Segundo o hospital Northwestern Memorial, parte da rede Northwestern Medicine, o doador dos pulm�es teve covid-19 e apresentou sintomas considerados "de leves a moderados".
Ele se recuperou da doen�a sem que seus pulm�es sofressem danos permanentes, mas posteriormente morreu de outra causa, n�o relacionada ao coronav�rus.
Seus �rg�os foram ent�o transplantados para um paciente na casa dos 60 anos que havia sofrido danos irrevers�veis nos pulm�es em decorr�ncia da covid-19. O hospital informou que o receptor trabalha no setor de sa�de e havia sido diagnosticado em maio do ano passado.
O receptor teve um caso grave de covid-19 e chegou a precisar ser ligado a um respirador e a uma m�quina de oxigena��o por membrana extracorp�rea, chamada de ECMO, que atua como cora��o e pulm�es artificiais, oxigenando e circulando o sangue, em casos em que os �rg�os do paciente n�o s�o capazes de desempenhar essas fun��es.
Quando os m�dicos conclu�ram que os danos em seus pulm�es eram irrevers�veis, ele entrou na lista de espera para um transplante, onde ficou uma semana at� que um doador compat�vel fosse encontrado.
A cirurgia foi realizada em fevereiro e, segundo o hospital, o paciente � "um dos primeiros sobreviventes de covid-19 nos Estados Unidos a receber pulm�es de um doador que se recuperou do v�rus".
Testes
"(A cirurgia) � um marco para transplantes de pulm�es", diz o m�dico Ankit Bharat, chefe de cirurgia tor�cica e diretor cir�rgico do programa de transplantes de pulm�es da Northwestern Medicine, que liderou a equipe respons�vel pela opera��o.
Bharat lembra que muitos dos mais de 30 milh�es de americanos j� infectados pelo coronav�rus s�o doadores de �rg�os. Segundo o m�dico, se aqueles que tiveram casos leves ou moderados e se recuperaram n�o puderem doar, isso poder� representar um "enorme problema".
"Se n�s dissermos n�o a eles simplesmente porque tiveram covid-19 no passado, vamos reduzir drasticamente o n�mero de doadores, quando j� h� uma enorme diferen�a entre oferta e demanda", afirma o cirurgi�o.
Mas transplantes de �rg�os em que o doador j� teve covid-19 exigem cuidados. No m�s passado, o caso de uma mulher que contraiu covid-19 ap�s receber transplante duplo de pulm�es contaminados ganhou manchetes e chamou a aten��o para a necessidade de realizar testes rigorosos nesse tipo de cirurgia.
Naquele caso, cujos detalhes foram publicados na revista cient�fica American Journal of Transplantation, a receptora, que sofria de doen�a pulmonar obstrutiva cr�nica, ficou doente com covid-19 tr�s dias ap�s a cirurgia em um hospital no Estado de Michigan.
Caso de transmiss�o em Michigan
A doadora do caso de Michigan era uma mulher que teve morte cerebral ap�s um acidente de tr�nsito e que, segundo sua fam�lia, n�o apresentava nenhum sintoma de covid-19.
Antes da cirurgia, doadora e receptora foram testadas para coronav�rus, com resultado negativo. Exames dos pulm�es a serem transplantados tamb�m n�o indicaram a presen�a do v�rus.
Mas, ap�s receber os novos �rg�os, a receptora come�ou a apresentar sintomas como febre alta, dificuldade para respirar e sinais de pneumonia nos novos pulm�es. Ela foi submetida a um teste nasal, em que uma haste � introduzida no nariz para coletar amostras.
O resultado do teste foi negativo, mas como sua situa��o continuava a se agravar, com sintomas compat�veis com covid-19, os m�dicos decidiram testar uma amostra de fluido que havia sido coletado de dentro dos pulm�es da doadora, e o resultado foi positivo.
Testes posteriores confirmaram que a paciente havia realmente contra�do o coronav�rus dos �rg�os transplantados. Ela morreu dois meses depois.
O caso de Michigan foi considerado o primeiro dos Estados Unidos em que houve transmiss�o comprovada por meio de um �rg�o transplantado, e os autores do artigo ressaltaram a necessidade de realizar testes adicionais em todos os doadores de pulm�es para evitar esse tipo de contamina��o.
Testes e bi�psia
No transplante realizado em Chicago, Bharat diz que sua equipe tomou todos os cuidados para garantir que os pulm�es do doador estavam livres do coronav�rus. Os m�dicos testaram fluido dos �rg�os, em um procedimento realizado antes de todos os transplantes realizados no hospital durante a pandemia.
Bharat diz que � preciso examinar o fluido dos pulm�es porque o teste nasal sozinho n�o garante que o doador est� livre do v�rus.
"Estudos demonstram que se seu teste nasal � negativo de 8 a 10 dias depois dos sintomas de covid-19, voc� n�o tem v�rus nas vias a�reas", afirma o cirurgi�o. "Mas o teste nasal n�o confirma se voc� est� livre do v�rus nos pulm�es."
Na sala de opera��o, a equipe realizou uma bi�psia dos pulm�es, para garantir que n�o havia dano permanente.
"Se o teste nasal e o fluido dos pulm�es demonstram que (o doador) est� livre do v�rus e a bi�psia confirma que n�o h� dano permanente aos �rg�os, podemos ter confian�a na qualidade dos pulm�es dos doadores", ressalta Bharat.
O m�dico diz que a cirurgia foi um sucesso e que o receptor est� se recuperando bem. Desde o in�cio da pandemia, Bharat e seus colegas j� completaram 14 transplantes duplos de pulm�es em sobreviventes de covid-19, entre eles o primeiro a ser realizado nos Estados Unidos, em junho do ano passado.
O m�dico Michael Ison, especialista em doen�as infecciosas e transplantes de �rg�os da rede Northwestern Medicine, observa que as regras atuais no pa�s permitem o uso de doadores que tiveram covid-19, desde que j� tenham se recuperado e tenha resultado negativo nos testes.
"Mas (apesar disso), no momento, muitos centros de transplante est�o preocupados com os riscos de transmiss�o da covid-19 de doadores, particularmente em transplantes de pulm�es, e est�o descartando esses �rg�os desnecessariamente", afirma Ison.
Segundo ele, o sucesso da cirurgia mostra que, com os cuidados necess�rios, � seguro usar os �rg�os de doadores que tiveram casos de covid-19 leves ou moderados e j� se recuperaram completamente.
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