
“Intimado para depor sobre o caso Ad�lio, Jean Wyllys desaparece”, come�a o texto sobreposto a uma foto do ex-deputado pelo PSOL, hoje filiado ao PT, que foi amplamente compartilhada no Facebook (1, 2, 3).
“Desaparecido, desde o dia 02 de novembro esta pessoa n�o � mais encontrada no endere�o de Barcelona, na Espanha… Quem tiver informa��es ligue para a Interpol…”, continua a mensagem viralizada. Conte�do semelhante tamb�m circula no Twitter.
As publica��es fazem refer�ncia ao atentado sofrido pelo ent�o candidato � Presid�ncia Jair Bolsonaro em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG). Nesta data, Bolsonaro foi esfaqueado por Ad�lio Bispo enquanto participava de um evento de campanha.
Ad�lio foi detido no mesmo dia e submetido a dois inqu�ritos policiais conduzidos pela Pol�cia Federal de Minas Gerais. A equipe de checagem da AFP consultou documentos p�blicos sobre esses dois inqu�ritos e n�o encontrou qualquer intima��o envolvendo Jean Wyllys.
“Nenhuma intima��o”
Realizado nos 30 dias ap�s a facada, o primeiro inqu�rito concluiu que o agressor agiu sozinho descartando, a partir das evid�ncias colhidas, o envolvimento de terceiros no ataque.Um relat�rio do juiz federal Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora - que julgou a a��o penal referente ao atentado - resume as dilig�ncias realizadas nessa investiga��o. No documento, n�o � mencionado que o ex-deputado tenha sido intimado a depor.
Ao fim dessa investiga��o, a pol�cia determinou a abertura de um segundo inqu�rito para avaliar mais detalhadamente a exist�ncia de mandantes, idealizadores, instigadores, ou financiadores do crime.
O jornal O Estado de S. Paulo divulgou um relat�rio parcial desta segunda investiga��o em maio de 2020. Na p�gina 55 s�o detalhados os depoimentos e entrevistas realizadas com “contatos, colegas de trabalho, familiares e demais conhecidos” de Ad�lio Bispo. Entre diversas pessoas listadas, n�o consta o nome do ex-deputado.
Esse inqu�rito foi arquivado temporariamente em junho de 2020 a pedido do Minist�rio P�blico Federal (MPF), que considerou que as investiga��es realizadas at� o momento indicavam que Ad�lio n�o teve c�mplices.
O juiz respons�vel pelo caso determinou, no entanto, que o inqu�rito poderia ser reaberto se algumas dilig�ncias pendentes fossem autorizadas, como a quebra de sigilo dos advogados que se apresentaram para fazer a defesa de Ad�lio. Isso aconteceu em novembro de 2021, quando a investiga��o foi reaberta.
A equipe de checagem da AFP n�o encontrou, tampouco, qualquer registro de que Jean Wyllys tenha sido intimado a depor at� a data de publica��o desta checagem.
O Minist�rio P�blico Federal em Minas Gerais tamb�m informou � AFP “tratar-se de not�cia falsa”, em comunica��o encaminhada pela Procuradoria da Rep�blica em Minas. “N�o houve nenhuma intima��o da nossa parte”.
Procurada, a Pol�cia Federal informou somente que “n�o divulga a identidade de pessoas intimadas”.
Ao Checamos, o advogado de Jean Wyllys, Lucas Mour�o, negou a intima��o e disse se tratar de uma “not�cia fraudulenta”.
Tentativa da defesa
A �nica men��o a Jean Wyllys encontrada nos documentos sobre o atentado fala sobre a tentativa dos advogados de Ad�lio Bispo de convocar o ex-deputado - assim como outros pol�ticos e personalidades p�blicas associadas � esquerda no Brasil - para testemunhar em defesa do agressor.Como registrado nessa checagem da AFP, os advogados de Ad�lio indicaram como potenciais testemunhas o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (2003-2011), a cantora Preta Gil, o jornalista Reinaldo Azevedo e os ent�o deputados federais Jean Wyllys e Maria do Ros�rio.
Em dezembro de 2018, um dos advogados de Ad�lio Bispo, Zanone Manuel de Oliveira J�nior, explicou � AFP que escolheu as testemunhas para que as mesmas pudessem depor “sobre o discurso de �dio de Bolsonaro que, segundo o pr�prio Ad�lio, foi o que motivou seu ato”.
O Minist�rio P�blico Federal negou, contudo, o pedido da defesa, e nenhum desses pol�ticos ou personalidades foram convocados a depor - como registrado no relat�rio do juiz federal Bruno Savino e em mat�rias publicadas na imprensa na �poca.
Desaparecido?
As publica��es afirmam, ainda, que Jean Wyllys estaria “desaparecido” desde o dia 2 de novembro de 2021. No entanto, o ex-deputado tem publicado frequentemente no Facebook, Instagram e Twitter durante esse per�odo.No �ltimo dia 24 de dezembro, Wyllys compartilhou no Instagram um v�deo com suas expectativas para 2022 e escreveu, na legenda, que estava “em casa”.
As mat�rias mais recentes (1, 2, 3) sobre o ex-deputado tamb�m mencionam que ele est� morando em Barcelona, onde � doutorando em Ci�ncia Pol�tica.