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Estado de Minas

Curador do 'Festival Livro na Rua' destaca evento como term�metro de 'maturidade civilizat�ria'

Ao analisar os tr�s dias da feira, realizada entre 23 e 25 de agosto, Jos� Eduardo Gon�alves fala sobre a for�a do livro, a relev�ncia do com�rcio de rua e revela in�cio de estudos para a realiza��o de edi��es anuais


postado em 06/09/2019 04:00 / atualizado em 06/09/2019 10:23

Festival na Savassi teve debates literários, lançamentos, performances, contação de histórias e a presença de 80 escritores(foto: Flir 2019/DIVULGAÇÃO)
Festival na Savassi teve debates liter�rios, lan�amentos, performances, conta��o de hist�rias e a presen�a de 80 escritores (foto: Flir 2019/DIVULGA��O)

 
�ltimo domingo de agosto, meio-dia, regi�o da Savassi, Belo Horizonte. Quatro eventos simult�neos marcam o encerramento do Festival Livro na Rua (Flir), na Rua Fernandes Tourinho. Na esquina com a Avenida Get�lio Vargas, a Academia Transliter�ria – coletivo de artistas e escritores transg�neros – apresenta recital de poemas; na outra ponta, na esquina com a Rua Pernambuco, a Confraria de Poetas faz leitura de trechos das obras dos escritores Henriqueta Lisboa e Bartolomeu Campos Queir�s em frente ao pr�dio onde ambos moraram; no trecho central da Fernandes Tourinho, al�m da movimenta��o em torno dos estandes das editoras e livrarias, dois debates chamam a aten��o – um sobre literatura infantil e outro sobre a literatura na sala de aula. Duas semanas ap�s o acontecido, esta cena dominical rara e intensa – na qual se salienta a diversidade dos protagonistas e das tem�ticas abordadas – � aqui revivida para que se reconhe�a a pot�ncia do que vivemos naqueles tr�s dias de declara��o de amor aos livros.

Da sexta-feira � noite, 23 de agosto, quando um sarau po�tico abriu o festival, ao encerramento na tarde de domingo, dia 25, com o projeto Verve celebrando o bardo Walt Whitman, perto de 10 mil pessoas percorreram a Fernandes Tourinho e conviveram com alguma atividade – performances, lan�amento de livros, leituras, debates, espet�culos de dan�a, conta��o de hist�rias, shows e oficinas. Mais de 80 escritores participaram das diversas mesas. Editores falaram de seus desafios, livreiros contaram suas hist�rias de conv�vio intenso com clientes de todo tipo, e leitores aproveitaram a ocasi�o para visitar os 45 expositores e abarrotar as sacolas de livros.

A forma como encaramos a import�ncia das ruas revela muito de nossa maturidade civilizat�ria

Jos� Eduardo Gon�alves, curador do Flir

No s�bado � noite, um editor independente me confidenciava, exultante, que havia vendido 50 exemplares em sua banca – um volume que ele raramente alcan�a em um m�s de venda. Foi uma festa e tanto, ainda que nem tudo tenha sa�do � perfei��o. Na mesa inaugural, s�bado pela manh�, as psicanalistas que debateram o romance A natureza da mordida, de Carla Madeira, tiveram de for�ar o gog�, j� que o microfone n�o funcionou (em artigo publicado nesta p�gina, elas apresentam o que disseram naquele dia). Assim, o FLIR se mostrou iniciativa de enorme sucesso, comprovando o que j� havia sido esbo�ado na primeira edi��o, em 2017.

Tenho a convic��o de que, este ano, fomos muito al�m. Por um lado, o festival mostrou a for�a do livro como produto e reafirmou a relev�ncia do com�rcio de rua. S� por isso j� seria v�lido trabalhar para que tal iniciativa se consolide em uma agenda anual. Os realizadores do evento – a C�mara Mineira do Livro e a Quixote+Do Editoras Associadas – j� est�o mobilizados nesta dire��o. Mas h� um algo mais nessa hist�ria que faz toda a diferen�a: este � um evento inserido no contexto urbano da capital, em local aberto ao p�blico. Inscrito na vida cotidiana. Cidades s�o constru��es coletivas, resultado de tens�es, interesses, acordos e escolhas.

A nossa Belo Horizonte, como qualquer outra, convive com toda sorte de problemas e desafios. Pensar a cidade � uma tarefa que cabe n�o apenas ao poder p�blico, mas igualmente � coletividade. Viver na cidade � viver junto com outros. � reconhecer a exist�ncia, as peculiaridades e estranhezas do outro. A cidade, de certa forma, nos obriga a enxergar o mundo al�m de nossa pr�pria sombra. Conviver em sociedade, portanto, consiste em permanente exerc�cio de toler�ncia. 

Al�m das sombras

A forma como encaramos a import�ncia das ruas revela muito de nossa maturidade civilizat�ria. Rua � lugar de encontro, de di�logo. Por isso � bonito ver a Fernandes Tourinho – a chamada Rua das Livrarias – cheia de gente se confraternizando, trocando ideias, em clima de perfeita civilidade. Durante todo o evento n�o foi registrado qualquer incidente. Ao contr�rio, foram abundantes os gestos e momentos de delicadeza e sensibilidade. Como n�o se encantar com o varal de bordados com poemas e frases de escritores que v�rios artistas organizaram na cal�ada, a convite da loja Patr�cia de Deus? Ou com Celso Adolfo tocando as can��es inspiradas em Sagarana? E o que dizer da Cia de Dan�a do Pal�cio das Artes com um espet�culo emanado da obra de Manoel de Barros? M�sica, arte, poesia. Uma cidade sem cultura seria despida de alma.

Belo Horizonte tem plenas condi��es de abrigar novos encontros com esse perfil. N�o � toa, uma das mesas de debate reuniu os arquitetos S�rgio Myssior e Roberto Andr�s para falar das rela��es entre ruas, livrarias e qualidade de vida. Porque livros e cidades t�m muito a dizer um ao outro. “A leitura”, como j� dizia o mestre Eduardo Frieiro, homenageado do FLIR,  em seu cl�ssico A ilus�o liter�ria, de 1932, “faz-nos peregrinar atrav�s das imagina��es alheias, ao mesmo em que enriquece e estimula nossa pr�pria imagina��o”. J� as cidades, mais que amontoados de ruas, pr�dios e constru��es, s�o territ�rios f�rteis � criatividade, � inven��o, ao que d� sentido simb�lico �s nossas vidas. � poss�vel imagin�-las melhor do que s�o. Menos violentas, mais generosas, menos desiguais, mais limpas. Muito provavelmente, mais aptas � vida em comunidade.

*Jos� Eduardo Gon�alves � curador do Festival Livro na Rua
Especial para o Estado de Minas



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