
O Brasil faz 7.857 exames por 100 mil habitantes, segundo boletim epidemiol�gico do Minist�rio da Sa�de. Com esse �ndice, o Brasil fica semelhante � Z�mbia, na posi��o 88 em ranking com 111 pa�ses, atr�s da �ndia e de vizinhos na Am�rica do Sul. (Entenda abaixo por que os n�meros de testagem n�o s�o considerados precisos no Brasil).
Mesmo com a vacina��o contra covid iniciada, epidemiologistas apontam que a testagem em massa � essencial para apontar as tend�ncias da epidemia e embasar decis�es das autoridades de sa�de para controlar surtos do v�rus.
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Um dos indicadores essenciais � a propor��o de exames positivos, que no Brasil � de cerca de 30%, segundo o Minist�rio da Sa�de.
Quando ele est� alto, pode indicar descontrole da epidemia ou baixa capacidade de testagem. A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) aponta que uma taxa de positividade inferior a 5% � um indicador de que a epidemia est� sob controle.
No Brasil, nenhum Estado, desde o in�cio da pandemia, apresentou valores t�o baixos, segundo levantamento da Fiocruz.
"At� hoje o Brasil continua testando caso que tem quase certeza de que � covid.
Assim, os assintom�ticos, que a gente sabe que transmitem covid-19, a gente n�o est� testando praticamente ningu�m. Se a pessoa chega numa unidade de sa�de sem sintoma, ou dizendo que s� teve contato com algu�m que teve covid, � dif�cil que consiga fazer esse teste, porque a oferta � pequena", diz Diego Xavier, epidemiologista da Fiocruz e respons�vel pelo Monitora Covid.
'Testagem n�o � prioridade no Brasil'

A testagem em massa, ao apontar as tend�ncias da epidemia, deveria ser o instrumento para embasar a formula��o de pol�ticas das autoridades de sa�de para controlar a propaga��o da doen�a. Sem isso, o poder p�blico pode agir atrasado ou antecipar medidas dr�sticas que poderiam n�o ser necess�rias.
Esse � o alerta que epidemiologistas fazem desde a chegada do coronav�rus. A diferen�a � que, no come�o da pandemia, a baixa disponibilidade de testes fazia com que muitos pa�ses tivessem que guard�-los para situa��es espec�ficas.
Mesmo assim, alguns pa�ses conseguiram controlar a pandemia mesmo antes da vacina��o, com teste e rastreamento de contatos.
Ainda em maio de 2020, o Vietn� foi um dos pa�ses que conseguiram controlar o coronav�rus - mesmo com sistema de sa�de prec�rio -, ao concentrar esfor�os na realiza��o de testes em massa e rastreamento agressivo de contatos de doentes.
Hoje, pa�ses com a vacina��o avan�ada, como o Reino Unido, usam a testagem para planejar os pr�ximos passos do relaxamento do lockdown e monitorar os riscos de novas variantes. Segundo dados de maio, foram feitos at� agora mais de 2.300 testes por mil habitantes no Reino Unido.
No Brasil, a testagem n�o vem sendo usada para guiar as pol�ticas, como diz o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (RS).
"A testagem n�o � prioridade porque o Minist�rio da Sa�de nunca entendeu por que que se testa. Parece que o Minist�rio da Sa�de sempre achou que testagem � para contar caso, quando, na verdade, testagem � uma pol�tica de sa�de para identificar precocemente os casos e evitar a transmiss�o da doen�a", disse � BBC News Brasil.
O ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, afirmou em maio de 2021 que o Brasil estuda campanha de testagem contra covid. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa disse apenas que o programa de testagem est� em elabora��o e n�o informou uma data para lan�amento.
Brasil atr�s de mais de 80 pa�ses
Segundo boletim epidemiol�gico (de per�odo at� 8 de maio) do Minist�rio da Sa�de, o Brasil faz 7.857 exames por 100 mil habitantes, o que significa pouco mais de 16,5 milh�es de exames realizados at� o in�cio de maio.
Comparada a dados de outros pa�ses at� a mesma data, a taxa oficial de 78,57 exames por mil habitantes do Brasil � semelhante � Z�mbia (78,13), que fica na posi��o 88 entre 11 pa�ses em ranking da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford.
Painel Covid-19 - Estat�sticas do Coronav�rus, plataforma criada pelo analista de sistemas e matem�tico Giscard Stephanou, que explicou que re�ne dados das 27 secretarias estaduais de sa�de sobre diferentes tipos de testes, o total at� meados de maio chega a 48 milh�es.
Um dos reflexos da falta de uma coordena��o nacional em rela��o � testagem est� na dificuldade para compila��o dos dados sobre a quantidade de testes aplicados no pa�s.
A Fiocruz apontou que no Brasil "as testagens s�o feitas com pouco ou nenhum planejamento" e sequer h� "um indicador confi�vel sobre seus resultados".
Pesquisadores da Fiocruz avaliaram tr�s sistemas de informa��o diferentes sobre o tema - Sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), eSUS-VE e SIVEP-Gripe - e conclu�ram que apresentam sobreposi��es e inconsist�ncias entre si.
Entre os problemas apontados, est�o atraso e perdas no fluxo de dados de testagem, falta de informa��es e exist�ncia de campos n�o preenchidos ou mal preenchidos e notifica��o exclusiva de casos positivos j� confirmados por teste.

Mesmo com essas limita��es, no entanto, os pesquisadores apontam que os dados dispon�veis sobre testes no Brasil podem contribuir para o monitoramento mais preciso da ocorr�ncia de covid no pa�s.
Xavier diz que os Estados tiveram que agir sem uma coordena��o, o que dificultou o controle da testagem e, consequentemente, dos dados sobre os testes pelo governo central. "Foi a transfer�ncia de responsabilidade: o governo federal joga para o governador, que joga para o prefeito, que joga pra popula��o."
"Erramos muito nessa parte de testagem. H� um ano, pa�ses controlaram a doen�a sem vacina na �sia, testando e rastreando. No Brasil, a gente n�o consegue nem confiar na informa��o de testagem, porque � desestruturada", disse Xavier, um dos pesquisadores da Fiocruz respons�veis pelo trabalho.
Ele aponta que, no Brasil, o indicador que vem sendo usado para embasar decis�es locais sobre restri��es para tentar conter o v�rus � a ocupa��o de leitos de UTI, em vez da testagem. N�o deveria ser assim, diz Xavier. "Esse indicador (UTI) j� mostra pra gente quando a situa��o est� extremamente grave."
Outro sintoma da falta de coordena��o, a perda de testes devido ao vencimento sem uso tamb�m � um problema no Brasil. O Minist�rio da Sa�de admitiu ao Minist�rio P�blico Federal que existe o risco de perder milh�es de testes para covid-19, segundo a Folha de S.Paulo.
No documento, segundo o jornal, o minist�rio afirma que guardava em abril 4,3 milh�es de exames em Guarulhos (SP), dos quais havia estimativa de perda de pelo menos 2,3 milh�es por causa do vencimento.
Procurado pela BBC News Brasil para comentar a baixa testagem no Brasil e a falta de coordena��o, o Minist�rio da Sa�de disse que "a testagem para diagn�stico da covid-19 cresce constantemente no pa�s" e que, de janeiro a maio deste ano, a pasta registrou 7,9 milh�es de testes RT-PCR realizados.
O minist�rio disse, ainda, que a distribui��o � realizada de acordo com as demandas dos Estados e que o n�mero subiu de uma m�dia di�ria de exames de 1.148 em mar�o de 2020 para 63.982 testes di�rios em abril de 2021.
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