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Estado de Minas

Livro 'Vozes Negras em Comunica��o' discute m�dia e racismo

Organizada por Laura Guimar�es Corr�a, obra re�ne textos de 15 pesquisadores. 'Vozes negras em comunica��o' ajuda a compreender barbaridades cometidas no Brasil, como o massacre de jovens na sa�da de baile funk em S�o Paulo


06/12/2019 04:00 - atualizado 06/12/2019 09:08

Os autores Viviane Gonçalves, Márcia Maria Cruz, Francisco Leite, Angélica Souza, Cristiano Rodrigues, Mayra Bernardes (de pé); Lucianna Furtado, Laura Guimarães Corrêa, Edilene Lopes (sentadas) no lançamento de Vozes Negras em Comunicação, na livraria Quixote, na Savassi (foto: Mayara Laila/Divulgação)
Os autores Viviane Gon�alves, M�rcia Maria Cruz, Francisco Leite, Ang�lica Souza, Cristiano Rodrigues, Mayra Bernardes (de p�); Lucianna Furtado, Laura Guimar�es Corr�a, Edilene Lopes (sentadas) no lan�amento de Vozes Negras em Comunica��o, na livraria Quixote, na Savassi (foto: Mayara Laila/Divulga��o)

“Pro mundo em decomposi��o / Escrevo como quem manda cartas de amor / Metr�poles sufocam, s�o necr�poles que n�o se tocam / Ent�o se chocam com o sonho de algu�m / S�o assassinas de domingo a pausar tudo que � lindo.” Enquanto escrevo este texto, ou�o Emicida cantando esses versos. Espio as redes que mostram os rostos de Gustavo, Marcos Paulo, Dennys, Denys Henrique, Luara, Gabriel, Eduardo, Bruno e Mateus, adolescentes e jovens massacrados em a��o policial desastrosa em Parais�polis, S�o Paulo, cuja morte nos lembra que, a cada 23 minutos, um jovem negro � assassinado no pa�s. Outra can��o desse mesmo �lbum diz que “80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo”, citando o assassinato, pelo Ex�rcito, do m�sico Evaldo, no Rio de Janeiro.

Esse � o contexto do livro Vozes negras em comunica��o: m�dias, racismos, resist�ncias (Aut�ntica), lan�ado em 30 de novembro, na livraria Quixote. O livro � dividido em tr�s partes: aproxima��es para o estudo de comunica��o e ra�a, transversalidades est�ticas e pol�ticas, racismos midiatizados e poss�veis resist�ncias. Menos do que uma divis�o, essa organiza��o tem o objetivo de tra�ar rela��es e sugerir conex�es entre os cap�tulos que comp�em essas partes, mas n�o constituem obrigatoriamente uma ordem de leitura. Seja por afinidade te�rica, por refer�ncias em comum, seja pela proposta argumentativa, essas vozes negras est�o em di�logo.

Foram convidados para participar da colet�nea pesquisadores e profissionais empenhados na reflex�o sobre ra�a, racismo e interseccionalidades, em di�logo com o campo da comunica��o (seguindo a ordem dos cap�tulos): Rosane Borges, Shakuntala Banaji, Maria Aparecida Moura, Cristiano Rodrigues e Viviane Gon�alves Freitas, M�rcia Maria Cruz e Edilene Lopes, Rodrigo Ednilson de Jesus, Pablo Moreno Fernandes, Francisco Leite e Ang�lica M. Souza, Lucianna Furtado e Elton Antunes, Laura Guimar�es Corr�a e Mayra Bernardes.

A obra conta com texto de apresenta��o da professora em�rita da UFMG Nilma Lino Gomes, que destaca que “a presen�a do racismo nas constru��es midi�ticas � um tema antigo nas den�ncias e nas pautas do movimento negro brasileiro. Esse alerta pol�tico, aos poucos, vem ocupando espa�o no campo epistemol�gico, e tal mudan�a se deve ao protagonismo de intelectuais que elegem a potente articula��o entre comunica��o e ra�a como campo de investimento acad�mico.”

Vera Fran�a, professora titular na mesma institui��o e refer�ncia nos estudos em comunica��o, em texto sobre o livro afirma que os sujeitos negros “n�o apenas reivindicam seu pr�prio lugar de fala, mas tamb�m fazem circular a sua pr�pria leitura de mundo, uma epistemologia que s� eles e elas podem construir.” No pref�cio, a professora da Goldsmiths University of London Claudia Bernard destaca o quanto a obra � inovadora por provocar a reflex�o sobre como sistemas interligados de desigualdades se manifestam para uma compreens�o mais complexa e matizada das pr�ticas comunicacionais.

Tema tabu

O que hierarquiza a pele alva e a pele negra/alvo � o racismo, sistema estruturante da sociedade brasileira que se esconde – muito mal – sob o esgar�ado e ensanguentado manto/mito da democracia racial. Ra�a e racismo s�o temas tabus, sobre os quais n�o se fala muito abertamente, mas que trazem, h� s�culos, modos de opera��o e consequ�ncias ineg�veis.

Presente nas discuss�es de outras ci�ncias humanas h� algum tempo, o tema pouco apareceu nos estudos de comunica��o das �ltimas d�cadas, com exce��o talvez dos escritos de Muniz Sodr�, professor em�rito da UFRJ. Entretanto, esse assunto sempre rondou, mesmo que velada e perifericamente, as reflex�es sobre a comunica��o e a realidade brasileira, ganhando for�a nos �ltimos anos. Como n�o falar de ra�a num pa�s em que mais da metade da popula��o � negra, mas que distribui a vida e a morte, a riqueza e a pobreza, o privil�gio e a viol�ncia, a visibilidade e a invisibilidade midi�ticas de forma t�o desproporcional entre os grupos raciais?

A comunica��o, pr�tica social que nos define e nos constr�i como seres humanos, � onde s�o produzidas identidades, semelhan�as e diferen�as. Nas experi�ncias com as outras pessoas, nos constitu�mos como seres racializados, num processo que � individual e coletivo tamb�m – como diria Emicida em Paisagem, “em algum lugar entre a rua e a minha alma”. N�o se nasce sabendo sobre hierarquias e preconceitos de ra�a, g�nero, sexualidade, por exemplo; mas � cedo que essas diferen�as s�o aprendidas nas rela��es com o outro, seja na fam�lia, na escola, nas ruas, nas m�dias. Nos diversos meios e plataformas, produzimos, lemos, assistimos, postamos, curtimos, respondemos a textos e imagens que nos dizem de n�s, de quem somos, de como agimos, no que acreditamos. Fazemos as m�dias e elas nos fazem, nos refletem; e constituem assim lugares privilegiados para a pesquisa, para que entendamos que sociedade � essa que nos assombra e nos desafia neste in�cio de d�cada.

Contra racismos e viol�ncias que se (re)produzem por vezes na comunica��o midi�tica e na academia, � preciso resistir (re-existir) ativamente, numa esp�cie de imped�ncia, conceito que, segundo o colega Pablo Saldanha, da f�sica, significa “a propriedade de um circuito el�trico que impede uma tens�o externa de produzir uma corrente devastadora no circuito, destruindo os seus elementos. A imped�ncia total � uma combina��o de suas partes resistiva e reativa”. Assim, em tempos de amea�as � humanidade, penso que organizar este livro foi uma pr�tica impedante.

Desafiando a ideia de um conhecimento sobre a realidade social euroc�ntrico, masculino, branco, tido como �nico, universal e monol�tico, lembramos que os saberes s�o localizados, e � preciso pensar em quem sempre teve o privil�gio da voz e da escuta. Falar de (e escutar) um outro lugar � importante, constr�i sujeitos e saberes humanos.

*Laura Guimar�es Corr�a � professora do programa de p�s-gradua��o em comunica��o e coordenadora do Coragem (Grupo de Pesquisa em Comunica��o, Ra�a e G�nero na UFMG).


Vozes Negras em Comunica��o: M�dia, racismos, resist�ncias
Laura Guimar�es Corr�a (organizadora)
Aut�ntica Editora
Cole��es: Cultura negra eidentidades 
Coordenadora da cole��o: Nilma Lino Gomes
244 p�ginas
R$ 49,80


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