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Estado de Minas CHECAMOS

Queda sustentada de mortes por covid-19 no Brasil est� ligada � vacina��o, segundo especialistas

Postagens compartilhadas milhares de vezes atribuem de forma enganosa a queda de mortes � imuniza��o natural da popula��o


05/11/2021 21:53 - atualizado 06/11/2021 07:43

Um gr�fico sobre a queda de �bitos por covid-19 no Brasil e a evolu��o da vacina��o em massa foi compartilhado mais de mil vezes nas redes sociais desde 3 de novembro de 2021, junto � alega��o de que a redu��o de mortes pela doen�a seria resultado da imunidade natural adquirida pela popula��o.

Mas isso � enganoso. Especialistas explicaram � AFP que quedas de �bitos podem ocorrer antes da aplica��o massiva dos imunizantes porque a epidemia naturalmente tem um comportamento em ondas e que, al�m disso, a queda sustentada nos �bitos vista no pa�s a partir de junho de 2021 est�, sim, ligada aos imunizantes.
“A queda de casos na pandemia da Covid no Brasil tem como causa o progresso da vacina��o? Ou j� ocorria antes disso? Um gr�fico revelador de Bruno Campelo,da UFPE, usando o Datasus,revela que a queda inicia bem antes, provavelmente pelo enorme peso da imunidade natural dos curados” , diz a mensagem compartilhada no Twitter. O conte�do tamb�m circulou no Facebook ( 1, 2, 3).
Print de postagem que informa falsamente a queda de mortes por COVID-19 à imunização natural
Captura de tela feita em 4 de novembro de 2021 de uma publica��o no Twitter ( . / )

Os dados do gr�fico

O gr�fico viralizado � composto por duas curvas que se estendem de janeiro a outubro de 2021. Em preto, a linha representaria a m�dia m�vel de 14 dias das mortes por covid-19 no Brasil. Outra linha, em verde, representaria a m�dia m�vel da quantidade de segundas doses ou de vacina de dose �nica administradas na popula��o. Segundo as publica��es, ambas as linhas t�m como fonte dados do Departamento de Inform�tica do Sistema �nico de Sa�de (Datasus), vinculado ao Minist�rio da Sa�de.

Os dados do Minist�rio da Sa�demostram uma linha de m�dia m�vel de 14 dias dos �bitos por covid-19 com um pico acentuado em 19 de abril seguido por um pico menor em 20 de junho e, depois, uma queda constante a partir do final desse m�s. Embora a evolu��o seja semelhante, o gr�fico compartilhado nas redes sociais situa o principal pico em mar�o.

Com rela��o � aplica��o de segundas doses ou de imunizantes de doses �nicas, um gr�fico publicado pela Fiocruz, com dados provenientes do projeto @CoronavirusBra1, mostra um cen�rio semelhante ao do gr�fico viralizado. Em ambas as representa��es, por exemplo, h� um pico em 23 de abril e, a partir de junho, a aplica��o cresceu sem que houvesse quedas significativas.

De acordo com a mensagem viralizada, o fato de as mortes por covid-19 terem come�ado a cair antes de a aplica��o da segunda dose ou da dose �nica dos imunizantes mostraria que a redu��o de �bitos por covid-19 no Brasil teria ocorrido pelo “enorme peso da imunidade natural dos curados” . Duas quedas na curva de �bitos, em particular, teriam acontecido antes de picos de aplica��o dos imunizantes: a primeira antes de 23 abril, quando o Brasil registrou uma alta na quantidade de segundas doses aplicadas, e a segunda a partir de junho, antes de a aplica��o dos imunizantes crescer de maneira mais constante.

No entanto, gr�ficos do Minist�rio da Sa�de e do projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford, mostram que, desde o in�cio da pandemia, o pa�s j� atravessou outros picos nos quais tamb�m se observaram quedas no n�mero de �bitos seguidas por novas escaladas:

“Muitas quedas [de �bitos] foram observadas antes [de iniciada a aplica��o] da vacina, pois a epidemia funciona em ondas (na maioria dos lugares, bem marcadas)” , afirmou ao Checamos Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas e professor visitante da Universidade da Calif�rnia em San Diego.

Esse comportamento em ondas da epidemia “acontece porque o cont�gio tem um ciclo, que normalmente � cortado por a��es humanas ”, explicou ao Hallal e exemplificou com a ado��o de lockdowns ou “a simples decis�o de uma pessoa gripada de n�o sair de casa” . “Isso faz com que o v�rus deixe de contaminar depois de algum tempo, por a��o humana de combate a ele” , acrescentou o epidemiologista.

"A imunidade natural n�o explicou a queda nos n�meros em lugar algum do mundo at� hoje, no caso da covid-19".

Quedas de �bitos anteriores

Para Wallace Casaca, coordenador do projeto InfoTracker, plataforma online de monitoramento em tempo real de dados da covid-19 no Brasil, existem outros fatores que explicam a queda de �bitos no pa�s antes da vacina��o.

O segundo pico no pa�s, registrado em mar�o e abril passados, foi ocasionado pela dissemina��o da variante gamma, o que acabou levando muitas pessoas a �bito. “Depois da dissemina��o dela, naturalmente, (...) isso come�a a declinar. Lembrando tamb�m que foi nesse per�odo que v�rias medidas foram implementadas, como restri��o de mobilidade, distanciamento social, fiscaliza��o” , disse ao Checamos.

E acrescentou que a teoria da imunidade rebanhoconsiderada no conte�do viralizado “infelizmente n�o se mostrou v�lida para a covid-19. (...) Por conta do surgimento de variantes, houve reinfec��o. Isso � fato e est� na literatura cient�fica. A reinfec��o existe no caso da covid-19 e � comum” , afirmou Casaca.

Um dos estudosrealizados pela USP a respeito do tema sugere que at� 31% dos indiv�duos que contra�ram a COVID-19 em Manaus ap�s janeiro de 2021 correspondem a casos de reinfec��o da variante gamma.

Ela foi detectadapela primeira vez no Brasil em novembro de 2020. Com o aumento de casos e �bitos por covid-19, principalmente de janeiro a mar�o de 2021, de fato, governos estaduais e municipais adotaram medidas mais restritivasde circula��o da popula��o para conter a dissemina��o do v�rus.

Alexandre Naime, chefe do departamento de infectologia da Unesp, tamb�m ressaltou ao Checamos a import�ncia das medidas restritivas em quedas de �bitos vistas no pa�s antes da vacina��o. “Quedas anteriores nos �bitos se devem a medidas restritivas de circula��o. Agora, vemos uma redu��o promovida pelas vacinas. As pessoas adoecem menos, transmitem menos e morrem menos” , disse.
Profissional de saúde prepara uma dose de vacina contra a covid-19
Profissional de sa�de prepara uma dose de vacina contra a covid-19 em 28 de outubro de 2021 no Rio de Janeiro ( AFP / Mauro Pimentel)

A vacina e redu��o sustentada de �bitos

Segundo o epidemiologista Hallal, apesar de o pa�s j� ter registrado quedas de �bitos anteriormente, um dos efeitos da vacina��o � que a redu��o de mortes decorrente da vacina � uma “queda sustent�vel que, no longo prazo, evita novas subidas. A queda decorrente da imunidade natural, no caso da covid19, simplesmente n�o existe” .

Uma das evid�ncias desse efeito, de acordo com Wallace Casaca, seria justamente o fato de o Brasil n�o ter registrado uma nova explos�o de mortes, mesmo diante da chegada da variante delta, detectada pela primeira vez no pa�s em maio de 2021:

“Pelo menos at� agora, mesmo com o surgimento de variantes como a delta, os casos de covid-19 aumentaram de forma significativa; no entanto, os �bitos e as interna��es n�o explodiram no mesmo ritmo. Ou seja, os aumentos foram muito pequenos perto da explos�o de casos confirmados” , afirmou Casaca ao comparar com a R�ssia, onde ele observa “que a delta n�o apenas aumenta o n�mero de casos confirmados, mas tamb�m faz aumentar de maneira explosiva os �bitos” .

Segundo o Minist�rio da Sa�de, comparado ao pico de �bitos por covid-19 registrado em abril de 2021, o Brasil observa em outubro deste ano uma redu��o de mortes de 87,3%. O ministro da pasta, Marcelo Queiroga, atribuiu o cen�rio � campanha de vacina��o contra a doen�a.

Em um Boletim Epidemiol�gicode 4 de novembro, a Fiocruz tamb�m destaca que “a campanha de vacina��o est� atingindo um dos seus principais objetivos, qual seja, a redu��o do impacto da doen�a, produzindo menos �bitos e casos graves, no entanto, sem o bloqueio completo da transmiss�o da doen�a” . Na an�lise, a institui��o destaca que os gr�ficos s�o claros ao mostrar “que a queda de �bitos acompanha o crescimento da cobertura vacinal na popula��o” .

O infectologista Naime acrescenta, ainda, que essa redu��o constante no n�mero de �bitos observada no Brasil desde o final de junho de 2021 n�o poderia ser explicada somente pela imunidade natural adquirida do contato com o v�rus:

"O n�mero de casos estimados de covid-19, ainda que subnotificados, � de aproximadamente 22 milh�es [no Brasil]. N�o se pode pensar em imunidade natural com apenas 10% da popula��o exposta ao v�rus. A queda no n�mero de �bitos nunca seria explicada por essa exposi��o".

A imunidade natural contra a covid-19

Embora n�o haja consenso sobre qual imunidade pode ser mais robusta %u23BC naturalou vacinal%u23BC, especialistas consultados pela AFP em outubro de 2021concordam que a vacina��o � a melhor estrat�gia a ser adotada pelas autoridades para conter a pandemia, j� que produz imunidade sem envolver os riscos associados � infec��o, al�m da possibilidade de prolongar o per�odo de prote��o contra o v�rus com os refor�os.

N�o h� certeza, at� o momento, sobre quanto tempo duram os anticorpos gerados pelas duas formas de imuniza��o, mas Ricardo Rabagliati, infectologista do Hospital Cl�nico da Universidade Cat�lica do Chile, declarou que “� poss�vel controlar melhor a situa��o por meio das vacinas com a possibilidade de dar doses repetidas”.

Eduardo Martins Netto, epidemiologista do Hospital Universit�rio Professor Edgard Santos da UFBA e m�dico pesquisador da Funda��o Jos� Silveira, explicou ao Checamos que a imunidade natural tamb�m pode desempenhar um grande papel, “s� que a um custo alt�ssimo de morbidade (doen�a cl�nica aguda e grave e p�s-covid grave) e mortalidade”.

“Para muitas doen�as e situa��es, a imunidade natural n�o � suficiente. A doen�a leve tem uma resposta fraca, a resposta vacinal neste caso � muito mais forte” , disse o epidemiologista. Ele concluiu que para desenvolver uma resposta imunol�gica semelhante � vacina, � preciso geralmente que seja desenvolvido um quadro grave: “No caso da doen�a covid-19 aguda grave, a resposta vacinal � semelhante (em geral, pois varia de acordo com o estado de imunodefici�ncia do indiv�duo)” , disse.
Homem é vacinado contra a covid-19 em Nossa Senhora do Livramento
Homem � vacinado contra a covid-19 em Nossa Senhora do Livramento, comunidade nas margens do Rio Negro, pr�ximo a Manaus, Amazonas em 9 de fevereiro de 2021 ( AFP / Michael Dantas)

Os Centros para o Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos recomendama vacina��o como estrat�gia para conter a pandemia, mesmo para os que j� se infectaram. Segundo os Centros, “pesquisas ainda n�o mostraram por quanto tempo voc� est� protegido depois de se recuperar da covid-19” e “a vacina��o ajuda a te proteger mesmo que voc� j� tenha tido a doen�a” .

Um estudopublicado pelos CDCs em 29 de outubro de 2021 observou que as vacinas � base de RNA mensageiro (Moderna e Pfizer) foram capazes de oferecer cinco vezes mais prote��o contra um teste positivo para a doen�a do que a infec��o pelo coronav�rus.

De acordo com a OMS, a imunidade coletiva deve ser alcan�ada “pela vacina��o, e n�o por permitir que a doen�a se espalhe entre qualquer segmento da popula��o, uma vez que isso resultaria em casos e mortes desnecess�rios” .

Tedros Adhanom, diretor da OMS, afirmou em uma coletiva de imprensaem outubro de 2020 que “nunca na hist�ria da sa�de p�blica a imunidade coletiva [por infec��o natural] foi usada como estrat�gia para responder a um surto, muito menos a uma pandemia. � cient�fico e eticamente problem�tico” .

*Esta verifica��o foi realizada com base em informa��es cient�ficas e oficiais sobre o novo coronav�rus dispon�veis na data desta publica��o.

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