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Estado de Minas PLANO DE... SA�DE?

Fraude em mortes por covid e pacientes como cobaias? O que se sabe de acusa��es contra Prevent Senior

Alvo de den�ncias, empresa diz que o dossi� apresentado � CPI � fruto de dados roubados e manipulados.


23/09/2021 05:59 - atualizado 23/09/2021 08:55


Diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista, rebate na CPI acusações de fraude e uso de cobaias humanas
Diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista, rebate na CPI acusa��es de fraude e uso de cobaias humanas (foto: Edilson Rodrigues/Ag�ncia Senado)

J� em seus instantes finais, a Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Covid abriu um novo flanco de investiga��o sobre poss�veis crimes cometidos no enfrentamento da pandemia de coronav�rus.

O �ltimo esc�ndalo envolve a empresa de planos de sa�de Prevent Senior, alvo de den�ncias em um dossi� elaborado de forma an�nima por m�dicos e ex-m�dicos da empresa.

Segundo o portal G1, que primeiro teve acesso a essa documenta��o sigilosa, o dossi� acusa a Prevent Senior de ter submetido pacientes a tratamentos experimentais contra covid-19 sem o consentimento deles. Al�m disso, diz que a empresa teria fraudado os  resultados de um estudo sobre uso da hidroxicloroquina  no tratamento da doen�a, ao omitir mortes de pacientes ao longo desse experimento.

O dossi� diz ainda que esse estudo — que foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro para exaltar o uso da hidroxicloroquina — seria fruto de um acordo entre a Prevent Senior e o governo federal, embora detalhes do que seria esse acordo n�o tenham sido revelados at� o momento.

Procurada pela BBC News Brasil, a Secretaria de Comunica��o da Presid�ncia da Rep�blica n�o se manifestou at� o fechamento desta reportagem.

Em depoimento � CPI da Covid na quarta-feira (22/09), o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista, negou as acusa��es e disse que o dossi� apresentado � comiss�o � fruto de dados roubados e manipulados. A empresa pede que a Procuradoria-Geral da Rep�blica investigue o caso.

Entenda melhor a seguir as acusa��es contra a Prevent Senior, quais crimes e infra��es �ticas podem ter sido cometido, segundo investiga��o, e a defesa da empresa.

Acusa��o de fraude em estudo por oculta��o de mortes

Em abril de 2020, in�cio da pandemia de covid-19, Bolsonaro usou suas redes sociais para exaltar o que seriam excelentes resultados obtidos pela Prevent Senior no tratamento da covid-19 usando a hidroxicloroquina — medicamento sem efic�cia comprovada contra a doen�a.

O presidente compartilhou o que seriam resultados de um "levantamento cl�nico" indicando redu��o do n�mero de �bitos devido ao uso da subst�ncia.

Dia ruim p quem torce pelo v�rus. Parab�ns � @preventsenior .Isto � uma pesquisa s�ria, feita com CI�NCIA e n�o com politicagem.

A esquerda far� de tudo para derrubar esta pesquisa, a exemplo do que se viu com a pseudo pesquisa feita em Manaus: https://t.co/vynRw1EGTD pic.twitter.com/6kATgJlltj

— Eduardo Bolsonaro%uD83C%uDDE7%uD83C%uDDF7 (@BolsonaroSP) April 19, 2020

Segundo os dados divulgados por Bolsonaro, de 636 pacientes com covid-19 atendidos na Prevent Senior, 412 usaram a hidroxicloroquina e outros 224 n�o receberam o medicamento. No grupo medicado, anunciou Bolsonaro, apenas oito teriam evolu�do para uma interna��o e nenhuma morte havia sido registrada. J� no grupo que n�o recebeu hidroxicloroquina, 12 teriam sido hospitalizados e cinco teriam morrido.

A postagem do presidente foi compartilhada por seus filhos e aliados, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). "Dia ruim p quem torce pelo v�rus. Parab�ns � @preventsenior .Isto � uma pesquisa s�ria, feita com CI�NCIA e n�o com politicagem", postou na ocasi�o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), usando o Twitter.

O dossi� apresentado � CPI, no entanto, diz que esses  dados teriam sido fraudados . Uma planilha inclu�da nesse material obtida pelo portal G1 lista, segundo a reportagem, nove pessoas que morreram dentro desse experimento, das quais seis estariam no grupo que tomou hidroxicloroquina e duas estariam no grupo que n�o tomou. Sobre o nono paciente n�o h� informa��o se recebeu ou n�o a subst�ncia.

Em resposta �s acusa��es, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista, disse que m�dicos que se desligaram da empresa no ano passado teriam roubado prontu�rios de pacientes e adulterado dados para montar o dossi� entregue � comiss�o.

Segundo ele, sete mortes citadas na planilha n�o foram inclu�das nos resultados porque ocorreram depois do intervalo analisado no estudo (26 de mar�o a 4 de abril de 2020).


Integrantes da CPI da Covid investigam ligações entre suspeitas de fraudes em mortes por covid e gabinete paralelo do governo Bolsonaro
Integrantes da CPI da Covid investigam liga��es entre suspeitas de fraudes em mortes por covid e gabinete paralelo do governo Bolsonaro (foto: Edilson Rodrigues/Ag�ncia Senado)

"Eles invadiram o sistema, acessaram a planilha e, mesmo n�o tendo mais responsabilidade sobre esse processo, adulteraram a planilha e encaminharam a planilha para a advogada", disse, em refer�ncia � advogada Bruna Morato, que representa o grupo de m�dicos an�nimos autores das den�ncias.

Para al�m das acusa��es de fraude, o m�dico e advogado Daniel Dourado, do Centro de Pesquisa em Direito Sanit�rio da Universidade de S�o Paulo (USP), diz que o pr�prio estudo jamais poderia ter sido feito porque a Prevent Senior n�o obteve autoriza��o da Comiss�o Nacional de �tica do Conselho Nacional de Sa�de (Conep) para realizar esse procedimento.

O Conep fixa regras r�gidas para a realiza��o de testes com subst�ncias experimentais, entre elas a necessidade de que os riscos envolvidos sejam muito bem esclarecidos aos pacientes, que devem dar seu consentimento "livre e esclarecido" para o uso da subst�ncia testada.

"As acusa��es contra a Prevent Senior s�o grav�ssimas e v�rias ainda precisam ser provadas. Mas o que eles fizeram do ponto de vista da pesquisa cl�nica, sem autoriza��o do Conep, em si j� � muito grave", critica Dourado.

Questionada pela BBC News sobre a falta de autoriza��o para realizar a pesquisa, a assessoria da Prevent Senior disse que n�o se tratava de um estudo, mas de uma "an�lise de dados" a partir de pacientes que estavam usando as subst�ncias, ressaltando que havia amplo uso da hidroxicloroquina para tratamento da covid-19 no in�cio da pandemia.

Ainda segundo a empresa, por n�o ser um estudo cient�fico, n�o haveria necessidade de aprova��o da Conep.

Mortes teriam sido ocultadas tamb�m em 2021, segundo dossi�

Al�m desses nove casos relacionados ao estudo da hidroxicloroquina realizado em 2020, o dossi� traz, segundo reportagens, outras mortes por covid-19 ocorridas no in�cio deste ano que teriam sido ocultadas, como o falecimento do pediatra Anthony Wong, de 73 anos, e de  Regina Hang, de 82 anos, m�e do empres�rio Luciano Hang , dono da Havan.


Diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista, negou as acusações e disse que o dossiê apresentado à comissão é fruto de dados roubados e manipulados
Diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista, negou as acusa��es e disse que o dossi� apresentado � comiss�o � fruto de dados roubados e manipulados (foto: Edilson Rodrigues/Ag�ncia Senado)

Segundo os prontu�rios desses pacientes encaminhados � CPI, ambos foram diagnosticados com covid-19, receberam tratamentos sem comprova��o cient�fica e seus atestados de �bito n�o mencionam a infec��o pelo coronav�rus como causa do falecimento.

Em nota enviada � revista Piau�, primeiro ve�culo a revelar as acusa��es de fraude no caso de Wong, a fam�lia do pediatra disse "que n�o tem poder para alterar nenhuma informa��o no atestado de �bito e v� com incredulidade a invas�o do prontu�rio".

Procurado pela BBC News Brasil, Luciano Hang enviou uma nota em que atribui a morte de sua m�e �s comorbidades que tinha, como diabetes, insufici�ncia renal, sobrepeso e ser card�aca. "Quando os sintomas apareceram levamos para S�o Paulo e a doen�a evoluiu r�pido. Lutamos com ela por mais de um m�s, nesse tempo o Covid passou, mas ficaram as complica��es por conta das comorbidades e, por isso, infelizmente ela se foi", diz o comunicado.

"Tenho total confian�a nos procedimentos adotados pelo Prevent Senior e que tudo que era poss�vel foi feito. Deixei claro a causa do falecimento de minha m�e em v�rias manifesta��es p�blicas e nas redes sociais, nunca foi segredo", disse ainda.

Al�m disso, ele criticou a CPI, ap�s ser chamado de "desalmado" pelos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM), respectivamente relator e presidente da comiss�o.

"Lamento que um assunto t�o delicado seja usado como artif�cio pol�tico para me atingir, pelo simples fato de eu n�o concordar com as ideias de alguns membros que fazem parte dessa CPI. Medem os outros pela pr�pria r�gua. S� quem perde uma m�e sabe a dor que �", afirma a nota de Hang.

Questionado na CPI, Pedro Batista disse que n�o estava autorizado pelas fam�lias a comentar os casos.

Ele reconheceu que a Prevent Senior tem como procedimento mudar o c�digo de diagn�stico (CID) dos pacientes com covid-19 ap�s duas ou tr�s semanas de interna��o.

"Todos os pacientes com suspeita ou confirmado de covid, na necessidade de isolamento, quando entravam no hospital, recebiam o B34.2, que � o CID de covid. E, ap�s 14 dias, ou 21 dias para quem estava em UTI, se esses pacientes j� tinham passado dessa data, o CID podia ser modificado porque n�o representavam mais risco para a popula��o do hospital", disse.

Caso fique comprovado que houve a adultera��o de documentos como prontu�rios m�dicos e atestados de �bitos para ocultar o real diagn�stico e causa da morte dos pacientes, eventuais envolvidos nessa pr�tica poder�o responder pelo crime de falsidade ideol�gica, explicou � reportagem a professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie Fl�via Cambraia, especialista em direito penal m�dico.

Acusa��o de uso de tratamentos sem consentimento

Outra acusa��o trazida pelo dossi� � que pacientes com suspeita ou diagnosticados com covid-19 teriam sido usados como "cobaias humanas" em experimentos, ao receberem tratamentos sem efic�cia comprovada contra a doen�a, mesmo sem terem consentido com essa pr�tica.

Segundo a den�ncia, esses tratamentos n�o-convencionais inclu�am ozonioterapia, flutamida, heparina inalat�ria, al�m do chamado kit covid, que inclui subst�ncias como hidroxicloroquina e azitromicina.

O dossi� diz ainda que a prescri��o do kit covid era imposta aos m�dicos, em vez de ser uma decis�o pautada na autonomia de cada profissional, como a Prevent Senior alega ser a orienta��o interna.


Dossiê aponta que certidão de óbito da mãe do dono da Havan, Luciano Hang, foi fraudada para ocultar informações sobre covid; ele nega a acusação
Dossi� aponta que certid�o de �bito da m�e do dono da Havan, Luciano Hang, foi fraudada para ocultar informa��es sobre covid; ele nega a acusa��o (foto: BBC/Felix Lima)

O portal G1 localizou um desses casos em que o paciente teria sido tratado sem consentimento pr�vio. Segundo a reportagem, Rog�rio Antonio Ventura, de 83 anos, faleceu em 25 de abril do ano passado ap�s ser inclu�do no estudo passado sobre hidroxicloroquina e ter recebido a subst�ncia sem consentimento da fam�lia, mesmo sendo card�aco, condi��o que � contraindicada para uso da subst�ncia, j� que ela tem como poss�vel efeito colateral afetar o funcionamento do cora��o.

Em nota ao portal G1, a Prevent Senior disse que "o paciente citado deu anu�ncia ao atendimento m�dico prestado como todos as demais pessoas acolhidas" e que "os m�dicos da empresa sempre tiveram total autonomia para prescrever os tratamentos que julguem mais eficazes".

� CPI, Batista disse que os 3 mil m�dicos do plano de sa�de tinham autonomia e decidiam com os pacientes sobre o uso de medicamentos.

Segundo a especialista em direito penal m�dico Fl�via Cambraia, a aplica��o de tratamentos sem consentimento de pacientes pode ser enquadrada no crime de les�o corporal. E, se esse paciente vir a �bito, os respons�veis podem responder pelos crimes de les�o corporal seguida de morte ou homic�dio doloso.

Esses crimes podem ocorrer mesmo se tiver sido assinado algum tipo de consentimento, caso esse aval tenha sido dado sem que o paciente estivesse suficientemente informado sobre os riscos ou caso ele tenha sofrido alguma press�o indevida. "O consentimento, para produzir efeitos (legais), tem que ser um consentimento livre e esclarecido. Ent�o, o m�dico tem que deixar claro os riscos envolvidos, ainda mais no caso de um tratamento experimental", diz a professora.

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