
“Idiotas fazendo lockdown e a china trabalhando a todo vapor. ningu�m desconfia de nada?”, dizem algumas postagens compartilhadas milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3) e no Instagram (1) desde o �ltimo dia 6 de mar�o.
No Twitter (1) h� publica��es ainda mais diretas comparando a atual situa��o vivida no Brasil com a China: “O. Brasil fazendo Lockdown e a China a todo vapor !!! Ninguem acha estranho???”.
Muitos usu�rios repetiram o questionamento e chegaram a dizer, inclusive, que o pa�s teria criado o v�rus em laborat�rio, considerado “extremamente improv�vel” pela pr�pria Organiza��o Mundial da Sa�de.
Neste 30 de mar�o, entretanto, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu uma nova investiga��o sobre a hip�tese de uma fuga do v�rus da covid-19 de um laborat�rio na China e criticou a falta de acesso dos especialistas aos dados.
Notifica��o do coronav�rus na China
A China detectou a exist�ncia de uma pneumonia viral em dezembro de 2019 em Wuhan, e o surto ocorreu poucas semanas antes do Ano Novo Chin�s, uma �poca em que milh�es de chineses costumam se deslocar para se reunir com suas fam�lias.
Em 3 de janeiro de 2020 j� haviam sido registrados 44 casos, incluindo 11 graves.
Uma semana depois, a Comiss�o de Sa�de da cidade de Wuhan anunciou o primeiro �bito provocado “pelo misterioso surto de pneumonia que os especialistas atribuem a um novo v�rus da fam�lia da SARS (S�ndrome Respirat�ria Aguda Grave)”.
A quarentena no pa�s
Em 23 de janeiro de 2020, cerca de 20 milh�es de pessoas foram isoladas no in�cio da proibi��o de sa�da de trens e avi�es da regi�o de Wuhan, onde o uso de m�scara se tornou obrigat�rio, para tentar conter a doen�a que j� havia matado 18 pessoas. Nesta cidade chinesa, os moradores foram recomendados a permanecerem em casa e as autoridades proibiram a circula��o de ve�culos n�o essenciais.
Ap�s o cancelamento das festividades do Ano Novo chin�s, Pequim anunciou o fechamento da Cidade Proibida, na capital, o parque da Disney, em Xangai, tamb�m n�o abriu, assim como �reas da Grande Muralha.
Um dia depois, mais de 40 milh�es de chineses estavam isolados em suas cidades, quando 13 prefeituras adotaram medidas de confinamento.
Uma emissora estatal anunciou em 25 de janeiro de 2020 que ag�ncias de turismo estavam proibidas de vender pacotes tur�sticos a grupos. As f�rias pelo Ano Novo chin�s, que n�o foi comemorado (1, 2) publicamente, foram estendidas.
O coronav�rus, que causou restri��es de tr�fego, paralisou o turismo e diminuiu o consumo, amea�ou a economia chinesa. Naquele momento, a Bolsa de Xangai teve a pior queda em cinco anos, a ponto do governo do pa�s anunciar a inje��o de 175 bilh�es de d�lares para minimizar as consequ�ncias econ�micas.
No fim de janeiro, o secret�rio municipal do Partido Comunista (no poder na China) para Wuhan, Ma Guoqiang, declarou em entrevista � emissora estatal chinesa que medidas de controle mais r�gidas deveriam ter sido adotadas “mais cedo, [pois] o resultado teria sido melhor do que agora”. At� ent�o, haviam sido registrados mais de 210 �bitos e 10 mil casos no pa�s.
Com a situa��o se agravando no pa�s, o porta-voz do Minist�rio chin�s das Rela��es Exteriores foi a p�blico, no in�cio de fevereiro de 2020, pedir com urg�ncia o envio de m�scaras e outros insumos m�dicos, como �culos e trajes de prote��o.
Nos dias subsequentes, mais cidades adotaram o confinamento. Na prov�ncia de Hubei, cuja capital � Wuhan, mais de 56 milh�es de pessoas estavam em quarentena. Na prov�ncia de Zhejiang foi ordenado que apenas uma pessoa por casa poderia sair a cada dois dias para comprar produtos de primeira necessidade.
Apesar das medidas de restri��o, a China viu seu sistema de sa�de em Wuhan ficar saturado, raz�o pela qual centros m�dicos foram constru�dos em alguns dias e edif�cios p�blicos foram transformados em cl�nicas.

Em 10 de fevereiro de 2020, localidades como Pequim e Xangai come�aram a ver um aumento no fluxo de ve�culos, apesar de v�rias lojas permanecerem fechadas. Na prov�ncia de Hubei, foco da doen�a naquele momento, contudo, o confinamento prosseguiu. O pa�s contabilizava mais de 40 mil casos e 900 mortes.
No final de fevereiro de 2020, o pa�s registrou o menor balan�o di�rio em tr�s semanas. No in�cio de mar�o, o diretor-geral da OMS destacou que o n�mero de contamina��es na China foi nove vezes inferior aos registrados no restante do mundo nas 24 horas anteriores.
Em 10 de mar�o de 2020, a prov�ncia de Hubei come�ou a flexibilizar as restri��es a partir da atribui��o de c�digos - verde, amarelo e vermelho - para diminuir os riscos de contamina��o pela covid-19.
Em meados de mar�o, a China anunciou n�o ter registrado casos “dom�sticos” de covid-19, mas notificou sobre 34 infectados procedentes do exterior.
No epicentro do coronav�rus, Wuhan tamb�m n�o detectou novos casos. Assim, em 22 de mar�o, os trabalhadores foram autorizados a voltar ao trabalho progressivamente.
Uma pesquisa publicada na revista Science em maio de 2020 estimou que o fechamento de Wuhan pode ter evitado cerca de 700 mil casos de covid-19. Um dos autores do estudo, Christopher Dye, da Universidade de Oxford, assinalou que “as medidas de controle chinesas parecem ter funcionado ao romper de maneira exitosa a cadeia de transmiss�o”.
Ap�s dois meses de confinamento total na prov�ncia de Hubei, as autoridades permitiram que moradores pudessem voltar a utilizar os transportes em 25 de mar�o, enquanto em Wuhan isso ocorreu apenas em 8 de abril de 2020.
Um dia antes da abertura de Wuhan, a China n�o registrou mortes por covid-19 nas 24 horas anteriores desde que haviam come�ado a publicar estat�sticas sobre o coronav�rus em janeiro.
Mas a China precisou entrar em confinamento em outros momentos ao longo da pandemia. Em 13 de maio de 2020, a cidade de Jilin imp�s a quarentena parcial ap�s o surgimento de novos casos de coronav�rus. Em junho do mesmo ano, 11 bairros de Pequim foram colocados em confinamento de emerg�ncia ap�s moradores testarem positivo para a covid-19.
Em janeiro de 2021, duas cidades da prov�ncia de Hebei foram confinadas, com a suspens�o de transportes e proibi��o de sa�da de milh�es de moradores, pois a prov�ncia registrou 33 novos casos, elevando o total di�rio nacional ao n�vel mais alto desde julho do ano anterior.
No final de janeiro, um bairro de Xangai foi evacuado ap�s a confirma��o de tr�s novos casos de coronav�rus, a fim de evitar que a doen�a se espalhasse em um dos grandes centros do pa�s.
A vacina��o na China
Segundo informa��es da Comiss�o Nacional de Sa�de divulgadas em 29 de mar�o de 2021, mais de 106 milh�es de doses de vacina contra a covid-19 haviam sido administradas em toda a China at� 28 de mar�o.
De acordo com o projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford, duas vacinas est�o sendo aplicadas no pa�s: as da Sinopharm e da Sinovac.
A situa��o no Brasil
As publica��es ganharam viralidade em um momento cr�tico da pandemia no Brasil: at� 29 de mar�o, foram registrados mais de 12,5 milh�es de casos de covid-19 e mais de 313 mil �bitos. A m�dia m�vel de mortes do m�s de mar�o em sete dias chegou a ser o triplo do in�cio de janeiro.
Embora a popula��o brasileira seja seis vezes menor que a chinesa, o Brasil tem um n�mero 67 vezes maior de �bitos em decorr�ncia da covid-19 do que a China: mais de 313 mil no pa�s sul-americano e 4,6 mil no asi�tico.
Devido ao alto n�mero de cont�gios, governadores e prefeitos (1, 2, 3) t�m adotado medidas de restri��o mais severas para conter a propaga��o do v�rus.
Um exemplo de lockdown no pa�s, de fato, foi em Araraquara, em S�o Paulo, onde at� mesmo supermercados foram fechados, e cujos casos de covid-19 diminu�ram em 58%. Ap�s 44 dias, a cidade n�o registrou nenhuma morte pela doen�a.
O presidente Jair Bolsonaro, contudo, segue criticando as medidas de restri��o e distanciamento, e acionou o Supremo Tribunal Federal para impedir o fechamento do com�rcio considerado n�o essencial em alguns estados.