
A morte de Beto pode ter um efeito, ainda que em menor escala, semelhante ao caso de George Floyd, cujo assassinato por asfixia por dois policiais brancos foi decisivo para a mobiliza��o do movimento antirracista nos Estados Unidos e ajudou a eleger o democrata Joe Biden –– sobretudo porque o presidente Donald Trump, em momento algum, se manifestou contrariamente � atitude agressiva dos dois agentes.
Reflexo nos jovens
Analista pol�tico do portal Intelig�ncia Pol�tica, Melillo Dinis afirma que as pautas identit�rias, ligadas a direitos das mulheres, dos grupos LGBTQIA+ e de movimentos negros, foram muito incorporadas � pol�tica brasileira, especialmente nas elei��es municipais. “N�o tenho d�vida de que (a morte de Jo�o Alberto) tem um grande efeito (no segundo turno)”, salienta, ressaltando n�o ser poss�vel fazer uma proje��o exata dos efeitos nas urnas ou de mudan�as de cen�rios que podem resultar do caso.
Coordenador do n�cleo de estudos sociopol�ticos da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais (PUC-MG) e associado do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica, Robson S�vio afirma que j� foi poss�vel perceber o aumento de destaque das pautas identit�rias no primeiro turno, e que a quest�o tende a pautar o sistema pol�tico. Para ele, os candidatos que ignorarem o assunto correm o risco de serem rejeitados por setores da sociedade.
“Aqueles que, consultados sobre a quest�o tiverem discursos negacionistas, tendem a ter uma rea��o desses segmentos que n�o aceitam mais essa postura”, disse, acrescentando que legendas de centro, centro-direita n�o ser�o “ponta de lan�a” no debate antirracismo –– que continuar� a ser pautado pelas de centro-esquerda.
Impacto nos indecisos
Professora e coordenadora do programa Diversidade da Funda��o Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, L�gia Fabris afirma que o epis�dio pode mudar cen�rios quando se pensa em especial nos indecisos. Para ela, aqueles que n�o decidiram o voto, mas se sensibilizam com o debate sobre racismo e o assassinato de Beto, podem decidir seus votos com base nas melhores propostas para as quest�es igualit�rias.
“Isso pode levar os indecisos a decidirem por aqueles prefeitos que se colocam de maneira mais contundente, firme, e que consigam articular essa injusti�a como uma transforma��o que o seu governo vislumbra”, afirmou.
Cientista pol�tica e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernanda Barros ressalta que pode ser que os partidos de centro adequem suas falas “com mesclas discursivas de ades�o e mitiga��o da agenda racial”. “Apresentar�o sensibilidade em torno dos protestos negros, por�m sem grandes a��es pol�ticas que modifiquem as assimetrias sociais entre negros e brancos. Os de centro-direita tamb�m poder�o se aproximar da quest�o racial a partir do uso simb�lico da imagem de pol�ticos negros, com a ret�rica de meritocracia e Estado cego � cor e seus efeitos”, afirmou.
Evento discute racismo estrutural
Com o objetivo de colocar em pauta temas como combate ao racismo e espa�o dos negros na sociedade, o evento Democracia e Institui��es: Crises e Desafios promove a live Consci�ncia Negra e Racismo Estrutural. A discuss�o ser� hoje, a partir das 17h, com transmiss�o na p�gina do Instituto Brasiliense de Direito P�blico (IDP). De acordo com a organiza��o, a abertura do evento fica por conta do ministro do Supremo Tribunal Federa (STF) Gilmar Mendes. O debate on-line contar�, ainda, com a participa��o do desembargador Ney Bello; do professor do IDP, Rodrigo Mudrovitsch; do especialista em Direito Constitucional Marco Ant�nio Delfino; a promotora do Minist�rio P�blico do Rio de Janeiro, Roberta Ribeiro; do ex-secret�rio-executivo do Minist�rio da Justi�a, Marivaldo Pereira; e da especialista em rela��es raciais e seguran�a p�blica do sistema prisional, Deise Benedito. A media��o ser� de Haderlann Cardoso, especialista em direito constitucional.
Tr�s perguntas para Beatriz Della Costa Pedreira
“Representatividade est� ganhando tra��o”
Al�m do n�mero recorde de candidaturas negras em 2020, uma pesquisa encomendada pelo Instituto Update mostrou que os brasileiros estavam mais dispostos a votarem em mulheres e em negros nas elei��es municipais. Entre as mulheres, as negras s�o o grupo visto como o mais eleitoralmente vi�vel — inclusive em compara��o aos homens. Ao Correio, a cientista social e diretora do Instituto Update, Beatriz Della Costa Pedreira, explicou como as proje��es destas elei��es poder�o refletir no cen�rio eleitoral de 2022.
O movimento de candidaturas de representatividade deve avan�ar ainda mais em 2022?
A vis�o de uma pol�tica representativa come�a a brotar de forma muito t�mida, � algo que est� ganhando tra��o. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda n�o capturou isso, mas as candidaturas coletivas, por exemplo, est�o trazendo essa percep��o da sociedade que procura por uma representatividade e n�o por uma identidade. Eu, enquanto mulher branca, posso votar num coletivo de mulheres por me sentir representada por aquela bandeira. Precisamos ter um pouco de paci�ncia, pois a hist�ria n�o � t�o r�pida, mas sociedade j� caminha para tais mudan�as.
As candidaturas representativas est�o mais atreladas aos partidos de esquerda. Existe algum movimento dos partidos de centro ou at� direita para abarcar esse movimento?
Pensando em 2022, essas candidaturas nascer�o muito dos movimentos da sociedade civil organizada, mas que ter�o que buscar as legendas para se candidatarem. N�o vejo espa�o nesses grandes partidos de centro, pois eles s�o movidos pelo fisiologismo e n�o ir�o mexer em time que est� ganhando. Claro que, no interior, existem algumas candidaturas independentes nesses partidos, mas nas capitais as bandeiras da diversidade n�o ganham espa�o. Se eles aderirem ao movimento, ser� de maneira eleitoreira e oportunista. Tais partidos s�o uma heran�a da pol�tica que sempre houve no Brasil, n�o h� muito o que se fazer.
Unidos e acabou favorecendo o candidato Joe Biden. Voc� acredita que o assassinato do Jo�o Alberto, no Rio Grande do Sul, dever� impactar as urnas no segundo turno do pr�ximo domingo?
Mesmo que as comunidades estejam mobilizadas, o Brasil � mais complexo que os Estados Unidos. Infelizmente, temos uma fragmenta��o muito grande. Tivemos uma como��o muito grande entre os ativistas, e os que j� lutam por essa causa. Mas, n�o vi isso expandir para fora da bolha. (WO)
O assassinato de George Floyd teve grande impacto nas elei��es dos Estados Unidos e acabou favorecendo o candidato Joe Biden. Voc� acredita que o assassinato do Jo�o Alberto, no Rio Grande do Sul, dever� impactar as urnas no segundo turno do pr�ximo domingo?
Mesmo que as comunidades estejam mobilizadas, o Brasil � mais complexo que os Estados Unidos. Infelizmente, temos uma fragmenta��o muito grande. Tivemos uma como��o muito grande entre os ativistas, e os que j� lutam por essa causa. Mas, n�o vi isso expandir para fora da bolha. (WO)