O presidente Jair Bolsonaro fez o discurso de abertura da 76ª Assembleia Geral da Organiza��o das Na��es Unidas, em Nova York, em 21 de setembro de 2021. Entre os temas abordados, comemorou uma suposta redu��o no desmatamento da floresta amaz�nica, enalteceu a porcentagem do territ�rio brasileiro destinada a terras ind�genas e defendeu as a��es tomadas por seu governo para combater a pandemia de covid-19. Abaixo, o AFP Checamos analisou algumas de suas principais declara��es.
“Na Amaz�nia, tivemos uma redu��o de 32% do desmatamento no m�s de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior”: Verdadeiro, mas...
O sistema Deter (Detec��o do Desmatamento em Tempo Real) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou em agosto de 2021 918 km² de �rea desmatada, o que representa uma queda de 32,45% com rela��o ao mesmo per�odo de 2020, quando a cifra foi de 1.359 km².
No entanto, os n�meros de desmatamento registrados em agosto de 2021 no sistema Deter seguem maiores do que em agosto de 2018, antes do in�cio do governo do presidente Bolsonaro, quando foram computados 525,9 km² de �rea desmatada. Nesse sentido, o n�mero registrado em agosto de 2021 � 74,5% maior do que o do mesmo m�s em 2018.
J� um outro sistema de monitoramento via sat�lite da regi�o, o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaz�nia (Imazon), aponta um cen�rio contr�rio para agosto de 2021.
De acordo com o SAD, que usa uma metodologia diferente do Deter. foi registrada uma �rea desmatada 7% superior � de 2020 em compara��o com agosto de 2021. Ainda segundo o Imazon, o desmatamento acumulado de janeiro a agosto de 2021 � o pior em dez anos para a Amaz�nia.
O instituto destaca tamb�m que, somente em agosto de 2021, foi desmatada uma �rea equivalente a cinco vezes o tamanho de Belo Horizonte.
“14% do territ�rio nacional, ou seja, mais de 110 milh�es de hectares, uma �rea equivalente a Alemanha e Fran�a juntas, � destinada �s reservas ind�genas”: Impreciso
De acordo com a Funda��o Nacional do �ndio (Funai), “atualmente existem 488 terras ind�genas regularizadas que representam cerca de 12,2% do territ�rio nacional, localizadas em todos os biomas, com concentra��o na Amaz�nia Legal”. A porcentagem � ligeiramente inferior � citada por Bolsonaro.
Apesar de ter ressaltado as demarca��es de terras ind�genas em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente classificou esse mesmo percentual como “abusivo”, em uma cerim�nia no Pal�cio do Planalto em 11 de fevereiro de 2020.
“Deixo bem claro que ningu�m � contra dar devida prote��o e terra aos nossos irm�os �ndios, mas da forma como foi feita, e hoje em dia reflete quatorze por cento do Territ�rio Nacional demarcado por terra ind�gena, � um tanto quanto abusivo”, afirmou o mandat�rio.

“Sempre defendi combater o v�rus e o desemprego de forma simult�nea e com a mesma responsabilidade”: Enganoso
N�o foi a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro fez essa declara��o. Em um pronunciamento que foi ao ar em 23 de mar�o de 2021 ele j� tinha afirmado: “Em nenhum momento o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronav�rus, como para combater o caos na economia”.
No entanto, seu hist�rico de declara��es sobre a pandemia de covid-19 contraria essas afirma��es.
No in�cio da emerg�ncia sanit�ria no Brasil, quando o pa�s registrou a primeira morte por covid-19, em 17 de mar�o de 2020, Bolsonaro afirmou ver “alguma histeria” em medidas implementadas pelos estados (1, 2) para reduzir a circula��o do SARS-CoV-2, como o fechamento de estabelecimentos comerciais.
Em um pronunciamento � popula��o dias depois, em 24 de mar�o de 2020, quando o Brasil registrava 46 �bitos e mais de 2.200 casos confirmados, o presidente se referiu � doen�a como uma “gripezinha”. No mesmo m�s, provocou pequenas aglomera��es %u23BC j� desencorajadas , inclusive pelo ent�o ministro da Sa�de Henrique Mandetta %u23BC ao realizar passeios em Bras�lia (1, 2). Na mesma �poca, o presidente disse que o v�rus precisaria ser enfrentado, mas“n�o como um moleque”.
Em 30 de mar�o de 2020, Bolsonaro demonstrou preocupa��o com as consequ�ncias econ�micas da pandemia, como os poss�veis empregos que seriam perdidos com as medidas de isolamento impostas em diversos estados. “Tem vacina? N�o. Tem rem�dio? Comprovadamente ainda n�o. Mas temos um outro problema: o desemprego. E tem que ser tratado com igual responsabilidade. O v�rus e a quest�o do desemprego”, disse ele.
No entanto, logo depois, em 12 de abril, o mandat�rio minimizou novamente a pandemia, assinalando que o v�rus parecia estar “come�ando a ir embora”, sem citar qualquer dado. Naquele momento, o Brasil registrava 22 mil casos e mais de 1.200 mortes. Hoje, s�o mais de 21 milh�es de casos e de 590 mil �bitos.
“No �ltimo 7 de setembro, data de nossa Independ�ncia, milh�es de brasileiros, de forma pac�fica e patri�tica, foram �s ruas, na maior manifesta��o de nossa hist�ria, mostrar que n�o abrem m�o da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo”: Sem provas
N�o foi feita uma estimativa nacional do n�mero de participantes das manifesta��es a favor do governo no �ltimo 7 de setembro. No entanto, a estimativa oficial do p�blico que participou do ato em S�o Paulo, maior cidade do pa�s, vai de encontro a essa alega��o.
Segundo informado pela Secretaria de Seguran�a P�blica (SSP), cerca de 125 mil pessoas se reuniram na Avenida Paulista na manifesta��o a favor do governo Bolsonaro em 7 de setembro de 2021.
Mas em 13 de mar�o de 2016, por exemplo, o mesmo �rg�o calculou que cerca de 1,4 milh�o de pessoas sa�ram �s ruas para protestar pelo impeachment da ent�o presidente Dilma Rousseff.
“Desde o in�cio da pandemia, apoiamos a autonomia do m�dico na busca do tratamento precoce, seguindo recomenda��o do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. (...) N�o entendemos por que muitos pa�ses, juntamente com grande parte da m�dia, se colocaram contra o tratamento inicial”: Checamos
O presidente Bolsonaro (1, 2, 3) tem se pronunciado frequentemente a favor do chamado tratamento precoce, que inclui medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina e ivermectina.
Procurado pela AFP em 21 de setembro de 2021, o Conselho Federal de Medicina informou que entende que o m�dico e o paciente, mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, t�m autonomia, de forma conjunta, para decidirem qual a melhor op��o terap�utica para tratar os casos diagnosticados, o que consta no Parecer nº 04/2020 do �rg�o.
“Ou seja, o m�dico pode ou n�o prescrever medicamentos que considerar necess�rios e, por sua vez, o paciente pode acatar ou n�o o que foi prescrito”, explicou o CFM, acrescentando que o conselho tem incentivado e apoiado a��es como distanciamento seguro entre as pessoas, o uso de m�scaras e o refor�o � higieniza��o.
No entanto, os medicamentos geralmente utilizados no chamado “tratamento precoce” n�o t�m efic�cia comprovada contra a covid-19 e n�o s�o recomendados para pacientes com a doen�a pela OMS nem por ag�ncias reguladoras de outros pa�ses.

No caso da hidroxicloroquina e da cloroquina, a OMS emitiu em dezembro de 2020 uma “forte recomenda��o” contra seu uso em pacientes infectados pela covid-19 com qualquer gravidade de sintomas. J� a efic�cia da ivermectina n�o foi comprovada e as evid�ncias cient�ficas n�o permitem afirmar que o medicamento previna ou cure a doen�a.
De maneira semelhante, a Ag�ncia Europeia de Avalia��o de Medicamentos (EMA) destaca que a hidroxicloroquina e a cloroquina n�o mostraram efeitos ben�ficos no tratamento da doen�a. Al�m disso, os medicamentos “podem causar alguns efeitos colaterais, incluindo problemas card�acos”, diz a organiza��o. Sobre a ivermectina, a ag�ncia europeia tamb�m n�o recomenda seu uso fora de ensaios cl�nicos randomizados.
J� a Ag�ncia de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) dos Estados Unidos revogou a autoriza��o do uso de emerg�ncia neste pa�s da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento da covid-19 em 15 de junho de 2020, alertando ainda para poss�veis efeitos colaterais. O FDA tamb�m n�o recomenda o uso de ivermectina contra a covid-19 em pacientes.
A AFP j� checou diversas alega��es sobre o uso da cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid-19 (1, 2, 3, 4).