“Den�ncia grave. A Associa��o Brasileira de Infectologia, ABI, a qual tem apenas 4 integrantes e como presidente o pai do Boulos, isso mesmo o pai do Boulos, e bancada pela Pfizer e por meio dessa pseudoassocia��o pro�be que infectologistas possam dar parecer em favor”, diz uma das publica��es compartilhadas no Twitter (1, 2, 3) e no Facebook (1, 2).
“tratamento precoce”, composto por medicamentos sem comprova��o cient�fica, como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina. A den�ncia principal do v�deo, que tem a dura��o de 2 minutos e 17 segundos, � a de que m�dicos teriam assinado um documento de uma suposta Associa��o Brasileira de Infectologistas que os proibiria de prescrever o chamado
“A Associa��o Brasileira de Infectologistas fez com que todos os infectologistas assinassem um documento onde eles ficam proibidos de medicar o tratamento precoce”, diz o homem no v�deo.
No entanto, em uma busca no Google pelo termo “Associa��o Brasileira de Infectologistas” n�o foi encontrado qualquer resultado. A entidade que re�ne os m�dicos da �rea � a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Procurada pela AFP, a SBI negou que tenha formulado um documento que pro�ba qualquer conduta m�dica. “Isso n�o procede e n�o caberia � entidade propor esse tipo de a��o”, esclareceu por e-mail a assessoria de imprensa da SBI.
No site da sociedade tamb�m n�o h� men��es a esse suposto documento.
No �ltimo 24 de janeiro, o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, afirmou em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo que a institui��o n�o mudar� o parecer nº 4/2020, de abril de 2020, sobre a autonomia dos m�dicos brasileiros na prescri��o do tratamento precoce para covid-19.
Ribeiro argumenta que “a ci�ncia ainda n�o concluiu de maneira definitiva se existe algum benef�cio ou n�o com o uso desses f�rmacos” e ressalta que “� decis�o do m�dico assistente realizar o tratamento que julgar adequado, desde que com a concord�ncia do paciente infectado —elucidando que n�o existe benef�cio comprovado no tratamento farmacol�gico dessa doen�a e obtendo o consentimento livre e esclarecido”.
Dias antes, entretanto, a Anvisa j� havia ressaltado a inexist�ncia de tratamento terap�utico espec�fico para a doen�a.
Procurado pela AFP, o Minist�rio da Sa�de garantiu que “os m�dicos t�m autonomia para receitar a medica��o adequada ao quadro de cada paciente, para que o tratamento seja o mais efetivo poss�vel”.
A Anvisa informa que os medicamentos atualmente aprovados s�o os usados para tratar os principais sintomas da doen�a, como antit�rmicos e analg�sicos. Para casos em que h� infec��es associadas, s�o recomendados antibi�ticos.
Orienta��es da SBI sobre o “tratamento precoce”
Apesar de n�o ter proibido o tratamento precoce, a SBI n�o recomenda sua prescri��o para o tratamento de covid-19.
Em 19 de janeiro deste ano, a SBI publicou uma nota com a Associa��o M�dica Brasileira (AMB) na qual menciona a import�ncia das vacinas e alerta que as melhores evid�ncias cient�ficas demonstram que at� o momento nenhuma medica��o tem efic�cia na preven��o ou no “tratamento precoce” para covid-19.
“Pesquisas cl�nicas com medica��es antigas indicadas para outras doen�as e novos medicamentos est�o em curso. Atualmente, as principais sociedades m�dicas e organismos internacionais de sa�de p�blica n�o recomendam o tratamento preventivo ou precoce com medicamentos, incluindo a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa)”, apontam.
Dias antes, em seu perfil no Twitter, a SBI afirmou que n�o recomenda o tratamento precoce com qualquer medicamento porque estudos cl�nicos randomizados com grupo controle existentes at� o momento n�o mostraram benef�cio e por alguns desses medicamentos causarem efeitos colaterais.
“Essa orienta��o da SBI est� alinhada com as recomenda��es das seguintes sociedades m�dicas cient�ficas e outros organismos sanit�rios nacionais e internacionais, como: Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA) e da Europa (ESCMID), Instituto Nacional de Sa�de dos EUA (NIH), Centros Norte-Americanos de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC), Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) e Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia do Minist�rio da Sa�de do Brasil (ANVISA)”, afirmou a sociedade, que anexou na rede social um documento com explica��es mais detalhadas.
A AMB ressaltou em um boletim divulgado em 23 de mar�o que, “infelizmente, medica��es como hidroxicloroquina/cloroquina,ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, n�o possuem efic�cia cient�fica comprovada de benef�cio no tratamento ou preven��o da covid-19, quer seja na preven��o, na fase inicial ou nas fases avan�adas dessa doen�a, sendo que, portanto, a utiliza��o desses f�rmacos deve ser banida”.
Apesar dos alertas sobre os medicamentos sem efic�cia comprovada contra a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro tem insistido nesse tipo de tratamento.
Antial�rgicos e antit�rmicos
Em outro trecho do v�deo, o homem fala que no estado de S�o Paulo os m�dicos “indicam um antit�rmico e um antial�rgico” e relaciona o procedimento ao aumento no n�mero de mortes.
“Isso possivelmente faz com que a pessoa entre em crise e chegue aos hospitais tarde demais. Por isso esses n�meros t�o elevados. E assim como acontece em S�o Paulo, acontece em outros estados, porque os governadores t�m essa atitude genocida com a popula��o. Est�o matando brasileiros”, completa.
O governo de S�o Paulo afirmou � AFP por e-mail que “todos os medicamentos prescritos por servi�os estaduais de sa�de est�o baseados nos protocolos vigentes no SUS e s�o indicados ap�s an�lise m�dica individualizada, de acordo com o quadro cl�nico do paciente”.
Ressaltou tamb�m que “� responsabilidade do m�dico prescrever rem�dios adequados para sinais e sintomas e, neste sentido, � perfeitamente cab�vel que antit�rmicos sejam indicados para um paciente que apresenta febre, por exemplo”.
Para o infectologista Evaldo Stanislau Ara�jo, do Hospital das Cl�nicas, em S�o Paulo, essa alega��o de que o tratamento com esses dois tipos de medicamento agrava o quadro dos pacientes, fazendo com que cheguem tarde demais aos hospitais, n�o procede.
“N�o existe nada disso. Antit�rmico e antial�rgico n�o modificam em nada o desfecho (do caso)”, disse o m�dico em entrevista por telefone � AFP.
Ara�jo explicou que os antit�rmicos s�o “absolutamente necess�rios” para os pacientes sintom�ticos e que os antial�rgicos anti-histam�nicos podem ser indicados como um antigripal. H�, ainda, os antial�rgicos com corticoides, que, segundo o infectologista, s� podem ser usados para pacientes com algum grau de insufici�ncia respirat�ria.
Essa medica��o, portanto, n�o piora a doen�a. “O que agrava a doen�a � n�o ter um monitoramento m�dico adequado”, com a medi��o de temperatura e da satura��o de oxig�nio no sangue, garantiu.
“O pai de Boulos”
Outra afirma��o, que n�o aparece no v�deo, mas no texto das publica��es viralizadas, � a de que “o pai de Boulos” seria o presidente dessa associa��o de infectologistas.
Marcos Boulos, pai do pol�tico Guilherme Boulos, do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), � infectologista e professor titular do Departamento de Mol�stias Infecciosas e Parasit�rias da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo.
Ele n�o � presidente de nenhuma associa��o, mas integra o Centro de Conting�ncia contra Covid-19, criado pelo governo do estado de S�o Paulo em fevereiro de 2020, e que, de acordo com a assessoria de imprensa do governo, continua atuante.
Esse conte�do tamb�m foi checado pelo Fato ou Fake e pelo Estad�o Verifica.
Em resumo, n�o � verdade que m�dicos tenham sido proibidos de prescrever o chamado “tratamento precoce” contra a covid-19. Apesar de alertar para a falta de evid�ncia cient�fica desse tipo de medica��o, o Minist�rio da Sa�de e a Sociedade Brasileira de Infectologia negaram a exist�ncia da proibi��o.