
A informa��o foi confirmada por Carlos Lula, secret�rio de Sa�de do estado, numa entrevista coletiva pela manh�.
- Como a crise da COVID-19 na �ndia p�e em risco vacina��o nos pa�ses mais pobres do mundo
- O que ci�ncia j� descobriu sobre maior agressividade da variante P.1 em jovens?
O caso vem sendo acompanhado desde o �ltimo s�bado (15/05), quando um paciente indiano deu entrada num hospital particular na capital S�o Lu�s com sintomas sugestivos da COVID-19.
O indiv�duo era tripulante do navio MV Shandong da Zhi, que chegou ao litoral maranhense e est� em quarentena desde ent�o.
Segundo Lula, que tamb�m � presidente do Conselho Nacional de Secret�rios da Sa�de (Conass), amostras de seis dos 24 tripulantes passaram por an�lises gen�micas.
O resultado mostrou que todos os seis estavam infectados com a linhagem B.1.617.
De acordo com as �ltimas informa��es, o primeiro paciente continua internado, com quadro est�vel.
H� outras 14 pessoas com COVID-19 dentro do navio: 12 assintom�ticos e dois com sintomas leves.
Os outros nove passageiros parecem n�o estar com a doen�a.
Lula tamb�m destacou que outras 100 pessoas tiveram contato com esses indiv�duos. Elas v�o ser observadas e acompanhadas de perto pelos pr�ximos dias.
"O Minist�rio [da Sa�de] est� enviando uma equipe e a gente tem atuado em conjunto com a Anvisa. Eu queria afirmar que todas as medidas est�o sendo tomadas, a tripula��o est� toda isolada e o navio n�o tem permiss�o para atracar", disse Lula.
Por que a variante descoberta na �ndia preocupa o Brasil e o mundo?
A descoberta da variante B.1.617 n�o � exatamente uma novidade: os primeiros relatos dessa nova vers�o do coronav�rus foram publicados ainda em outubro de 2020.
Mais recentemente, por�m, o interesse e a preocupa��o relacionados a essa linhagem aumentaram consideravelmente.
Isso porque o n�mero de casos de COVID-19 provocados por ela aumentou consideravelmente na �ndia, seu prov�vel local de origem.
Nas �ltimas semanas, a cepa tamb�m foi detectada em outros 44 pa�ses de todos os seis continentes.
Desde o final de abril, a �ndia vive seus piores momentos desde que a pandemia come�ou, com recordes nos n�meros de infectados e �bitos pela COVID-19 — embora a variante n�o seja o �nico fator que explica esse agravamento da crise sanit�ria por l�.
No Reino Unido, a subida vertiginosa de pacientes infectados com a B.1.617 amea�a a reabertura: j� existem d�vidas se as atividades sociais e econ�micas ser�o 100% retomadas at� junho, como planejado.
O que a ci�ncia j� sabe
Essa variante possui tr�s vers�es, com pequenas diferen�as: a B.1.617.1, a B.1.617.2 e a B.1.617.3.
Todas elas foram descobertas na �ndia, entre outubro e dezembro de 2020.

A an�lise gen�tica revelou que o trio apresenta muta��es importantes nos genes que codificam a esp�cula, a prote�na que fica na superf�cie do v�rus e � respons�vel por se conectar aos receptores das c�lulas humanas e dar in�cio � infec��o.
Entre as altera��es, tr�s delas chamam mais a aten��o dos especialistas: a L452R, a E484Q e a P681R.
Vale reparar que a muta��o L452R j� havia sido observada em duas variantes detectadas em Nova York e na Calif�rnia, nos Estados Unidos.
A E484Q tem algumas similaridades com a E484K, que foi uma altera��o encontrada em outras tr�s linhagens que ganharam bastante destaque nos �ltimos meses: a B.1.1.7 (Reino Unido), a B.1.351 (�frica do Sul) e a P.1 (Brasil).
J� a muta��o P681R parece ser exclusiva das vers�es flagradas na �ndia e n�o se sabe muito bem o que ela pode significar na pr�tica.
"Essas muta��es virais est�o surgindo em cidades em que h� o relaxamento das medidas de prote��o e onde se acreditava que a popula��o j� estava imunizada, seja pela infec��o natural ou pela vacina��o", diz o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.
Em linhas gerais, tudo indica que esses "aprimoramentos" gen�ticos melhoram a capacidade de transmiss�o do v�rus e permitem que ele consiga invadir nosso organismo com mais facilidade.
Antes, com as vers�es anteriores, era necess�rio ter contato com uma quantidade consider�vel de v�rus para ficar doente.
Agora, com as novas variantes, essa carga viral necess�ria para desenvolver a COVID-19 � um pouco mais baixa, o que certamente representa um perigo.
"� como se o v�rus criasse caminhos para escapar do sistema imune e desenvolvesse maneiras de transmiss�o mais eficazes", completa Spilki, que tamb�m coordena a Rede Corona-�mica, do Minist�rio de Ci�ncia, Tecnologia e Inova��es.
O que a ci�ncia ainda n�o sabe
Por enquanto, ainda h� muitas perguntas sem respostas sobre a B.1.617 e seu impacto no controle da pandemia.
At� o momento, os cientistas n�o conseguiram estabelecer a sua real velocidade de transmiss�o e o quanto as mudan�as gen�ticas contidas nessa linhagem interferem na efic�cia das vacinas j� dispon�veis.
Tamb�m n�o se sabe ao certo se a variante est� relacionada a quadros de COVID-19 mais graves, que exigem interna��o e intuba��o.
Com base nas poucas informa��es dispon�veis, o Grupo Independente de Aconselhamento Cient�fico para Emerg�ncias (Indie-Sage), do Reino Unido, montou proje��es para entender como a cepa pode influenciar a pandemia por l�.
Se a B.1.617 for de 30% a 40% mais transmiss�vel que a B.1.1.7 (que � a variante dominante at� o momento no Reino Unido), � poss�vel que a regi�o volte a viver uma situa��o t�o grave quanto a que ocorreu nas ondas anteriores, com aumento consider�vel no n�mero de hospitaliza��es.

Se ficar provado que essa variante consegue "escapar" da prote��o da vacina, � prov�vel que a situa��o seja ainda pior, estimam os especialistas.
Vale lembrar que o Reino Unido � um dos pa�ses com o melhor sistema de vigil�ncia gen�mica do mundo: todas as semanas, eles fazem o sequenciamento gen�tico de dezenas de milhares de amostras.
E os resultados recentes indicam um aumento consider�vel na presen�a da B.1.617 em terras brit�nicas: em uma semana, o n�mero de casos provocados por essa nova variante quase triplicou.
Em 12 de maio, 1.331 amostras analisadas apresentaram a linhagem descoberta originalmente na �ndia. Na semana anterior, eram 520.
Nos �ltimos 30 dias, a participa��o relativa dela no total de casos que foram sequenciados geneticamente subiu de 1% para 9%.
Em algumas regi�es inglesas, como Bolton, Blackburn, Bedford e Sefton, a B.1.617 j� representa a maioria dos casos analisados e j� se tornou dominante.
Para conter o problema, o Indie-Sage montou um plano emergencial, que envolve seis a��es priorit�rias, como a acelera��o da vacina��o no Reino Unido e no mundo, o controle de fronteiras, o aperfei�oamento dos sistemas de diagn�stico locais e a continuidade da vigil�ncia epid�mica e gen�mica.
Esse gr�fico do ac�mulo de casos por variante no Reino Unido foi a 1a evid�ncia que faz pensar que a variante B.1.617 surgida na �ndia pode ser mais preocupante. O crescimento de casos dela � bem diferente (em amarelo). Logo teremos resultados de outros pa�ses para confirmar. https://t.co/fA1MW4993j
— Atila Iamarino (@oatila) May 15, 2021E na �ndia?
Enquanto o pa�s asi�tico bate recorde atr�s de recorde no n�mero de casos e de mortes, muito se questiona sobre o papel da B.1.617 nesse cen�rio.
N�o h� d�vidas de que a variante tem influ�ncia no contexto indiano, mas as autoridades em sa�de p�blica sabem que ela n�o � a �nica culpada por todo o caos.
Uma an�lise da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) publicada no dia 9 de maio admite que a guinada e a acelera��o da transmiss�o da COVID-19 na �ndia tem uma s�rie de fatores, "incluindo a propor��o de casos provocados por variantes com maior transmissibilidade".
Mas o relat�rio da entidade n�o ignora tamb�m outros ingredientes fundamentais para entender essa crise sanit�ria, "como aglomera��es relacionadas a eventos religiosos e pol�ticos e a redu��o da ader�ncia �s medidas preventivas de sa�de p�blica e sociais", como o uso de m�scaras e o distanciamento f�sico.

A pr�pria OMS, inclusive, apontou recentemente a B.1.617 como uma "variante de preocupa��o global" pelas evid�ncias de maior transmissibilidade.
Por outro lado, outras institui��es, como o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC), dos Estados Unidos, ainda aguardam mais dados para fechar uma classifica��o.
Na vis�o desses �rg�os, a B.1.617 segue como uma "variante de interesse", que precisa ser melhor estudada e acompanhada.
E o Brasil no meio disso tudo?
Mesmo antes da confirma��o dos primeiros casos oficiais, alguns ind�cios j� aumentavam a preocupa��o sobre a entrada da linhagem no pa�s.
Primeiro, no dia 10 de maio, a Argentina anunciou a descoberta de dois casos de COVID-19 causados pela B.1.617.
O v�rus foi flagrado por l� em dois menores de idade, que voltavam de uma viagem a Paris, na Fran�a.
Como a Argentina faz fronteira com o Brasil e h� um constante fluxo entre os dois pa�ses, o risco de a nova vers�o do v�rus "pular" para c� aumenta consideravelmente.
A segunda not�cia que deixou os especialistas apreensivos foi justamente a chegada do navio MV Shandong da ZHI em S�o Lu�s, capital do Maranh�o, no �ltimo s�bado (15/05).
Um passageiro indiano que estava na embarca��o foi diagnosticado com COVID-19 e permanece em observa��o num hospital privado da capital maranhense.
A vigil�ncia sanit�ria do estado determinou a quarentena de todos os tripulantes, enquanto o caso � analisado para saber se � causado pela B.1.617.
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A Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (@anvisa_oficial) notificou a Secretaria de Sa�de do Estado sobre tripulante indiano do navio “MV SHANDONG DA ZHI” que deu entrada em hospital da rede privada de S�o Lu�s com sintomas da COVID-19. pic.twitter.com/2LWu3pwFmv
— Carlos Eduardo Lula (@carloselula) May 16, 2021
Independentemente desses dois fatos, que certamente ligam o sinal de alerta, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que nosso pa�s n�o possui um sistema com capacidade de barrar a entrada de novas variantes.
"Precisamos de uma vigil�ncia nas fronteiras, que consiga testar as pessoas que passam pelos portos e aeroportos", aponta o virologista Fl�vio da Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais.
H� cerca de 15 dias, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) sugeriu que o Governo Federal tomasse medidas mais contundentes, como a proibi��o da chegada de voos vindos da �ndia.
Mas uma atitude sobre o tema s� foi tomada dez dias depois: uma portaria que pro�be temporariamente a entrada de passageiros vindos n�o s� da �ndia, mas tamb�m de �frica do Sul, Reino Unido e Irlanda do Norte, foi publicada no Di�rio Oficial da Uni�o na �ltima sexta-feira (14/05).

Fonseca, que tamb�m � presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, entende que a introdu��o da variante no pa�s � alarmante.
"Quando a segunda onda da COVID-19 come�a a dar sinais ainda t�midos de diminui��o, me preocupa a possibilidade de uma nova linhagem chegar e piorar as coisas novamente", avalia.
Para evitar que isso aconte�a, o pa�s deveria n�o apenas cuidar melhor de suas fronteiras, mas tamb�m lan�ar m�o de um sistema de vigil�ncia gen�mica amplo e �gil.
Assim, os indiv�duos infectados que entrassem por meio de navios e avi�es poderiam ser identificados e isolados antes de transmitirem as novas vers�es do v�rus dentro de nossas fronteiras, criando cadeias de transmiss�o internas.
"O clamor � o mesmo desde o in�cio da pandemia: necessitamos de uma coordena��o central e de medidas que possam servir de barreira �s variantes, como os testes, a quarentena e a diminui��o ou o corte de voos de pa�ses que estejam com a pandemia descontrolada", refor�a Spilki.
Competi��o feroz
Com a confirma��o dos primeiros casos provocados pela B.1.617 no Brasil, uma coisa que ningu�m sabe � como ela vai se comportar e competir com as outras variantes que dominam a situa��o de momento, especialmente a P.1.
"A variante detectada na �ndia pode chegar ao Brasil e n�o encontrar espa�o para se desenvolver, pois aqui j� temos uma linhagem mais adaptada e agressiva", especula Fonseca.
Foi isso, ali�s, que parece ter acontecido com outras variantes de preocupa��o, como a B.1.1.7 (Reino Unido) e a B.1.351 (�frica do Sul): elas at� foram detectadas por aqui, mas a participa��o delas na pandemia � pequena e n�o evoluiu, ao contr�rio do que ocorreu em outras na��es.
Detectada pela primeira vez em Manaus, a P.1 se alastrou para o pa�s inteiro e, em quest�o de semanas, se tornou a linhagem mais frequente das cadeias de transmiss�o.
"Eu diria que, no momento, a variante encontrada no Amazonas me preocupa muito mais, pois ela � t�o ou ainda mais transmiss�vel que a linhagem da �ndia", avalia o virologista Jos� Eduardo Levi, da rede de laborat�rios de diagn�stico Dasa.
"Tamb�m fico apreensivo com os 'filhotes' da P.1, que s�o as variantes que surgiram ou podem surgir a partir dela", acrescenta o especialista, que tamb�m � pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de S�o Paulo.
Em meio a tantas incertezas e proje��es, uma coisa � certa: do ponto de vista individual, as medidas de preven��o contra o coronav�rus continuam as mesmas, n�o importa qual a variante de maior circula��o.
Distanciamento f�sico, uso de m�scaras, lavagem das m�os e cuidados com a circula��o do ar pelos ambientes continuam imprescind�veis.
Tamb�m � essencial tomar a vacina quando chegar a sua vez.
"As novas variantes do coronav�rus podem at� se disseminar mais r�pido e enganar uma resposta imune pr�via, mas todas as estrat�gias n�o farmacol�gicas de prote��o seguem v�lidas", refor�a Fonseca.
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