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Estado de Minas

A desconhecida a��o judicial com que advogado negro libertou 217 escravizados no s�culo 19

O advogado abolicionista Luiz Gama acionou a Justi�a para tentar libertar 217 escravizados que pertenciam a um comendador da cidade de Santos, no litoral paulista. O processo, encontrado recentemente por um historiador brasileiro radicado na Alemanha, pode ser a maior a��o coletiva de liberta��o de cativos da hist�ria das Am�ricas.


09/05/2021 13:58 - atualizado 09/05/2021 13:58

Luiz Gama foi figura-chave no movimento abolicionista brasileiro(foto: WikiCommons)
Luiz Gama foi figura-chave no movimento abolicionista brasileiro (foto: WikiCommons)
Em um dia do m�s junho de 1869, uma nota no jornal chamou a aten��o de Luiz Gama, advogado considerado um her�i nacional por seu ativismo abolicionista no s�culo 19. A not�cia relatava que a fam�lia do comendador portugu�s Manoel Joaquim Ferreira Netto, um dos homens mais ricos do Imp�rio, estava brigando na Justi�a pelo esp�lio do patriarca, morto repentinamente em Portugal.

 

Ferreira Netto tinha uma grande fortuna: 3 mil contos de r�is (cerca de R$ 400 milh�es em valores atuais), distribu�dos em in�meras fazendas, armaz�ns comerciais, sociedade em empresas lucrativas, e centenas de pessoas negras escravizadas em suas propriedades.

 

Em uma linha de seu testamento, publicado em um jornal um ano antes, o comendador fez um pedido comum entre grandes propriet�rios de escravos da �poca: depois de sua morte, ele gostaria que todos fossem libertados. A "alforria post mortem" era vista como uma esp�cie de "reden��o moral e de consci�ncia", pois, ao final da vida, os escravocratas tamb�m queriam garantir um espacinho no c�u.

 

Ao ler a not�cia, Luiz Gama procurou saber se a vontade do morto havia sido cumprida: as 217 pessoas escravizadas pelo comendador tinham sido libertadas como determinava o testamento? Logo descobriu que n�o, como ocorria com frequ�ncia em documentos do tipo. A fam�lia e alguns s�cios brigavam pelos bens, mas os cativos continuaram na mesma situa��o.

 

O advogado, em in�cio de carreira, decidiu acionar a Justi�a para que a liberdade e a vontade do empres�rio fossem respeitadas. O processo judicial que se seguiu, conhecido nos jornais da �poca como "Quest�o Netto", � apontado por historiadores consultados pela BBC News Brasil como a maior a��o coletiva de liberta��o de escravizados conhecida nas Am�ricas. Por ora, n�o h� registro de processo que envolva mais pessoas, segundo eles.


O historiador Bruno Rodrigues de Lima precisou decifrar as várias caligrafias do processo(foto: Reprodução)
O historiador Bruno Rodrigues de Lima precisou decifrar as v�rias caligrafias do processo (foto: Reprodu��o)

 

Essa a��o de Luiz Gama foi encontrada recentemente pelo historiador Bruno Rodrigues de Lima, doutorando em Hist�ria e Teoria do Direito pelo Max Planck Institute, em Frankfurt, na Alemanha.

 

A pe�a de mais de mil p�ginas - toda escrita � m�o - estava armazenada no Arquivo Nacional e n�o h� registros de que ela tenha sido analisada em profundidade. "N�o h� grandes registros desse processo na historiografia sobre Luiz Gama. Encontrei cita��es nas d�cadas seguintes ao processo e uma uma nota de rodap� num livro dos anos 1990", diz Lima, que h� mais de uma d�cada pesquisa a vida e a obra do abolicionista.

 

Lima fez uma c�pia do processo e a levou para a Alemanha, onde passou meses decifrando as v�rias caligrafias presentes no calhama�o. "Logo identifiquei a letra de Gama, que era de mais f�cil leitura. Mas havia v�rias outras, como a de escriv�es, promotores e ju�zes", explica.

 

A an�lise do processo agora far� parte da tese de doutorado que o historiador vai apresentar ao final deste ano sobre a obra jur�dica do abolicionista. Al�m desse, a tese contar� com dezenas de outros processos ainda desconhecidos, diz.

A 'Quest�o Netto'

Lima conta que o processo passou a correr em Santos, litoral sul de S�o Paulo, por causa de uma pendenga judicial do comendador Ferreira Netto com um s�cio da cidade. Inicialmente, Luiz Gama se apresentou ao juiz da comarca apenas como um interessado no caso.

 

"Ele fez uma peti��o ao juiz de maneira bastante escorregadia, porque ele n�o era parte naquela briga judicial pela heran�a. Ele entra no processo como um cidad�o que queria saber o que aconteceu com os escravizados. O juiz respondeu que eles precisavam de um representante", diz.

 

A princ�pio, Gama n�o foi nomeado "curador" dos interesses do grupo, mas, depois de outros cidad�os se recusarem a participar da a��o, ele foi indicado pelo pr�prio juiz para assumir a tarefa.

 

O abolicionista n�o sabia quem estava representando de fato, mas mandou emiss�rios para descobrir os nomes, idades e h� quanto tempo pertenciam ao comendador.

 

No total, havia 217 escravizados nas propriedades do fidalgo - gente de Angola, Mo�ambique, Congo, entre outras na��es africanas. "Gama recebe informa��es com nome, idade, naturalidade, hist�rias de vida. Havia fam�lias inteiras nas fazendas", diz Lima.

 

Mas como garantir que o direito � liberdade, rec�m-conquistado com a morte do comendador, fosse garantido? Lima acredita que a "Quest�o Netto" tenha sido o primeiro grande processo de liberdade de Luiz Gama, que, na �poca, havia sido demitido de um cargo na pol�cia.

Quem era Luiz Gama?

Nascido em 1830 em Salvador, Luiz Gama teve de lidar com a escravid�o desde cedo. Sua m�e era uma mulher negra e seu pai, um fidalgo de origem portuguesa.


Luiz Gama atuou como advogado em São Paulo, onde trabalhou na polícia. A imagem mostra a praça da Sé(foto: Reprodução)
Luiz Gama atuou como advogado em S�o Paulo, onde trabalhou na pol�cia. A imagem mostra a pra�a da S� (foto: Reprodu��o)

 

"A vida dele foi singular em todos os aspectos. Muitos historiadores acreditam que ele era filho de Luiza Mahin, uma guerreira que participou de v�rias revoltas negras na Bahia", diz Zulu Ara�jo, presidente da Funda��o Pedro Calmon e ex-presidente da Funda��o Palmares durante o governo Lula.

 

"Mas n�o h� certeza de que Mahin era sua m�e mesmo ou se foi uma hist�ria inventada por Gama. O fato � que a m�e dele desapareceu, e ele foi criado pelo pai."

 

Aos 10 anos, Gama foi vendido pelo pr�prio pai a um contrabandista do Rio de Janeiro, que logo o repassou a um fazendeiro paulista. O dinheiro da venda serviria para o pai saldar uma d�vida de jogo. Na adolesc�ncia, ele foi escravizado, mas, com 18 anos, conseguiu provas de sua liberdade e fugiu do cativeiro.

 

Aprendeu a ler e escrever, foi poeta e trabalhou como jornalista, tip�grafo e escriv�o de pol�cia, onde passou a lidar diariamente com a legisla��o.

 

Autodidata, o jovem tentou cursar Direito na tradicional Faculdade do Largo S�o Francisco, mas foi rejeitado pela elite que comandava a institui��o. Ele s� ganharia o t�tulo oficial de advogado, dado pela OAB, em 2015, quando sua morte completou 133 anos.

 

"Gama era uma pessoa 'improv�vel' para a �poca, porque era negro e pobre. Ele aprende o Direito na pr�tica, trabalhando na pol�cia e frequentando a biblioteca particular de Furtado de Mendon�a, chefe da pol�cia e amigo que o protegia", explica T�mis Parron, professor de Hist�ria do Brasil da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro do Commun (N�cleo de Estudos de Hist�ria Comparada Mundial).

 

"A grande sacada dele foi perceber a centralidade do Direito na luta abolicionista e como estrat�gia para destruir a escravid�o. O ativismo jur�dico tinha sido muito importante para o abolicionismo na Inglaterra e nos Estados Unidos. Ele o trouxe para o Brasil. Gama percebeu que a pr�pria legisla��o podia ser usada contra os senhores", diz Parron.

 

Estima-se que o advogado tenha conseguido libertar centenas de escravizados com a��es na Justi�a - h� centenas de processos de liberdade com seu nome no arquivo do Tribunal de Justi�a de S�o Paulo, material em boa parte desconhecido da historiografia. Muitas vezes, ele trabalhava de gra�a.

 

Mas como ele conseguia libertar tantas pessoas?

 

Primeiro, � preciso voltar um pouco no tempo. Em 7 de novembro de 1831, pressionado pela Inglaterra, o Imp�rio brasileiro assinou uma lei que proibia o tr�fico de africanos ao Brasil. Ou seja, a partir daquele momento, qualquer africano trazido ao pa�s deveria ser libertado imediatamente.


O processo tem mais de mil página e está armazenado no Arquivo Nacional(foto: Reprodução)
O processo tem mais de mil p�gina e est� armazenado no Arquivo Nacional (foto: Reprodu��o)

 

Mas isso n�o aconteceu na pr�tica. Embora embarca��es inglesas patrulhassem a costa brasileira em busca de navios negreiros, o contrabando era bastante comum no pa�s - essa discrep�ncia entre o que estava na lei e a vida real fez com que a norma ganhasse o apelido de "lei para ingl�s ver".

 

Estima-se que mais de 700 mil africanos foram trazidos ilegalmente para o Brasil entre 1831 e 13 de maio de 1888, quando a escravid�o foi finalmente abolida pela Lei �urea. Em todo o per�odo de escravid�o, foram cerca cinco milh�es de pessoas.

 

Luiz Gama passou a atuar em casos de pessoas contrabandeadas ao pa�s depois dessa legisla��o. "Ele reunia provas para demonstrar que, se a pessoa tinha nascido na �frica e foi trazida ao Brasil depois de 1831, ela fatalmente foi traficada e sua condi��o de escravizada era ilegal. Esse foi um dos argumentos que ele utilizou para conseguir libertar centenas de pessoas", conta Bruno Lima.

 

Segundo T�mis Parron, o tr�fico negreiro ocorria com o consentimento e a participa��o do Imp�rio, que dependia da economia escravista. "Para existir e atuar, o crime organizado precisa da participa��o ou da anu�ncia de alguma esfera da burocracia estatal", diz.

 

"O que Gama fez com seu ativismo foi escancarar que o Estado e o escravismo brasileiros, al�m de roubarem os direitos naturais e inalien�veis do homem, eram literalmente ladr�es e criminosos, pois burlavam a lei que eles pr�prios criaram", completa Parron.


Escravizados urbanos coletando água no Brasil da década de 1830(foto: Johann Moritz Rugendas/Slavery Images)
Escravizados urbanos coletando �gua no Brasil da d�cada de 1830 (foto: Johann Moritz Rugendas/Slavery Images)

Liberdade, vidas perdidas

Luiz Gama apresentou uma tese jur�dica bastante simples, por�m in�dita, para tentar ganhar a a��o contra a fam�lia e os s�cios do comendador Ferreira Netto, que queriam manter a propriedade de seus 217 cativos. 

 

"Ele teve a sacada de usar a voz do senhor de escravos como argumento jur�dico contra ele pr�prio. O testamento havia sido publicado em vida na imprensa.

 

Ent�o, a estrat�gia dele foi a seguinte: se o pr�prio comendador escreveu que gostaria que os escravizados fossem libertados, por que eles ainda n�o estavam livres?", conta Bruno Lima.

 

Ou seja, o advogado argumentou que, quando Ferreira Netto morreu, os cativos ficaram livres imediatamente, pois o testamento assim o pregava. Para Gama, o papel da Justi�a no caso n�o seria conceder a liberdade aos escravizados, mas devolv�-la a eles.

 

"Ele para de usar a palavra 'escravo' no processo, chama-os de libertandos. Na �poca, havia o crime de redu��o de uma pessoa livre � condi��o de escravizado. Isso n�o era permitido pela lei. Ent�o, Gama inverte o jogo, mostrando ao juiz que a fam�lia do comendador estava cometendo um crime ao escravizar pessoas que j� eram declaradas livres. � um argumento meticuloso e muito bem pensado", explica Lima.

 

Os herdeiros da heran�a, temendo perder um bem t�o valioso, contrataram um advogado renomado para represent�-los no tribunal: Jos� Bonif�cio, poeta rom�ntico, professor de Direito no Largo S�o Francisco, conhecido como "o Mo�o".

 

Segundo o historiador, a ideia da fam�lia era ter como defensor um advogado que n�o fosse identificado com a escravid�o. Bonif�cio era um pol�tico liberal e abolicionista. De fato, anos depois do caso, ele participaria como senador da campanha pelo fim do regime. No processo do comendador, por�m, defendeu os escravocratas.

 

Curiosamente, o argumento jur�dico de Bonif�cio, que contestou o trecho do testamento que libertava os cativos, come�ava de maneira um pouco culpada: "Sem opor-me � liberdade, mas…".


O tráfico de pessoas da África para as Américas durou mais de três séculos(foto: Getty Images)
O tr�fico de pessoas da �frica para as Am�ricas durou mais de tr�s s�culos (foto: Getty Images)

 

Para Lima, ao longo do processo, Bonif�cio "jogou sua imagem de abolicionista no lixo". "Se ele come�ou escrevendo que n�o se opunha � liberdade, no restante da a��o agiu como um escravocrata confesso, defendendo de maneira ensandecida a fam�lia do comendador", aponta o historiador.

 

No auge do processo, quando a causa ganhou repercuss�o em jornais da corte, Luiz Gama contou estar sofrendo amea�as de morte. Mencionou o fato em dois textos escritos em uma mesma semana de setembro de 1870, quando houve uma audi�ncia importante do caso:

 

Ao jornal Correio Paulistano, revelou uma trama da chefia da pol�cia para mat�-lo. J� em uma carta ao filho, que tinha apenas 11 anos na �poca, escreveu o seguinte: "Lembra-te de escrevi essas linhas em momento supremo, sob amea�a de assassinato."

 

Por�m, apesar da press�o da elite escravocrata, o juiz de Santos deu ganho de causa ao argumento de Gama, em tese libertando os 217 cativos. Mas Bonif�cio apelou a outras inst�ncias no interior de S�o Paulo, numa chicana jur�dica que prolongou o processo e adiou a liberta��o das v�timas.

 

Em 1872, o julgamento do m�rito finalmente chegou ao Supremo Tribunal de Justi�a, a �ltima inst�ncia, no Rio de Janeiro. No tribunal, Gama foi representado por um amigo, o advogado Saldanha Marinho, pois a corte n�o aceitava sua atua��o fora de S�o Paulo. O abolicionista escreveu a sustenta��o final, apresentada por Marinho, e acompanhou o julgamento no pal�cio da Justi�a.

 

Os ministros concordaram com a tese de Gama, mas a vit�ria n�o foi completa. Eles determinaram um prazo de 12 anos para a liberta��o dos 217 escravizados a partir da feitura do testamento, de 1866. Ou seja, os cativos tiveram que prestar servi�os for�ados para os herdeiros do comendador at� 1878, quando finalmente foram libertados.


O tráfico de africanos foi proibido no Brasil em 1831, mas o contrabando continuou por várias décadas(foto: Getty Images)
O tr�fico de africanos foi proibido no Brasil em 1831, mas o contrabando continuou por v�rias d�cadas (foto: Getty Images)

 

"Essa liberdade condicional foi uma derrota para Gama, mas a vit�ria dele no m�rito da causa, uma alforria coletiva, foi uma coisa escandalosa para a �poca. Isso nunca tinha acontecido no Brasil. S�o rar�ssimas as liberta��es coletivas no sistema escravocrata das Am�ricas, o que dir� de uma alforria de 217 pessoas", explica Lima.

 

A vit�ria hist�rica de Gama na maior corte do pa�s n�o foi noticiada com destaque na imprensa paulista, bastante ligada a fazendeiros escravocratas. Temia-se que a repercuss�o da hist�ria pudesse gerar novos processos. "Saiu apenas uma pequena nota em um jornal, e ela s� informava o final da causa", diz o historiador.

 

Ao final do prazo, em 1878, um jornal paulista noticiou uma grande festa em comemora��o pela liberta��o dos cativos do comendador Ferreira Netto. No entanto, das 217 pessoas representadas por Gama, apenas 130 ainda estavam vivas para gozar a liberdade finalmente conquistada, segundo a publica��o.

 

"No fim das contas, Gama n�o se sentiu vitorioso, talvez por isso ele pouco tenha falado dela depois. Mesmo tendo ganho o m�rito, 80 vidas foram perdidas", diz Lima.

Maior a��o coletiva

A "Quest�o Netto" foi a maior causa de liberta��o defendida por Luiz Gama. Segundo Bruno Lima, ela chegou a ser citada brevemente por historiadores nas d�cadas seguintes, mas caiu no esquecimento.

 

A segunda maior a��o de Gama, por exemplo, tinha 18 pessoas, e correu em Pindamonhangaba, interior de S�o Paulo. Portanto, dado que o advogado foi o maior ativista do abolicionismo jur�dico do pa�s, o caso dos 217 cativos pode ser o maior processo do tipo na hist�ria do Brasil.

 

O historiador T�mis Parron, da UFF, vai mais longe: o catatau encontrado e analisado por Bruno Lima pode ser a maior a��o coletiva de liberta��o de escravizados conhecida nas Am�ricas at� hoje.

 

"Nos Estados Unidos e no restante da Am�rica, os processos de alforria eram bem distintos. Nos EUA, por exemplo, a alforria n�o dependia apenas da vontade do senhor, como no Brasil, mas sim da autoriza��o de v�rias inst�ncias da burocracia estatal. Era dif�cil ter a��es coletivas. Nunca li nada na historiografia do abolicionismo sobre um processo que envolvesse tantas pessoas", diz.

 

Para Lima, a descoberta abre brechas importantes nas pesquisas sobre o abolicionismo brasileiro e sobre a trajet�ria de um de seus maiores expoentes. Em seu doutorado, ele analisa principalmente os argumentos jur�dicos das partes, mas outros aspectos da a��o ainda podem ser pesquisados.

 

"H� muito a se estudar ainda sobre esse processo: quem eram esses escravizados? O que aconteceu com eles depois? Outro ponto � que ele joga luz sobre a figura de Jos� Bonif�cio, visto historicamente como um grande abolicionista, mas que na a��o defendeu escravocratas de maneira bastante enf�tica", aponta o historiador.

Apagamento

Existem algumas biografias sobre Luiz Gama, mas sua obra completa e sua atua��o como advogado ainda n�o s�o de todo conhecidas. H� diversas raz�es para explicar os motivos desse esquecimento.

 

"Primeiro, existe um problema estrutural da pesquisa acad�mica no Brasil que � o subfinanciamento. � uma vergonha que a obra de Luiz Gama n�o esteja toda publicada. Se ele fosse americano, dada a sua import�ncia hist�rica, tudo o que ele escreveu j� estaria na vig�sima edi��o. Qualquer assunto da hist�ria do Brasil ainda � um terreno a se desbravar", diz T�mis Parron.

 

Para ele, outro problema afeta os estudos sobre o abolicionismo. "Com o racismo estrutural e o negacionismo em rela��o � escravid�o e �s desigualdades sociorraciais, n�o � dif�cil entender por que esse grande abolicionista da hist�ria mundial n�o tem sua obra estudada no pa�s", completa.

 

J� Zulu Ara�jo, ex-presidente da Funda��o Palmares e doutorando em Rela��es Internacionais pela Universidade Federal da Bahia, acredita que a elite brasileira tentou "branquear" a hist�ria ao associar o fim da escravid�o apenas � Princesa Isabel, que assinou a Lei �urea em 1888, e n�o ao trabalho incessante dos abolicionistas.

 

"Tentou-se apagar a escravid�o da hist�ria do pa�s com a assinatura de uma senhora da elite. Esse tipo de narrativa apaga a participa��o popular no processo abolicionista e as lideran�as que tinham origem popular, como Luiz Gama", diz. "Ele era um negro que viveu todas as inst�ncias da escravid�o: nasceu livre, foi vendido pelo pr�prio pai, tornou-se escravo e depois se libertou para defender outros escravizados."

 

Segundo Zulu, o movimento negro, depois dos anos 1970, escolheu Zumbi dos Palmares como seu maior s�mbolo na luta contra o racismo. "Para se contrapor � Princesa Isabel, escolheu-se uma figura guerreira como refer�ncia. Foi uma escolha hist�rica. Acredito que hoje, com o maior acesso da popula��o negra �s universidades, outras pessoas importantes voltar�o a ser estudadas. Acredito que uma das sa�das para o movimento � resgatar outros s�mbolos da nossa hist�ria, como Luiz Gama", diz.


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