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Estado de Minas CHINA

A vida em Xangai em lockdown contra a covid: 'Paguei quase R$ 300 por carne podre'

Alimentos estragados e falta de rem�dios para o tratamento do c�ncer est�o entre as queixas que os moradores de Xangai compartilharam com a BBC desde que a cidade chinesa entrou em lockdown para conter um surto de coronav�rus seguindo a pol�tica "covid zero".


25/04/2022 20:20 - atualizado 26/04/2022 09:31


Duas costeletas de porco podres
Duas costeletas de porco que Will Liu diz que estavam podres depois que ele pagou o equivalente a R$ 300 por elas (foto: Will Liu)

"Paguei 400 yuans (cerca de R$ 300) por duas costeletas de porco podres", diz Will Liu, morador de Xangai, em tom exasperado.

Ele conta que comprou o produto pela internet quando estava com fome durante a segunda semana de lockdown na cidade por causa da pandemia de covid-19.

� medida que a China adere � sua estrat�gia de "covid zero", Xangai entrou em sua quinta semana de confinamento na tentativa de erradicar a doen�a em todo seu territ�rio, um centro financeiro e de neg�cios que abriga 25 milh�es de pessoas.


Uma mulher caminha com um punhado de verduras em uma área residencial em 22 de abril de 2022 em Xanga
Os servi�os de entrega de alimentos est�o sob press�o devido � extens�o do lockdown (foto: Getty Images)

Seguindo as diretrizes do governo, as pessoas t�m que pedir comida e �gua e esperar pela entrega de vegetais, carne e ovos pelo governo. Mas a extens�o do lockdown sobrecarregou os servi�os de entrega, sites de mercearias e at� a distribui��o de suprimentos do governo.

A BBC recebeu in�meras mensagens p�blicas e privadas de Xangai sobre dificuldades para obter alimentos e suprimentos m�dicos desde o in�cio do confinamento.

Servi�os de entrega de alimentos sobrecarregados

Will Liu, de 28 anos, � de Taiwan e mora em Xangai h� quase sete.

Ele disse ao servi�o chin�s da BBC que a pandemia n�o havia feito uma grande diferen�a em sua vida at� o fim de mar�o deste ano.

"As autoridades, ent�o, passaram a estender os cinco dias originais de lockdown para torn�-lo cada vez mais longo. A vida de todos virou de cabe�a para baixo."

Will armazenou comida suficiente para cinco dias - a dura��o do lockdown original que havia sido anunciado. Ele s� tem um micro-ondas para cozinhar em casa e, quando o confinamento foi estendido, acabou ficando sem comida.

"Na segunda semana de lockdown, encontrei este site de entrega de comida anunciando 'Costeletas de porco por 400 yuans (R$ 300)'. Estava morrendo de fome, ent�o fiz uma compra por impulso. Mas tudo o que consegui foram dois peda�os de carne podre. Consegui recuperar meu dinheiro, mas fiquei muito desapontado."

O Weibo e outras plataformas sociais viram um aumento nas postagens sobre problemas de acesso a alimentos em Xangai desde que o lockdown come�ou - a princ�pio parcialmente - em 5 de abril.


Trabalhadores usando equipamentos de proteção separam sacos de legumes e mantimentos dentro de um caminhão para distribuí-los aos moradores durante o bloqueio em Xangai em 5 de abril
As 25 milh�es de pessoas de Xangai dependem de entregas de legumes e verduras e outros produtos durante o lockdown (foto: Reuters)

"Nossa casa tem pilhas de legumes e nossa geladeira n�o est� funcionando direito, ent�o nossa �nica op��o � colocar esses legumes do lado de fora. Eles est�o prestes a apodrecer. Mas temos que fazer isso. Se voc� n�o fizer isso, vai morrer de fome", diz um dos posts.

"Hoje � o 12º dia de confinamento de Puxi [distrito]. Durante esses 12 dias, eu s� [consegui] pegar um saco de 10 kg de arroz no Dingdong [servi�o de entrega online]. Os moradores ficam muito ansiosos quando n�o conseguem comida", diz outro.

Grupos de alimentos da comunidade

"Com quatro ou cinco dias de confinamento, os moradores de cada comunidade come�aram a comprar alimentos em grupos e distribuir dentro da comunidade. Todos est�o ajudando uns aos outros."

Em mensagens enviadas privadamente ao servi�o chin�s da BBC, os moradores criticaram a resposta do governo � dissemina��o da variante �micron na regi�o. Alguns tamb�m expressaram sua desaprova��o da cobertura da imprensa ocidental.

Will aprendeu alguns truques que, segundo ele, aumentaram sua taxa de sucesso ao pedir comida online.


Will Liu segurando uma pistola de massagem e apontando para ela
Will Liu diz que est� usando um dispositivo de massagem para fazer pedidos rapidamente na tela do telefone (foto: Will Liu)

Dica de compras online

"Uso uma pistola de massagem para tocar a tela do celular. Ela me permite acessar o aplicativo algumas centenas de vezes por minuto, aumentando a possibilidade de o meu pedido de comida ser efetivado".

"Eu e meus amigos recebemos ajuda de amigos fora de Xangai para lidar com a escassez de comida. S� fazemos uma refei��o por dia agora"

Xangai registrou cerca de 400 mil casos de covid-19 durante o novo surto. O n�mero di�rio de mortos no domingo, 24 de abril, foi de 39. Muitos eram idosos e pessoas n�o vacinadas com problemas de sa�de subjacentes.

Algumas pessoas questionaram se as restri��es estritas s�o necess�rias.


Moradores ficam na rua esperando por um teste de ácido nucleico durante o lockdown em Xangai
Longas filas de pessoas esperando por testes de covid se tornaram uma cena comum desde que os testes obrigat�rios foram aplicados em abril (foto: Reuters)

'Os pacientes com c�ncer est�o sofrendo'

Zhang Le (nome alterado para proteger a identidade), professor universit�rio de 50 anos em Xangai, disse � BBC que acha que pacientes com outras necessidades m�dicas foram ignorados e que o governo n�o est� seguindo a ci�ncia.

"Moro a cinco ruas dos meus pais, ambos est�o na casa dos 80 anos. Comprei alguns alimentos congelados no in�cio [do confinamento]. Eles t�m uma cuidadora. Em 1º de abril, a cuidadora conseguiu alguns legumes e verduras do mercado".

"Meus pais disseram que receberam quatro entregas de comida at� agora. Meus pais e sua cuidadora n�o est�o passando fome, com certeza."

Tratamento m�dico a longo prazo

Zhong diz que, embora o acesso a alimentos n�o seja um problema, ele est� preocupado com problemas m�dicos de longo prazo.

"Meu pai est� com muita dor porque n�o pode ir ao hospital para obter um analg�sico espec�fico para sua condi��o. Ele tem c�ncer".

"J� minha m�e toma um rem�dio para a hipertens�o. Mas tampouco pode ir ao hospital para buscar a receita. Por isso, teve de reduzir a dose para n�o acabar. (No dia 20 de abril), a subprefeitura lhe entregou a receita m�dica, mas n�o era o mesmo rem�dio".


Funcionários em roupas de proteção brancas atrás de fita na calçada enquanto o tráfego passa por eles
Mais de 10.000 profissionais de sa�de, juntamente com 2.000 m�dicos militares, foram enviados a Xangai para realizar testes em massa e programas de vacina��o (foto: Getty Images)

Preocupa��es com testes obrigat�rios

Zhong diz estar preocupado com o fato de seus pais fazerem fila com outras pessoas para testes obrigat�rios.

"Entre 1º e 21 de abril, fomos testados 15 vezes. Estava muito preocupado que meus pais fossem infectados por esperar em filas longas. V�deos que circulam na internet mostram os funcion�rios fazendo swabs em v�rias pessoas sem trocar ou desinfetar suas luvas. N�o poderia haver contamina��o cruzada das pessoas e dos kits de teste?", pergunta.

"Pedi a meus pais que n�o fossem fazer fila para o teste, mas eles n�o queriam ser presos por isso. Na semana passada, a equipe de testes concordou em fazer visitas domiciliares e eles j� estiveram na casa dos meus pais uma vez."

N�o s�o apenas seus pais que est�o deixando Zhong preocupado.

"Meu primo passou por uma opera��o de c�ncer de f�gado h� quatro meses e descobriu outro tumor. Mas ele n�o est� fazendo nenhuma consulta de acompanhamento porque todos os profissionais m�dicos est�o trabalhando para prevenir as pessoas da infec��o [covid]".

"O acesso a alimentos e a quarentena n�o me preocupam, o que mais temo � que os pacientes n�o consigam tratamento e rem�dios".

Ele diz acreditar que o governo est� arriscando vidas desnecessariamente.

"Acho est�pido que todos os recursos tenham sido usados para conter esse v�rus semelhante ao da gripe. Em outros pa�ses, os governos seguem os cientistas. Neste pa�s, os cientistas seguem o governo. Pessoas com problemas m�dicos reais est�o sofrendo."


Um homem em uma cama de hospital com uma longa fila de pessoas na fila para deixar o hospital
Pessoas que testaram negativo duas vezes fazem fila para deixar um hospital tempor�rio para pessoas positivas para covid em Xangai (foto: EPA)


Um oficial usando uma máscara gesticula para uma mulher de meia-idade enquanto ela entra em um ônibus segurando uma grande sacola plástica com pertences
Will diz que seu maior medo n�o � ser infectado, mas ser enviado para o "hospital improvisado de fang cang" (foto: Getty Images)

Hospitais improvisados de Fang Cang

Todos os moradores locais devem ser testados regularmente seguindo determina��o das autoridades p�blicas.

Se voc� tiver um diagn�stico positivo, ser� enviado para Fang Cang, um hospital improvisado administrado pelo governo, com uma quarentena obrigat�ria de pelo menos duas semanas.

Muitas pessoas usaram as redes sociais para desabafar sua frustra��o e raiva. V�deos que parecem mostrar pessoas cantando por suprimentos de comida ou pedindo rem�dios est�o circulando na internet.

Como muitos coment�rios postados online, Will Liu diz que seu maior medo n�o � ser infectado com covid, mas ser enviado para Fang Cang.


Um post do Weibo em chinês sobre o que aconteceu em Fang Cang - um hospital móvel administrado pelo governo para quarentena de Covid
Um post do Weibo sobre o que aconteceu em Fang Cang - um hospital improvisado administrado pelo governo para quarentena de covid (foto: WeiBo)

'Traga seu pr�prio rem�dio'

No Weibo, plataforma de m�dia social semelhante ao Twitter da China, postagens e fotos sobre Fang Cang em Xangai v�m aumentando desde o in�cio do lockdown.

Um post recente de uma pessoa que alega ser um profissional m�dico atuando em Fang Cang foi bastante cr�tico ao governo.

"As pessoas t�m perguntado que tipo de tratamento Fang Cang est� oferecendo. Eu tamb�m estava curioso no come�o. Quando entrei, n�o me senti mal; n�o senti que precisava de nenhum rem�dio. No dia seguinte, a enfermeira deu a todos uma caixa de [um medicamento tradicional chin�s que se diz ser eficaz na infec��o por covid]. N�o tomei nenhum.'

"No terceiro dia, uma garotinha na minha frente pegou um resfriado durante o banho. Ela estava com febre � noite. Disse a sua m�e que a menina deveria tomar um rem�dio para febre, mas a enfermeira disse que n�o tinha. Gra�as a Deus eu trouxe alguns comigo, dei um pouco para a garotinha".

"No quarto dia, deram-nos dois sacos de medicina tradicional chinesa. Percebi que n�o havia informa��es sobre ingredientes e poss�veis efeitos colaterais. Apenas os deixei de lado...

Ele tem alguns conselhos simples para quem entra em quarentena.

"Sugiro que se voc� tiver algum sintoma quando estiver sendo enviado para Fang Cang , traga seu pr�prio rem�dio para febre, s� por precau��o. N�o devemos confiar em ningu�m, apenas em n�s mesmos."

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