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Estado de Minas PENSAR

Memorial S�rgio Sant'Anna: escritores e cr�ticos analisam legado

Escritores e cr�ticos homenageiam um dos gigantes da literatura brasileira: o carioca S�rgio Sant'Anna, morto por COVID-19. Ele deixou obras que exploraram a rela��o das letras com o teatro e as artes visuais


postado em 15/05/2020 04:00 / atualizado em 15/05/2020 09:00

O escritor Sérgio Sant'Anna morreu aos 78 anos, vítima do novo coronavírus(foto: Chico Cerchiaro)
O escritor S�rgio Sant'Anna morreu aos 78 anos, v�tima do novo coronav�rus (foto: Chico Cerchiaro)

“Abdicar das palavras e fazer da vida um livro n�o escrito que se escreve a cada momento”, desejou o escritor Carlos Santeiro, morador de Copacabana, rec�m-chegado de Minas Gerais. Ainda bem que o carioca S�rgio Sant’Anna ignorou a vontade de seu personagem em Um romance de gera��o (1980) e n�o renunciou �s palavras. Morto no in�cio da semana pela COVID-19 no Rio de Janeiro, aos 78 anos, Sant’Anna n�o precisou vestir o fard�o da Academia Brasileira de Letras para tecer uma obra imperme�vel ao tempo. A destreza no manejo da linguagem, a interse��o com as outras artes, o tes�o da escrita est�o impressos em cada uma das narrativas que deixou como b�ssola e legado.  

“S�o muitos os ensinamentos que Sant’Anna deixa para quem come�a a escrever: entregar-se � escrita com paix�o e lucidez ao mesmo tempo, sem se render a f�rmulas e conven��es; experimentar com ousadia a linguagem e suas fronteiras; ser contempor�neo de seu pr�prio tempo e, simultaneamente, reinvent�-lo pela imagina��o”, acredita a escritora mineira Maria Esther Maciel.

Autor de Escrever fic��o: um manual de cria��o liter�ria, o ga�cho Luiz Ant�nio de Assis Brasil recomenda aos que come�am: “Sugiro aprender duas coisas com S�rgio Sant’Anna: em primeiro lugar, a clareza do texto e das hist�rias, que abominam todo ran�o, toda literatice. Em segundo lugar, a sabedoria e eleg�ncia na constru��o do subtexto – essa inst�ncia invis�vel e dram�tica que verdadeiramente � capaz de atingir o leitor.” 

Por meio de depoimentos e an�lises de colegas e cr�ticos, esta edi��o especial do Pensar homenageia um dos gigantes da literatura brasileira. Em 50 anos de atividade liter�ria, iniciada em Belo Horizonte em 1969 com a publica��o de O sobrevivente, S�rgio Sant’Anna escreveu contos, novelas, poemas, romances. Viveu para escrever. E a escrita, potente e porosa, sobreviver� � morte.

Sua editora, Companhia das Letras, informou que lan�ar� um livro conclu�do pelo escritor poucos dias antes de ser internado e seguir� com as reedi��es de t�tulos – a mais recente � Amazona, lan�ado originalmente em 1986. Os pr�ximos s�o Notas de Manfredo Rangel, rep�rter (A respeito de Kramer), posf�cio assinado por Gustavo Pacheco, e Breve hist�ria do esp�rito, com posf�cio de Jos� Geraldo Couto.

“Al�m da singularidade, o que mais me impressiona no S�rgio Sant'Anna � a inquieta��o permanente, que lhe permitiu transitar entre os g�neros liter�rios e buscar as mais diversas formas de intersec��o (ou colis�o) entre eles, bem como as intera��es entre a literatura e outras artes: o teatro, a m�sica, o cinema. � como se sempre o texto liter�rio quisesse ir al�m de si pr�prio, romper seus limites”, afirma Jos� Geraldo.

Ainda faltam alguns, entre eles os Contos e novelas reunidos, editados em capa dura em 1997, com a assinatura do autor na primeira p�gina. Quem sabe um dia, quando o Brasil voltar a ter leitores em n�mero condizente com um pa�s continental. 

(Vai demorar.) 

Enquanto isso, seguimos as pistas do mestre.    

Em Um conto obscuro, do magn�fico O voo da madrugada, Sant’Anna decodifica o pr�prio DNA e indica o itiner�rio da inspira��o at� o ponto final. � um caminho perfumado com “aromas de textos n�o escritos, ideias perdidas para sempre, composi��es, meandros, nuan�as mel�dicas, a materializa��o de ilus�es e fantasias, o dom da gra�a e da poesia, a l�ngua est� a�, m�e inesgot�vel, � espera de que voc� beba nela, qualquer impossibilidade � toda sua, este ser que n�o pode ser nenhum outro, abismado, verdadeiramente obscuro � o contista”, tra�ado por um homem “comum com a sua ang�stia, um rosto sofrido e an�nimo na multid�o” e que vive sob a amea�a de “um fracasso t�o mortificante que poderia ser fatal, um algoz interno que diz: ‘Voc� est� acabado, cara’.”

Voc� n�o acabou, S�rgio. 

Basta abrir as p�ginas certas dos livros e visit�-lo.

Obras reunidas de S�rgio Sant'Anna

  • O sobrevivente (1969)
  • Notas de Manfredo Rangel, rep�rter (A respeito de Kramer, 1973)
  • Confiss�es de Ralfo (uma autobiografia imagin�ria, 1975)
  • Simulacros (1977)
  • Circo (Poema permutacional para computador, cart�o e perfuratriz, 1980)
  • Um romance de gera��o (1981)
  • O concerto de Jo�o Gilberto no Rio de Janeiro (1982)
  • Junk-Box (Uma tragicom�dia nos tristes tr�picos, 1984)
  • Amazona (1986)
  • A senhorita Simpson (hist�rias, 1989)
  • A trag�dia brasileira (romance-teatro, 1987)
  • Breve hist�ria do esp�rito (1991)
  • O monstro (tr�s hist�rias de amor, 1994)
  • Um crime delicado (1997)
  • O voo da madrugada (2004)
  • O livro de Praga: narrativas de amor e arte (2011)
  • P�ginas sem gl�ria (dois contos e uma novela, 2012)
  • O homem-mulher (contos, 2014)
  • O conto zero e outras hist�rias (2016)
  • Anjo noturno (narrativas, 2017)
  • Colet�neas
  • Contos e novelas reunidos (1997)
  • 50 contos e tr�s novelas (2007) 
  • O sobrevivente (1969)
  • Notas de Manfredo Rangel, rep�rter (A respeito de Kramer, 1973)
  • Confiss�es de Ralfo (uma autobiografia imagin�ria, 1975)
  •  Simulacros (1977)
  • Circo (Poema permutacional para computador, cart�o e perfuratriz, 1980)
  • Um romance de gera��o (1981)
  • O concerto de Jo�o Gilberto no Rio de Janeiro (1982)
  • Junk-Box (Uma tragicom�dia nos tristes tr�picos, 1984)
  • Amazona (1986)
  • A senhorita Simpson (hist�rias, 1989)
  • A trag�dia brasileira (romance-teatro, 1987)
  • Breve hist�ria do esp�rito (1991)
  • O monstro (tr�s hist�rias de amor, 1994)
  • Um crime delicado (1997)
  • O voo da madrugada (2004)
  • O livro de Praga: narrativas de amor e arte (2011)
  • P�ginas sem gl�ria (dois contos e uma novela, 2012)
  • O homem-mulher (contos, 2014)
  • O conto zero e outras hist�rias (2016)
  • Anjo noturno (narrativas, 2017)

Colet�neas de S�rgio Sant'Anna

  • Contos e novelas reunidos (1997)
  • 50 contos e tr�s novelas (2007) 

(foto: Quinho)
(foto: Quinho)


Como ele contou

“A ideia vem como um lampejo sem dor. Mas botar no papel, escrever, reescrever... � sofrido.”

“Para mim, a literatura � um jogo, com muito prazer para ambos: o escritor e o leitor.”

“O escritor est� sempre na escuta de seu subconsciente.”

“Todo livro tem o lado do fracasso: aquilo que voc� poderia ter feito e n�o fez. Qualquer pesquisador enlouqueceria se abrisse uma das minhas pastas e lesse os rascunhos. H� em cada um tantas pontas que, se puxadas, seria poss�vel extrair quatro ou cinco livros dife- rentes. Mas eu precisei esco-
lher. E toda escolha implica perda.”

“Simulacros (de 1977) foi todo escrito no tribunal  em hor�rio de trabalho e com papel timbrado, o que configura crime de peculato. Mas tenho a impress�o de que, 20 anos depois, esse crime j� 
prescreveu.”   

“As hist�rias precisam ter suas l�gicas pr�prias, ainda que n�o correspondam � realidade. Assim, todas as hist�rias s�o verdadeiras.”

“Os personagens t�m a ver comigo, mas n�o s�o autobiogr�ficos. Eles representam, na verdade, as coisas que me impressionam, as minhas reflex�es, os sentimentos mais profundos dentro de mim.”

“O gozo da escrita � insepar�vel do gozo carnal.”

“Sempre gostei de mostrar o l�rico e o engra�ado.”

“N�o tenho hor�rios r�gidos, mas gosto de escrever pela manh�, logo que a cabe�a desperta. Sento-me na cadeira de balan�o e vou em frente at� a hora em que me canso.” 

“Quando canso de uma hist�ria come�o a escrever outra. Tenho que estar sempre com o desejo aceso. Se voc� perde o desejo, a hist�ria n�o sai.”

. Declara��es ao rep�rter Jos� Rezende Jr. na s�rie A arte de escrever, publicada pelo Correio Braziliense em dezembro de 1997  


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