
C�mara usou as novas variantes do coronav�rus para justificar a nova orienta��o, apesar da falta de pesquisas publicadas a respeito do tema.
"Estudo nacional ou internacional n�o temos, mas a vis�o cl�nica de especialistas mostra que as variantes t�m a��o mais agressiva nas gr�vidas. Antes, o risco maior estava ligado ao final da gravidez. Mas, agora, vemos uma evolu��o mais grave no segundo trimestre e at� no primeiro trimestre", apontou.
- Enfermeira que deu � luz internada por covid-19 v� a filha pela primeira vez
- Medo de engravidar na pandemia de covid-19 se assemelha ao auge da epidemia de zika, segundo pesquisa
O secret�rio ainda disse que o adiamento da gesta��o deve ser feito dentro da realidade de cada casal.
"Caso poss�vel, postergar um pouco a gravidez para um melhor momento, para que voc� tenha uma gravidez mais tranquila. � l�gico que a gente n�o pode falar isso para quem tem 42 ou 43 anos, mas para uma mulher jovem que pode esperar um pouco, � o mais indicado", explicou.
Mas o que h� de evid�ncias sobre o risco de covid-19 para as futuras m�es e seus filhos? E quais os cuidados devem ser tomados se voc� estiver gr�vida?
O que a ci�ncia j� sabe
Os nove meses de gesta��o s�o marcados por uma s�rie de mudan�as no corpo da mulher.
O sistema imunol�gico, por exemplo, sofre v�rias altera��es. O objetivo � evitar que as c�lulas de defesa ataquem o feto, pois metade das informa��es gen�ticas que ele carrega vem do pai e n�o � familiar ao corpo da m�e.
Seguindo essa l�gica, o beb� em desenvolvimento n�o deixa de ser um "corpo estranho", que pode gerar uma resposta imune indesejada. E isso exige certas adapta��es do organismo feminino.
Outra �rea afetada ao longo dos nove meses � a respira��o. Conforme o �tero cresce, ele come�a a pressionar os �rg�os do abd�men e o diafragma, o m�sculo envolvido diretamente no processo de inspira��o do oxig�nio e de expira��o do g�s carb�nico.
Logo, n�o � de se estranhar que doen�as infecciosas que afetam os pulm�es sejam particularmente preocupantes nas gr�vidas: esse mix de comprometimento imunol�gico e respirat�rio as coloca numa situa��o de relativa vulnerabilidade.
� justamente por isso que essas mulheres fazem parte dos grupos priorit�rios das campanhas de vacina��o contra a gripe que acontecem todos os anos no Brasil.
E na covid-19?
Desde que o coronav�rus come�ou a se espalhar e virou uma preocupa��o mundial, os especialistas acompanham os efeitos que o agente infeccioso poderia ter nas gestantes.
Ap�s um per�odo de muita incerteza e dados desencontrados, ficou claro que gr�vidas com covid-19 apresentavam maior risco de agravamento e necessidade de intuba��o quando comparadas �s mulheres da mesma idade que n�o esperavam filhos.
Um estudo publicado em setembro de 2020 no British Medical Journal calculou que gestantes infectadas com o coronav�rus tinham um risco 62% maior de interna��o em UTI e 88% mais probabilidade de necessitar de ventila��o mec�nica invasiva.
O trabalho, liderado pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido, reuniu dados de 11 mil gr�vidas com suspeita ou confirma��o de covid-19 que precisaram ser internadas por qualquer motivo.
Os dados delas foram confrontados com os de outras mulheres da mesma faixa et�ria que tamb�m buscaram atendimento m�dico, mas n�o esperavam um beb�.
Um outro estudo, feito pelo Centro de Controle e Preven��o de Doen�as dos Estados Unidos, encontrou n�meros parecidos: as mulheres gr�vidas americanas com covid-19 apresentavam um risco 1,5 vezes maior de ir para a UTI e 1,7 vezes superior de necessitar de ventila��o mec�nica.
"Um fator que ajuda a explicar esse maior risco tem a ver com a diminui��o da capacidade respirat�ria, especialmente no terceiro trimestre de gesta��o. O crescimento do �tero restringe o abd�men e o t�rax", explica o infectologista Ruan de Andrade Fernandes, do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D'Or S�o Luiz, em S�o Paulo.
Portanto, a covid-19 poderia somar uma dificuldade extra aos pulm�es e levar a um quadro mais grave, que exige maior cuidado.
"Tamb�m j� sabemos que a covid-19 aumenta o risco de parto prematuro", acrescenta a infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital S�rio-Liban�s, em S�o Paulo.
Por ora, apesar de todas as complica��es, os trabalhos publicados mundo afora n�o encontraram uma maior mortalidade pela covid-19 em mulheres gr�vidas.
Falta de assist�ncia adequada
Os n�meros do Observat�rio Obst�trico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19), por�m, mostram que a realidade das gestantes brasileiras durante a pandemia � assustadora.
Ao longo de 2020, foram registradas 453 mortes pela infec��o com o novo coronav�rus nas mulheres que esperam ou acabaram de dar � luz a um filho, o que representa uma m�dia semanal de 10,5 �bitos.
Nos primeiros quatro meses de 2021, j� foram registradas 289 mortes, o que faz a taxa semanal de �bitos nessa popula��o dobrar.
Na compara��o entre os dois anos, o crescimento de mortes entre gr�vidas foi de 145,4%, enquanto na popula��o geral esse aumento ficou em 61,6%, calcula o OOBr Covid-19.
A explica��o para esse fen�meno estaria na falta de assist�ncia adequada: com a chegada de tantos pacientes num curto espa�o de tempo, muita gente n�o teve acesso aos leitos de enfermaria ou UTI e, infelizmente, acabou morrendo na espera de um atendimento.

De acordo com as fontes ouvidas pela BBC News Brasil, isso impacta especialmente grupos com a sa�de mais vulner�vel, como as gestantes.
Uma pesquisa publicada em julho de 2020 j� apontava essa tend�ncia: at� o dia 18 de junho do ano passado, o Brasil respondia por 77% de todas as mortes de gestantes por covid-19 do mundo.
Os dados, colhidos por especialistas da Fiocruz e de outras quatro institui��es, indicavam que 23% dessas mulheres n�o tiveram acesso a um leito de UTI e 36% nem chegaram a ser intubadas.
E qual o papel das variantes?
Como o pr�prio secret�rio do Minist�rio da Sa�de adiantou, ainda n�o existem muitas informa��es publicadas e validadas sobre o impacto das novas variantes, detectadas em locais como Reino Unido, �frica do Sul e Brasil.
Por ora, ainda n�o h� certeza se elas s�o realmente mais agressivas �s gestantes do que as vers�es anteriores do coronav�rus.
"Existe uma especula��o de que as novas variantes estejam associadas a uma maior transmissibilidade na popula��o geral, mas mesmo isso ainda n�o � consenso na �rea", avalia Fernandes.
"Ainda n�o temos estudos espec�ficos sobre o impacto das variantes nas gr�vidas, mas o fato de essas cepas serem aparentemente mais transmiss�veis levaria a um aumento nos casos graves, nas interna��es e nas mortes por covid-19 em todas as popula��es, incluindo nessas mulheres", aponta Dal Ben.
A �ltima recomenda��o do Governo Federal, portanto, parece estar baseada em relatos e observa��es emp�ricas colhidas com alguns profissionais que atuam em hospitais e maternidades.
Atualmente, entidades como a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) e o Sistema Nacional de Sa�de do Reino Unido entendem que as gestantes s�o um grupo que apresenta risco baixo de desenvolver quadros severos de covid-19.
Mesmo assim, a possibilidade de agravamento da enfermidade � maior em compara��o com mulheres da mesma idade que n�o gestam uma crian�a.
O risco aumenta mais nos casos em que a gesta��o ocorre numa idade mais avan�ada ou est� relacionada a quadros de sobrepeso, obesidade, hipertens�o ou diabetes.
Outro fator que exige ainda mais aten��o � quando essa mulher trabalha em servi�os essenciais, como as m�dicas, enfermeiras e outras profissionais que est�o na linha de frente do combate � pandemia.
Por fim, a covid-19 costuma ganhar uma dose extra de perigo em gr�vidas que fazem parte de grupos vulner�veis e minorias �tnicas, que t�m acesso ainda mais limitado a servi�os de sa�de.
E os beb�s?
A boa not�cia � que as crian�as n�o s�o particularmente afetadas pela infec��o — nem antes e muito menos depois do parto.
At� o momento, um quadro de covid-19 ao longo da gesta��o n�o parece estar envolvido com casos de aborto espont�neo ou problemas no desenvolvimento do beb�.
A transmiss�o do v�rus da m�e para o feto ou para o rec�m-nascido tamb�m � algo raro.
Uma pesquisa conduzida pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, n�o encontrou ind�cios do coronav�rus em 127 amostras de plasma sangu�neo, cord�o umbilical ou placenta.
Os achados foram publicados no Journal of the American Medical Association.
Uma outra investiga��o, realizada na Universidade da Calif�rnia em S�o Francisco (EUA), tamb�m observou que os rec�m-nascidos n�o apresentam complica��es ap�s suas m�es serem diagnosticadas com covid-19.
A doen�a n�o alterou par�metros importantes na hora do parto e nas primeiras oito semanas de vida, como peso ao nascer, dificuldades para respirar, quadros de apneia ou o aparecimento de infec��es no sistema respirat�rio.
Vale postergar os planos?
A recomenda��o de adiar uma eventual gesta��o n�o � algo particularmente novo nas hist�rias das epidemias e das pandemias recentes.
Nas �ltimas d�cadas, orienta��es parecidas foram dadas por autoridades em sa�de p�blica diante das emerg�ncias da aids (anos 1980 e 1990), da gripe H1N1 (2009) e do zika (2016).
Mas a quest�o levanta preocupa��es �ticas relevantes.
Um artigo publicado na revista The New England Journal of Medicine e assinado por tr�s especialistas em pediatria, obstetr�cia e bio�tica dos Estados Unidos questiona fortemente pol�ticas p�blicas do tipo.
"O exerc�cio da autoridade p�blica em uma �rea t�o profundamente pessoal e privada como a decis�o sobre se e quando ter um filho requer forte justificativa, dadas as muitas quest�es �ticas que levanta. Existem v�rias �reas potenciais de preocupa��o. O primeiro est� relacionado � autonomia reprodutiva".
As pesquisadoras tamb�m lembram que historicamente orienta��es e para postergar a gesta��o representaram "viola��es �ticas flagrantes".
"Outra preocupa��o � o potencial de discrimina��o. Mesmo pol�ticas objetivamente neutras podem se traduzir em experi�ncias diferentes de acordo com a ra�a, grupo �tnico ou classe social. O conselho p�blico que desencoraja a gravidez tamb�m pode transferir indevidamente a responsabilidade pela gravidez somente para os pais, isentando as institui��es que s�o respons�veis %u200B%u200Bpor mitigar os danos e t�m o poder de faz�-lo", concluem.
At� o momento, recomenda��es de adiar os planos de ser m�e e pai n�o parecem ter sido oficialmente adotadas por outros pa�ses — no m�ximo, as autoridades sugerem que o casal converse com especialistas e avalie os riscos e benef�cios antes de tomar qualquer decis�o.
Fernandes entende que o tema � controverso e n�o h� uma resposta �nica sobre ele. "Diferentemente do que aconteceu na aids e na zika, agora ainda n�o est� claro o risco de transmiss�o de covid-19 pela placenta, da gestante para o feto", compara.
"Talvez a abordagem pudesse ser mais no sentido de oferecer informa��es ao casal sobre riscos e benef�cios, e n�o apenas pedir para postergar os planos de gravidez", completa o infectologista.
J� Dal Ben acredita que � preciso ver caso a caso.
"Nessas horas, precisamos pensar em v�rios fatores. Se a mulher estiver com 38, 40 anos, quase no fim da fase reprodutiva, uma recomenda��o dessas n�o faz sentido. Mas, caso ela tenha entre 20 e 30 anos, talvez pesar pr�s e contras e aguardar uns dois anos para ter uma gravidez mais tranquila n�o seja um problema t�o grande assim", pensa.
Estou gr�vida. O que fazer?
A OMS recomenda que a mulher tome algumas precau��es e preste bastante aten��o a poss�veis sintomas de covid-19.
Os cuidados s�o os mesmos que devem ser seguidos pelo resto da popula��o:
- Lavar as m�os com frequ�ncia com �gua e sab�o ou �lcool gel
- Manter uma dist�ncia segura de outras pessoas
- Evitar encontros, reuni�es e aglomera��es com indiv�duos que n�o fazem parte de seu conv�vio di�rio
- Usar m�scara toda vez que precisar sair de casa
- Evitar tocar os olhos, o nariz e a boca
- Praticar etiqueta respirat�ria: cobrir boca e nariz com o bra�o ou com len�o descart�vel toda vez que tossir ou espirrar
Dal Ben destaca que os cuidados n�o devem ser redobrados apenas pelas gestantes, mas por todo mundo que t�m contato com elas.
"Chamamos isso de prote��o de ninho. Quem convive com essas mulheres precisa, na medida do poss�vel, usar m�scaras sempre, sair o m�nimo poss�vel e refor�ar todas as a��es preventivas", sugere a m�dica.

Outra dica importante � ficar de olho em qualquer sintoma sugestivo de uma infec��o por coronav�rus, como tosse, febre, falta de ar, perda de olfato e paladar, problemas gastrointestinais…
Se esses inc�modos aparecerem, vale consultar o m�dico e pedir orienta��es sobre a necessidade ou n�o de fazer um teste de diagn�stico.
Falando em profissional da sa�de, todas as entidades nacionais e internacionais refor�am que o acompanhamento pr�-natal � algo que n�o pode ser ignorado: o casal deve passar pelas consultas e exames que garantem o bom andamento da gesta��o.
Algumas dessas orienta��es e atendimentos, inclusive, podem at� ser feitos � dist�ncia, por meio de aplicativos de videochamada.
E quando houver a necessidade de ir at� uma cl�nica ou hospital para realizar exames, � necess�rio que os futuros pais sigam todas as recomenda��es que diminuem o risco de cont�gio, como uso de m�scaras e o distanciamento social.
E a vacina��o?
Essa � uma �rea com muitas controv�rsias. Isso porque a maioria das vacinas contra a covid-19 n�o inclu�ram as gestantes como participantes dos testes cl�nicos.
Com isso, h� pouca observa��o sobre a seguran�a e a efic�cia dos imunizantes nesse grupo espec�fico.
Mas a experi�ncia de mundo real, nos pa�ses onde a campanha de imuniza��o j� est� mais adiantada, indica que n�o h� grandes preocupa��es sobre a aplica��o das doses nessas mulheres.
A OMS entende que as vacinas j� aprovadas pelas ag�ncias regulat�rias n�o apresentam nenhum risco espec�fico durante a gravidez.
Entre as vacinas aprovadas no Brasil at� o momento, tamb�m n�o h� nenhuma preocupa��o maior.
"A CoronaVac � feita de v�rus inativado, enquanto a AZD1222 usa a tecnologia de vetor viral. Como elas n�o usam v�rus vivos, n�o teriam motivos para fazer algum mal na gesta��o", avalia Fernandes.
No dia 15/03, o Minist�rio da Sa�de atualizou suas diretrizes a respeito do assunto.
As �ltimas recomenda��es indicam que as gestantes que apresentam comorbidades (portadoras de diabetes, hipertens�o, obesidade, doen�as cardiovasculares, asma, doen�as renais cr�nicas, doen�as autoimunes, imunossuprimidas ou transplantadas) estejam entre os grupos priorit�rios.
A orienta��o � que essas mulheres confiram o cronograma de vacina��o de suas cidades ou estados e procurem os postos de sa�de nas datas estipuladas pelos gestores de sa�de locais.

Mas e as gestantes que n�o apresentam nenhuma dessas doen�as?
O minist�rio admite que elas tamb�m poder�o ser vacinadas — elas at� foram inclu�das recentemente no Plano de Operacionaliza��o da Imuniza��o Contra a Covid-19.
Mas a orienta��o � conversar com o m�dico de confian�a para fazer uma avalia��o dos riscos e dos benef�cios antes de tomar qualquer decis�o.
Vale aproveitar a discuss�o tamb�m para refor�ar a necessidade de atualizar a carteirinha de vacina��o com as doses que previnem contra outras doen�as.
A Sociedade Brasileira de Imuniza��es possui um calend�rio espec�fico para gestantes, com todos os imunizantes recomendados e contraindicados nessa fase.
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