(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Porta para o inferno: livros contam rotina de horrores em Auschwitz

Obras chocantes contam hist�rias de um m�dico e de pai e filho entre a crueldade e a morte no maior local de exterm�nio de milhares de pessoas pelos nazistas


postado em 06/03/2020 06:00 / atualizado em 06/03/2020 08:46


H� 75 anos, em 1945, ocorreu a liberta��o do campo de concentra��o de Auschwitz, na Pol�nia, o maior dos centros de exterm�nio da Alemanha nazista, onde 1,1 milh�o de pessoas, em sua maioria judias, foram brutalmente assassinadas durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, o mundo assiste a uma crescente onda de �dio e antissemitismo, o que refor�a a necessidade de combater incansavelmente a barb�rie. Em 2020, chega pela primeira vez ao Brasil o livro �ltima parada: Auschwitz – Meu di�rio de sobreviv�ncia, do m�dico judeu Eddy de Windy (1916-1987), escrito integralmente em meio � trag�dia.

A imagem de capa do livro mostra a entrada sombria e morta de Auschwitz, onde est� escrito em alem�o: Arbeit macht frei (O trabalho liberta). Mas s�o os relatos de dor, viol�ncia e maldade que realmente impressionam o leitor. Escrita em terceira pessoa, a obra de Eddy de Wind usa o personagem Hans para contar a sua pr�pria hist�ria, de tanta mis�ria e sofrimento, mas tamb�m de amor � vida e � esposa, Friedel, que conheceu enquanto atuava como volunt�rio no campo de concentra��o de Westerbork. Hans, aos 27 anos, era m�dico e chefe de sua se��o, e Friedel, de 18, era enfermeira. “Pois s�s n�o somos nada / mas juntos somos um”, chegou a escrever em um poema para a amada.

Antes da guerra, Eddy costumava velejar em lagos e canais ao redor da cidade de Haia. No fim dos anos 1930, tocava clarineta e se apresentava regularmente em uma banda de jazz. Foi o �ltimo estudante judeu a se formar em medicina, antes que os alem�es fechassem a universidade, em Leiden. Em 1943, ele chegou a Westerbork, local de tr�nsito para deporta��o de judeus, localizado no Leste da Holanda, com o objetivo de trabalhar para que sua m�e fosse poupada do Holocausto, sem saber que ela j� havia sido enviada a Auschwitz. Pouco tempo depois, Eddy e Friedel tamb�m s�o transportados em um trem de carga para aquele campo de concentra��o.

“A moral nacional-socialista, mais o �lcool necess�rio, transformavam a pessoa num dem�- nio. Na verdade, isso � uma ofensa ao dem�nio, pois ele � um vingador justo. S� tortura quando a puni��o � merecida. O nazista se lan�a sobre incont�veis v�timas sem qualquer justificativa.” Dessa maneira, Eddy descreve um pouco do comportamento dos soldados da SS, organiza��o paramilitar ligada a Adolf Hitler, que os receberam em Auschwitz. No local, o m�dico judeu foi tatuado com o n�mero 150822, marca��o que passaria a ser sua identidade. Eddy foi transferido para o bloco 9, como parte da equipe m�dica que trataria de presos pol�ticos do regime alem�o, enquanto Friedel foi para o bloco 10, onde eram feitos experimentos de esteriliza��o.

A partir de ent�o, o autor narra as terr�veis experi�ncias vividas por ele e os demais prisioneiros dentro dos campos de concentra��o. Russos, poloneses, holandeses, h�ngaros, gregos, franceses (somente para citar algumas nacionalidades), entre eles ciganos, judeus e comunistas, eram chicoteados e espancados diariamente, mulheres eram estupradas pelo Ex�rcito nazista, enquanto crian�as tinham as vidas ceifadas com extrema crueldade. Cerca de 14 horas por dia, eles se viam obrigados a trabalhar em minas, a dragar cascalhos com �gua acima da cintura, a peneirar pavimenta��o, a construir estradas e a descarregar caminh�es, enquanto sofriam com xingamentos e humilha��es. Mesmo os doentes e debilitados n�o escapavam dos castigos.

As infec��es eram constantes, sendo a escarlatina a mais comum. As pessoas ficavam com a pele totalmente irritada, al�m de sentir muitas dores por todo o corpo. O sono era encarado como uma liberta��o daquele inferno, mas praticamente n�o havia descanso. Isso por conta da in�til batalha contra piolhos e pulgas. “Adormecer, acordar, co�ar. E ter que se controlar, ficar quieto. Deixar os piolhos se encarapitarem. Dormir de novo, acordar de novo”, dizia Eddy. As feridas se transformavam em abcessos. Eram obrigados a levantar �s 4h, tomavam banho praticamente sem �gua, n�o havia sab�o, e usavam a pr�pria camisa como toa- lha. Alinhavam-se e aguardavam, de p�, a ordem para ir ao canteiro de obras.
Os prisioneiros recebiam um litro de sopa por dia (por sopa entenda-se �gua com algumas beterrabas boiando ou nabo picado) e uma por��o de p�o. Duas vezes por semana ganhavam 40 gramas de margarina – feita de gordura e produto sint�tico para dar liga – e salsicha com carne de cavalo. A dieta n�o passava de 1.500 calorias ao dia, insuficiente at� mesmo para um corpo em repouso. Os que n�o morriam por desnutri��o ou doen�as tinham que cavar suas pr�prias covas antes de ser metralhados pelos nazistas. Isso quando escapavam da c�mara de g�s.

Apesar das duras regras e da viol�ncia imposta �queles que as desobedeciam, Eddy fazia de tudo para se encontrar com Friedel. Certa vez, recebeu uma carta da esposa, que contava sobre os procedimentos no bloco destinado �s mulheres. Ela descrevia casos em que garotas eram colocadas em um campo de ondas el�tricas ultracurtas, para que seus ov�rios fossem queimados. O objetivo dos soldados da SS e da Gestapo era descobrir t�cnicas de esteri- liza��o. Al�m disso, prisioneiras recebiam inje��es no �tero, com uma subst�ncia parecida com cimento. Outro m�todo era injetar sangue infectado com mal�ria em mulheres judias.

Apesar de ter um personagem principal, que viveu na pele o pior da maldade humana, �ltima parada: Auschwitz – Meu di�rio de sobreviv�ncia fala sobre a morte de milh�es de pessoas inocentes, sobre sofrimento, mutila��o e medo. � imposs�vel n�o se entristecer com uma hist�ria t�o pesada, carregada de �dio e maldade. Por�m, � necess�rio conhec�-la, principalmente a partir do ponto de vista de quem sobreviveu � guerra. Como afirma o pr�prio autor: “N�o podia ceder ao desejo de fugir de toda tens�o. Fugir, n�o; lutar. Sempre continuar lutando. ‘Pois s�s n�o somos nada’. Era poesia. A vida continuava”.

Amor que nazistas que n�o destru�ram

O amor incondicional entre pai e filho � retratado em O garoto que seguiu o pai para Auschwitz, do bi�grafo, historiador e doutor em arqueologia Jeremy Dronfield, que conta a hist�ria de Gustav e Fritz Kleinmann, sobreviventes do Holocausto, depois de escravizados por mais de cinco anos em campos de concentra��o da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. No pref�cio,  o autor pede que o livro seja lido como romance. Afinal, s�o incont�veis as situa��es em que os personagens provam sua lealdade, carinho e respeito um pelo outro. Por�m, o leitor poder� perceber que � muito dif�cil seguir a sugest�o, pois o enredo � capaz de superar qualquer hist�ria de terror. A crueldade imposta pelo Terceiro Reich conseguia violar todos os direitos b�sicos imagin�veis de um ser humano, e o livro mostra muito bem isso.

Ap�s o Ex�rcito de Adolf Hitler invadir Viena, capital da �ustria, pai e filho s�o separados do restante da fam�lia e transferidos com os primeiros judeus para o campo de Buchenwald, na Alemanha. Eles sofrem com a fome, o frio e o infinito arsenal de maldades dos soldados da SS. Al�m da saudade de casa e da falta de not�cias dos familiares, Gustav e Fritz veem a morte de muito perto, mas se apegam, dia ap�s dia, � esperan�a de serem livres novamente.

Para contar essa hist�ria, o autor aborda o contexto hist�rico e cultural da �poca e tamb�m utiliza anota��es que Gustav fez em seu di�rio dentro dos campos de concentra��o. O exerc�cio de escrever era feito em segredo, nem mesmo o filho sabia, mas o ajudava a manter a sobriedade diante do caos. Em certa ocasi�o, os nazistas determinaram a transfer�ncia de Gustav para Auschwitz, o que poderia significar definitivamente o fim de sua vida. Em um ato heroico, Fritz enfrenta o comando e pede para ir junto com o pai.

Enquanto milhares de judeus e demais condenados morriam todos os dias, v�timas de enforcamento, doen�as, desnutri��o e de atos perversos dos nazistas, como c�maras de g�s e inje��es letais, pai e filho tentavam n�o chamar a aten��o dos guardas, que atiravam para matar por puro gosto. Havia, inclusive, premia��es aos oficiais que tirassem mais vidas nos campos de concentra��o.

Ao lado de amigos que encontraram durante os anos do Holocausto, Gustav e Fritz ficariam marcados para sempre pelas cicatrizes do sofrimento e pelo cheiro de morte que se espalhava pelas pris�es. Sem dignidade, sendo tratados como lixo, foram for�ados a trabalhar em condi��es subumanas, onde sucumbir a algum tipo de enfermidade era o menor dos problemas.

Al�m da coragem demonstrada por sobreviventes do nazismo em outras publica��es sobre o tema, a obra chama a aten��o pelo tempo em que Gustav e Fritz sobreviveram. A valentia com que enfrentaram o c�rcere, a f� inabal�vel na vida e a eterna resili�ncia foram fundamentais ao longo daquele per�odo. N�o bastava sorte para escapar, era preciso um milagre, exatamente como o que aconteceu com os Kleinmann durante a guerra.

TRECHO DO LIVRO �LTIMA PARADA: AUSCHWITZ

%u201CAs pessoas ent�o iam primeiro para a sala de espera A e depois passavam por um corredor estreito at� o c�modo B. L� havia todo tipo de m�ximas nas paredes, como: %u2018Mantenha-se limpo%u2019, %u2018N�o esque�a seu sab�o%u2019, para que as pessoas at� o �ltimo instante tivessem a ilus�o de que estavam entrando em um lavat�rio. Naquela sala B eles tinham que se despir completamente. Em todos os quatro cantos havia um soldado da SS com uma metralhadora. Mas eles nunca precisavam usar, todas as pessoas eram tranquilas. Mesmo aquelas que compreendiam que iriam morrer ali sentiam a inutilidade de resistir. Se n�o h� perspectiva de lutar contra a morte, que o sofrimento seja o mais breve poss�vel. [...] Assim, toda a tropa entrava no %u2018lavat�rio%u2019. Era um c�modo grande, iluminado artificialmente. Tr�s fileiras de chuveiros no teto. Quando todos estavam dentro, a grande porta batia. [...] O g�s ficava em latas. Nas latas havia gr�nulos, do tamanho de ervilhas, provavelmente cristais condensados do g�s, cianureto de hidrog�nio. Havia buracos no teto entre os chuveiros. O soldado da SS jogava o conte�do das latas por esses buracos e, em seguida, fechava de novo rapidamente. Ent�o era gerado o g�s e em cinco minutos estava tudo acabado.%u201D




�LTIMA PARADA: AUSCHWITZ MEU DI�RIO DE SOBREVIV�NCIA
De Eddy de Wind
Editora Planeta
221 p�ginas 
R$ 24,60 (livro) 
R$ 23,37 (kindle)   

O GAROTO QUE SEGUIU O PAI PARA AUSCHWITZ
De Jeremy Dronfield
Editora Objetiva
354 p�ginas
R$ 47
R$ 15,96 (kindle) 
 




receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)