
Miriam e os filhos adultos estavam em casa, no kibutz Bror Hayil, comunidade rural a 7,5 km da Faixa de Gaza, de onde partia a ofensiva da organiza��o terrorista palestina Hamas.
"Botei o cachorro para dentro, tranquei tudo e ficamos na escada, entre duas paredes de concreto", conta ela.
Constru�da nos anos 80, a casa de estrutura leve n�o tem abrigo antibomba.
"Ficamos 18 horas acordados, ouvindo ‘bum’ e avi�es passando, com a TV ligada e o WhatsApp cheio de mensagens", diz Miriam.Os relatos eram de que tr�s kibutzim na fronteira com Gaza haviam sido invadidos. Em um deles, o Be'eri, mais de cem corpos foram encontrados.
"A fronteira � segura, um passarinho senta na cerca e j� pisca a sirene. Como deixaram passar terroristas com carros e motos?", questiona a brasileira, que vive no sul de Israel h� 38 anos e diz que o momento atual � in�dito.
No Bror Hayil, que tem mais de 1.120 pessoas, duas equipes s�o acionadas em casos como esse h� pelo menos 50 anos. Uma se volta a servi�os de emerg�ncia, como controle da popula��o local e de mantimentos, e a outra tem treinamento militar.
"S�o umas dez pessoas levemente armadas, com metralhadoras e rev�lveres, mas n�o d� para enfrentar 50 terroristas com m�sseis de ombro", explica Marcelo Mittelmann, 60, h� um m�s no Brasil em visita aos pais idosos.
Ele embarcou nesta quinta-feira (12) para Roma. No s�bado, segue para Israel em voo da companhia El Al, autorizada a pousar no aeroporto de Tel Aviv.
No dia seguinte ao ataque, Miriam e os filhos juntaram roupas para tr�s dias e pegaram estrada. "N�o podia dirigir r�pido porque tinha barreiras e pol�cia. O Xuxu [cachorro] vomitou em tudo, mas seguimos sem parar."
Passaporte, joias, rem�dios e o carro do marido ficaram para tr�s em dire��o a Raanana, cidade a 20 km de Tel Aviv, na casa de um primo.
"Aqui � relativamente seguro, o com�rcio est� aberto, mas desfalcado. Parece a �poca da Covid-19."
Leite, frutas, verduras, papel higi�nico, desodorante e meias s�o alguns dos produtos em falta nas prateleiras.
Para passar o tempo e afastar pensamentos ruins, Miriam e a filha Natali, 26, evitam o notici�rio e buscam atividades prazerosas, como passear com o cachorro ou cozinhar.
"Fiz feijoada", diz ela. "Mas n�o sabemos se teremos caf� da manh�."
Quarenta soldados israelenses montaram acampamento dentro do kibutz. "Est�o na sala de atividades das crian�as", conta Marcelo.
"As mulheres est�o cozinhando para eles. Uma coisa � comer ra��o militar, a outra � comidinha de casa, Coca-Cola e chocolates."
Com cargo de chefia no departamento de seguran�a de informa��o na Prefeitura de Tel Aviv, Marcelo Mittelmann eleva o tom contra o grupo terrorista.
"O estatuto do Hamas diz que religi�es anteriores ao islamismo n�o veem a verdade e que � preciso exterminar judeus e, depois, crist�os. N�o tem como negociar com isso."
Ele explica o procedimento padr�o do x�rcito israelense ao bombardear um edif�cio: "Uma liga��o em �rabe pede que os ocupantes deixem o pr�dio e cinco minutos depois uma bomba pequena, de aviso, � lan�ada. Evitam matar civis."
Esta foi a semana mais sangrenta do s�culo entre Israel e Palestina, com ao menos 2.300 mortes —o balan�o n�o inclui os 1.500 integrantes da fac��o que Israel diz ter matado dentro do pa�s.
"Terroristas entram aqui, raptam pessoas, assassinam nossas crian�as e � Israel quem est� cometendo crime de guerra?", questiona Miriam Mittelmann, em liga��o com a reportagem �s 23h de l�, de um quarto fortificado.
Ela lembra com melancolia da noite anterior ao ataque, quando se juntou aos vizinhos em uma confraterniza��o no kibutz.
Havia barracas de comida brasileira, m�sica e a presen�a do candidato � prefeitura regional, Ofir Libstein.
"Fomos para casa cheios de adrenalina, � meia-noite e, pela manh�, soube que Ofir foi assassinado em sua casa pelos terroristas. Foi uma festa de despedida da vida."