
Demitido do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) em meio a suspeitas de corrup��o, Wajngarten era um dos depoimentos mais aguardados desde que deu uma entrevista � revista Veja acusando o ex-ministro da Sa�de Eduardo Pazuello de incompet�ncia nas negocia��es de compra de vacinas.
- Vacinas, lei e cloroquina: as perguntas que o ministro Marcelo Queiroga deixou de responder na CPI da Covid
- Cloroquina n�o funciona contra covid, mas governo tinha plano para mudar bula, diz presidente da Anvisa � CPI
Antes de sua demiss�o, havia rumores de que Wajngarten estaria se envolvendo em assuntos do Minist�rio da Sa�de, mesmo sem ser da �rea, por interesses pessoais. Na entrevista, o ex-secret�rio afirmou que seu envolvimento na compra de vacinas aconteceu porque o processo estava "sofrendo entraves" no Minist�rio da Sa�de.
No entanto, durante a CPI, Wajngarten evitou responder diretamente diversas perguntas do relator Renan Calheiros (MDB-AL) — disse na CPI, por exemplo, que nunca fez parte das negocia��es e que apenas teve uma reuni�o com a Pfizer "para ajudar". � Veja, Wajngarten afirmou que havia se envolvendo nas discuss�es com a empresa ap�s a Pfizer n�o receber resposta do minist�rio da Sa�de.
Wajngarten tamb�m negou que estivesse se referindo a Pazuello quando falou � revista Veja. "Eu entendi que ele ocupou um espa�o diante da sa�da do dr. Teich, que eu lamentei muito. O ex-ministro Pazuello foi corajoso em assumir uma pasta no pior momento do Brasil", disse Wajngarten � comiss�o.
A Veja publicou um �udio do trecho da entrevista em que Wajngarten faz essa declara��o, afirmando que ele mentiu � CPI. A revista disse que o entrevistado foi questionado especificamente se haveria sido incompet�ncia ou neglig�ncia a forma como o governo, especialmente o Minist�rio da Sa�de, agiu para haver tantas dificuldades na compra de vacinas, ao que Wajngarten teria respondido categoricamente: "Incompet�ncia".
Confrontado com o �udio da entrevista, Wajngarten disse n�o ter negado em nenhum momento que havia acusado o Minist�rio da Sa�de de ter sido incompetente.
Questionado sobre quem orientou o presidente Bolsonaro sobre as diversas declara��es contr�rias � vacina e ao isolamento social, Wajngarten disse que n�o poderia responder a pergunta. "Pergunte ao presidente", afirmou, o que levou a uma rea��o dos senadores, pedindo para que ele respondesse a quest�o.

Wajngarten ent�o afirmou que nunca discutiu as falas p�blicas do presidente com ele, mesmo sendo ex-secret�rio de Comunica��es, e que n�o poderia responder sobre o aconselhamento do presidente. Disse tamb�m que nunca aconselhou o presidente sobre pol�ticas de sa�de e disse que n�o sabe identificar quem eram as pessoas.
Na falta de respostas diretas, os senadores pediram diversas vezes para que o ex-secret�rio respondesse objetivamente, de forma clara, em vez de procurar defender Bolsonaro. "O senhor s� est� aqui por causa da entrevista � Veja, se n�o fosse isso a gente nem lembrava que o senhor existia", afirmou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).
A insist�ncia levou os senadores governistas a interromperem o depoimento em defesa de Wajngarten. "Ningu�m veio aqui para ser humilhado", disse o senador governista Ciro Nogueira (PP-PI).
A isso se seguiu uma discuss�o e a CPI foi interrompida por alguns momentos. No retorno, o presidente da CPI alertou que Wajngarten poderia sofrer consequ�ncias se n�o respondesse objetivamente.
"Se o senhor n�o foi objetivo nas suas respostas, vamos dispens�-lo e quando chamarmos vossa excel�ncia de novo n�o vai ser como testemunha", afirmou Aziz.

Campanhas de comunica��o e ataques a jornalistas
Sobre a falta de campanhas amplas do Minist�rio da Sa�de para preven��o da covid, Wajngarten disse que foram 11 campanhas do minist�rio e da Secom sobre a pandemia. "A gente fez todas as campanhas poss�veis e a gente abasteceu o presidente com todas as informa��es", disse Wajngarten.
O ex-secret�rio entrou em contradi��o algumas vezes durante seu depoimento. Inicialmente, por exemplo, afirmou que a Secom n�o tinha contratado influenciadores bolsonaristas para fazer campanha sobre "tratamento precoce" — promovendo uso de medicamentos sem efic�cia comprovada contra o coronav�rus
No entanto, contraposto com uma reportagem da Ag�ncia P�blica mostrando que a ag�ncia Calia, contratada pelo governo, pagou R$ 23 mil a influenciadores digitais para falar sobre os medicamentos, Wajngarten confirmou o valor e disse que eles foram contratados por "terem muitos seguidores".
Disse tamb�m que a Secom contratou outras tr�s ag�ncias e que foram gastos R$ 285 milh�es em 14 meses de pandemia com contratos do tipo.
Disse tamb�m que em campanhas digitais foram gastos 35% desse valor no Google Ads.
O ex-secret�rio tamb�m afirmou que todas as contas pessoais do presidente da Rep�blica pertencem a ele e n�o s�o coordenadas pela Secom (secretaria de Comunica��es) — mas n�o respondeu quem faz a administra��o das contas.
Disse tamb�m que falava "muito pouco" com o vereador Carlos Bolsonaro. "O n�mero de vezes que falei com Carlos Bolsonaro cabe em uma m�o", afirmou. Afirmou tamb�m que se tornou mais pr�ximo de Fl�vio Bolsonaro e que ele n�o tinha "nenhuma fun��o" no governo.
Questionado sobre os ataques feitos pelo presidente e seus filhos � jornalistas — foram 460 somente em 2020, onde as mulheres foram as mais atacadas — e se esses ataques eram parte da estrat�gia de comunica��o do governo, Wajngarten disse que "nunca teve participa��o e nem a Secom".
O ex-secret�rio n�o respondeu se concordava ou n�o com os ataques: disse que era preciso analisar caso a caso, porque � "muito dif�cil reagir quando voc� tem uma inverdade publicada por um jornalista".

Vacina da Pfizer
O ex-secret�rio disse que se envolveu nas discuss�es com a Pfizer ao tomar conhecimento, em novembro de 2020, por meio de Marcelo de Carvalho, dono da emissora Rede TV, que teria uma apresentadora casada com um gerente da farmac�utica, que havia uma carta da empresa a seis destinat�rios do governo — incluindo o presidente, o ministro da Economia e o vice-presidente — que ainda n�o tinha sido respondida quase dois meses depois do envio.
Wajngarten disse que mandou um e-mail para a sede da empresa em Nova York e que, em seguida, recebeu contato do ent�o presidente da empresa no Brasil, Carlos Murillo, que ir� depor na CPI na quinta-feira (13/05).
O ex-secret�rio tamb�m disse que procurou Bolsonaro para falar do assunto e cobrar que o assunto avan�asse. Afirmou ainda que sae encontrou com o presidente durante uma reuni�o dele com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Guedes teria falado no telefone com Murillo. Enquanto isso, Bolsonaro teria escrito em um papel a palavra "Anvisa", indicando que compraria vacinas aprovadas pela ag�ncia — ponto que o ex-secret�rio reiterou diversas vezes.
Wajngarten afirmou tamb�m que houve duas reuni�es com representantes da Pfizer em que procurou "ajudar" e fazer pontes nesse contato. Tamb�m disse que procurou pessoas p�blicas e empres�rios para tentar viabilizar a compra de doses desta vacina. "Tenho muito orgulho disso."
Apesar de sua entrevista � Veja em que afirmou que as negocia��es atrasaram por "entraves" no minist�rio da Sa�de, Wajngarten disse � CPI que "n�o houve procrastina��o porque n�o havia seguran�a jur�dica".
Afirmou novamente que havia tr�s cl�usulas no contrato da Pfizer que o governo considerava problem�ticas e que n�o poderiam ser modificadas — contratos de vacinas com outras empresas continham cl�usulas parecidas — entre elas uma que determinava que a Uni�o e n�o a empresa se responsabilizaria por rea��es adversas da vacina.
Questionado por que motivo o governo federal n�o editou uma medida provis�ria (MP) para resolver essa quest�o, Wajngarten se limitou a responder: "Boa pergunta".
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ressaltou em seguinte seguida que, ao finalmente editar uma MP para regular a compra de vacinas, em 6 de janeiro, n�o havia termos nela que tratassem desse problema. "A MP continha o dispositivo que dava seguran�a jur�dica da Pfizer e o governo mandou retirar", frisou Rodrigues.
O senador destacou ent�o que foi ele o autor de uma emenda, apresentada no final de fevereiro, durante a vota��o de uma nova MP que facilitaria a compra de vacinas. Esta emenda autorizou a Uni�o a assumir a responsabilidade por efeitos colaterais, que seria uma exig�ncia da farmac�utica para vender as doses ao governo.
'O Brasil N�o Pode Parar'
O ex-secret�rio tamb�m foi questionado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre a campanha do governo federal "O Brasil N�o Pode Parar", contr�ria ao isolamento social, atrav�s de um v�deo que circulou em mar�o de 2020, no in�cio da pandemia.
O v�deo foi difundido por diversos ministros do governo Bolsonaro.
"Eu n�o tenho certeza se ele � de autoria da Secom, posso confirmar. O que eu tenho absoluta convic��o � que em mar�o (de 2020) o governo fez uma campanha sobre preven��o e sintomas", disse Wajngarten.
O senador Humberto Costa (PT-PE) lembrou que a Secom emitiu um comunicado depois da divulga��o da campanha dizendo que a campanha "tinha car�ter experimental". A campanha tamb�m foi publicada no Instagram da secretaria.
Wajngarten disse mais tarde que, durante um intervalo da CPI, lembrou-se melhor do epis�dio e disse que a campanha foi divulgada em grupos de mensagens de ministros, de onde teria vazado ao p�blico.
"De fato, as pe�a foram concebidas e estavam em fase de avalia��o. Em nenhum momento, ela foi autorizada", disse o ex-secret�rio.
Acusa��es de mentiras
O ex-secret�rio foi questionado se teria tomado cloroquina quando teve covid-19 e disse que n�o o fez porque o medicamento n�o era cogitado em tratamentos contra a doen�a em mar�o. "Se n�o ia submeter ao meu m�dico", afirmou Wajngarten.
O senador Rog�rio Carvalho (PT-SE) citou uma s�rie de not�cias desmentindo o ex-secret�rio e que mostravam que j� naquela �poca a Organiza��o Mundial da Sa�de alertava para a falta de comprova��o de sua efic�cia e que, no mesmo m�s, Bolsonaro mandou os laborat�rios do Ex�rcito aumentarem a produ��o do medicamento.
Em seguida, Carvalho acusou Wajngarten de mentir diversas vezes outras no depoimento. "O senhor disse que nunca negociou nada com a Pfizer. O senhor particpou de negocia��o com a Pfizer. O senhor disse que seus encontros com representartes da Pfizer tinham sido registrados. N�o h� informa��es no site do governo."
O senador acrescentou ent�o que Wajngarten disse que estava afastado da secretaria em mar�o de 2020 e ent�o mostrou um v�deo de uma transmiss�o ao vivo feita com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em que o ex-secret�rio dizia que estava trabalhando. "Vossa excel�ncia mentiu nesta oitiva", disse Carvalho.
Wajngarten tentou se manifestar neste momento, mas o senador disse que n�o era a vez de ele falar, que ele estava ali na condi��o de testemunha e que n�o sendo questionado nada a ele, mas sendo afirmado.
O secret�rio continua respondendo respostas dos senadores nesta quarta.
*colaborou Paula Idoeta e Rafael Barifouse, de S�o Paulo.
- J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!