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Estado de Minas PRESSA PELA VIDA

Jovens cruzam fronteira com Uruguai por vacina contra covid-19: 'No Brasil, ia demorar muito'

Com a perspectiva de ter de esperar meses para se imunizar, brasileiros mais jovens que t�m dupla cidadania decidiram aproveitar a chance de fazer isso no pa�s vizinho, onde a vacina��o demorou para come�ar, mas avan�ou rapidamente.


05/04/2021 07:12 - atualizado 05/04/2021 08:55


Abdel Perez foi vacinado no Uruguai na terça-feira, dois dias após completar 18 anos(foto: Arquivo pessoal/BBC)
Abdel Perez foi vacinado no Uruguai na ter�a-feira, dois dias ap�s completar 18 anos (foto: Arquivo pessoal/BBC)

Na tarde de ter�a-feira (30/03), Abdel Perez, de 18 anos rec�m-completados, tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19. Ele mora em Santana do Livramento, no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, e foi ao pa�s vizinho s� para se imunizar.

Filho de uma uruguaia, Abdel � um exemplo de doble chapa, como s�o chamados na regi�o os brasileiros descendentes de uruguaios que t�m dupla cidadania.

Assim como ele, brasileiros com mais de 18 anos e que possuem cidadania uruguaia podem ser imunizados contra o novo coronav�rus no pa�s vizinho — n�o � necess�rio ser profissional de sa�de ou fazer parte de algum outro grupo priorit�rio.

"Foi fascinante, uma surpresa muito boa. N�o esperava ser vacinado t�o r�pido, porque estava aguardando no Brasil, onde demoraria muito, muito mesmo", diz o jovem � BBC News Brasil.

Enquanto o Brasil caminha a passos lentos na imuniza��o contra a covid-19, o Uruguai tem avan�ado rapidamente na imuniza��o de seus habitantes. O pa�s vizinho planeja vacinar cerca de 70% de seus quase 3,5 milh�es de moradores at� o fim do primeiro semestre deste ano.

Diversos moradores de Santana do Livramento t�m se vacinado em Rivera, no Uruguai. Na cidade brasileira, de cerca de 76 mil habitantes, muitos moradores t�m dupla cidadania.

H� tamb�m v�rios uruguaios que vivem no Brasil e foram ao pa�s de origem para serem imunizados. Brasileiros que trabalham no Uruguai tamb�m est�o sendo vacinados l�.

A vacina��o na fronteira brasileira � considerada fundamental pelas autoridades uruguaias, em virtude do atual cen�rio da pandemia no Brasil, com sucessivos recordes de mortes e casos.


Fila de pessoas à espera de imunização contra a covid-19 em uma unidade de saúde em Rivera, no Uruguai(foto: Arquivo pessoal/BBC)
Fila de pessoas � espera de imuniza��o contra a covid-19 em uma unidade de sa�de em Rivera, no Uruguai (foto: Arquivo pessoal/BBC)

'Marquei pelo WhatsApp'

Foi por meio de uma publica��o no Instagram que Abdel soube que j� poderia ser vacinado. "Saiu no perfil da rede de sa�de p�blica do Uruguai que estavam come�ando a vacinar (diferentes idades), peguei o n�mero do WhatsApp na p�gina, encaminhei meus dados e marquei", diz o jovem, que teve a aplica��o agendada para dias depois.

Para que possam se vacinar, os brasileiros precisam se cadastrar e encaminhar ao Minist�rio da Sa�de uruguaio um documento que comprova o v�nculo com o pa�s vizinho. Isso pode ser feito por meio do site da pasta ou em um n�mero de WhatsApp criado para agendar as imuniza��es.

Ap�s a confirma��o, o Minist�rio da Sa�de do Uruguai encaminha dados do local e a data da vacina��o da primeira e da segunda dose.

Abdel tomou a primeira dose da CoronaVac dois dias ap�s completar 18 anos. Na mesma data, sua m�e, que � uruguaia e mora no Brasil, tamb�m recebeu a primeira dose.

Os dois levaram cerca de 15 minutos de Santana do Livramento, onde moram, ao local de vacina��o, uma unidade de sa�de em Rivera.

Na �rea do hospital uruguaio destinada somente � imuniza��o, Abdel e a m�e precisaram preencher um formul�rio com seus dados uruguaios. Depois foram para uma fila, na qual as pessoas precisam manter dist�ncia de cerca de dois metros entre si.


Abdel comenta que demoraria muito tempo até conseguir ser imunizado no Brasil, por não fazer parte de algum grupo prioritário(foto: Arquivo pessoal/BBC)
Abdel comenta que demoraria muito tempo at� conseguir ser imunizado no Brasil, por n�o fazer parte de algum grupo priorit�rio (foto: Arquivo pessoal/BBC)

"Foi tudo certinho, ocorreu como o planejado. Chegamos 20 minutos antes e ainda conseguimos ser vacinados antes das 15h (que era o hor�rio marcado)", relata o jovem. Ele e a m�e tomar�o a segunda dose no fim de abril.

Outra brasileira que tamb�m foi vacinada recentemente em Rivera � a universit�ria Daniela Muratorio, de 25 anos. Ela foi imunizada na sexta-feira (26/03). "Quando a vacina chegou no Uruguai, j� sabia que o processo seria bem mais r�pido (que no Brasil)", diz a jovem, que mora no Brasil, � filha de uruguaio e tem dupla cidadania.

"Foi tudo muito r�pido. O meu irm�o, de 28 anos, foi vacinado (com a primeira dose) um dia antes de mim. Meu pai, de 58 anos, foi vacinado no in�cio de mar�o no Uruguai e j� vai tomar a segunda dose."

A vacina��o no Uruguai

O Uruguai come�ou a imuniza��o contra a covid-19 em 1º de mar�o. Foi o �ltimo pa�s da Am�rica do Sul. Apesar disso, as autoridades uruguaias anunciaram que j� haviam comprado vacinas suficientes para a popula��o local — os imunizantes t�m chegado aos poucos no pa�s.

Atualmente, o Uruguai possui as vacinas Coronavac, da chinesa Sinovac, e Cominarty, das farmac�uticas Pfizer e BioNtech. Enquanto a primeira tem sido aplicada em grande parte da popula��o, a segunda tem sido usada principalmente em profissionais da sa�de e idosos acima de 80 anos.


Daniela agora aguarda a segunda dose que já está marcada para abril(foto: Arquivo pessoal/BBC )
Daniela agora aguarda a segunda dose que j� est� marcada para abril (foto: Arquivo pessoal/BBC )

Posteriormente, o pa�s tamb�m deve receber doses da vacina de Oxford-AstraZeneca, por meio do cons�rcio internacional Covax Facility, iniciativa ligada � Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) para distribuir imunizantes contra a covid-19.

Na primeira semana da campanha de imuniza��o no Uruguai, o pa�s priorizou profissionais da sa�de, policiais militares, professores e bombeiros. Depois, cidad�os com mais de 80 anos, idosos que vivem em abrigos e presos.

Outro grupo que tamb�m teve prioridade foram as pessoas entre 50 e 70 anos. Na �poca, teve in�cio a vacina��o para os brasileiros com dupla cidadania que estavam nessa mesma faixa et�ria.


Daniela Muratorio, de 25 anos, foi vacinada no Uruguai(foto: Arquivo pessoal)
Daniela Muratorio, de 25 anos, foi vacinada no Uruguai (foto: Arquivo pessoal)

Depois dos grupos priorit�rios, o pa�s deu in�cio � vacina��o da popula��o em geral, acima de 18 anos — que tamb�m passou a valer para os brasileiros com dupla cidadania.

A imuniza��o para a popula��o em geral foi adiantada em raz�o do atual cen�rio da pandemia no Uruguai, o pior desde os primeiros registros de covid-19 no pa�s.

"Vimos que estamos muito amea�ados pelo aumento de casos de covid-19, por isso preferimos ampliar o horizonte de vacinados", diz o infectologista uruguaio Eduardo Savio Larriera, coordenador do comit� de imuniza��es da Associa��o Pan-americana de Infectologia.

Considerado um exemplo positivo em meio � pandemia, o Uruguai agora enfrenta s�rias dificuldades. Recentemente, o pa�s ultrapassou a marca de 100 mil casos de covid-19 e 1 mil mortes pela doen�a durante toda a pandemia.

Apesar de manter uma das menores taxas de mortalidade pela covid-19 na Am�rica Latina (aproximadamente 1%), os �ndices atuais indicam uma situa��o preocupante no pa�s. Nas �ltimas semanas, o Uruguai tem registrado constantes recordes di�rios de novos casos e mortes pela covid-19.

O sistema de sa�de local enfrenta o maior n�vel de ocupa��o desde o in�cio da pandemia.

De acordo com Larriera, a imuniza��o na regi�o da fronteira com o Brasil foi considerada uma a��o-chave no plano de imuniza��o uruguaio. Um dos principais temores, segundo ele, � a atual situa��o no Rio Grande do Sul, que enfrenta o per�odo grave da pandemia at� o momento e est� com o sistema de sa�de sobrecarregado.

"J� foram identificados casos da variante brasileira P1, que � considerada mais transmiss�vel, ent�o a fronteira do Uruguai com o Brasil � de extrema preocupa��o. O problema � que temos uma fronteira aberta com um tr�fego incontrol�vel de pessoas", diz o especialista.


Manuella Ibargoyen, de 20 anos, posa com a cidadania uruguaia: documento dá direitos no país vizinho à brasileira(foto: Arquivo pessoal/BBC)
Manuella Ibargoyen, de 20 anos, posa com a cidadania uruguaia: documento d� direitos no pa�s vizinho � brasileira (foto: Arquivo pessoal/BBC)

'O Uruguai foi mais ativo que o Brasil'

De acordo com dados do governo, o Uruguai vacinou, at� a manh� deste domingo (4/4), 716,9 mil pessoas (20,5% da popula��o, de 3,5 milh�o de habitantes) com a primeira dose e 68 mil (1,9%) com a segunda. O pa�s come�ou a imuniza��o da segunda dose h� cerca de duas semanas.

No Brasil, que deu in�cio � vacina��o em meados de janeiro, foram imunizadas 19,2 milh�es de pessoas (9,1% da popula��o, de 210 milh�es de habitantes) at� a noite de s�bado (3/4), segundo um cons�rcio de ve�culos de imprensa. A segunda dose foi aplicada em 5,34 milh�es de pessoas (2,54%).

Apesar da imensa diferen�a nas propor��es dos dois pa�ses, especialistas afirmam que � poss�vel usar o Uruguai como um exemplo para demonstrar os problemas que o Brasil enfrenta em rela��o � imuniza��o contra a covid-19.

"Mesmo com uma popula��o muito menor, proporcionalmente o Uruguai foi muito mais ativo, procurou mais vacinas e se organizou melhor para a vacina��o. O governo do Brasil n�o se organizou, n�o comprou nada antes, ent�o � uma situa��o muito complicada", afirma Fernando Barros, professor de epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

"O Brasil, sabendo que tinha cerca de 200 milh�es de pessoas para vacinar, tinha que ter comprado vacinas muito antes. Agora, est� correndo atr�s e est� tendo dificuldades", diz Barros, que j� trabalhou na ag�ncia da Organiza��o Mundial de Sa�de no Uruguai.

A demora na vacina��o brasileira preocupa especialistas e autoridades, em meio ao auge da pandemia no pa�s. O Minist�rio da Sa�de afirma que a meta � vacinar toda a popula��o do Brasil at� o fim do ano.

Segundo an�ncio recente da pasta, o objetivo � vacinar todos os grupos priorit�rios at� o fim de maio e passar a imunizar brasileiros com 18 anos ou mais a partir de junho.

O Minist�rio da Sa�de avalia que o Brasil pode receber 563 milh�es de doses de vacinas contra a covid-19 at� o fim do ano.

'Um al�vio'

A imensa maioria dos brasileiros que est�o recorrendo ao pa�s vizinho para se imunizar decidem cruzar a fronteira porque n�o t�m esperan�as de que sejam vacinados em um curto per�odo no Brasil.

N�o h� dados oficiais sobre brasileiros com dupla cidadania que foram vacinados em Rivera.

Em Santana do Livramento � comum que algu�m conhe�a algum doble chapa que tenha ido ao Uruguai para se vacinar. A vacina��o atualmente est� na faixa dos 65 anos na cidade.


Manuella foi vacinada na quinta-feira no Uruguai, duas semanas após os pais também serem imunizados no país vizinho(foto: Arquivo pessoal)
Manuella foi vacinada na quinta-feira no Uruguai, duas semanas ap�s os pais tamb�m serem imunizados no pa�s vizinho (foto: Arquivo pessoal)

Moradora da cidade, a universit�ria Manuella Ibargoyen, de 20 anos, conhece v�rios brasileiros que foram vacinados no Uruguai por terem dupla cidadania. Para ela, as imuniza��es mais importantes ocorreram em 16 de mar�o. Na data, os pais da jovem, a m�e de 53 anos e o pai de 59, receberam a primeira dose da Coronavac em Rivera.

A m�e de Manuella � uruguaia e o pai � brasileiro, mas � filho de uruguaio e por isso � cidad�o do pa�s vizinho.

"Sinto um al�vio, porque tinha medo constante de perder uma pessoa para a covid. O meu maior medo era que meus pais pegassem o v�rus, porque n�o sabia como iriam reagir. Agora que eles est�o vacinados fico mais tranquila, mas sei que ainda � necess�rio manter os cuidados e usar m�scara", diz a jovem � BBC News Brasil.

Na quinta-feira (1/4), foi a vez de Manuella receber a primeira dose da vacina.

"Aqui na fronteira, tivemos o privil�gio, por termos outra nacionalidade. Agora, espero que o Brasil siga o Uruguai, que est� dando um exemplo de log�stica e vacina��o, mesmo tendo demorado para come�ar", diz ela.

"� preciso garantir a sa�de da popula��o, a vacina � fundamental para qualquer pessoa."


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O que � o coronav�rus

Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.


transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.


A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�

Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

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  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia
  • Em casos graves, as v�timas apresentam:
  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
  • Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus 

Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.


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