postado em 13/12/2019 04:00 / atualizado em 13/12/2019 10:01
Walda, m�e de Wagner Tiso, e Milton em Alfenas (foto: Wagner Tiso/Acervo de fam�lia )
Um p�nalti decisivo. Sob a trave, bra�os estendidos e olhar cravado na bola, uma senhora de vestido abaixo do joelho e sand�lias. Diante desta, o jovem batedor posiciona o p� esquerdo de apoio e transmite confian�a para o chute de direita. Quem parte para a cobran�a, de sapatos engomados e cal�a de linho clara, � Milton Nascimento, tendo diante dele, no gol, Walda Tiso, m�e de seu melhor amigo, Wagner.
A foto, registrada por volta de 1969, na cidade de Alfenas, Sul de Minas, tem como cen�rio um buc�lico quintal delimitado por um canteiro, �rvores, vasos de plantas e um muro baixo. Ainda que a pose caricata do batedor, os trajes e a idade da goleira criem um ambiente improv�vel e jocoso frente � c�mera naquele terreiro convertido em campo de traves feitas de pau, a imagem gera apreens�o para o que se seguiria � batida. Fora daqueles muros interioranos, o Brasil entrava no momento mais agudo de repress�o e fechamento do campo democr�tico ap�s a instala��o do AI-5 na ditadura civil-militar.
A fotografia faz parte de um �lbum de fam�lia que inclui outros registros de intimidade dos dois amigos em meio aos Tiso Veiga. A vida de ambos tamb�m entrava num segundo tempo � �poca, com a mudan�a de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro havia poucos anos. A partir daquele momento, passariam a integrar e a mudar a hist�ria da m�sica brasileira junto a outros amigos, num movimento que viria a se chamar Clube da Esquina.
O que, para al�m do car�ter afetivo e de curiosidade, pode uma imagem revelar para uma hist�ria que celebra seus marcos e revisita suas cria��es cinco d�cadas depois? “Fotos de uma velha festa. Ossos t�o antigos, fatos t�o passados”, canta o tema Pelo amor de Deus”, do �lbum de 1972. Uma das principais estudiosas da fotografia, a americana Susan Sontag chamava a aten��o para o forte v�nculo entre vida e morte sempre a assombrar o registro de pessoas, inocentemente presentes ali, mas destinadas a sucumbir ao tempo.
A anual Serenata dos Tiso
Outras imagens do acervo da fam�lia Tiso mostram uma inusitada apresenta��o art�stica em pleno cemit�rio, ao longo de diferentes d�cadas. Ao redor de um t�mulo, membros da fam�lia tocam e cantam, com citadinos de Tr�s Pontas ali presentes como plateia, num incomum show. A anual Serenata dos Tiso � um retrato de uma fam�lia que tem a m�sica como elemento central de identidade e mem�ria. “Revejo nessa hora tudo que ocorreu, a mem�ria n�o morrer�.”
Seria poss�vel contar a trajet�ria do Clube da Esquina e de Milton, figura central e solar de tal movimento, apenas por suas fam�lias, nas mais variadas e potentes formas de se constitu�rem: os Nascimento sa�dos da pequena Lima Duarte, na Zona da Mata mineira, os Campos, que o adotaram num lar e numa cidade elevada a paradigma de amor e acolhimento, os Borges da m�tica esquina de Santa Tereza, os Guedes, os Horta.
Registros de Milton Nascimento no �lbum da fam�lia Tiso (foto: Wagner Tiso/Acervo de fam�lia )
Os Tiso. Uma simples fotografia, para al�m da emana��o do real de Roland Barthes, � capaz de incidir luz sobre o multifacetado jogo da hist�ria e mem�ria de um movimento musical, assim como sobre a perman�ncia e transmiss�o social, atravessadas por viv�ncias, localidades, lembran�as, amizades e trajet�rias diversas, como da peculiar fam�lia Tiso, com la�os subterr�neos que se estendem de Tr�s Pontas e Alfenas ao Rio de Janeiro, passando pela Belo Horizonte do pr�-Clube da Esquina do Edif�cio Levy (onde Jo�o Veiga e Irene Tiso eram vizinhos dos Borges) e o conjunto Evolussamba, comandado por Pac�fico Mascarenhas, com Milton, Wagner e seu irm�o mais velho, Gileno Tiso.
Walda tinha uma rotina at�pica naqueles anos 60. Pianista, m�e de cinco filhos e dona de casa, interrompia vez por outra as aulas de m�sica que lecionava em casa para amamentar os ca�ulas ou tirar uma fornada de p�o de queijo. Desde que haviam se mudado de Tr�s Pontas devido � transfer�ncia de emprego do marido, Francisco, o novo lar tinha uma visita constante que chegou em dado momento a se converter em morador: Bituca.
Territ�rio de amizades em Alfenas
Insepar�veis, ele e Wagner a tiravam do s�rio, como na vez em que enfileiraram no corredor todas suas x�caras da cristaleira numa maria-fuma�a imagin�ria. Se para os pais a Escola de Farm�cia e Odontologia de Alfenas era oportunidade para os filhos irem al�m do ginasial restrito ao restante do Sul de Minas, para estes era um novo territ�rio de amizades, farras juvenis (treinamento de roubo de galinha, serenatas com piano na boleia de caminh�o para mo�as e outra para acalmar o delegado), fanfarras, grupos musicais (W’s Boys, com os integrantes Wagner e Milton Willer), novidades sonoras dan�antes, questionamentos e papos pol�ticos trazidos por estudantes em meio � Guerra Fria naquele cotidiano interiorano – em 1967, a popula��o local foi figurante do longa O levante das saias, com roteiro de tons feministas, com dire��o de Ismar Porto e os astros Andr� Villon e Maria L�cia Dahl no elenco.
"Enquanto recordar � ato individual e est�tico, comemorar � coletivo, reintroduzindo o acontecimento e sua narrativa na vida presente e nas expectativas de futuro"
Para uma limita��o de acesso a mercadorias culturais, aqueles jovens �vidos por m�sica tinham como aliadas as r�dios e as trilhas de cinema. E mesmo o acaso, como quando dona Walda os presenteou, sem saber exatamente do que se tratava, com um disco do Tamba Trio, grupo ic�nico da bossa nova instrumental, refer�ncia incontorn�vel a partir dali. O caminho art�stico de ambos j� parecia tra�ado, mas ela imaginava um curso superior para o filho, por isso vez por outra arrumava a mala de Bituca para que esse voltasse a Tr�s Pontas e n�o se desviasse desse rumo. Mas com o cora��o mole, era quem ia peg�-lo na esta��o, evitando a partida. S�mbolo de alegria e intensidade, Walda inspirou Choro de m�e, tema instrumental composto por Wagner e apresentado por ele em show com Milton em 1980, na Su��a.
Wagner Tiso e Milton Nascimento em est�dio (foto: Wagner Tiso/Acervo de fam�lia )
Alfenas paira como um entrelugar algo oculto da trajet�ria t�o bem retratada em obras referenciais da hist�ria do Clube da Esquina, tanto memorial�sticas e institucionais quanto acad�micas, que junto ao cancioneiro fonogr�fico constroem um ima- gin�rio. Hoje, o movimento musical faz parte da hist�ria mesmo de quem n�o viveu aqueles tempos. O que lemos, ouvimos e reiteramos torna-se parte de nossas lembran�as, que por sua vez sustentam nossa identidade, como escreveu o historiador David Lowenthal, ampliando a no��o de mem�ria coletiva de Maurice Halbwachs.
Lidando com essa mat�ria-prima, a hist�ria precisa construir uma narrativa linear para dar inteligibilidade a um passado infinito, subjetivo, turvo, por�m a ser compartilhado e verificado coletivamente. “A hist�ria � um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue”, cantou o Clube.
Transporte para o passado
J� a mem�ria, ainda que intransfer�vel em sua complexidade individual e arbitr�ria em sua verdade �nica quando narrada, n�o cessa de jorrar. Mas diferentemente de recordar algo pr�tico, transportar-se a um passado v�vido, � de certa forma vedado ao acesso deliberado. “Quisera encontrar aquele verso, menino, que esqueci h� tantos anos atr�s...” Por�m, ele pode surgir involuntariamente atrav�s de um cheiro, de uma melodia. “Nisso eu escuto no r�dio do carro a nossa can��o...” Como afirma Aleda Assmann, “a mem�ria n�o conhece a norma corpulenta e incorrupt�vel da medida temporal cronol�gica. Pode mover o que h� de mais pr�ximo at� uma dist�ncia indeterminada e trazer o que est� distante at� muito pr�ximo, at� pr�ximo demais”.
� assim que um cheiro de fruta madura pode conduzir Wagner � Tr�s Pontas da d�cada de 50, quando roubava manga nos quintais da Rua Sete de Setembro para vender e ganhar trocados. Perto dali, via o menino negro ensimesmado com seus instrumentos na varanda da casa dos pais, Zino e Lilia. Apenas abanavam a m�o um para o outro, at� que o amigo em comum Dida achou que era hora de acabar com aquela hesita��o. Mas Bituca n�o queria saber de um Tiso pro seu grupo Luar de Prata: pretendia se firmar como artista sem estar � sombra de tal fam�lia. E n�o era pra menos, pois bastava ir a um sarau, matin� de carnaval ou fanfarra e l� estavam os Tiso.
"Milton e Wagner entenderam cedo que um m�sico � portador de um passado inesgot�vel, mas tamb�m tinham em comum um desejo de dar novas cores a harmonias e acordes do rico cancioneiro brasileiro e internacional"
Os filhos da tres-pontana Isaura e do italiano S�rio Tiso – que chegou ao Brasil em fins do s�culo 19 pela pol�tica de imigra��o p�s-aboli��o – pareciam trazer de suas ra�zes ciganas do Leste Europeu uma forte veia art�stica. As jovens Irene e Walda eram professoras de piano, Vav�u comandava uma verdadeira big band disputada por carnavais de toda a regi�o, outros, como Djalma e M�rio, eram seresteiros inveterados nas famosas festas de fam�lia, importante escola para Wagner. E a nova gera��o j� colocava banca: o menino Gileno ganhara o concurso para o hino do centen�rio da cidade com apenas 12 anos, tendo como letrista o pr�prio pai, Francisco.
Por tudo isso, Bituca preferia vencer sem estar � sombra de um Tiso. Mas no ensaio, logo que Wagner dedilhou o acordeom, Bituca cedeu. Nunca mais se desgrudaram. Tr�s Pontas podia comportar perfeitamente a devo��o religiosa a Padre Victor, a fama do caf�, a figura luminosa de Milton e as diferentes gera��es dos Tiso.
Registros de Milton Nascimento no �lbum da fam�lia Tiso (foto: Wagner Tiso/Acervo de fam�lia )
Grande incentivador dos mais jovens, M�rio Tiso veio a falecer em 1975, deixando um pedido aos parentes: que fizessem uma homenagem musical em seu t�mulo. Alguns sobrinhos cumpriram � risca a miss�o, e na noite de 11 de maio pularam o muro do cemit�rio munidos de vinho e viol�o. Desta ousadia e irrever�ncia juvenil, o ato fundador passou a ser repetido nos anos seguintes, desta vez de forma menos transgressora, como uma pequena seresta com acordeons, viol�o, violino e flautas.
Nas d�cadas seguintes, a Serenata dos Tiso tornou-se um ritual de uni�o da fam�lia, atraindo parte da popula��o, num at�pico evento cultural onde a plateia se espalha pelos mausol�us e instrumentos s�o acomodados em l�pides. Juntos, cantam, choram, riem e recordam o passado atrav�s da m�sica. Ou poder�amos falar em comemorar e numa corporeidade que � a pr�pria mem�ria?
Enquanto recordar � ato individual e est�tico, comemorar � coletivo, reintroduzindo o acontecimento e sua narrativa na vida presente e nas expectativas de futuro, como explica o historiador portugu�s Fernando Catroga. � assim que um local escatol�gico torna-se ponte para a coes�o de uma identidade comunit�ria, como um lugar de mem�ria e de transmiss�o que se expande a pianos em bares e casas, com a mem�ria individual interiorizando a coletiva. Por sua vez, o antrop�logo social Paul Connerton � categ�rico ao afirmar que se essa mem�ria social realmente existe, ela est� nos corpos de um ritual comemorativo.
“Nossos bra�os e pernas est�o cheios de lembran�as entorpecidas”, pontuou Marcel Proust, escritor que melhor investigou os caminhos m�gicos da mem�ria. Para al�m de t�cnica que permite a execu��o de um instrumento, a mem�ria-h�bito � consequ�ncia de um afeto anterior convertido em uma mem�ria carregada nas m�os, ativando conhecimentos e atualizando tradi��es.
Um passado inesgot�vel
Milton e Wagner entenderam cedo que um m�sico � portador de um passado inesgot�vel, mas tamb�m tinham em comum um desejo de dar novas cores a harmonias e acordes do rico cancioneiro brasileiro e internacional. Talento e inventividade que permitiam a Wagner repassar a forma��o e arranjos dos grupos que se apresentavam no Clube Trespontano a Bituca, que esperava no banco da pra�a, impedido de entrar por ser negro – at� que Francisco se rebelou contra a discrimina��o. Ou mesmo nas madrugadas p�s-show do Berimbau Trio no Edif�cio Maletta, em que treinavam vocais caminhando sobre os trilhos da capital mineira em 1964, com Tr�s Pontas e Alfenas ficando mais distantes.
Mas as novas gera��es dos Tiso tamb�m tomavam assento nesse trem movido a amizade e m�sica. As fichas t�cnicas dos discos s�o um bom retrato de como o Clube da Esquina incorporava n�o apenas vertentes diversas do erudito ao popular (de Radam�s, Gaya e Paulo Moura a Guilherme Arantes), mas igualmente familiares e amigos n�o profissionais. Na constela��o de imagens do encarte do Clube da Esquina II, l� est� uma foto de Walda, Chico, filhos e o cachorro Beto, pra quem Bituca mandava cartas em sua primeira viagem aos Estados Unidos, com detalhes das cachorrinhas americanas.
Temas como Ponta de areia e Paula e Bebeto t�m as vozes infantis dos ca�ula dos Tiso Veiga, Andr� Luiz e Marco Val�rio, al�m do primo R�bio, o menino que revelou a Milton Nascimento que ele continha “Minas” dentro de seu pr�prio nome. Isaura Tiso, irm� de Wagner, de quem Bituca foi padrinho de casamento, � voz recorrente em temas como Saudade dos avi�es da Panair, Casamiento de negros e Peixinhos do mar junto ao Falta de Couro, coral de amigos afetivamente agregados onde se leem nomes como Keller Veiga, C�ssio Tiso, Tavinho Bretas, Chico Canela e tantos companheiros dessa estrada que nem sempre deixa rastros.
Em outra imagem de fam�lia v�-se um time de futebol onde est�o nomes do Clube e da m�sica, como Toninho Horta, Wagner, Fernando Brant, Murilo Antunes e Tunai, entre outros rostos conhecidos e desconhecidos. Esse registro consagra dois epis�dios. Na grava��o do �lbum Sentinela, de 1980, Milton pediu refor�o do Falta de Couro para os vocais. Depois de uma noitada madrugada adentro no lend�rio bar Panorama, em Belo Horizonte, um grupo ecl�tico, que inclu�a o jogador Reinaldo, Gonzaguinha e v�rios primos Tiso-Veiga, rumou de �nibus direto para os est�dios Transam�rica, no Rio de Janeiro.
Registros de Milton Nascimento no �lbum da fam�lia Tiso (foto: Wagner Tiso/Acervo de fam�lia )
Ao final das grava��es, Chico Buarque convidou a turma para um churrasco e torneio de futebol em sua pr�pria casa. A equipe do astro carioca – que j� se enturmara com o Clube tanto no lend�rio show do Para�so, em Tr�s Pontas (1977), quanto nas grava��es do �lbum duplo de 1978 – estava paramentada de uniforme e entrosada para a disputa. A turma do Sentinela acabou rendendo dois times ressaqueados e sem camisa. Mas um deles, com o craque alvinegro e os bons de bola Wagner e Marden Veiga, desequilibrou e sagrou-se campe�o. O trof�u ficou com Wagner; as lembran�as, com cada um dos convocados para aquela viagem.
“Algu�m que vi de passagem, numa cidade estrangeira, lembrou os sonhos que eu tinha e esqueci sobre a mesa”, diz a letra de Ronaldo Bastos. Assim como atestam tantos outros historiadores, David Lowenthal afirma que o passado tornou-se um pa�s estrangeiro, visto que algo parece ter se rompido na forma como o presente ret�m e se inspira num passado cada vez mais distante e fragmentado. Mas por que recordar e comemorar o Clube da Esquina, em tempos nos quais a celebra��o incessante corre o risco de petrifica��o, com a efem�ride tornando-se mais importante que a pr�pria obra?
A resposta estaria em seu pr�prio cancioneiro, pela rela��o complexa e intensa como se relaciona com um passado indeterminado, fugidio e polif�nico. Ao final de Um gosto de sol reaparece o tema orquestral de Cais, numa conex�o subterr�nea de tempos e lugares – fun��o que os arranjos de Wagner desenham ao longo de v�rios discos. O Clube encarou tamb�m o desafio de questionar o fechamento do horizonte pol�tico (sempre a nos rondar) tanto pela palavra direta e cren�a num povo que resiste quanto pela imagina��o, reivindicando a utopia para colher frutos no quintal. Com olhos de quimera, os narradores das can��es viajam por um Brasil profundo e de um povo invisibilizado, por matas, rituais religiosos, festas rurais e de rua, invocando as Minas de Aleijadinho a Drummond.
O alcance do Clube da Esquina
O alcance do discurso do Clube da Esquina, assim, n�o est� cifrado ou fechado num tempo delimitado pela hist�ria, mas potencializado nas mem�rias e lembran�as que transbordam qualquer tentativa de narrativa �nica exatamente pela infinidade de experi�ncias e sujeitos que juntos compuseram umas das p�ginas mais bonitas da m�sica brasileira. Sem discursos totalizantes ou restritivos de autoridade – grande li��o para o presente –, est� inscrito na mem�ria dos corpos e se recria diariamente nas ruas de forma ativa e coletiva.
Atravessado por temporalidades m�ltiplas e pelo pr�prio papel do esquecimento para as identidades, o Clube da Esquina parece sempre evocar um lugar m�gico, como um quintal ou um campo de futebol com suas linhas que o separam da vida comum – “a vida fica l� fora”, diria Brant –, em um tempo suspenso, como na espera de um p�nalti. E sobre o lance que abre este texto, segundo Wagner Tiso, testemunha ocular, Milton chutou na trave.
*Jo�o Marcos Veiga � jornalista, doutorando em hist�ria social da cultura pela UFMG e neto de Walda Tiso Veiga