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Estado de Minas HIST�RIA E RELIGI�O

Quem foi Mois�s, o mito fundador do povo judeu

'Mois�s pode ter sido uma pessoa real, de carne e osso, ou pode ser a s�ntese de grandes lideran�as de um tempo determinado, que serve de refer�ncia para outras lideran�as', diz rabino Uri Lam, da congrega��o israelita Templo Beth-El, de S�o Paulo.


26/09/2022 06:20 - atualizado 26/09/2022 07:37


Pintura que representa o encontro de Moisés bebê
Pintura que representa o encontro de Mois�s beb� (foto: Dom�nio P�blico)

Para as culturas e civiliza��es ocidentais, fortemente embasadas pela tradi��o judaico-crist�, poucos t�m import�ncia t�o fundamental quanto Mois�s, l�der que teria vivido h� cerca de 3,5 mil anos e cuja trajet�ria � a pr�pria funda��o do juda�smo.

Historicamente, contudo, nem mesmo a exist�ncia de Mois�s � 100% comprovada. Entretanto, sendo sua trajet�ria o vivenciado por uma s� pessoa, seja ele uma constru��o m�tica a partir de hist�rias de um povo, � ineg�vel sua influ�ncia sobre a humanidade.

"Mois�s pode ter sido uma pessoa real, de carne e osso, ou pode ser a s�ntese de grandes lideran�as de um tempo determinado, que serve de refer�ncia para outras lideran�as", pontua o rabino Uri Lam, da congrega��o israelita Templo Beth-El, de S�o Paulo.

Nesse sentido, Lam cita o fil�sofo, rabino e m�dico judeu Mois�s Maim�nides (1135 ou 1138-1204), em cuja l�pide, em Israel, est� a seguinte inscri��o: "de Mois�s a Mois�s, nunca houve outro como Mois�s". "Seja como for, a sua origem hist�rica, assim como a de tantas outras grandes figuras do passado remoto, acaba sendo reconstru�da de forma simb�lica, religiosa e espiritual, como cria��o da mem�ria coletiva judaica, de gera��o em gera��o", enfatiza o rabino.

"O texto b�blico � a primeira refer�ncia, que a cada gera��o ganha novas nuances, interpreta��es e leituras, assim como a figura de Mois�s � ressignificada e reconstru�da e justamente desta forma se mantem viva e influente na hist�ria da humanidade", acrescenta.

"Encontrar o Mois�s hist�rico, se poss�vel, talvez contribua em algo para enriquecer o nosso conhecimento a respeito dele e de sua �poca. Mas vejo como mais importante o modo como cada gera��o pensa e repensa, de acordo com o seu contexto hist�rico, a figura de Mois�s como a grande refer�ncia de lideran�a, com seus defeitos e qualidades e sua capacidade de desenvolvimento ao longo da vida. Tamb�m simb�lica: 120 anos aponta para o limite de uma vida plenamente vivida, de acordo com a tradi��o judaica."

Sim, segundo a tradi��o judaica, Mois�s teria vivido 120 anos.

"Ele � considerado o l�der maior da tradi��o judaica. Toda semana, em cada sinagoga do mundo, o ritual judaico inclui como seu centro a leitura da lei de Mois�s, o Pentateuco, a Tor�", comenta o estudioso Jos� Luiz Goldfarb, professor da Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo e diretor de cultura judaica do clube A Hebraica.

"Toda sinagoga tem o rolo, em pergaminho, no estilo antigo, onde a gente tem esse fundamento que � a palavra de Mois�s. Essa palavra � a hist�ria do mundo, desde a cria��o at� a morte de Mois�s, incluindo o relato dele no Egito, na corte do fara�, e depois libertando o povo rumo � terra prometida", acrescenta Goldfarb. "Esse texto vai at� a morte de Mois�s. Termina com ele se despedindo e deixando o povo para come�ar a terra prometida."

Nesses livros — G�nesis, �xodo, Lev�tico, N�meros e Deuteron�mio —, que formam a Tor� e s�o o princ�pio do Antigo Testamento da B�blia crist�, est�o os fundamentos de todas as leis e costumes. "� o que baliza a vida judaica de um modo geral", diz Goldfarb. "Temos de frisar que Mois�s �, de fato, considerado o l�der que orienta, que organiza, que d� os rumos de toda a tradi��o judaica e de todo o povo de Israel."

Segundo a tradi��o, Mois�s teria sido o autor dos cinco livros da Tor�. "Neles, temos o fundamento de todas as leis, os costumes, que v�o sendo interpretados de gera��o a gera��o e que balizam a vida judaica de um modo geral", sintetiza Goldfarb. "Ou seja: Mois�s � considerado de fato o l�der que orienta, que organiza, que d� os rumos de toda a tradi��o judaica e de todo o povo de Israel."

"Mas esse relato de Mois�s � de mais de 1 mil anos antes de Cristo, e as bases hist�ricas e arqueol�gicas que temos s�o muito mais recentes", comenta Goldfarb. "A parte anterior � m�tica, uma hist�ria que a gente incorpora como fundamento de nossa tradi��o mas n�o corresponde a nada que at� o momento tenhamos encontrado em uma base material, com comprova��o hist�rica."

Ele contextualiza: os textos atribu�dos a Mois�s foram canonizados por volta do ano 300 a.C., mas a reda��o dos mesmos deve ter sido feita nos 600 anos anteriores. "Ou seja: se trata de um texto que foi transmitido, provavelmente em peda�os, pela hist�ria oral, em regi�es diferentes de Israel, e num determinado momento foram consolidados num �nico livro", argumenta.

"Isso n�o impede que, do ponto de vista da religi�o, a gente tenha o material como algo estruturante, que nos forma, que nos mantem unidos e, de certa forma, com a refer�ncia a um �nico texto, a um �nico Mois�s, ainda que a gente possa dizer cientificamente que n�o haja relatos desse Mois�s."

"Nada exatamente nos garante que Mois�s tenha sido um personagem hist�rico que de fato viveu toda a narrativa da Tor�", comenta Goldfarb.

O Mois�s hist�rico

Segundo a narrativa b�blica, Mois�s teria nascido no Egito, filho de um casal da tribo judaica de Levi. O texto sagrado aponta que, quando ele nasceu, foi mantido escondido por tr�s meses e, ent�o, colocado em um cesto no Rio Nilo. A filha do fara�, ent�o, teria encontrado o beb� e encarregado uma ama — que seria sua m�e natural — de cri�-lo.

Ele teria sido, portanto, criado e educado na corte, como um pr�ncipe. Aos 80 anos, entretanto, ele teria se tornado, encarregado por Deus, o libertador de seu povo, conduzindo-o para a "terra prometida", Cana�, antiga denomina��o da regi�o correspondente � �rea do atual Estado de Israel, de parte da Jord�nia, do L�bano e de parte da S�ria.

"H� muitas teorias sobre quem teria sido o Mois�s hist�rico, mas nenhuma conclus�o definitiva", afirma o rabino Lam. "Do ponto de vista tradicional, se levarmos em conta o que est� registrado no livro b�blico 1 Reis, de que o �xodo do Egito, liderado por Mois�s, ocorreu 480 anos antes do rei Salom�o construir o primeiro Templo Sagrado em Jerusal�m, por volta do ano 1000 antes da Era Comum, o �xodo teria ocorrido por volta do ano 1480 antes da Era Comum, liderado por Mois�s, ent�o com 80 anos. Logo, Mois�s, que segundo a Tor� viveu por 120 anos, teria nascido em 1560 antes da Era Comum e falecido em 1440."


Moisés em pintura feita no século 17
Mois�s em pintura feita no s�culo 17 (foto: Dom�nio P�blico)

"Segundo outra tradi��o rab�nica, Mois�s teria vivido entre 1391 e 1271 antes da Era Comum. Segundo uma terceira posi��o, a do historiador e estudioso da B�blia Israel Knohl, professor da Universidade Hebraica de Jerusal�m e no Instituto Shalom Hartman, em Jerusal�m, a escravid�o do povo de Israel no Egito provavelmente come�ou no final do reinado de Rams�s II e o �xodo ocorreu cerca de 400 anos depois, por volta de 1175 antes da Era Comum, quando Mois�s teria 80 anos; daqui se sup�e que Mois�s tenha vivido entre os anos 1255 e 1135", explica o rabino.

Isto posto, se nem o per�odo em que ele viveu � confirmado, o restante das informa��es biogr�ficas tamb�m � permeado de d�vidas. "Se s� temos como estimar que Mois�s teria vivido entre 3,1 mil e 3,5 mil anos atr�s, sua origem hist�rica tamb�m n�o � clara", concorda Lam.

"Tradicionalmente, ele nasceu no Egito, filho de uma fam�lia da tribo de Levi, j� durante o tempo em que os israelitas eram escravos. H� quem diga, por�m, que ele teria sido um conselheiro eg�pcio do fara�. Outros, que Mois�s viria de Mose, cujo significado seria 'filho', lembrando que o nome Mosh� foi dado pela filha do fara�. Mas a tradi��o judaica entende que Mosh� vem de uma palavra da raiz hebraica e seu sentido � 'eu o tirei das �guas', referindo-se ao fato de a filha do fara� ter, segundo o texto b�blico, retirado o beb� Mois�s das �guas do rio Nilo e o criado como o seu filho, o seu 'mosh�'."

O rabino acrescenta que, na falta de relatos hist�ricos, o que sabemos sobre quem foi Mois�s se baseia "nos relatos b�blicos e na leitura rab�nica".

"Foi o maior dos l�deres e profetas do povo judeu em todos os tempos, aquele que liderou o �xodo do Egito e a perambula��o de 40 anos pelo deserto, enfrentando povos inimigos, adversidades pelo caminho e crises dentro do pr�prio povo, at� ser sucedido por Josu�, filho de Nun, e morrer sem entrar na terra prometida", define. "Mas, historicamente, a partir do que se costuma chamar de hist�ria, embora haja muita especula��o, n�o h� como definir quem foi Mois�s."

No meio disso tudo, dif�cil cravar o que ocorreu historicamente e o que acabou sendo perpetuado como uma constru��o, uma narrativa m�tica fundadora de uma religi�o. "Tantas hist�rias que podem ter sido reais, do ponto de vista hist�rico… Ou n�o", comenta o rabino.

"Tampouco vejo que se trata de algo lend�rio, no sentido de uma esp�cie de n�o-verdade, mas sim de campos de significados religiosos, espirituais, psicol�gicos e simb�licos, que carregam li��es de humanidade, de crescimento pessoal, de desenvolvimento de lideran�a que servem de inspira��o at� os dias atuais. Portanto, verdadeiros."

"Racionalmente, o que vamos entender � que Mois�s foi um grande l�der, o iniciador de fato de um povo, na medida que esse povo sai do Egito. Mas isso por volta de 1,2 mil anos antes de Cristo, mais ou menos", situa o historiador, fil�sofo e te�logo Gerson Leite de Moraes, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Contexto

Mas para entender essa constru��o m�tica do personagem � preciso retroceder ainda mais no tempo. E entender o que faziam esses hebreus antigos em territ�rio eg�pcio, afinal. E, principalmente, por que eles decidiriam ou precisaram empreender essa fuga heroica.

� uma hist�ria que remonta �s origens daquilo que entendemos como civiliza��o, ali�s. "Aquilo que a gente poderia chamar de antepassados dos israelitas eram os que habitavam uma regi�o do crescente f�rtil, uma meia lua cortada por uma s�rie de rios importantes, o Tigre, o Eufrates…", explica Moraes. � a Mesopot�mia.

Segundo o professor, muito provavelmente esses antepassados eram povos semitas, semin�mades, criadores de ovelhas que "durante todo o segundo mil�nio antes de Cristo circulavam pelas margens semides�rticas daquele entorno".

Em algum momento entre os s�culo 19 a.C. e 16 a.C., algumas figuras de destaque acabaram se tornando importantes a ponto de ganharem men��es, registros, primeiro na hist�ria oral, depois em textos. "� o caso de Abra�o", pontua Moraes.

"Isso vai ser importante quando Israel, l� na frente, for contar a hist�ria e seus mitos fundamentais. Eles v�o recuperar isso: Deus chamou um homem de nome Abra�o, ele se estabeleceu ali, criou seus filhos e sua descend�ncia seria o in�cio da forma��o dos israelitas."

"Mas num determinado momento, essa grande fam�lia enfrentou a fome. O grupo decidiu ent�o migrar para o Egito", prossegue o acad�mico. "L� eles ficaram 400 anos. S� que algo que no in�cio era muito favor�vel, com o passar do tempo deixou de ser interessante. Porque depois de 400 anos, esse povo est� submetido a um regime de servid�o: estamos falando de algo em torno do s�culo 13 antes de Cristo."

Moraes endossa o que acreditam certos pesquisadores: que n�o era um regime de escravid�o, mas sim a servid�o. Que os antepassados dos israelitas que ali viviam eram obrigados a prestarem servi�os ao fara� em troca de poderem usar a terra e terem seguran�a.

"Aos poucos, esse povo come�a a querer sair do Egito e voltar a ocupar aquilo que eles entendem ser a terra prometida por Deus. � a� que aparece a figura de Mois�s", diz Moraes.

"A B�blia vai chamar de escravid�o, mas muito provavelmente o que temos � um regime de servid�o. S� que esse regime vai se tornando cada vez mais opressor, o que aumenta o desejo de sair da terra. Aquela fam�lia sem�tica que em algum momento desceu para o Egito j� se tornou um grupo de muitos segmentos", relata ele.

Muito provavelmente isso tudo ocorreu durante o reinado do fara� Rams�s 2o. (1303 a.C. - 1213 a.C.). De acordo com Moraes, "foi um processo complexo de tomada de consci�ncia desse grupo semita".

Mois�s, criado como pr�ncipe, teria assumido o papel de l�der, com uma narrativa repleta de sinais divinos e contornos m�ticos. "Nesse processo de sa�da do Egito reside o fato fundante, aquilo que determina a identidade de um povo", analisa o te�logo e historiador.

A demora dos 40 anos se justifica, historicamente: a regi�o de Cana�, antes terra desse povo, j� estava ocupada por outros grupos. Era preciso estrat�gia e for�a militar para retomar a posse.

"Eles saem do Egito como uma verdadeira confedera��o tribal, feita de muitos n�cleos familiares. Ficam perambulando e n�o entram [no destino almejado] porque n�o t�m for�a militar para entrar. O relato b�blico se aproveita disso para mostrar a lideran�a de Mois�s e tudo aquilo que envolve sua figura", comenta.


Travessia do mar vermelho, em pintura produzida no século 17
Travessia do mar vermelho, em pintura produzida no s�culo 17 (foto: Dom�nio P�blico)

Nesse processo, tr�s fatos s�o fundamentais: a partida, em si, do Egito, depois de uma s�rie de cat�strofes, apresentadas como sinais da interven��o de Deus; a c�lebre passagem pelo mar Vermelho, muito explorada imageticamente mas que, segundo estudiosos contempor�neos, teria sido uma engenhosa obra de t�tica militar; e o momento em que Mois�s supostamente recebe de Deus — e apresenta ao povo — a t�bua dos Dez Mandamentos, uma constitui��o em que, nas palavras de Moraes, "estabelece princ�pios de adora��o e de conviv�ncia".

Identidades e verdades

Na falta de evid�ncias arqueol�gicas ou registros materiais, h� v�rias possibilidades de entender sobre quem foi Mois�s. Ele pode ter sido um grande l�der, que foi capaz de unir seu povo insatisfeito e empreender essa viagem de volta �s origens, como a tradi��o consolidou.

Tamb�m pode ser a jun��o de v�rios l�deres, em um processo mais longo — e o tempo acabou sedimentando todas as caracter�sticas em uma s� figura.

Outra hip�tese � que ele tenha sido um eg�pcio de fato, derrubando a narrativa de que ele teria sido adotado pela fam�lia do fara� — nesse entendimento, ele era, na verdade, filho leg�timo da dinastia dominante.

� o que defendeu, por exemplo, o psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), no livro Mois�s e o Monote�smo. "Muita gente defendia a ideia de que Mois�s n�o fosse necessariamente um israelita, um judeu. Mas um eg�pcio, algu�m de dentro da pr�pria dinastia que, de alguma maneira acabou se solidarizando com aquele grupo e conduzindo-o", aponta Moraes.

"� uma teoria que gera pol�mica at� hoje, porque os judeus t�m dificuldade com isso. Como assim, o grande l�der n�o ser um israelita? De uma maneira geral, Mois�s � 'propriedade' dos judeus."

Outro ponto interessante que corrobora a tese de que o relato b�blico � m�tico � o fato de que a narrativa em si n�o � uma hist�ria original.

"O relato de seu nascimento pode ser comparado com a epopeia de Sarg�o da Ac�dia [antigo rei sum�rio], um grande conquistador mesopot�mico do s�culo 25 antes de Cristo", comenta Moraes. "Essa epopeia serve como refer�ncia para emoldurar o nascimento de Mois�s."

Segundo a narrativa, quando Sarg�o nasceu ele foi abandonado �s escondidas por sua m�e e posto em uma cesta de junco calafetada. Deixado em um rio, foi levado at� o mundo divino, onde uma deusa o teria acolhido e amado.

"Ao tratarem Mois�s dessa forma, pretendiam inscrev�-lo como o grande libertador de Israel, no rol dos grandes personagens da hist�ria", compara o historiador. "Quem apresenta Mois�s dessa forma est� copiando uma longa tradi��o que vem de muito tempo antes e isso tem a finalidade de mostrar sua predestina��o."

Evidentemente que, diante da precaridade documental, o que fica de "verdade" sobre Mois�s � o relato que chegou aos nossos dias. "D� para cravar quando nasceu? Se era eg�pcio? N�o se sabe. Muito dif�cil bater o martelo. O que nossa cultura faz �, j� que temos acesso ao que ele foi por meio da literatura sagrada, a gente compra o relato do jeito que ele �. Mas uma pesquisa mais aprofundada mostra que n�o d� para ter tanta certeza", diz Moraes.

E essas constru��es permeiam toda a narrativa. No famoso epis�dio da travessia do mar Vermelho, por exemplo, o imagin�rio consagrou a ideia de um ato m�gico em que duas colunas de �gua se abrem e o povo passa no meio.

Trabalho cient�fico publicado em 2010 pelo Centro Nacional de Pesquisa Atmosf�rica dos Estados Unidos, em parceria com a Universidade de Colorado, no peri�dico Plos One, concluiu que o epis�dio pode ter sido decorrente de ventos extremamente fortes soprados ao longo de uma noite em uma regi�o onde um afluente do Nilo se funde com uma lagoa costeira do mar. E o epis�dio "milagroso" poderia ter ocorrido ali.

Uma interpreta��o mais consolidada � que a travessia m�tica tenha ocorrido em uma regi�o marcada por uma cadeia de lagos rasos, repletos de juncos tolerantes � �gua salgada.

"Os judeus fugiram e as rodas das carro�as dos soldados eg�pcios que os perseguiam ficaram atoladas, n�o permitindo que eles seguissem adiante. Foi uma estrat�gia militar", comenta Moraes.

Para o pesquisador, "criou-se a ideia de que Deus esteve com o povo mas h� toda uma pol�mica sobre o ato miraculoso". "O milagre talvez esteja na estrat�gia bem sucedida, em como um povo de trabalhadores bra�ais conseguiu ludibriar um ex�rcito profissional. Isto � de fato miraculoso", aponta ele.

De qualquer forma, o relato se fez necess�rio como "fato fundante" do novo povo. "Sem isso, n�o seria poss�vel a constitui��o do povo de Israel", afirma o historiador.

"A confedera��o tribal que sai do Egito precisa crer que Deus est� com eles, que eles recebem uma lei de Deus, que quer ser o Deus deles, e eles ser�o o povo desse Deus. Ent�o, est� tudo certo. A vis�o religiosa precisa ter esses elementos todos porque s�o elementos que agregam, que d�o identidade", analisa Moraes.

Mois�s � protagonista e tamb�m � produto disso. "O que aconteceu com ele � envolto nesse processo de constitui��o identit�ria de um povo. Ele existiu, foi um l�der importante, conduziu esse povo, se colocou como uma esp�cie de legislador", contextualiza. "Tudo o mais registrado sobre ele entra no terreno da f�."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63011899

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