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Estado de Minas EFEITOS DEVASTADORES

'Eu era saud�vel, mas complica��es ap�s COVID-19 mudaram minha vida'

A publicit�ria Julia Franco contraiu o coronav�rus em maio. Em decorr�ncia da COVID-19, ela desenvolveu um problema no cora��o e precisou fazer tratamento


03/09/2020 18:31 - atualizado 03/09/2020 19:34

No in�cio de 2020, a publicit�ria Julia Franco vivia a sua fase mais saud�vel dos �ltimos anos. Ela havia abandonado o v�cio em cigarro e fazia aulas de bal�, paix�o de inf�ncia que tinha retomado recentemente.

O avan�o do novo coronav�rus no Brasil mudou a rotina dela. Julia, de 31 anos, passou a fazer as aulas de bal� online e come�ou a trabalhar em esquema de home office.

 

Sem doen�as pr�-existentes, ela acreditava que caso fosse infectada pelo coronav�rus, desenvolveria quadro leve, semelhante a uma gripe.

Em meados de maio, Julia come�ou a sentir cansa�o extremo, tosse seca constante, febre, perda de olfato e teve dificuldades para respirar. Ap�s passar por um exame, descobriu que estava com a COVID-19.

Os efeitos da doen�a a surpreenderam, por se considerar uma pessoa jovem e saud�vel. "N�o achava que fosse me sentir t�o mal", relata � BBC News Brasil. Uma das maiores dificuldades, ela conta, era o sentimento de que o cora��o "sairia pela boca". "Nunca tive qualquer problema card�aco, nem tenho hist�rico disso na fam�lia. Mas esse foi um dos meus principais sintomas", diz.

No in�cio de junho, um novo exame apontou que Julia havia se recuperado da COVID-19. O problema no cora��o, por�m, continuou.

Agora, ela faz tratamento espec�fico para o problema card�aco. O temor da publicit�ria � que essa situa��o perdure ao longo da vida.

"N�o sei como vai ser daqui para frente. � um v�rus muito novo, ningu�m sabe as poss�veis sequelas. Ainda h� muita coisa que os especialistas desconhecem sobre esse v�rus", desabafa a publicit�ria.

O caso de Julia demonstra que o coronav�rus, que j� infectou mais de 4 milh�es de brasileiros, pode deixar complica��es s�rias.

As consequ�ncias da COVID-19 podem ser sentidas em diferentes partes do corpo. Enquanto a publicit�ria teve problemas no cora��o, h� outras situa��es, por exemplo, de dificuldades neurol�gicas, nos pulm�es ou nos rins.

A infec��o pelo v�rus

Julia afirma que n�o sabe como contraiu o coronav�rus. "Desde mar�o, estou em casa. Sempre usei m�scaras ao sair. Mas devo ter sido infectada quando fui � farm�cia ou ao mercado", diz a publicit�ria, que mora em S�o Paulo (SP).

Os primeiros sintomas surgiram ap�s uma aula de bal� online. Ela sentiu dores intensas no corpo. "Parecia que eu havia pegado uma gripe bem forte. Estava ofegante. No dia seguinte, comecei a ter tosse seca, n�o sentia o cheiro de nada e fiquei com febre", relata.

Ela procurou ajuda m�dica, foi aconselhada a permanecer isolada e fez o exame RT-PCR, que investiga a presen�a de material gen�tico do v�rus, o RNA. O primeiro resultado deu um falso negativo para a COVID-19. "Como eu estava com muitos sintomas, a m�dica pediu para que eu repetisse o exame. O segundo, ent�o, deu positivo", diz.

O cansa�o extremo e os batimentos card�acos acelerados eram os sintomas que mais incomodavam a publicit�ria. "No in�cio, o meu cora��o acelerava somente quando eu fazia algum esfor�o. Depois, se tornou uma situa��o constante", diz.

Ela conta que passava grande parte do dia deitada e sempre estava cansada. "Eu tive dificuldades at� para levantar um copo d'�gua", detalha.

As tomografias apontaram que os pulm�es da publicit�ria, que ela acreditava que seriam os �rg�os mais prejudicados pela COVID-19, n�o foram gravemente afetados pela doen�a.

Para especialistas, a COVID-19 deve ser considerada uma doen�a sist�mica, n�o apenas respirat�ria, porque pode afetar diferentes �rg�os.

"A COVID-19 tem prefer�ncia pela regi�o pulmonar, mas a rea��o inflamat�ria que ela causa pode acometer diferentes �reas do organismo. Ainda n�o se sabe, ao certo, as causas disso", explica a cardiologista Thalita Merluzzi, que acompanha Julia desde que a publicit�ria teve os primeiros sintomas.

Os cientistas investigam se os danos a diferentes �rg�os s�o causados diretamente pelo v�rus ou por fatores indiretos ligados � doen�a. Estudos apontam que uma possibilidade, por exemplo, � que a "tempestade inflamat�ria" que o sistema imunol�gico gera para tentar combater o v�rus, inundando o organismo de citocinas, lesione esses �rg�os. Parte tamb�m pode ser uma consequ�ncia da pr�pria infec��o.

Recuperada do coronav�rus

Apesar das dificuldades, Julia n�o precisou ser internada. Ela fez acompanhamento � dist�ncia com a m�dica e tomou medicamentos apenas para amenizar sintomas como febre e tosse.

No in�cio de junho, um novo exame da publicit�ria deu negativo para a COVID-19. A partir de ent�o, ela acreditava que as dificuldades de sa�de cessariam em algumas semanas. No entanto, os problemas no cora��o continuaram.

Estudos e a observa��o cl�nica de profissionais apontam poss�veis sequelas que podem ser deixadas pelo coronav�rus. Conforme relatado em reportagem da BBC News Brasil de 12 de agosto, ainda n�o se sabe se essas complica��es s�o tempor�rias ou perenes.

J� se sabe, por exemplo, que alguns sintomas podem persistir n�o apenas entre aqueles que tiveram casos mais graves da doen�a e que, al�m de danos nos pulm�es, o Sars-CoV-2 (nome oficial do coronav�rus) pode afetar o cora��o, os rins, o intestino, o sistema vascular e at� o c�rebro.

H� diversos relatos de complica��es deixadas pela COVID-19 no cora��o. Um estudo recente, feito na Alemanha, apontou que entre 100 pacientes recuperados, 78% apresentaram algum tipo de anomalia no cora��o mais de dois meses ap�s a alta. Boa parte (67%) tivera uma forma branda da doen�a e sequer havia sido hospitalizada.

"Como a COVID-19 causa altera��o sist�mica, � esperado que o paciente fique com a frequ�ncia card�aca mais alta (at� mesmo um tempo ap�s a recupera��o, em alguns casos). Mas o caso da J�lia foi diferente, porque houve um aumento de forma desproporcional da frequ�ncia card�aca", explica Thalita Merluzzi.

Por permanecer com taquicardia, cansa�o extremo e intensa falta de ar, Julia continuou sendo acompanhada pela cardiologista. Ap�s diversas avalia��es, a publicit�ria foi diagnosticada com pericardite, um processo inflamat�rio na membrana que recobre e protege o cora��o. O problema, segundo Merluzzi, foi causado pelo coronav�rus.

"H� v�rios casos de pericardite entre pessoas em est�gio grave com a COVID-19. Mas isso n�o � comum, como no caso da Julia, quando o paciente n�o desenvolve um quadro grave da COVID", explica a cardiologista.

As dificuldades


Julia conta que era saudável até contrair o coronavírus(foto: Getty Images)
Julia conta que era saud�vel at� contrair o coronav�rus (foto: Getty Images)

Em raz�o da pericardite, Julia teve dificuldades para fazer atividades simples que envolvessem esfor�o f�sico, como subir e descer escadas. Ela, que acreditava que as coisas melhorariam logo ap�s a COVID-19, ficou frustrada com a situa��o.

A publicit�ria n�o tem hist�rico de problemas card�acos na fam�lia. Desde outubro passado, abandonou o cigarro. Ela acredita que dificilmente teria problemas de cora��o se n�o fosse a COVID-19. "Eu era completamente saud�vel", diz.

Uma das situa��es que mais entristecem Julia � o fato de n�o conseguir retomar as aulas de bal�. Ela fez a atividade durante a inf�ncia e a adolesc�ncia, mas parou aos 16 anos. No ano passado, retomou a pr�tica.

"Estava muito feliz por voltar a fazer bal�. Era uma conquista. Durante a quarentena, arrumei a minha casa para fazer as aulas online e estava me preparando para um teste, porque queria dar aulas de bal�, que � um sonho antigo", diz Julia.

Ela, que at� maio costumava fazer aulas de 1h30 de bal�, ainda n�o conseguiu retomar a atividade. "Por volta de junho, n�o conseguia fazer nada. Hoje, fa�o uns cinco ou 10 minutos, mexo um pouco o corpo e paro, porque sinto o cora��o disparar e falta de ar", lamenta.

As pr�prias emo��es tamb�m se tornaram problemas para Julia, ap�s a COVID-19. Ela conta que quando est� muito nervosa ou ansiosa, sente o cora��o bater de modo acelerado. "Nesses momentos, tenho que parar, colocar o ox�metro (aparelho que mede a satura��o de oxig�nio no sangue e a frequ�ncia card�aca). Se o batimento estiver muito forte, preciso tomar rem�dio para controlar", diz.

"O meu medo � ficar ref�m do ox�metro e dos rem�dios para o cora��o durante a minha vida toda", desabafa a publicit�ria, que passou a tomar dois tipos de rem�dios duas vezes por dia, em raz�o do problema card�aco.

Julia tem melhorado aos poucos desde junho, quando iniciou o tratamento para o problema no cora��o. "J� consigo fazer algumas atividades. Me sinto mais disposta do que semanas atr�s. Mas estou recome�ando aos poucos. N�o posso fazer esfor�os. Se eu conseguir voltar a ser como antes, ainda vai levar certo tempo."

A cardiologista Thalita Merluzzi afirma que os casos de pericardite, geralmente, t�m cura. "A pessoa pode ter a doen�a apenas uma vez e nunca mais", afirma. Segundo ela, s�o poucos os casos em que se torna um problema cr�nico.

Em rela��o � pericardite causada pela doen�a do coronav�rus, a m�dica comenta que ainda n�o � poss�vel dizer se � um problema irrevers�vel, assim como outras complica��es que podem ser originadas pela COVID-19. "N�o temos uma resposta, porque � um tema que ainda est� sendo estudado", diz a cardiologista.

No fim deste m�s, Julia deve passar por novos exames. Caso o cora��o dela tenha se recuperado, a publicit�ria deve suspender o tratamento da pericardite. "Tudo isso assusta. O meu maior medo � ter algum dano card�aco que me impe�a de ser m�e, pois tenho muita vontade de ter um filho."

"Toda essa situa��o mostra que o quanto � ilus�ria a ideia de que temos o controle sobre algo. Do dia para a noite, os planos e a rotina mudam. � preciso se adaptar", afirma Julia.


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