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Estado de Minas

Na �ntegra: o que diz a dura carta de banqueiros e economistas com cr�ticas a Bolsonaro e propostas para pandemia

"N�o h� mais tempo para perder em debates est�reis e not�cias falsas", afirmam mais de 200 economistas, banqueiros, empres�rios e ex-autoridades


22/03/2021 23:31 - atualizado 22/03/2021 23:31

"N�o h� mais tempo para perder em debates est�reis e not�cias falsas", diz carta; Brasil vive o maior colapso sanit�rio e hospitalar de sua hist�ria, aponta a Fiocruz (foto: Diego Vara/Reuters)
Em carta aberta, mais de 200 economistas, banqueiros, empres�rios e ex-autoridades do setor p�blico fizeram cr�ticas � atua��o ao governo Bolsonaro na pandemia, cobraram mais vacinas, m�scaras gratuitas e medidas de distanciamento social e refutaram o "falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da popula��o vulner�vel".

 

"Dados preliminares de �bitos e desempenho econ�mico sugerem que os pa�ses com pior desempenho econ�mico tiveram mais �bitos de covid-19", afirma o documento, assinado por nomes como os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles (Ita�), os ex-ministros Pedro Malan e Rubens Ricupero e os economistas como Laura Carvalho, Elena Landau e Affonso Celso Pastore, este ex-presidente do Banco Central.

 

A carta de quase 2.700 palavras pode ser dividida em dois: um diagn�stico da situa��o sanit�ria e econ�mica alarmante do pa�s hoje e uma defesa de quatro grandes medidas contra o avan�o da doen�a.

 

"N�o h� mais tempo para perder em debates est�reis e not�cias falsas. Precisamos nos guiar pelas experi�ncias bem-sucedidas, por a��es de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situa��o sem precedentes que o pa�s vive."

Nas �ltimas tr�s semanas, o Brasil vem batendo diariamente sucessivos recordes de mortes registradas num per�odo de 24 horas. Atualmente, a m�dia di�ria � de 2.255 mortes, mas a tend�ncia � de alta, e alguns pesquisadores n�o descartam que esse n�mero pode at� dobrar em breve.

 

Quase 300 mil pessoas morreram at� agora, diversas cidades do pa�s est�o com hospitais lotados e muitos profissionais de sa�de e autoridades alertam para a iminente falta de oxig�nio e de medicamentos essenciais para intubar pacientes graves, que levaria a um aumento expressivo das mortes pela doen�a.

Desemprego recorde e vacina��o lenta

Para o grupo que assina a carta aberta pedindo medidas de combate � pandemia, a situa��o econ�mica e social do Brasil � "desoladora".

 

O PIB (soma de todas riquezas produzidas no pa�s em um per�odo) continua a cair neste ano, o desemprego atingiu n�veis recordes e pode ser maior do que apontam as estat�sticas e a desigualdade se agravou.

 

"A contra��o da economia afetou desproporcionalmente trabalhadores mais pobres e vulner�veis, com uma queda de 10,5% no n�mero de trabalhadores informais empregados, aproximadamente duas vezes a queda proporcional no n�mero de trabalhadores formais empregados."

 

Os signat�rios da carta tamb�m criticam o governo Bolsonaro pela falta de vacina e lentid�o do programa��o nacional de imuniza��o, que levaria teria impacto direto na recupera��o econ�mica. " Na semana iniciada em 8 de mar�o foram aplicadas, em m�dia, apenas 177 mil doses por dia. No ritmo atual, levar�amos mais de 3 anos para vacinar toda a popula��o."

 

E acrescentam: "Em torno de 5% da popula��o recebeu ao menos uma dose de vacina, o que nos coloca na 45ª posi��o no ranking mundial de doses aplicadas por habitante."

Quatro propostas contra a crise

Vacina��o mais r�pida

Os signat�rios da carta aberta fazem duras cr�ticas ao governo federal pela falta de vacinas no pa�s. "A insuficiente oferta de vacinas no pa�s n�o se deve ao seu elevado custo, nem � falta de recursos or�ament�rios, mas � falta de prioridade atribu�da � vacina��o."

 

O grupo aponta que "a rela��o benef�cio-custo da vacina � da ordem de seis vezes para cada real gasto na sua aquisi��o e aplica��o" e calcula que o atraso na vacina��o "ir� custar em termos de produto ou renda n�o gerada nada menos do que estimados R$ 131,4 bilh�es em 2021, supondo uma recupera��o retardat�ria em dois trimestres".

 

Para eles, � fundamental que o governo use sua pol�tica externa para obter mais vacinas com grandes pa�ses produtores ou com aqueles com excedentes, como o caso dos Estados Unidos.

 

O Minist�rio das Rela��es Exteriores do Brasil divulgou que negocia desde 13 de mar�o com o governo norte-americano a importa��o de doses excedentes de vacina. Mas ainda n�o se sabe se os EUA v�o de fato vender ou doar esses imunizantes e nem quantos seriam.

 

At� agora, o pa�s disse ter garantido 563 milh�es de doses de vacina, mas a entrega delas ser� escalonada ao longo desse ano se tudo correr conforme planejado, o que n�o tem se confirmado durante a pandemia.

 

Grande parte dessas doses depende da exporta��o de outros pa�ses, que tem atrasado, como �ndia e China, al�m de vacinas que ainda n�o foram aprovadas pela Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria), como a indiana Covaxin, a belga Janssen e a russa Sputnik.

 

M�scaras gratuitas e eficazes

Na carta aberta, o grupo de signat�rios defende outra medida tida como um �timo custo-benef�cio: a distribui��o massiva de m�scaras com filtragem eficaz contra o coronav�rus que n�o custam mais do que R$ 3.

 

"Considerando o p�blico do aux�lio emergencial, de 68 milh�es de pessoas, por exemplo, e cinco reusos da m�scara, tal como recomenda o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as dos EUA, chegar�amos a um custo mensal de R$ 1 bilh�o. Isto �, 2% do gasto estimado mensal com o aux�lio emergencial."

 

M�scaras que atendem normas t�cnicas, como a FFP2 e N95, t�m uma estrutura semi-r�gida (algumas em modelo concha e outras dobr�veis), uma pe�a met�lica para contornar o nariz e el�sticos que ficam presos na cabe�a e na nuca, gerando uma tens�o maior que em modelos presos apenas na orelha.

 

Essa veda��o � o que faz com que todo o ar inspirado e expirado passe pelo filtro, que � composto por v�rias camadas que fazem filtragem mec�nica (part�culas colidem e ficam presas nas fibras) e eletrost�tica (part�culas s�o atra�das por fibras com carga el�trica).


(foto: BBC)
(foto: BBC)

� essa combina��o de veda��o e filtragem, explicou o engenheiro biom�dico Vitor Mori � BBC News Brasil, que torna a m�scara t�o eficiente e garante que o usu�rio tamb�m est� se protegendo, e n�o apenas protegendo os outros.

 

H� mais cr�ticas direcionadas ao governo Bolsonaro nesse quesito, visto que o presidente � o principal opositor a elas no pa�s.

 

"Estudos mostram que mensagens contr�rias �s medidas de preven��o afetam a sua ado��o pela popula��o, levando ao aumento do cont�gio."

 

Coordena��o nacional para diretrizes e distanciamento social

 

Para signat�rios da carta, a postura de l�deres pol�ticos que desdenham da ci�ncia, defendem tratamentos sem efic�cia comprovada e estimulam aglomera��es "refor�a normas antissociais, dificulta a ades�o da popula��o a comportamentos respons�veis, amplia o n�mero de infectados e de �bitos e aumenta custos que o pa�s incorre".

 

O grupo defende coordena��o do governo federal, e no caso de sua aus�ncia de governos estaduais e prefeituras, para comprar vacinas e adotar medidas para conter o avan�o da doen�a, como eventuais lockdowns (quando a circula��o de pessoas � duramente limitada) restri��es a viagens intermunicipais, interestaduais e internacionais.

 

Eles cobram que o governo federal deixe de agir contra os gestores que adotam essas medidas. Bolsonaro, inclusive, recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra medidas do tipo adotadas pelos governadores da Bahia, do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul.

 

"Muitos Estados n�o tiveram alternativa sen�o adotar medidas mais dr�sticas, como fechamento de todas as atividades n�o essenciais e o toque de recolher � noite. Os gestores estaduais e municipais t�m enfrentado campanhas contr�rias por parte do governo federal e dos seus apoiadores."

 

Como medida para tornar poss�vel e eficaz o distanciamento social mais amplo, o grupo defende os programas de amparo socioecon�mico, como o aux�lio emergencial.

 

"H� s�lida evid�ncia de que programas de amparo socioecon�mico durante a pandemia aumentaram o respeito �s regras de isolamento social dos benefici�rios."

Leia abaixo a carta na �ntegra

CARTA ABERTA � SOCIEDADE REFERENTE A MEDIDAS DE COMBATE � PANDEMIA

 

O Brasil � hoje o epicentro mundial da covid-19, com a maior m�dia m�vel de novos casos.

 

Enquanto caminhamos para atingir a marca t�trica de 3 mil mortes por dia e um total de mortes acumuladas de 300 mil ainda esse m�s, o quadro fica ainda mais alarmante com o esgotamento dos recursos de sa�de na grande maioria de estados, com insuficiente n�mero de leitos de UTI, respiradores e profissionais de sa�de. Essa situa��o tem levado a mortes de pacientes na espera pelo atendimento, contribuindo para uma maior letalidade da doen�a.

 

A situa��o econ�mica e social � desoladora. O PIB encolheu 4,1% em 2020 e provavelmente observaremos uma contra��o no n�vel de atividade no primeiro trimestre deste ano. A taxa de desemprego, por volta de 14%, � a mais elevada da s�rie hist�rica, e subestima o aumento do desemprego, pois a pandemia fez com que muitos trabalhadores deixassem de procurar emprego, levando a uma queda da for�a de trabalho entre fevereiro e dezembro de 5,5 milh�es de pessoas.

 

A contra��o da economia afetou desproporcionalmente trabalhadores mais pobres e vulner�veis, com uma queda de 10,5% no n�mero de trabalhadores informais empregados, aproximadamente duas vezes a queda proporcional no n�mero de trabalhadores formais empregados.

  

Esta recess�o, assim como suas consequ�ncias sociais nefastas, foi causada pela pandemia e n�o ser� superada enquanto a pandemia n�o for controlada por uma atua��o competente do governo federal. Este subutiliza ou utiliza mal os recursos de que disp�e, inclusive por ignorar ou negligenciar a evid�ncia cient�fica no desenho das a��es para lidar com a pandemia. Sabemos que a sa�da definitiva da crise requer a vacina��o em massa da popula��o.

 

Infelizmente, estamos atrasados. Em torno de 5% da popula��o recebeu ao menos uma dose de vacina, o que nos coloca na 45ª posi��o no ranking mundial de doses aplicadas por habitante.

 

O ritmo de vacina��o no pa�s � insuficiente para vacinar os grupos priorit�rios do Plano Nacional de Imuniza��o (PNI) no 1º semestre de 2021, o que amplia o horizonte de vacina��o para toda a popula��o para meados de 2022.

 

As consequ�ncias s�o inomin�veis. No momento, o Brasil passa por escassez de doses de vacina, com recorrentes atrasos no calend�rio de entregas e revis�es para baixo na previs�o de disponibilidade de doses a cada m�s. Na semana iniciada em 8 de mar�o foram aplicadas, em m�dia, apenas 177 mil doses por dia.

 

No ritmo atual, levar�amos mais de 3 anos para vacinar toda a popula��o. O surgimento de novas cepas no pa�s (em especial a P.1) comprovadamente mais transmiss�veis e potencialmente mais agressivas, torna a vacina��o ainda mais urgente. A dissemina��o em larga escala do v�rus, al�m de magnificar o n�mero de doentes e mortos, aumenta a probabilidade de surgirem novas variantes com potencial de diminuir a efic�cia das vacinas atuais.

 

Vacinas s�o relativamente baratas face ao custo que a pandemia imp�e � sociedade. Os recursos federais para compra de vacinas somam R$ 22 bilh�es, uma pequena fra��o dos R$ 327 bilh�es desembolsados nos programas de aux�lio emergencial e manuten��o do emprego no ano de 2020.

 

Vacinas t�m um benef�cio privado e social elevado, e um custo total comparativamente baixo. Poder�amos estar em melhor situa��o, o Brasil tem infraestrutura para isso. Em 1992, conseguimos vacinar 48 milh�es de crian�as contra o sarampo em apenas um m�s.

 

Na campanha contra a Covid-19, se estiv�ssemos vacinando t�o r�pido quanto a Turquia, ter�amos alcan�ado uma propor��o da popula��o duas vezes maior, e se tanto quanto o Chile, dez vezes maior. A falta de vacinas � o principal gargalo. Impressiona a neglig�ncia com as aquisi��es, dado que, desde o in�cio da pandemia, foram desembolsados R$ 528,3 bilh�es em medidas de combate � pandemia, incluindo os custos adicionais de sa�de e gastos para mitiga��o da deteriorada situa��o econ�mica. A redu��o do n�vel da atividade nos custou uma perda de arrecada��o tribut�ria apenas no �mbito federal de 6,9%, aproximadamente R$ 58 bilh�es, e o atraso na vacina��o ir� custar em termos de produto ou renda n�o gerada nada menos do que estimados R$ 131,4 bilh�es em 2021, supondo uma recupera��o retardat�ria em 2 trimestres.

 

Nesta perspectiva, a rela��o benef�cio custo da vacina � da ordem de seis vezes para cada real gasto na sua aquisi��o e aplica��o. A insuficiente oferta de vacinas no pa�s n�o se deve ao seu elevado custo, nem � falta de recursos or�ament�rios, mas � falta de prioridade atribu�da � vacina��o.

 

O quadro atual ainda poder� deteriorar-se muito se n�o houver esfor�os efetivos de coordena��o nacional no apoio a governadores e prefeitos para limita��o de mobilidade. Enquanto se busca encurtar os tempos e aumentar o n�mero de doses de vacina dispon�veis, � urgente o refor�o de medidas de distanciamento social. Da mesma forma � essencial a introdu��o de incentivos e pol�ticas p�blicas para uso de m�scaras mais eficientes, em linha com os esfor�os observados na Uni�o Europeia e nos Estados Unidos.

 

A controv�rsia em torno dos impactos econ�micos do distanciamento social reflete o falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da popula��o vulner�vel. Na realidade, dados preliminares de �bitos e desempenho econ�mico sugerem que os pa�ses com pior desempenho econ�mico tiveram mais �bitos de covid-19. A experi�ncia mostrou que mesmo pa�ses que optaram inicialmente por evitar o lockdown terminaram por adot�-lo, em formas variadas, diante do agravamento da pandemia - � o caso do Reino Unido, por exemplo. Estudos mostraram que diante da acelera��o de novos casos, a popula��o responde ficando mais avessa ao risco sanit�rio, aumentando o isolamento volunt�rio e levando � queda no consumo das fam�lias mesmo antes ou sem que medidas restritivas formais sejam adotadas.15 A recupera��o econ�mica, por sua vez, � lenta e depende da retomada de confian�a e maior previsibilidade da situa��o de sa�de no pa�s.

 

Logo, n�o � razo�vel esperar a recupera��o da atividade econ�mica em uma epidemia descontrolada.

 

O efeito devastador da pandemia sobre a economia tornou evidente a precariedade do nosso sistema de prote��o social. Em particular, os trabalhadores informais, que constituem mais de 40% da for�a de trabalho, n�o t�m prote��o contra o desemprego. No ano passado, o aux�lio emergencial foi fundamental para assistir esses trabalhadores mais vulner�veis que perderam seus empregos, e levou a uma redu��o da pobreza, evidenciando a necessidade de melhoria do nosso sistema de prote��o social. Enquanto a pandemia perdurar, medidas que apoiem os mais vulner�veis, como o aux�lio emergencial, se fazem necess�rias. Em paralelo, n�o devemos adiar mais o encaminhamento de uma reforma no sistema de prote��o social, visando aprimorar a atual rede de assist�ncia social e prover seguro aos informais. Uma proposta nesses moldes � o programa de Responsabilidade Social, patrocinado pelo Centro de Debate de Pol�ticas P�blicas, encaminhado para o Congresso no final do ano passado.

 

Outras medidas de apoio �s pequenas e m�dias empresas tamb�m se fazem necess�rias. A experi�ncia internacional com programas de aval p�blico para financiamento privado voltado para pequenos empreendedores durante um choque negativo foi bem-sucedida na manuten��o de emprego, gerando um benef�cio l�quido positivo � sociedade.

 

O aumento em 34,7% do endividamento dos pequenos neg�cios durante a pandemia amplifica essa necessidade. A retomada de linhas avalizadas pelo Fundo Garantidor para Investimentos e Fundo de Garantia de Opera��es � uma medida importante de transi��o entre a segunda onda e o p�s-crise.

Estamos no limiar de uma fase explosiva da pandemia e � fundamental que a partir de agora as pol�ticas p�blicas sejam alicer�adas em dados, informa��es confi�veis e evid�ncia cient�fica. N�o h� mais tempo para perder em debates est�reis e not�cias falsas. Precisamos nos guiar pelas experi�ncias bem-sucedidas, por a��es de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situa��o sem precedentes que o pa�s vive.

 

Medidas indispens�veis de combate � pandemia: a vacina��o em massa � condi��o sine qua non para a recupera��o econ�mica e redu��o dos �bitos.

1. Acelerar o ritmo da vacina��o. O maior gargalo para aumentar o ritmo da vacina��o � a escassez de vacinas dispon�veis. Deve-se, portanto, aumentar a oferta de vacinas de forma urgente. A estrat�gia de depender da capacidade de produ��o local limitou a disponibilidade de doses ante a alternativa de pr�-contratar doses prontas, como fez o Chile e outros pa�ses. Perdeu-se um tempo precioso e a assinatura de novos contratos agora n�o garante oferta de vacinas em prazo curto. � imperativo negociar com todos os laborat�rios que disp�em de vacinas j� aprovadas por ag�ncias de vigil�ncia internacionais relevantes e buscar antecipa��o de entrega do maior n�mero poss�vel de doses. Tendo em vista a escassez de oferta no mercado internacional, � fundamental usar a pol�tica externa - desidratada de ideologia ou alinhamentos autom�ticos - para apoiar a obten��o de vacinas, seja nos grandes pa�ses produtores seja nos pa�ses que t�m ou ter�o excedentes em breve.

 

A vacina��o � uma corrida contra o surgimento de novas variantes que podem escapar da imunidade de infec��es passadas e de vacinas antigas. As novas variantes surgidas no Brasil tornam o controle da pandemia mais desafiador, dada a maior transmissibilidade.

 

Com o descontrole da pandemia � quest�o de tempo at� emergirem novas variantes. O Brasil precisa ampliar suas capacidades de sequenciamento gen�mico em tempo real, de compartilhar dados com a comunidade internacional e de testar a efic�cia das vacinas contra outras variantes com m�xima agilidade. Falhas e atrasos nesse processo podem colocar em risco toda a popula��o brasileira, e tamb�m de outros pa�ses.

 

2. Incentivar o uso de m�scaras tanto com distribui��o gratuita quanto com orienta��o educativa. Economistas estimaram que se os Estados Unidos tivessem adotado regras de uso de m�scaras no in�cio da pandemia poderiam ter reduzido de forma expressiva o n�mero de �bitos. Mesmo se um usu�rio de m�scara for infectado pelo v�rus, a m�scara pode reduzir a gravidade dos sintomas, pois reduz a carga viral inicial que o usu�rio � exposto. Pa�ses da Uni�o Europeia e os Estados Unidos passaram a recomendar o uso de m�scaras mais eficientes - m�scaras cir�rgicas e padr�o PFF2/N95 - como resposta �s novas variantes. O Brasil poderia fazer o mesmo, distribuindo m�scaras melhores � popula��o de baixa renda, explicando a import�ncia do seu uso na preven��o da transmiss�o da covid.

 

M�scaras com filtragem adequada t�m pre�os a partir de R$ 3 a unidade. A distribui��o gratuita direcionada para pessoas sem condi��es de compr�-las, acompanhada de instru��o correta de reuso, teria um baixo custo frente aos benef�cios de conten��o da Covid-1923. Considerando o p�blico do aux�lio emergencial, de 68 milh�es de pessoas, por exemplo, e cinco reusos da m�scara, tal como recomenda o Center for Disease Control do EUA, chegar�amos a um custo mensal de R$ 1 bilh�o. Isto �, 2% do gasto estimado mensal com o aux�lio emergencial. Embora leis de uso de m�scara ajudem, informar corretamente a popula��o e as lideran�as darem o exemplo tamb�m � importante, e tem impacto na trajet�ria da epidemia. Inversamente, estudos mostram que mensagens contr�rias �s medidas de preven��o afetam a sua ado��o pela popula��o, levando ao aumento do cont�gio.

 

3. Implementar medidas de distanciamento social no �mbito local com coordena��o nacional. O termo "distanciamento social" abriga uma s�rie de medidas distintas, que incluem a proibi��o de aglomera��o em locais p�blicos, o est�mulo ao trabalho a dist�ncia, o fechamento de estabelecimentos comerciais, esportivos, entre outros, e - no limite - escolas e creches. Cada uma dessas medidas tem impactos sociais e setoriais distintos. A melhor combina��o � aquela que maximize os benef�cios em termos de redu��o da transmiss�o do v�rus e minimize seus efeitos econ�micos, e depende das caracter�sticas da geografia e da economia de cada regi�o ou cidade. Isso sugere que as decis�es quanto a essas medidas devem ser de responsabilidade das autoridades locais.

Com o agravamento da pandemia e esgotamento dos recursos de sa�de, muitos estados n�o tiveram alternativa sen�o adotar medidas mais dr�sticas, como fechamento de todas as atividades n�o-essenciais e o toque de recolher � noite. Os gestores estaduais e municipais t�m enfrentado campanhas contr�rias por parte do governo federal e dos seus apoiadores. Para maximizar a efetividade das medidas tomadas, � indispens�vel que elas sejam apoiadas, em especial pelos �rg�os federais. Em particular, � imprescind�vel uma coordena��o em �mbito nacional que permita a ado��o de medidas de car�ter nacional, regional ou estadual, caso se avalie que � necess�rio cercear a mobilidade entre as cidades e/ou estados ou mesmo a entrada de estrangeiros no pa�s.

 

A necessidade de adotar um lockdown nacional ou regional deveria ser avaliado. � urgente que os diferentes n�veis de governo estejam preparados para implementar um lockdown emergencial, definindo crit�rios para a sua ado��o em termos de escopo, abrang�ncia das atividades cobertas, cronograma de implementa��o e dura��o.

 

Ademais, � necess�rio levar em considera��o que o acr�scimo de ades�o ao distanciamento social entre os mais vulner�veis depende crucialmente do aux�lio emergencial. H� s�lida evid�ncia de que programas de amparo socioecon�mico durante a pandemia aumentaram o respeito �s regras de isolamento social dos benefici�rios. �, portanto, n�o s� mais justo como mais eficiente focalizar a assist�ncia nas popula��es de baixa renda, que s�o mais expostas nas suas atividades de trabalho e mais vulner�veis financeiramente.

 

Dentre a combina��o de medidas poss�veis, a quest�o do funcionamento das escolas merece aten��o especial. H� estudos mostrando que n�o h� correla��o entre aumento de casos de infec��o e reabertura de escolas no mundo. H� tamb�m informa��es sobre o n�vel relativamente reduzido de cont�gio nas escolas de S�o Paulo ap�s sua abertura.

 

As fun��es da escola, principalmente nos anos do ensino fundamental, v�o al�m da transmiss�o do conhecimento, incluindo cuidados e acesso � alimenta��o de crian�as, liberando os pais - principalmente as m�es - para o trabalho. O fechamento de escolas no Brasil atingiu de forma mais dura as crian�as mais pobres e suas m�es. A evid�ncia mostra que alunos de baixa renda, com menor acesso �s ferramentas digitais, enfrentam maiores dificuldade de completar as atividades educativas, ampliando a desigualdade da forma��o de capital humano entre os estudantes.

 

Portanto, as escolas devem ser as �ltimas a fechar e as primeiras a reabrir em um esquema de distanciamento social. H� aqui um papel fundamental para o Minist�rio da Educa��o em coopera��o com o Minist�rio da Sa�de na defini��o e comunica��o de procedimentos que contribuam para a minimiza��o dos riscos de cont�gio nas escolas, al�m do uso de ferramentas comportamentais para reten��o da evas�o escolar, como o uso de mensagens de celular como est�mulo para motivar os estudantes, conforme adotado em S�o Paulo e Goi�s.

 

4. Criar mecanismo de coordena��o do combate � pandemia em �mbito nacional - preferencialmente pelo Minist�rio da Sa�de e, na sua aus�ncia, por cons�rcio de governadores - orientada por uma comiss�o de cientistas e especialistas, se tornou urgente. Diretrizes nacionais s�o ainda mais necess�rias com a escassez de vacinas e logo a necessidade de defini��o de grupos priorit�rios; com as tentativas e erros no distanciamento social; a limitada compreens�o por muitos dos pilares da preven��o, particularmente da import�ncia do uso de m�scara, e outras medidas no �mbito do relacionamento social.

 

Na aus�ncia de coordena��o federal, � essencial a concerta��o entre os entes subnacionais, cons�rcio para a compra de vacinas e para a ado��o de medidas de supress�o.

 

O papel de lideran�a: Apesar do negacionismo de alguns poucos, praticamente todos os l�deres da comunidade internacional tomaram a frente no combate ao covid-19 desde mar�o de 2020, quando a OMS declarou o car�ter pand�mico da crise sanit�ria. Informando, notando a gravidade de uma crise sem precedentes em 100 anos, guiando a a��o dos indiv�duos e influenciado o comportamento social.

 

L�deres pol�ticos, com acesso � m�dia e �s redes, recursos de Estado, e comandando aten��o, fazem a diferen�a: para o bem e para o mal. O desdenho � ci�ncia, o apelo a tratamentos sem evid�ncia de efic�cia, o est�mulo � aglomera��o, e o flerte com o movimento antivacina, caracterizou a lideran�a pol�tica maior no pa�s. Essa postura refor�a normas antissociais, dificulta a ades�o da popula��o a comportamentos respons�veis, amplia o n�mero de infectados e de �bitos, aumenta custos que o pa�s incorre.

 

O pa�s pode se sair melhor se perseguimos uma agenda respons�vel. O pa�s tem pressa; o pa�s quer seriedade com a coisa p�blica; o pa�s est� cansado de ideias fora do lugar, palavras inconsequentes, a��es erradas ou tardias. O Brasil exige respeito.


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