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Estado de Minas SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Datil�grafa de comandante nazista � condenada aos 97 anos por cumplicidade em mais de 10 mil mortes

Irmgard Furchner trabalhava como secret�ria do comandante do campo de concentra��o de Stutthof, na Pol�nia.


20/12/2022 10:44 - atualizado 21/12/2022 10:58


A ré Irmgard F., de 96 anos, ex-secretária do comandante da SS do campo de concentração de Stutthof, sentada no tribunal no início de seu julgamento em Itzehoe, norte da Alemanha, em 19 de outubro de 2021
O tribunal ordenou que as fotos de Irmgard Furchner do julgamento fossem desfocadas (foto: AFP)

Uma ex-secret�ria que trabalhava para o comandante de um campo de concentra��o nazista foi condenada por cumplicidade no assassinato de mais de 10.505 pessoas.

Irmgard Furchner, hoje com 97 anos, foi contratada na adolesc�ncia como datil�grafa do campo de concentra��o de Stutthof, onde trabalhou de 1943 a 1945.

Furchner, uma das poucas mulheres a ser julgada por crimes nazistas em d�cadas, foi condenada a dois anos de pris�o com suspens�o de pena.

Embora ela fosse uma funcion�ria civil, o juiz concordou que ela estava totalmente ciente do que estava acontecendo no campo de concentra��o.

Acredita-se que cerca de 65 mil pessoas tenham morrido em condi��es horr�veis em Stutthof, incluindo prisioneiros judeus, poloneses n�o-judeus e soldados sovi�ticos capturados.

Como Furchner tinha apenas 18 ou 19 anos na �poca, ela foi julgada em um tribunal especial de menores.

No campo de concentra��o de Stutthof, localizado perto da atual cidade polonesa de Gdansk, uma variedade de m�todos foi usada para assassinar as pessoas detidas — e milhares morreram em c�maras de g�s a partir de junho de 1944.

O tribunal de Itzehoe, no norte da Alemanha, ouviu sobreviventes do campo, alguns dos quais morreram ao longo do julgamento.

Quando o julgamento come�ou, em setembro de 2021, Irmgard Furchner fugiu da casa de repouso onde vivia e acabou sendo encontrada pela pol�cia em uma rua de Hamburgo.

O comandante do campo de concentra��o de Stutthof, Paul-Werner Hoppe, foi preso em 1955 como c�mplice de assassinato e solto cinco anos depois.

Uma s�rie de julgamentos foram realizados na Alemanha desde 2011, depois que a condena��o do ex-guarda do campo de exterm�nio nazista John Demjanjuk estabeleceu o precedente de que ser guarda era evid�ncia suficiente para provar cumplicidade.

Essa decis�o tamb�m significava que a funcion�ria civil Furchner poderia ser julgada, uma vez que trabalhava diretamente para o comandante do campo, lidando com a correspond�ncia relacionada aos detidos em Stutthof.

Demorou 40 dias para ela quebrar o sil�ncio durante o julgamento — at� que, finalmente, disse ao tribunal: "Sinto muito por tudo o que aconteceu".

"Lamento estar em Stutthof na �poca — � tudo o que posso dizer", afirmou.

Os advogados de defesa argumentaram que ela deveria ser absolvida por causa das d�vidas em rela��o ao que ela sabia, j� que era uma das v�rias datil�grafas no escrit�rio de Hoppe.

O historiador Stefan H�rdler desempenhou um papel fundamental no julgamento, acompanhando dois ju�zes em uma visita ao local do campo de concentra��o. Ficou claro com a visita que Furchner era capaz de ver algumas das piores situa��es no campo do escrit�rio do comandante.

O historiador afirmou no julgamento que 27 meios de transporte com 48 mil pessoas chegaram a Stutthof entre junho e outubro de 1944, depois que os nazistas decidiram expandir o campo e acelerar o assassinato em massa com o uso do g�s Zyklon B.

H�rdler descreveu o escrit�rio de Hoppe como o "centro nervoso" para tudo o que acontecia em Stutthof.


Josef Salomonovic no tribunal
Josef Salomonovic foi convencido pela mulher a viajar de Viena ao norte da Alemanha para depor em dezembro do ano passado (foto: Getty Images)

Josef Salomonovic, sobrevivente do campo de concentra��o que viajou para prestar depoimento no julgamento, tinha apenas seis anos quando seu pai foi morto a tiros em Stutthof em setembro de 1944.

"Ela � indiretamente culpada", disse ele a jornalistas no tribunal em dezembro do ano passado.

"Mesmo que ela apenas tenha ficado sentada no escrit�rio e carimbado a certid�o de �bito do meu pai."

Outro sobrevivente, Manfred Goldberg, disse que sua �nica decep��o foi que a senten�a de dois anos com suspens�o de pena "parece ser um erro".

"Ningu�m em s� consci�ncia mandaria uma pessoa de 97 anos para a pris�o, mas a pena deveria refletir a gravidade dos crimes", afirmou.

"Se um ladr�o de lojas � condenado a dois anos, como pode algu�m condenado por cumplicidade em 10 mil assassinatos receber a mesma pena?"

Casos de crimes nazistas desde 2011

- John Demjanjuk — preso em 2011 por cinco anos por participa��o no assassinato de mais de 28 mil judeus no campo de exterm�nio de Sobibor, mas foi solto enquanto aguardava recurso, e morreu no ano seguinte aos 91 anos.

- Oskar Gr�ning — o "contador de Auschwitz", condenado em 2015 como c�mplice do assassinato de 300 mil judeus. Ele nunca foi preso. Morreu em 2018, aos 96 anos, durante o processo de apela��o.

- Reinhold Hanning — ex-guarda da SS em Auschwitz condenado por ajudar a cometer assassinato em massa em junho de 2016, mas morreu um ano depois, aos 95 anos, com recursos ainda pendentes.

- Friedrich Karl Berger — ex-guarda do campo de concentra��o de Neuengamme, deportado dos Estados Unidos para a Alemanha em fevereiro de 2021, aos 95 anos. Os promotores alem�es retiraram as acusa��es contra ele, e seu destino atual � desconhecido.

- Josef S — preso por cinco anos em junho de 2022 por ajudar no assassinato de mais de 3,5 mil prisioneiros no campo de concentra��o de Sachsenhausen. Com 101 anos, ele � a pessoa mais velha a ser condenada por crimes de guerra da era nazista na Alemanha, mas devido � idade e problemas de sa�de � improv�vel que passe algum tempo na pris�o.

O julgamento de Furchner pode ser o �ltimo a acontecer na Alemanha sobre crimes da era nazista, embora alguns casos ainda estejam sendo investigados.

Dois outros casos foram a tribunal nos �ltimos anos por crimes nazistas cometidos em Stutthof.

No ano passado, um ex-guarda do campo foi declarado inapto para julgamento, embora o tribunal tenha dito que havia um "alto grau de probabilidade" de que ele fosse culpado de cumplicidade.

Em 2020, outro guarda da SS do campo de concentra��o, Bruno Dey, foi condenado a dois anos de pris�o com suspens�o de pena por cumplicidade no assassinato de mais de 5 mil prisioneiros.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-64039347


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