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Estado de Minas AUMENTO DE CASOS

Covid-19: novo pico pega profissionais de sa�de esgotados e desamparados

Psiquiatra e pesquisadores que monitoram a sa�de de quem est� na linha de frente dizem que medo, exaust�o, estresse e adoecimento mental est�o em patamares preocupantes, dois anos depois do in�cio da pandemia.


12/01/2022 07:14 - atualizado 12/01/2022 08:26


Atendimento em hospital de Porto Alegre, em foto de arquivo de 2020
Pesquisas mostram altos �ndices de medo, estresse, ansiedade e depress�o entre profissionais da sa�de; acima, atendimento em hospital de Porto Alegre em 2020 (foto: Reuters)

O pico de novos casos de covid-19 por enquanto n�o tem, segundo ind�cios iniciais, levado a um aumento na mortalidade. Mas a doen�a avan�a diante de equipes de sa�de esgotadas, fragilizadas e desesperan�osas com os rumos da pandemia, segundo dizem pesquisadores, psiquiatras e especialistas que acompanham esses profissionais da sa�de desde os prim�rdios da batalha contra o coronav�rus, em mar�o de 2020. � tamb�m o que dizem os pr�prios profissionais.

"O que temos escutado � que existe uma grande sensa��o de exaust�o - de profissionais de sa�de dizendo 'n�o � poss�vel. Vou ter que tirar f�rias, n�o vou aguentar', ao verem as emerg�ncias cheias novamente", diz � BBC News Brasil o psiquiatra Helian Nunes, um dos idealizadores do projeto Telepan Sa�de, que desde o in�cio da pandemia oferece sess�es de aconselhamento psicol�gico gratuito online a mais de 640 profissionais de sa�de de todo o pa�s.

H� cerca de 200 pacientes ainda sendo acompanhados pelo Telepan (uma parceria da Universidade Federal de Minas Gerais com a Associa��o Brasileira de Neuropsiquiatria), alguns deles com sintomas de estresse p�s-traum�tico, explica Nunes.

"Ficamos surpresos, porque ach�vamos que, quando a situa��o melhorasse, ir�amos zerar os atendimentos. Mas n�o foi o que aconteceu. Muitas pessoas seguem em atendimento at� hoje, n�o pudemos dar alta. E quem vai ocupar o lugar delas nos hospitais?"

A percep��o de Nunes corrobora o que pesquisadores da Escola de Administra��o de Empresas da FGV-SP escutaram de profissionais de sa�de p�blica do pa�s, em rodadas de entrevistas que t�m sido conduzidas desde abril de 2020. A mais recente foi publicada em outubro de 2021.

"Nossa expectativa era de que os resultados seriam sempre melhores: que os profissionais iriam aprender (a lidar com a doen�a), que sentiriam menos medo, que as quest�es de sa�de mental iriam se acomodar. E n�o � isso o que os dados mostram", explica � BBC News Brasil a pesquisadora Gabriela Lotta, professora de Administra��o P�blica e Governo da FGV.

O medo dos profissionais de sa�de entrevistados pela pesquisa - de t�cnicos de enfermagem a m�dicos - frente � covid-19 se manteve em patamares acima de 80% ao longo de todas as rodadas da pesquisa.

Tamb�m mais de 80% deles sentiram que sua sa�de mental foi afetada negativamente pela pandemia, mas menos de um ter�o (30%) afirmou ter recebido algum tipo de apoio para lidar com isso.


Pessoas aguardando testagem de covid-19 no Rio
Pessoas aguardando testagem de covid-19 no Rio; embora novo pico n�o tenha sido acompanhado de aumento em casos graves, equipes de sa�de est�o fragilizadas e desfalcadas (foto: EPA)

'Esperan�a de normalidade que se perdeu'

"Eles est�o l� em condi��es muito ruins de sa�de f�sica e mental, e com a sensa��o de falta de apoio de pol�ticas p�blicas e uma esperan�a de normalidade que se perdeu", avalia Lotta. "Uma frase que apareceu em muitas respostas �: 'somos soldados largados na frente da batalha'. A sensa��o de solid�o � muito forte."

E, embora tenha havido um aprendizado t�cnico importante sobre como prevenir, enfrentar e tratar o coronav�rus, a sucess�o de muta��es do v�rus e de novas ondas de covid-19 faz com que a sensa��o de despreparo frente a doen�a continue elevada, explica Lotta.

A enfermeira Alessandra Alencar Gadelha de Melo sente isso em seu dia a dia em dois hospitais (um p�blico e um privado) em Salvador (BA), apesar de j� acumular quase tr�s d�cadas de experi�ncia na profiss�o.

"� claro que a gente sabe lidar melhor com o paciente de covid-19 ou de s�ndrome respirat�ria aguda grave. E a vacina��o (em altos n�veis no pa�s) tamb�m d� um conforto. Mas sempre vem uma apreens�o e ansiedade diante das novas variantes do coronav�rus", diz ela.

Melo tamb�m � presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia e recebe relatos di�rios de colegas queixando-se da rotina em prontos-socorros lotados com pacientes com sintomas de covid-19 e influenza. Ela notou, ao longo da pandemia, a deteriora��o da sa�de f�sica e mental dos enfermeiros de seu Estado.

At� 2020, as principais queixas recebidas no sindicato eram relacionadas a atrasos salariais, explica a enfermeira. "Agora, a maioria das reclama��es � por quest�es de sa�de mental, esgotamento mental e ass�dio moral, (por conta de) rela��es de trabalho muito desgastadas e precarizadas."

"N�s nos contaminamos muito e adoecemos muito - houve um escancaramento das fragilidades e da precariedade da profiss�o. Os enfermeiros precisam ter v�rios v�nculos trabalhistas (empregos), e quase todos esses v�nculos s�o prec�rios."

Os mais vulner�veis

Enfermeiros, t�cnicos em enfermagem e agentes de sa�de est�o entre os profissionais mais vulner�veis nas circunst�ncias atuais, avalia Gabriela Lotta.

At� porque esses grupos s�o compostos em sua maioria por mulheres, e muitos s�o negros, o que significa que j� sofrem o peso de outras desigualdades socioecon�micas, e t�m sal�rios relativamente baixos.


Testagem de covid-19 em São Paulo
Equipes pequenas est�o se desdobrando entre testagens, vacina��o e atendimento de pacientes, diz pesquisadora (foto: Reuters)

"S�o pessoas em condi��es piores para enfrentar a pandemia. Fazem dupla ou tripla jornada, muitas vezes n�o t�m com quem deixar os filhos, ou t�m de cuidar dos pr�prios pais. A sobrecarga mental � ainda pior", prossegue Lotta.

O psiquiatra Helian Nunes observou, tamb�m, muita fragilidade entre um grupo ainda mais amplo de profissionais.

"J� no in�cio a gente viu que a vulnerabilidade � de todo o trabalhador (envolvido no atendimento a pacientes): desde o porteiro do hospital at� o motorista da ambul�ncia", pondera.

Enfermarias, prontos-socorros e postos de sa�de tamb�m sofrem com uma carga de trabalho e uma carga hor�ria crescentes, dizem os pesquisadores.

"Chamou nossa aten��o o fato de os profissionais de sa�de prim�ria, como os que atendem em postos de sa�de, mostrarem um n�vel de sofrimento bastante alto, maior at� de quem trabalha em hospitais", explica � BBC News Brasil D�bora Dupas Nascimento, doutora em Ci�ncias e pesquisadora em Sa�de P�blica da Fiocruz Mato Grosso do Sul.

Dupas � coordenadora de uma pesquisa que entrevistou 518 profissionais de sa�de sul-mato-grossenses entre outubro de 2020 e mar�o de 2021, cujos resultados foram publicados em novembro. E mais da metade dos entrevistados apresentaram sintomas - de leves a severos - de ansiedade, estresse e depress�o.

"A literatura j� mostra que, em contextos normais, profissionais da sa�de j� s�o mais suscet�veis a esses transtornos. Agora, na pandemia, isso se agravou, reduzindo o n�mero de profissionais dispon�veis por conta do n�mero de afastamentos", explica a pesquisadora.

� que o contexto atual cria uma esp�cie de ciclo vicioso: quanto mais exaust�o e cont�gio, mais profissionais precisam ser temporariamente afastados de seus trabalhos, aumentando a press�o - e o risco de adoecimento - dos profissionais que ficam.

� comum nesses cen�rios, diz Dupas, que trabalhadores sejam pressionados a encurtar suas licen�as m�dicas ou a trabalhar doentes para suprir a demanda e cumprir plant�es.

"A gente tem ficado muito preocupado com esse desgaste, porque as equipes est�o sobrecarregadas novamente", agrega Helian Nunes. "N�o estamos favorecendo a sa�de dos nossos trabalhadores, e n�o tem profissional sobrando no mercado."

Dois m�dicos intensivistas consultados pela BBC News Brasil dizem que (felizmente), at� o momento, o pico de casos de covid-19 n�o resultou em aumentos dr�sticos de casos graves que exijam interna��es em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Mas ambos dizem que suas equipes est�o cansadas.


Atendimento a pacientes com sintomas de covid-19 ou gripe no Rio
Atendimento a pacientes com sintomas de covid-19 ou gripe no Rio; muitos profissionais da sa�de fazem jornada dupla ou tripla (foto: Reuters)

"Est� todo mundo exausto. Reviver outra onda � mobilizar recursos e energias, e uma UTI de covid-19 exige o dobro ou o triplo (de esfor�o) do que uma UTI normal", diz o m�dico Matheus Alves, intensivista em Bras�lia. "Mas quem est� na sa�de vai tentar segurar, tirar for�a de onde n�o tem. Sen�o, quem que vai ser? A gente torce para as vacinas darem conta e para os casos pararem no m�ximo nas enfermarias."

"Os colegas est�o meio resignados, s�o gato escaldado", afirma Edino Parolo, intensivista em Porto Alegre (RS). "Mas tem v�rias pessoas que conhe�o que fazem planos de mudar de �rea (e sair de UTIs), se especializar em outras �reas. Porque ainda est�o se recuperando (da experi�ncia na pandemia)."

O al�vio da pandemia vivido entre meados e o final do ano passado havia aberto uma "janela de esperan�a" entre profissionais de sa�de prim�ria - janela que � fechada com a atual explos�o de casos, acredita Gabriela Lotta.

"Hoje eles conciliam a fila de testagem para o coronav�rus com a fila de vacina��o e com a fila de pacientes passando mal, e tudo isso com um componente a mais: o apag�o de dados na sa�de", diz a pesquisadora.

Embora os dados da pesquisa mais recente da FGV sejam do ano passado, "a hip�tese � de que esses profissionais estejam agora com um sentimento muito ruim, com a sa�de mental muito abalada. E, em todos os momentos em que a pandemia cresceu, isso era escancarado pelos n�meros. Agora, isso � muito mais invisibilizado".

Para D�bora Dupas Nascimento, da Fiocruz, � preocupante o fato de t�o poucos profissionais de sa�de terem acompanhamento psicol�gico em um momento t�o dif�cil.

"� preciso pensar em pol�ticas p�blicas locais e nacionais para dar esse apoio a eles", argumenta. "E tamb�m � preciso haver momentos de lazer, com suas fam�lias ou de atividade f�sica, e momentos de autocuidado. Porque ele (profissional da sa�de) cuida dos outros, mas n�o (tem podido) cuidar de si mesmo."

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