
Para o m�dico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, classificar como crime o que est� acontecendo no Brasil durante os meses de pandemia n�o � nenhum tabu.
"A Hist�ria vai contar tudo o que passamos e colocar� no devido lugar todos os patrocinadores do genoc�dio", diz.
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Sobre a atua��o espec�fica do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ele tamb�m n�o poupa cr�ticas.
"Temos no Brasil um presidente ensandecido e mal informado, que ainda v� a imunidade de rebanho como a solu��o", aponta.Professor da Faculdade de Sa�de P�blica da Universidade de S�o Paulo (USP) e do mestrado profissional da Funda��o Get�lio Vargas (FGV), Vecina Neto ainda � presidente do Conselho Consultivo do Instituto Horas da Vida e traz no curr�culo o fato de ser fundador e ex-presidente da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria, a Anvisa.
Numa entrevista exclusiva � BBC News Brasil, o m�dico avaliou o ritmo da vacina��o contra a Covid-19, a amea�a das novas variantes do coronav�rus e as perspectivas para o fim da pandemia.
Confira os principais trechos a seguir.
BBC News Brasil - Como o senhor v� o avan�o da campanha de vacina��o contra a covid-19 no Brasil? No que poder�amos estar melhor ou pior?
Gonzalo Vecina Neto - Bom, em primeiro lugar, n�s temos uma falta de coordena��o. O Minist�rio da Sa�de j� passou por v�rias gest�es nesses meses e isso gera uma descontinuidade administrativa e um clima ruim.
N�s estamos fazendo uma vacina��o sem uma campanha. Isso � impressionante. � a primeira vez que isso acontece na hist�ria do Programa Nacional de Imuniza��es, o PNI.
O PNI foi fundado em 1973 e, desde ent�o, est� bem claro o papel do Minist�rio da Sa�de na defini��o de muitas quest�es relacionadas � vacina��o. Agora, os Estados e os munic�pios fazem o que podem, mas sem uma coordena��o do Governo Federal. N�o h� campanha alguma, no sentido de existir a comunica��o, a convoca��o dos grupos, dos dias que as pessoas devem ir aos postos ou quando voltar para a segunda dose.
Veja bem, n�s estamos em meio �s campanhas de vacina��o contra a Covid-19 e contra a gripe. N�s temos cerca de 80 milh�es de doses de vacina contra a gripe e s� usamos 40% desse total. E qual o motivo? As pessoas n�o foram convocadas para irem tomar a vacina.
No caso da Covid-19, al�m da aus�ncia de uma campanha, h� todo o despreparo da rede de vacina��o. N�s temos 38 mil salas de vacina��o no Brasil, com uma capacidade de imunizar 70 milh�es de pessoas por m�s sem estresse, s� aproveitando o hor�rio comercial e os dias �teis. No entanto, estamos com dificuldade em vacinar 15 ou 20 milh�es de pessoas por m�s.

Isso � causado pela descoordena��o e pelo fato de n�o termos doses suficientes. A compra dos lotes foi tardia demais. Somente em mar�o deste ano o [ex-ministro da Sa�de e general Eduardo] Pazuello fechou alguns contratos, no que foi seguido pelo [atual ministro Marcelo] Queiroga.
N�s estamos desde o in�cio do ano com uma lentid�o na vacina��o justamente pela falta de doses e pelo desarranjo estrutural do governo.
BBC News Brasil - Nos �ltimos dias, diversas cidades brasileiras alcan�aram a marca de quase 100% da popula��o acima de 18 anos vacinada com a primeira dose. Como isso deve ser encarado? H� motivo para comemorar e celebrar o feito?
Vecina Neto - A primeira dose ajuda a proteger, mas a prote��o de verdade s� � obtida ap�s a segunda dose. Eu acho auspicioso qualquer tipo de conquista que tivermos no meio dessa desgra�a. Afinal, o Brasil vive a mistura de pandemia com pandem�nio.
Mas, infelizmente, os nossos problemas v�o muito al�m disso. N�s ainda temos que vacinar toda a popula��o adulta com as duas doses. Falamos de cerca de 160 milh�es de brasileiros. Logo, s�o 320 milh�es de vacinas.
Se o Brasil tivesse vacinado 70 milh�es de pessoas por m�s a partir de janeiro, pois t�nhamos essa capacidade, ter�amos terminado essa primeira etapa no m�s de maio. N�s estamos em agosto e s� agora chegamos a essa marca.
� auspicioso aplicar a primeira dose em toda a popula��o adulta? Claro que �. Mas � pouco pra quem podia fazer muito mais.
BBC News Brasil - Com todos os adultos vacinados com a primeira dose, temos agora tr�s poss�veis frentes. Um, garantir a segundo dose a esse monte de gente. Dois, aplicar uma terceira dose em grupos vulner�veis, como idosos e profissionais da sa�de. E tr�s, come�ar a imunizar os adolescentes. Na vis�o do senhor, a quais dessas frentes precisamos dar prioridade?
Vecina Neto - Bom, a primeira quest�o que devemos focar � na segunda dose. E necessitamos pensar nos casos espec�ficos, como as gestantes que tomaram a primeira dose da AstraZeneca e agora precisar�o tomar a da Pfizer. Outro ponto � avaliar a intercambialidade de vacinas. Alguns pa�ses europeus deram a primeira dose da AstraZeneca e a segunda da Pfizer e viram que a mistura traz um aumento da efic�cia e uma prote��o melhor.
Ainda nessa seara, precisamos definir melhor os intervalos. Na vacina da Pfizer, o tempo entre a primeira e a segunda dose � de 21 dias, e n�s no Brasil recomendamos 90 dias, at� para conseguirmos vacinar mais gente.
Agora est� na hora de voltar atr�s dessa pol�tica. J� no caso da AstraZeneca, o ideal � manter mesmo essa espera de 90 dias. Em rela��o � segunda dose, apesar dos pequenos ajustes, o que precisamos � vacinar e pronto.
J� no caso dos menores de 18 anos, penso que vamos vacin�-los assim que todos os grupos de maior risco estiverem protegidos. Mas � �bvio que precisamos proteger tamb�m os adolescentes, e a vacina que temos aprovada no Brasil para essa faixa et�ria, de 12 a 17 anos, � a da Pfizer.
Mas, mesmo nesse grupo, temos que pensar tamb�m em priorizar os jovens com comorbidades, porque eles t�m um risco maior. Por isso, indiv�duos com s�ndrome de Down, doen�as raras, c�ncer, obesidade e asma deveriam ser vacinados antes.
J� sobre a terceira dose, me parece estar claro para o mundo inteiro que precisaremos disso. � l�gico, vamos come�ar com os grupos de maior risco, como os mais idosos.

Mas eu acredito que essa dose de refor�o deveria ser dada s� depois de terminarmos a vacina��o dos outros grupos. N�o adianta deixar tudo pela metade, pelo meio do caminho. Daqui a pouco isso vai ser ruim para n�s mesmos.
Temos que terminar a vacina��o com a primeira dose, convocar as pessoas para a segunda dose e a� iniciar a revacina��o pelos grupos priorit�rios. Muito provavelmente teremos a terceira e at� a quarta dose da vacina contra a Covid-19, inclusive.
O grande problema � que o mundo est� produzindo pouco em rela��o � demanda que temos. Precisar�amos de 14 bilh�es de doses de vacina agora. Se pensarmos em terceira dose, s�o 21 bilh�es. No entanto, estamos produzindo entre 3 e 4 bilh�es neste ano.
Como sempre diz o Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organiza��o Mundial da Sa�de, se n�s n�o vacinarmos os pa�ses pobres da �frica e do Sudeste Asi�tico, o v�rus vai continuar circulando. E, enquanto o v�rus circula, aparecer�o muta��es que podem ser resistentes �s vacinas j� dispon�veis.
N�s temos que deixar esse ego�smo de lado, essa hist�ria do "eu primeiro e depois o resto". A prioridade deveria ser vacinar toda a popula��o mundial. Mas os pa�ses mais desenvolvidos, e mesmo aqueles em desenvolvimento, como o Brasil, est�o mais preocupados com o pr�prio umbigo. Como se a pandemia come�asse e terminasse em seus pr�prios territ�rios.
BBC News Brasil - E o que justificaria a necessidade de uma terceira dose agora? A queda dos anticorpos? A circula��o de variantes de preocupa��o, como a Delta? Ou uma mistura desses fatores?
Vecina Neto - O primeiro ponto � que temos vacinas diferentes, com efic�cias vari�veis. A CoronaVac tem 50%, a Pfizer chega a 95% e por a� vai. Se eu pudesse priorizar uma vacina, � claro que eu escolheria a de maior efic�cia para toda a popula��o. Mas o problema � que a demanda est� muito mais alta que a oferta. Com isso, eu tenho que usar todas as op��es dispon�veis.
Isso n�o significa que eu n�o usaria a CoronaVac, at� porque ela tem uma grande serventia. Falamos de uma vacina que � menos eficaz, mas que, mesmo assim, derruba o risco de mortalidade por Covid-19 em mais de 90%.
A terceira dose deveria come�ar pelas pessoas mais idosas. Nas idades mais avan�adas, n�s sabemos que existe um fen�meno chamado imunossenesc�ncia. � o envelhecimento do pr�prio sistema imunol�gico, que n�o funciona como anteriormente.
O segundo ponto que justificaria a terceira dose � a queda na produ��o de anticorpos com o passar dos meses.
N�o temos muitos estudos sobre isso, mas, no caso da vacina da Pfizer, verificou-se uma diminui��o ap�s algum tempo. At� quando essa prote��o cai? N�o sabemos, at� porque n�o tivemos tempo suficiente para aprender isso.
De uma forma ou de outra, o v�rus vai continuar circulando pela falta de uma imunidade coletiva, at� porque os pa�ses est�o com taxas de vacina��o muito diferentes. E � normal que precisemos de refor�os de tempos em tempos.
Veja o caso da febre amarela. H� alguns anos, a recomenda��o era que se tomasse uma nova dose a cada dez anos. De repente, diante de um surto e de uma escassez, os cientistas estudaram melhor o assunto e descobriram que n�o havia essa necessidade de refor�o. Houve tamb�m um fracionamento das doses, o que permitiu levar a prote��o a um maior n�mero de pessoas.
Isso tamb�m est� acontecendo com os imunizantes contra a Covid-19. Uma cidade do Esp�rito Santo est� estudando a aplica��o de meia dose da AstraZeneca, para ver se ela confere uma boa prote��o. Se isso der certo, nossa capacidade de vacina��o duplicaria.
Essa pandemia est� nos mostrando que � preciso ter um pouco de humildade e aceitar os aprendizados que aparecem pelo caminho.
BBC News Brasil - Ainda sobre as variantes, j� est� provado que a Delta circula pelo Brasil e dados da vigil�ncia gen�mica do Rio de Janeiro mostram que ela representa mais da metade das amostras analisadas no Estado recentemente. Como o senhor v� o avan�o dessa linhagem no pa�s? O que poder�amos ter feito para evitar isso e o que dever�amos fazer agora?
Vecina Neto - Primeiro, me parece que a Delta est� evoluindo aparentemente mais devagar no Brasil do que ela fez na Europa e na �sia.
Quando voc� analisa o que aconteceu nessas duas regi�es, � algo muito surpreendente. Essa variante dominou a cena com muita rapidez. Em pa�ses com 80% de cobertura vacinal, como Israel, foi necess�rio fazer lockdown de novo.
Aqui no Brasil, n�s tivemos not�cias sobre a chegada dela j� faz um bom tempo. E, claro, o que n�s temos de informa��o pode ser muito menos do que aquilo que est� ocorrendo de fato. At� porque n�o tivemos controle nenhum.
Parece que n�s desaprendemos totalmente a li��o milenar de que o isolamento � uma das melhores estrat�gias para lidar com uma doen�a infectocontagiosa. Mesmo quando a humanidade n�o sabia o que provocar a peste bub�nica, a var�ola e a s�filis, o isolamento sempre fez o n�mero de casos diminuir.
E n�s aqui no Brasil n�o usamos esse conhecimento milenar. N�o fizemos nada daquilo que o mundo apontava que era necess�rio. As pessoas vinham de outros pa�ses para c�, estavam com febre, tinham o teste PCR positivo e, mesmo assim, sa�am livres, leves e soltas para contaminar todo mundo.
Isso � uma coisa impens�vel. N�s ignoramos toda a verdade epidemiol�gica que j� conhec�amos.
O que dever�amos fazer com uma pessoa com um PCR positivo? Isol�-la por 14 dias. Por que? Para que ela n�o espalhe o v�rus e produza novos casos. E por que isso � necess�rio? Para evitarmos as mortes.
O comportamento da vigil�ncia epidemiol�gica brasileira foi criminoso. Se havia alguma d�vida se pod�amos chamar algu�m de genocida, isso n�o existe mais.
N�o compramos vacinas. E estamos chegando ao n�mero de 600 mil mortos, com grandes possibilidades de chegarmos aos 800 mil at� o final do ano. Isso � criminoso.
N�s permitimos que a variante Delta se espalhasse por a�. E n�s temos agora as subvariantes derivadas da Gama, como a Gama Plus, que aparentemente tem muta��es semelhantes � Delta e pode ser mais infectante.
Ent�o essa intera��o das linhagens de coronav�rus � algo que precisamos aprender um pouco mais. Ser� que a Gama e a Gama Plus est�o segurando a entrada da Delta?
Essa coisa das muta��es � algo muito inteligente. A natureza produz essas modifica��es que s�o melhores, ao menos do ponto de vista do v�rus. E o uso da palavra melhores aqui n�o significa que elas s�o mais mortais, at� porque, se o v�rus mata o seu hospedeiro muito r�pido, ele n�o consegue se espalhar com tanta rapidez.
Essa capacidade das variantes do coronav�rus de se espalharem com mais facilidade abre at� a possibilidade de ele conviver conosco por muito tempo. � prov�vel que ele se transforme num v�rus sazonal, como outros que causam gripes e resfriados.
Especificamente sobre a Delta, o que est� acontecendo no Rio de Janeiro vai nos mostrar se teremos uma terceira onda e todas as consequ�ncias relacionadas a ela.
At� porque estamos agora com uma diminui��o do n�mero de casos e �bitos, mas eles ainda est�o muito pr�ximos ao que vimos na primeira onda. Ou seja, estamos num plat� elevado de 900 mortes por dia.
Na segunda onda, n�s chegamos a 4 mil mortes por dia. Depois, tivemos a diminui��o em que estamos agora.
Resta saber se as variantes Gama Plus ou Delta levar�o a uma nova subida e at� que ponto a cobertura vacinal que j� temos ser� capaz de segurar a doen�a e diminuir os casos graves ou as mortes por covid-19. Sem d�vida, estamos numa situa��o sanit�ria perigosa.
BBC News Brasil - De um lado, temos o otimismo pelo avan�o da vacina��o. Do outro, a apreens�o com a variante Delta. No meio, prefeitos e governadores anunciam o relaxamento das medidas, a libera��o de p�blico nos est�dios de futebol e a realiza��o de festas populares, como o carnaval. Como o senhor v� as pol�ticas p�blicas em rela��o ao atual est�gio da pandemia no Brasil?
Vecina Neto - O Brasil � muito desigual. Talvez esse seja o principal problema de nosso pa�s. Mas existem outros problemas t�o graves quanto. Um deles � a impunidade.
Aqui, as pessoas podem cometer as maiores barbaridades sem sofrer consequ�ncias. O presidente [Jair Bolsonaro] fala para as pessoas n�o usarem m�scaras. Da� vem algu�m do Minist�rio P�blico e diz que as m�scaras n�o est�o comprovadas cientificamente, quando temos milhares de trabalhos mostrando a necessidade do uso delas.
O Minist�rio P�blico � o guardi�o das leis. E a lei � um arranjo escrito que permite a conforma��o da vida em sociedade.
Agora, se o guardi�o deste c�digo t�o importante vem e me diz que as m�scaras nem s�o t�o importantes assim, que elas s�o secund�rias, mesmo quando h� leis determinando seu uso, isso s� refor�a o clima de impunidade.
Enquanto isso, os prefeitos e governadores est�o prestando aten��o nas elei��es de 2022. Eles acham que o povo vai esquecer as milhares de mortes, at� porque estamos nesse clima de oba-oba da reabertura geral.
Talvez um outro grande problema que n�s temos, junto da desigualdade e da impunidade, seja o esquecimento. E muitos apostam que esse clima de otimismo atual far� o povo n�o lembrar de tudo que aconteceu e n�o chorar mais as mortes.
BBC News Brasil - E como essa falta de coordena��o entre munic�pios, Estados e Governo Federal contribuiu para que a pandemia tivesse n�meros t�o expressivos em nosso pa�s?
Vecina Neto - Veja os exemplos que temos na Europa. A Alemanha talvez seja o melhor modelo de como um l�der faz a diferen�a.
Na Inglaterra, o primeiro-ministro Boris Johnson come�ou a crise sanit�ria da pior maneira poss�vel, no mesmo estilo de Jair Bolsonaro, no Brasil, e Donald Trump, nos Estados Unidos. Mas a� ele teve a doen�a, foi tratado pelo servi�o de sa�de p�blica, o NHS, e pediu desculpas. Em Israel foi a mesma coisa.
Nessas horas, ter um l�der � fundamental. � preciso que algu�m governe o pa�s. Veja o que aconteceu na Nova Zel�ndia. Eles tiveram um n�mero de mortes que d� pra contar nos dedos da m�o. Por que? Porque tinham um governo com projeto, que fez as interven��es sanit�rias.
Temos no Brasil um presidente ensandecido e mal informado, que ainda v� a imunidade de rebanho como a solu��o.
Ele acredita nisso at� hoje. Outro dia fez um discurso reclamando da crise econ�mica, da infla��o, do aumento no pre�o da gasolina… E botou a culpa nos governadores e prefeitos.
E n�s tivemos governadores muito irrespons�veis tamb�m, especialmente no Norte.
Os Estados dessa regi�o s�o aqueles que possuem a maior desigualdade social. A pobreza de uma cidade como Manaus � assustadora. Dentro da exuber�ncia da floresta, com tanta fruta, peixe, �gua e calor, a pobreza � terr�vel.
A pandemia foi muito mal administrada por falta de um alinhamento entre os gestores p�blicos. Eles deveriam estar alinhados com o conhecimento cient�fico e as melhores pr�ticas para diminuir o impacto da pandemia.
A Hist�ria vai contar tudo o que passamos e colocar� no devido lugar todos os patrocinadores do genoc�dio
BBC News Brasil - Um exemplo recente de briga entre os poderes aconteceu entre o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB), e o ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, por uma discord�ncia no envio de doses das vacinas. Como o senhor v� essa discuss�o em particular?
Vecina Neto - Doria � candidato � Presid�ncia da Rep�blica. Ent�o ele est� fazendo seu teatro para isso.
Mas, nesse caso em particular, ele at� tinha raz�o, pois o Minist�rio da Sa�de mandou uma quantidade menor de doses de vacina para S�o Paulo.
Agora, n�o d� pra saber se esse envio reduzido foi por lapso ou m� vontade. Acho que as duas coisas s�o poss�veis.
O Minist�rio da Sa�de errar j� � algo absolutamente comum, porque eles s�o muito incompetentes. Vimos recentemente o pr�prio ministro, Marcelo Queiroga, falar que as m�scaras s�o apenas um detalhe. E ele � m�dico!
O fato � que o Minist�rio da Sa�de est� ac�falo, assim como o PNI. N�o h� coordena��o do programa de imuniza��es brasileiro. Um dos �ltimos coordenadores foi demitido porque se envolveu nessa lamban�a da compra de vacinas da �ndia, com distribui��o de dinheiro para corrup��o.
BBC News Brasil - Mesmo com a necessidade de manter as medidas restritivas, n�o podemos ignorar o fato de estarmos h� um ano e meio na pandemia e as pessoas est�o cansadas. Como manter a popula��o engajada num cen�rio desses?
Vecina Neto - Essa � uma das quest�es mais complexas. Realmente as pessoas est�o cansadas de usar m�scara e manter o distanciamento social. Temos um ano e meio de tens�o e todos estamos sofridos. Mas qual o caminho?
N�o temos muita sa�da: precisamos continuar vacinando e exigir o uso de m�scaras em ambientes p�blicos, especialmente nos locais fechados.
O duro � voc� explicar para as pessoas os detalhes e as particularidades de cada situa��o. Falamos em aglomera��o, mas como definir isso? Tr�s pessoas j� formam uma aglomera��o? Ou dez?

Diante de todas as dificuldades, eu acho que precisamos continuar a dizer que as m�scaras s�o necess�rias em qualquer circunst�ncia. Precisamos tomar muito cuidado com lugares fechados, como cinemas e teatros. � necess�rio pensar na taxa de ocupa��o e na circula��o do ar nesses ambientes.
E no campo de futebol, pode haver aglomera��o? N�o pode. Mas e se todo mundo estiver vacinado? Talvez.
N�s estamos nesse momento de tens�o. Eu acho que podemos pensar em flexibiliza��es, mas precisamos deixar claro que, se piorar, vamos fechar tudo de novo. Nossa prioridade � ter um sistema de sa�de com capacidade de atender os casos que surgirem. Foi isso que fizemos na primeira onda e acabou sendo um fracasso na segunda.
BBC News Brasil - Para a maioria da popula��o mundial, a atual pandemia � in�dita em escala e impacto. Mas como sairemos dela? Como acaba uma pandemia? E o senhor j� v� perspectivas de isso acontecer em algum momento?
Vecina Neto - A gente pensava que a pandemia acabava quando n�o tiv�ssemos mais pessoas suscet�veis. Mas n�s aprendemos que, com a Covid-19, isso nunca vai acontecer, j� que as pessoas podem se reinfectar pelas novas variantes.
Se o coronav�rus que saiu de Wuhan, na China, fosse o mesmo hoje em dia, com certeza poder�amos pensar em imunidade de rebanho assim que acabassem as pessoas suscet�veis. Mas da� vieram as variantes Alfa, Beta, Gama e Delta e acabaram com isso.
Bom, se n�o ser� pela imunidade de rebanho, � dif�cil pensar que a pandemia acabar� pela vacina��o. As vacinas n�o s�o 100% eficazes e eventualmente o v�rus poder� driblar as doses dispon�veis hoje.
Me parece, ent�o, que essa pandemia n�o vai acabar. Ela ser� substitu�da por uma doen�a que vai conviver conosco a partir de um ou dois anos, ou quando tivermos toda a popula��o vacinada, inclusive jovens e crian�as, com a garantia de uma prote��o contra os casos mais graves e as mortes.
Isso significa que a Covid-19 se tornar� uma doen�a end�mica e continuar� conosco. E talvez precisaremos de novas campanhas de vacina��o no futuro para manter a letalidade dessa doen�a bem baixa.
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