
De um ano para c�, mais de um milh�o de brasileiros desistiram de procurar emprego. Alguns porque buscavam h� meses, sem sucesso. Outros, porque simplesmente n�o veem novas vagas sendo abertas na cidade onde moram.
As raz�es s�o v�rias.
Apesar de estarem dispon�veis para trabalhar, essas pessoas n�o entram no c�lculo da taxa de desemprego. Para ser considerado desempregado, pelos par�metros internacionais de estat�stica, � preciso estar ativamente buscando uma vaga.
Isso n�o significa necessariamente, contudo, que a situa��o financeira dos chamados desalentados seja mais confort�vel do que a dos que est�o oficialmente desempregados, os 14,4 milh�es contabilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).De acordo com os dados divulgados na sexta (30/04), os desalentados somaram 5,9 milh�es em fevereiro, recorde na s�rie hist�rica da Pnad Cont�nua, que come�a em 2012. O levantamento � feito em trimestres m�veis - o dado de fevereiro, portanto, � uma m�dia composta com dezembro e janeiro.
O n�mero � 26,8% maior do que o registrado um ano atr�s, no trimestre m�vel encerrado em fevereiro de 2020, o que significa um aumento de 1,259 milh�o de pessoas.
Este foi o oitavo m�s consecutivo em que o desalento cresceu a uma velocidade superior a 20% no pa�s.
"Esse aumento tem um motivo bem claro, que � a quest�o da pandemia. Tem muita gente com medo [de ficar doente], muita gente que sabe que as atividades est�o fechando, que por isso acaba n�o saindo para procurar emprego", diz o economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Essa din�mica tem um impacto indireto importante sobre a pr�pria taxa de desemprego, j� que as pessoas que est�o fora da for�a de trabalho n�o entram na conta. A estimativa de Ottoni para o dado divulgado nesta sexta, por exemplo, era desemprego de 14,8%, 0,4 ponto percentual acima do que foi efetivamente registrado, 14,4%.
"O dado do desalento surpreendeu. Eu esperava que mais gente tivesse voltado ao mercado de trabalho em fevereiro - a pandemia ainda n�o tinha piorado como em mar�o, quando vieram as medidas mais restritivas", pontua o economista.
O desalento reduz a taxa de participa��o no mercado de trabalho, que � a rela��o entre a quantidade de pessoas que est�o de fato empregadas ou � procura pelo total de pessoas em idade para trabalhar - uma boa medida para enxergar o chamado "desemprego oculto".
Em fevereiro, a taxa de participa��o foi de 56,8%, 4,9 pontos percentuais a menos do que o registrado no mesmo per�odo do ano passado, 61%.
Caso o percentual tivesse se mantido constante, conforme calcula o economista Alberto Ramos, Diretor de Pesquisa Econ�mica para a Am�rica Latina do Goldman Sachs, a taxa de desemprego teria atingido expressivos 21,2% em fevereiro.
Essa discrep�ncia sinaliza que o desemprego tem um espa�o mais restrito para melhora � medida que a economia tiver espa�o para crescer.
"A taxa pode n�o reduzir de forma significativa quando a epidemia for controlada, � medida que os desalentados voltem a procurar emprego e retornem � for�a de trabalho em ritmo mais acelerado do que a cria��o de novas vagas", escreveu o economista em relat�rio enviado a clientes.
Al�m do desalento, a Pnad Cont�nua tamb�m acompanha o que chama de subocupa��o: aqueles que trabalharam no m�s de refer�ncia, mas menos horas do que gostariam ou precisariam - � o trabalhador que faz um bico quando aparece, por exemplo.
Em fevereiro, 6,9 milh�es de pessoas estavam nessa situa��o.

A pesquisa agrega esses e outros grupos na taxa de subutiliza��o da for�a de trabalho, uma medida mais ampla e, por isso, um bom retrato dos problemas do mercado de trabalho que v�o al�m da taxa de desemprego.
No trimestre m�vel encerrado em fevereiro, o volume de pessoas subutilizadas no Brasil chegou a 32,6 milh�es. Nesse total est�o inclu�dos os 14,4 milh�es oficialmente desempregados, os 5,9 milh�es de desalentados, os 6,9 milh�es subocupados e outros 5,4 milh�es que comp�em a for�a de trabalho potencial junto com os desalentados.
Ottoni batizou esse �ltimo grupo de "indispon�veis". S�o aqueles que gostariam de trabalhar e chegaram a procurar, mas n�o podiam no per�odo de refer�ncia da pesquisa. A� entram, por exemplo, mulheres que tiveram filhos e t�m de ficar em casa porque n�o h� disponibilidade de creches na regi�o em que moram.
Para o economista, a ampla vacina��o � condi��o fundamental para a recupera��o da economia brasileira e, por consequ�ncia, do mercado de trabalho.
� o ritmo de imuniza��o que vai ditar a velocidade de recupera��o.
A expectativa, diz ele, � que o desemprego aumente um pouco nos pr�ximos meses, com o retorno dos desalentados � for�a de trabalho. A partir do segundo semestre, � medida que a economia conseguir gerar mais vagas para absorver os trabalhadores dispon�veis, o indicador deve come�ar a melhorar.
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