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Estado de Minas

Por que pandemia e 'fique em casa' n�o geraram mais beb�s no Brasil e no mundo

Estudo mostra que EUA e partes da Europa est�o enfrentando quedas nas taxas de natalidade; n�mero de nascimentos tamb�m caiu no Brasil.


19/03/2021 22:22 - atualizado 19/03/2021 22:22

Estudo mostra que EUA e partes da Europa estão enfrentando quedas nas taxas de natalidade; número de nascimentos também caiu no Brasil(foto: Getty Images)
Estudo mostra que EUA e partes da Europa est�o enfrentando quedas nas taxas de natalidade; n�mero de nascimentos tamb�m caiu no Brasil (foto: Getty Images)
Para aqueles que pensavam que o lockdown encorajaria casais a procriar, houve uma surpresa: o baby boom n�o aconteceu.

 

Um levantamento recente mostra que os EUA est�o enfrentando a maior queda no n�mero de nascimentos em um s�culo e em partes da Europa o decl�nio � ainda mais acentuado.

 

Quando Frederike foi morar com seus pais para cuidar de um parente idoso no in�cio da pandemia, ela pensou nisso como um presente, uma chance de passar um tempo com sua fam�lia.

 

Mas, alguns meses depois, a alem� de 33 anos come�ou a sentir uma profunda sensa��o de perda.

 

Frederike � solteira e percebeu que a pandemia estava roubando a chance de ela conhecer algu�m e come�ar uma fam�lia.

 

"O tempo parece realmente precioso no momento e minha vida foi colocada em compasso de espera", diz.

 

Ela tentou namorar online, mas fazer caminhadas no inverno em temperaturas abaixo de zero n�o encorajava qualquer romance.

 

Agora, quando ela est� se sentindo desanimada, o mesmo pensamento gira obsessivamente em sua cabe�a: "Quando isso acabar, vou ficar inf�rtil".

 

"Estou sentada em casa nos anos em que posso ter um filho."

 

A hist�ria relatada por Frederike est� longe de ser um caso isolado e pode ser uma boa ilustra��o de uma das causas que t�m levado � redu��o dos �ndices de crescimento populacional, o que na verdade n�o tem surpreendido os dem�grafos.


Para demógrafos, redução da natalidade não foi surpresa(foto: Getty Images)
Para dem�grafos, redu��o da natalidade n�o foi surpresa (foto: Getty Images)

'Sem surpresas'

"Tendo visto a gravidade da pandemia, n�o estou surpreso", diz Philip N. Cohen, professor de sociologia da Universidade de Maryland, nos EUA.

 

"Mas ainda � chocante ver algo assim acontecer em tempo real."

 

Em junho do ano passado, economistas do Instituto Brookings, nos Estados Unidos, estimaram que os nascimentos nos EUA cairiam em 300 mil a meio milh�o de beb�s.

 

Ao mesmo tempo, uma pesquisa sobre planos de fertilidade na Europa mostrou que 50% das pessoas na Alemanha e na Fran�a que planejaram ter um filho em 2020 iriam adi�-lo.

 

Na It�lia, 37% disseram ter abandonado totalmente a ideia.

 

Um relat�rio do Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos EUA, �rg�o ligado ao Departamento de Sa�de (equivalente ao Minist�rio da Sa�de no Brasil) do pa�s, indica uma queda de 8% nos nascimentos no m�s de dezembro.

 

Os primeiros dados da It�lia sugerem um decl�nio de 21,6% no in�cio do ano e a Espanha est� relatando sua menor taxa de natalidade desde o in�cio dos registros — um decl�nio de 20%.

 

O Brasil tamb�m registrou redu��o. O n�mero de nascimentos caiu de 2.774.323, em 2019, para 2.602.946, em 2020, queda de 6,2%, segundo dados do Portal da Transpar�ncia dos Cart�rios.

 

Nove meses ap�s o in�cio da pandemia, Fran�a, Coreia, Taiwan, Est�nia, Let�nia e Litu�nia relataram n�meros mensais de nascimentos em dezembro ou janeiro, que foram os mais baixos em mais de 20 anos.

 

Joshua Wilde e sua equipe do Instituto Max Planck de Pesquisa Demogr�fica, na Alemanha, previram esse decl�nio e suas pesquisas mostram que o efeito — pelo menos nos Estados Unidos — deve durar meses.

 

Eles observaram a preval�ncia de termos de pesquisa do Google nos Estados Unidos — como o teste de gravidez "Clearblue" ou "enjoo matinal".

 

Em outubro, eles previram que at� fevereiro haveria uma queda de 15,2% nos nascimentos.

 

Agora eles veem essa queda se estendendo at� agosto.

 

Seria a maior queda de nascimentos em mais de um s�culo, durando mais do que o efeito da recess�o de 2008 ou mesmo da Grande Depress�o de 1929.

 

"Geralmente, o que encontramos nesses tipos de recess�es e pandemias � que h� um decl�nio no nascimento e uma recupera��o", diz Wilde.

 

"Voc� poderia imaginar que quando a primeira onda terminasse, todos falariam: 'chegou a hora de ter todos aqueles filhos que �amos ter'."

 

Mas desta vez � diferente. "O que estou descobrindo � uma tend�ncia contr�ria. Se as pessoas est�o esperando, est�o esperando muito tempo."


Número de nascimentos caiu 6% no Brasil entre 2020 e 2019(foto: Getty Images)
N�mero de nascimentos caiu 6% no Brasil entre 2020 e 2019 (foto: Getty Images)

E algumas decidir�o n�o ter mais filhos.

 

Isso faz sentido para Steve. Nos �ltimos tr�s anos, ele tem mantido a mesma conversa repetidamente com sua esposa.

 

Ela quer outro filho, uma irm� mais nova para seus dois meninos. Mas ele est� feliz com sua fam�lia de quatro pessoas.


(foto: Getty Images)
(foto: Getty Images)

"Ent�o, todos os anos eu venho com desculpas", diz ele.

 

Ele tentou convenc�-la de que a situa��o econ�mica na Nig�ria, onde eles moram, � muito imprevis�vel, mas ela n�o acreditava nisso — at� agora.

 

"Pela primeira vez, por causa da covid-19, ela realmente concordou (em n�o ter mais filhos)."

 

Para um casal de classe m�dia como Steve e sua esposa, os filhos s�o uma escolha. Mas n�o para todos.

 

A ag�ncia de sa�de sexual e reprodutiva da ONU afirma que a pandemia fez com que quase 12 milh�es de mulheres em 115 pa�ses perdessem o acesso aos servi�os de planejamento familiar e poderia resultar em 1,4 milh�o de gravidezes indesejadas.

 

S� na Indon�sia, o governo prev� que mais meio milh�o de beb�s nascer�o por causa da pandemia.


Queda na natalidade tem forte componente econômico, dizem demógrafos(foto: Getty Images)
Queda na natalidade tem forte componente econ�mico, dizem dem�grafos (foto: Getty Images)

Durante o lockdown, o governo enviou carros pelas vilas e cidades com mensagens de alto-falantes.

 

"Pais, por favor, controlem-se", dizia a mensagem. "Voc� pode fazer sexo. Voc� pode se casar. Mas n�o engravide."

 

A ag�ncia nacional de planejamento familiar do pa�s afirma que at� 10 milh�es de pessoas pararam de usar anticoncepcionais porque n�o conseguiam acessar cl�nicas ou farm�cias naquela �poca.

 

Ent�o, por que a Europa e os EUA est�o enfrentando uma redu��o no n�mero de nascimentos?

 

Uma teoria para explicar isso � que as pessoas est�o fazendo menos sexo.

Um relat�rio do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, descobriu que 40% das pessoas pesquisadas, independentemente do sexo ou idade, relataram um decl�nio em sua vida sexual durante a pandemia.

 

Uma pesquisa menor na China produziu resultados semelhantes. No sul da �sia, uma pesquisa n�o encontrou nenhum decl�nio.

 

Marieke Dewitte, psic�loga e sex�loga da Universidade de Maastricht, na Holanda, diz que devemos ter cuidado para n�o inferir muito desses estudos.

 

"As pessoas reagem de maneira muito diferente � forma como essa pandemia afeta sua sexualidade e seu relacionamento", diz ela.

 

"Para algumas pessoas, o estresse aumenta o desejo sexual e, para outras, acaba com o desejo sexual."

 

O que � mais convincente � o v�nculo firme e estabelecido entre a economia e os beb�s.

Ao longo da hist�ria em diferentes pa�ses, a confian�a econ�mica levou a um aumento no n�mero de nascimentos e a incerteza ao decl�nio.

 

� o caso do Brasil, por exemplo, segundo dem�grafos. Fatores econ�micos t�m um papel primordial no aumento — ou na diminui��o — da popula��o.

 

Na d�cada de 80, quando o Brasil vivia um per�odo de hiperinfla��o, Estados mais ricos, com maior planejamento familiar, registraram redu��o no n�mero de nascimentos.

 

O pa�s tamb�m tem um n�mero significativo de gravidezes n�o desejadas ou planejadas.

Neste sentido, o adiamento da gesta��o fica restrito �s classes sociais mais bem informadas, dizem os dem�grafos.

 

Na Europa, um levantamento descobriu que mulheres da Alemanha, da Fran�a e do Reino Unido que viviam nas �reas mais afetadas pela covid-19 eram mais propensas a adiar o parto.

 

Ao mesmo tempo, v�rios pa�ses mais ricos do norte da Europa que lidaram relativamente bem com a pandemia, como Holanda, Noruega, Dinamarca e Finl�ndia, relataram pouco ou nenhum decl�nio no n�mero de nascimentos em dezembro ou janeiro.

'Um pre�o alto'

Tudo isso faz parte de uma tend�ncia muito maior para o decl�nio dos nascimentos — o que preocupa algumas pessoas.

 

No futuro, se houver menos pessoas em idade ativa, haver� menos recolhimento de contribui��es para pagar aposentadorias e cuidados de sa�de para os idosos que, por sua vez, est�o vivendo mais.

 

Existem solu��es para este problema — aumentar a idade para a aposentadoria, por exemplo, ou encorajar a imigra��o — mas ambas t�m implica��es pol�ticas.

 

Muitos pa�ses tentaram aumentar o n�mero de beb�s nascidos com pouco sucesso. Quando as taxas de natalidade diminuem, � extremamente dif�cil convencer as mulheres a ter mais beb�s.

 

"Depois da grande recess�o de 2009, pode ter havido alguma recupera��o, mas n�o voltou ao n�vel de antes", diz Cohen.

 

"Certamente, nos Estados Unidos, as taxas de fertilidade nunca se recuperaram dos n�veis anteriores � recess�o."

 

Neste contexto em que as mulheres est�o mais velhas quando come�am a pensar em ter filhos, a janela de tempo que t�m para conceber � mais curta.

 

Frederike sente que seu tempo est� acabando, mas est� se sentindo mais otimista no momento.

 

Ela est� pensando em congelar seus �vulos ou ter um filho com um amigo gay — ou talvez n�o ter nenhum filho — e isso lhe deu um senso de controle.

 

"Estou feliz por fazer isso para proteger os idosos, mas � um pre�o bastante alto."


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