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Estado de Minas CHECAMOS

Atleta transg�nero na Olimp�ada de T�quio: o que se sabe sobre vantagem competitiva

Os principais questionamentos se concentram na compreens�o de que mulheres transg�nero manteriam a carga hormonal masculina


19/07/2021 20:05 - atualizado 19/07/2021 20:05


 

Pessoas passam pelos anéis olímpicos em Tóquio, em 7 de julho de 2021 ( AFP / Kazuhiro Nogi)
Pessoas passam pelos an�is ol�mpicos em T�quio, em 7 de julho de 2021 ( AFP / Kazuhiro Nogi)
Os Jogos Ol�mpicos de T�quio, que come�am em 23 de julho, ter�o pela primeira vez uma competidora transg�nero. A neozelandesa Laurel Hubbard, que fez a transi��o do g�nero masculino para o feminino, disputar� na categoria de mais de 87 kg no levantamento de peso. Nas redes, usu�rios questionam a participa��o da halterofilista mencionando uma suposta vantagem competitiva em rela��o a mulheres cisg�nero - que se identificam com o sexo biol�gico. Checamos o que o Comit� Ol�mpico Internacional (COI) e especialistas dizem sobre o tema.


“O halterofilista Laurel Hubbard deve se tornar o primeiro atleta transg�nero a competir nos Jogos Ol�mpicos. Ele vai competir na categoria FEMININA de 87 quilos, de acordo com o Comit� Ol�mpico da Nova Zel�ndia. J� SABEMOS QUEM SER� O PR�XIMO ‘CAMPE�O FEMININO!’”, escreveu o deputado estadual Bruno Engler (PRTB) no Twitter.

“Quando o absurdo atinge o patamar da mais absoluta insanidade. O pren�ncio do fim do desporto feminino”, opinou outro usu�rio, ao compartilhar uma reportagem sobre a qualifica��o de Hubbard.

Os principais questionamentos se concentram na compreens�o de que mulheres transg�nero manteriam a carga hormonal masculina, o que supostamente poderia levar ao desenvolvimento de caracter�sticas ben�ficas � performance esportiva, como melhor capacidade cardiorrespirat�ria e maior massa �ssea e muscular.

O que diz o Comit� Ol�mpico Internacional?

Em 2004, o Comit� Ol�mpico Internacional (COI) aprovou um primeiro consenso sobre a participa��o de atletas transg�nero nos Jogos Ol�mpicos. A organiza��o determinou que quem fez a transi��o do sexo masculino para o feminino, e vice-versa, antes da puberdade, poderia competir na categoria desejada, sem restri��es.

J� quem passou pela transi��o ap�s a puberdade precisaria cumprir algumas condi��es. Entre elas, passar pela cirurgia de redesigna��o sexual, ter o g�nero reconhecido legalmente pela autoridade apropriada e se submeter a uma terapia hormonal por “tempo suficiente” para minimizar as “vantagens relacionadas ao g�nero”, como expressa o documento.

Para chegar a esses termos, m�dicos de diferentes especialidades se reuniram em Estocolmo, onde discutiram por quanto tempo seria relevante a influ�ncia hormonal da puberdade, se a influ�ncia da testosterona na for�a muscular desapareceria ap�s a transi��o e por quanto tempo deveria durar do tratamento com horm�nios femininos.

Em 2015, o COI atualizou essas diretrizes, deixando de exigir o reconhecimento legal do g�nero e a cirurgia de redesigna��o sexual. Tamb�m foi determinado que atletas que fizeram a transi��o do g�nero feminino para o masculino poderiam competir na categoria desejada sem nenhuma restri��o.

J� para mulheres transg�nero, como � o caso de Laurel Hubbard, foi detalhado o tratamento hormonal necess�rio: essas atletas devem mostrar que o n�vel de testosterona em seu sangue permaneceu inferior a 10 nanomol/litro por ao menos 12 meses antes de sua primeira competi��o e durante todo o per�odo em que est�o competindo.

O que dizem especialistas?


Apesar de o consenso inicial do COI existir h� 17 anos, especialistas destacam que ainda n�o h� estudos suficientes para determinar se h�, ou n�o, vantagem competitiva de mulheres transg�nero em rela��o a mulheres cisg�nero.

“� poss�vel, sim, que uma mulher trans tenha vantagens em rela��o a mulheres cis no desempenho de atividades atl�ticas. Mas, para que se tenha uma avalia��o mais fiel, h� necessidade de estudos que comparem atletas trans com atletas cisg�nero, e esses estudos a gente ainda n�o tem”, afirmou ao Checamos a endocrinologista Elaine Frade Costa.

Roberto Nahon, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exerc�cio e do Esporte e ex-coordenador de A��es M�dicas do Comit� Ol�mpico do Brasil (COB), explicou o porqu� � AFP.

Uma das maneiras de fazer um estudo desse tipo “� pegar uma popula��o, submeter ao tratamento. Pegar uma mesma popula��o, n�o submeter ao tratamento e fazer um placebo. Isso no papel � muito bonito, mas na pr�tica � dif�cil, visto a quantidade de atletas que a gente tem na popula��o geral”, afirmou Nahon.

“Temos menos de 0,1% de atletas das modalidades ol�mpicas. Destes, nem 0,1% s�o atletas de n�vel para disputar medalhas em n�vel internacional. Considerando a quantidade de indiv�duos trans, o N para esse tipo de estudo seria muito baixo”, acrescentou.

O que j� se sabe, pontuou Nahon, � que “um indiv�duo transg�nero feminino tem menos for�a do que a popula��o masculina”.

De fato, uma metan�lise publicada em mar�o de 2021 no British Journal of Sports Medicine indicou que mulheres transg�nero apresentaram uma redu��o consider�vel nos n�veis de massa corporal magra, �rea muscular, for�a muscular e de hemoglobina ap�s se submeterem ao tratamento hormonal recomendado pelo COI.

Ap�s quatro meses de hormonoterapia, as mulheres transg�nero apresentaram n�veis de hemoglobina equivalentes ao de mulheres cis. Esse par�metro � importante principalmente em esportes de resist�ncia, j� que determina o fornecimento de oxig�nio aos tecidos do corpo.

Nos outros crit�rios, a metan�lise indica que a terapia fez com que os n�veis das mulheres transg�nero ficassem inferiores aos de homens cis, mas ainda superiores aos de mulheres cis.

“Ent�o estamos em um per�odo em que com certeza tem muita coisa a se entender para se achar um meio do caminho, onde n�o seja injusto nem para um lado, nem para o outro”, afirmou o ex-coordenador de A��es M�dicas do COB.

Por outro lado, estudos indicam que fatores psicol�gicos e sociais podem influenciar negativamente atletas transg�nero no esporte, considerando a percep��o de discrimina��o e de menos apoio da sociedade.

“Realmente, se houver essa discrimina��o”, comentou a endrocrinologista Elaine Frade Costa, “h� um efeito psicol�gico que certamente vai influenciar o desempenho dessas pessoas no esporte”.

Ap�s a classifica��o de Laurel Hubbard, a chefe do Comit� Ol�mpico da Nova Zel�ndia, Kereyn Smith, informou que a halterofilista atendeu todos os crit�rios do COI, e destacou: “Reconhecemos que a identidade de g�nero no esporte � uma quest�o altamente sens�vel e complexa que requer um equil�brio entre direitos humanos e justi�a”.

A equipe de checagem da AFP j� verificou, em ingl�s, uma alega��o falsa envolvendo Hubbard.


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