.
- Os EUA dizem que est�o cortando o governo da R�ssia das institui��es financeiras ocidentais e visando "elites" de alto escal�o
- O Reino Unido imp�s san��es a cinco grandes bancos russos e tr�s bilion�rios.
O mais duro golpe econ�mico seria desconectar o sistema banc�rio da R�ssia do sistema de pagamento internacional Swift. Isso, no entanto, poderia impactar negativamente as economias dos EUA e da Europa.
5. O que Putin quer?
A R�ssia j� falou de um "momento da verdade" no reposicionamento de suas rela��es com a Otan e destacou tr�s exig�ncias.
Primeiro, quer uma promessa sustentada legalmente de que a Otan n�o expanda al�m de sua composi��o atual. "Para n�s, � absolutamente mandat�rio garantir que a Ucr�nia nunca, jamais se torne um membro da Otan", disse o vice-ministro das Rela��es Exteriores russo, Sergei Ryabkov.

Putin reclamou que a R�ssia "n�o tem mais para onde recuar — eles acham que vamos simplesmente ficar sentados?"
No ano passado, o presidente russo escreveu um longo artigo descrevendo russos e ucranianos como "uma na��o". Ele descreveu o colapso da Uni�o Sovi�tica, em dezembro de 1991, como a "desintegra��o da R�ssia hist�rica" e considera que os atuais l�deres ucranianos est�o implementando um "projeto anti-R�ssia".
Putin tamb�m argumentou que, se a Ucr�nia entrar na Otan, a alian�a pode tentar recapturar a Crimeia.
Suas outras demandas s�o de que a Otan n�o posicione "armas de ataque perto das fronteiras da R�ssia" e que remova for�as e infraestrutura militar de Estados-membros que entraram na alian�a depois de 1997.
Isso inclui pa�ses da Europa Central, do Leste Europeu e dos B�lticos. Na verdade, a R�ssia quer que a Otan volte a suas fronteiras de antes de 1997.
6. O que diz a Otan?
A Otan � uma alian�a de defesa com uma pol�tica de portas abertas a novos integrantes, e seus 20 Estados-membros s�o taxativos de que isso n�o mudar�.
O presidente da Ucr�nia pediu por "prazos claros e fact�veis" para seu pa�s se juntar � Otan, mas n�o existe possibilidade de que isso ocorra por um bom tempo, como deixou claro o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz.
A ideia de que qualquer membro atual da Otan desistiria de sua participa��o no bloco � inimagin�vel. Entretanto, na vis�o de Vladimir Putin, o Ocidente prometeu em 1990 que a Otan n�o expandiria "nenhuma polegada na dire��o do Oriente", mas fez isso assim mesmo.

No entanto, isso foi antes do colapso da Uni�o Sovi�tica, ent�o a promessa feita para o ent�o presidente sovi�tico, Mikhail Gorbachev, referia-se apenas � Alemanha Oriental no contexto de uma Alemanha reunificada.
Gorbachev disse mais tarde que "o tema da expans�o da Otan nunca foi discutido" na �poca.
7. Existe uma solu��o diplom�tica?
Aparentemente n�o neste momento. Fran�a e os EUA cancelaram as negocia��es planejadas com o ministro das Rela��es Exteriores da R�ssia. Mas tanto a Fran�a quanto a Alemanha disseram, antes da invas�o, que a possibilidade de di�logo estava aberta.
Qualquer acordo teria que cobrir tanto a guerra no leste quanto o controle de armas.
Os EUA se ofereceram para iniciar negocia��es sobre a limita��o de m�sseis de curto e m�dio alcance, assim como sobre um novo tratado sobre m�sseis intercontinentais. A R�ssia queria que todas as armas nucleares dos EUA fossem barradas fora de seus territ�rios nacionais.
A R�ssia foi receptiva em rela��o a um "mecanismo de transpar�ncia" proposto de verifica��es m�tuas em bases de m�sseis — duas na R�ssia e duas na Rom�nia e na Pol�nia.

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