
Com o avan�o da vacina��o contra a covid pelo mundo, pa�ses come�am a abrir as fronteiras para turistas imunizados, sem necessidade de quarentena. Mas o Brasil tem ficado de fora da nova flexibiliza��o.
A Uni�o Europeia decidiu permitir a entrada de viajantes que tenham recebido a segunda dose da vacina ao menos 14 dias antes de viajar. A regra vale para vacinas aprovadas pela ag�ncia sanit�ria europeia, mas pa�ses do bloco tamb�m podem ampliar a permiss�o para imunizantes aprovados pela Organiza��o Mundial da Sa�de, como � o caso da CoronaVac.
Na quarta-feira (9), a Fran�a, principal destino tur�stico internacional, abriu as portas para viajantes imunizados de quase todos os pa�ses do mundo. Apenas 15 na��es ficaram de fora, entre elas o Brasil. As regras valem para vacinas aprovadas pela ag�ncia europeia: Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen (Johnson & Johnson).Na segunda (7), a Espanha come�ou a receber visitantes vacinados de praticamente todos pa�ses. Nesse caso, foram permitidas vacinas aprovadas pela OMS, como a CoronaVac. Mas, novamente, o Brasil ficou de fora. E isso deve se repetir � medida que outros membros da Uni�o Europeia iniciem o esquema de abertura para imunizados.
Ou seja, para os brasileiros, n�o basta estar totalmente vacinado para vislumbrar f�rias nos principais destinos internacionais.

Considerado de "especial risco epidemiol�gico", o Brasil pode continuar isolado de grande parte do mundo por causa do descontrole da pandemia e o 'caldeir�o de variantes' que circulam pelo territ�rio.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, para que as portas de EUA e Europa voltem a se abrir a turistas brasileiros, o pa�s possivelmente precisar� cumprir ao menos tr�s crit�rios:
1. Reduzir taxa de infec��es por 100 mil habitantes
O n�mero proporcional de infec��es � um dos crit�rios usados pelas equipes de aconselhamento dos EUA e Uni�o Europeia na hora de decidir de onde receber turistas vacinados, destaca o pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza.
A Uni�o Europeia estabeleceu como regra permitir a entrada, sem quarentena, de pessoas vacinadas vindas de pa�ses com taxa de at� 75 casos de covid por 100 mil habitantes, em 14 dias.

O Brasil est� longe dessa meta. Nas �ltimas duas semanas somadas, teve 416 novos casos de covid por 100 mil habitantes, conforme dados utilizados pelo Centro Europeu de Preven��o e Controle de Doen�as.
Trata-se da 12ª pior taxa do mundo, sendo que dos 10 pa�ses com mais infec��es por 100 mil habitantes, sete s�o latino-americanos. Ou seja, para cumprir as regras atuais da Uni�o Europeia, o Brasil precisaria reduzir em 82% a taxa de infec��o por 100 mil habitantes.
Segundo o professor de Pol�tica de Sa�de Global Peter Baker, a experi�ncia mostra que vacina��o, medidas de confinamento e distanciamento social s�o os caminhos para diminuir casos de covid.
Reino Unido e grande parte dos pa�ses europeus introduziram lockdowns nos primeiros est�gios de vacina��o para conter infec��es e surgimento de variantes nesse per�odo.
"O principal a fazer � reduzir os casos de contamina��o. Um pa�s como Brasil deveria poder acelerar a campanha de vacina��o e deveria receber ajuda de pa�ses ricos. Outra op��o � aumentar medidas de distanciamento social", diz Baker, que � pesquisador do Centro de Desenvolvimento para Sa�de Global, no Reino Unido.
2. Controlar o surgimento de variantes
O principal motivo para a exclus�o do Brasil da decis�o da Uni�o Europeia de receber turistas vacinados � o risco de variantes do coronav�rus, dizem Bozza e Baker. Atualmente, a P.1, identificada primeiramente em Manaus e rebatizada de gamma pela OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de), � a cepa prevalente em todo o territ�rio brasileiro.
Ela preocupa por ser mais transmiss�vel e pela capacidade de evadir anticorpos ao apresentar muta��es que facilitam a entrada do v�rus nas c�lulas humanas. Um estudo publicado na revista Science mostrou que a P.1 � at� 2,4 vezes mais transmiss�vel que outras linhagens e mais capaz de reinfectar quem j� teve covid.
E pesquisas preliminares apontam que vacinas perdem efic�cia contra essa variante, embora ainda ofere�am forte prote��o contra hospitaliza��es e casos graves da doen�a.
Cepas surgidas a partir de muta��es da P.1 tamb�m j� foram identificadas no Brasil e n�o se sabe se s�o mais letais e transmiss�veis.

Para piorar o cen�rio, a variante indiana, conhecida como Delta, apontada como respons�vel pelo atual surto de covid na �ndia, j� foi identificada em cidades brasileiras.
Como nenhuma vacina � 100% eficaz em impedir infec��es, embora sejam muito eficientes em evitar hospitaliza��es, n�o � imposs�vel que uma pessoa imunizada embarque num avi�o com o v�rus, principalmente se sair de um pa�s onde circulam variantes que reduzem ainda mais esse percentual de prote��o.
"Se voc� pensa numa pessoa totalmente vacinada chegando � fronteira, ela apresenta risco baixo. Mas se ela estiver vindo de um pa�s onde estava altamente exposta � circula��o de uma variante, pode ser que esteja infectada apesar das duas doses de vacina", explica Baker.
"� algo raro, mas pode acontecer."
Ou seja, para que turistas brasileiros voltem a ser recebidos em outros pa�ses, conter o surgimento de variantes seria essencial, diz o especialista ouvido pela BBC News Brasil.
"A principal preocupa��o � com circula��o de variantes. Infelizmente, esse � o crit�rio correto e o Brasil se enquadra entre os pa�ses que t�m novas cepas em circula��o."
3. Acelerar a vacina��o
O ritmo de vacina��o no Brasil come�ou lento, por causa da decis�o do governo federal de n�o comprar vacinas ainda 2020, quando mais doses estavam dispon�veis.
Devido � escassez de imunizantes para atender a todos os brasileiros, apenas 11% da popula��o recebeu duas doses da vacina at� 9 de junho e 24% recebeu uma dose, segundo dados do Our World in Data, ranking global de dados oficiais compilados pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
No ranking da propor��o da popula��o que recebeu duas doses, o Brasil aparece em 74º no mundo numa lista com 190 pa�ses.
A cobertura vacinal � um dos elementos considerados pela Uni�o Europeia, EUA e Reino Unido ao definir de quais pa�ses receber visitantes. Quanto maior o percentual de popula��o imunizada, menor a circula��o do v�rus e o risco de contamina��o.

Inicialmente, a Uni�o Europeia anunciou que receberia vacinados com doses aprovadas pela ag�ncia reguladora do bloco, o que excluiria a CoronaVac, principal vacina utilizada hoje no Brasil. Muitos brasileiros ficaram preocupados em n�o poder viajar no futuro por terem sido imunizados com a vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a China.
Mas, pouco depois, a Uni�o Europeia informou que poder�o ser inclu�das vacinas aprovadas pela OMS. A Coronavac teve sua utiliza��o emergencial aprovada pelo organismo internacional em 1º de junho. Especialistas dizem que a tend�ncia � que todos os pa�ses recebam, no futuro, vacinados com imunizantes chancelados pela OMS.
Ou seja, qualquer vacina aprovada pela OMS e a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) j� deixa o brasileiro mais perto de voltar a viajar pelo mundo.
"N�o importa qual marca de vacina voc� recebe entre as oferecidas no Brasil. N�o � isso que vai restringir a sua mobilidade para viajar no exterior. Todas elas foram aprovadas pela OMS. O mais importante � ser vacinado", destaca Peter Baker, do Centro para Desenvolvimento Global, no Reino Unido.
'Imagem negacionista tamb�m pesa'
Al�m do descontrole da pandemia, da exist�ncia de variantes e do ritmo lento de vacina��o, o pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza cita a postura negacionista do governo federal como fator que contribui para o isolamento do Brasil. Em v�rias ocasi�es, o presidente Jair Bolsonaro minimizou a gravidade do coronav�rus e at� hoje se op�e fortemente a medidas de distanciamento social.
"Tem uma quest�o de car�ter pol�tico, que � o fato de o governo brasileiro ter se mostrado negacionista de toda a racionalidade do controle da pandemia. Isso tamb�m, olhando externamente, leva a uma percep��o ruim em rela��o ao pa�s como um todo", diz Bozza, que � chefe do Laborat�rio de Pesquisa Cl�nica em Medicina Intensiva do Instituto Evandro Chagas.
"Ent�o, o entendimento internacional � a de que n�o h� porque flexibilizar as regras para o Brasil, um pa�s com variante, infec��o alta e um governo que gera a percep��o de n�o se preocupar com o controle da pandemia."
Mas Peter Baker, do Centro para Desenvolvimento Global, tamb�m critica os pa�ses ricos por comprarem doses excessivas de vacinas e n�o ajudarem pa�ses pobres e em desenvolvimento a sair da crise. Para ele, a responsabilidade deve ser compartilhada.
"Pa�ses ricos agora deveriam financiar a expans�o do acesso a vacinas em pa�ses pobres e de renda m�dia. N�o � s� por uma quest�o de caridade, mas porque � o necess�rio a fazer para garantir o retorno do com�rcio internacional e do turismo", defende o pesquisador brit�nico.
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!