
“Eisejuaz” � o quarto romance de Gallardo (1931-1988), cuja obra permanecia in�dita no Brasil at� agora. Nos anos 2000, o cr�tico e escritor Ricardo Piglia incluiu o livro da tamb�m cronista e jornalista entre os 24 t�tulos de sua biblioteca essencial de cl�ssicos da literatura argentina. Parece muito oportuna a publica��o dessa narrativa nos dias de hoje, exatos cinquenta anos depois de sua primeira edi��o.
Eisejuaz � um homem cindido entre dois mundos, e nenhum deles corresponde de forma integral � sua identidade: n�o mais wich�, jamais um branco. Ao longo do texto, seus nomes s�o tamb�m errantes: “Lisandro Vega”, “Eisejuaz”, “Este Tamb�m”, “�gua Que Corre”. Todos se referem a ele, nenhum adere inteiramente. Inst�vel � sua pr�pria condi��o, obrigado que foi a mudar de cultura, l�ngua e religi�o. Antigo dono da terra e tornado estrangeiro no pr�prio lugar por for�a da viol�ncia do colonizador, o nativo agora � constantemente desqualificado: “J� vai cair no �lcool, no fumo, na coca, no jogo, ficar doente, sem trabalho. Por ser infiel, traidor, mau crist�o”, afirma outro personagem a seu respeito.
Ind�genas ali s�o vistos como selvagens e b�bados, e sua presen�a interessa apenas para produzir riquezas ou consagrar uma imagem exotizante: arco, flecha e chirip� – ret�ngulo de pano passado entre as coxas e preso � cintura, t�pico de cavaleiros. De resto, o personagem surge descrito pelo homem branco em sua condi��o de for�a descomunal, referido como algu�m com peito de touro e pesco�o de boi, em evidente processo de animaliza��o. Desde os relatos dos primeiros viajantes, os ind�genas eram figurados como bichos, seres desprovidos de alma, como se pode constatar na pr�pria na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, referindo-se �quela gente “bestial e de pouco saber”.
O encontro com essa alteridade radical poderia render um belo ensaio antropol�gico, uma pesquisa etnogr�fica ou mesmo um relato jornal�stico. Mas Gallardo vai al�m, e empreende constru��o bem mais elaborada, que extrapola o cunho referencial e mergulha no denso universo lingu�stico do personagem. Como afirma a tradutora Mariana Sanchez, trata-se de uma l�ngua espanhola deslocada, enviesada, porque fruto do processo de transcultura��o.
Lemos um texto escrito que encena uma situa��o de fala, provocando intenso efeito de oralidade por meio de in�meros recursos po�ticos – aforismos, repeti��es, adapta��o de palavras. O pulo do gato reside tamb�m na escolha do foco narrativo, que permite enxergar o mundo atrav�s de um �ngulo espec�fico, o do ind�gena, e assim adentrar sua consci�ncia. E o que ele v� � um universo de atraso, mis�ria e ignor�ncia, de um povo que literalmente morre de fome no mato e � comprado “antes mesmo de trocar os dentes”.
Lemos um texto escrito que encena uma situa��o de fala, provocando intenso efeito de oralidade por meio de in�meros recursos po�ticos – aforismos, repeti��es, adapta��o de palavras. O pulo do gato reside tamb�m na escolha do foco narrativo, que permite enxergar o mundo atrav�s de um �ngulo espec�fico, o do ind�gena, e assim adentrar sua consci�ncia. E o que ele v� � um universo de atraso, mis�ria e ignor�ncia, de um povo que literalmente morre de fome no mato e � comprado “antes mesmo de trocar os dentes”.
Em texto de 2018 sobre racismo e direitos humanos, Daniel Munduruku afirma que a na��o brasileira foi parida � for�a, aludindo a uma dor que deveria morar dentro de todos n�s. O escritor de origem ind�gena alude � situa��o – comum aos povos origin�rios das Am�ricas – de viola��o dos corpos das mulheres, o que teria gerado tristes frutos. Entrar no universo de Eisejuaz permite um di�logo com a imensa for�a represada da cultura ind�gena, em di�logo com esse outro, ainda que permeado de sil�ncios e lacunas. A plasticidade do barro e a firmeza do capim, mat�rias que definem o personagem, segundo suas pr�prias palavras, viram um saber a ser transmitido, transmutado aqui em verbo.
O personagem dialoga com a natureza, com os seres da floresta, ao mesmo tempo em que escuta vozes e tem vis�es que lhe trazem ensinamentos, pois cr� ter uma miss�o divina a cumprir. Eisejuaz se dirige constantemente a Deus, que, no entanto, permanece indiferente �s suas s�plicas. Transitando entre o discurso b�blico e o saber das matas, evidencia o imagin�rio sincr�tico resultante de todo o processo colonizador.
Por outro lado, � triste sua l�ngua, uma vez que se expressa no idioma daquele que o submete. No texto, s�o in�meras as vezes em que a fala vem atravessada por negativas: “Nada n�o respondi”. “Nada n�o falei.” “Ningu�m n�o poder�.” Ele � algu�m que morde a pr�pria l�ngua, que sabe ler, mas n�o o faz. A recusa de dizer e a ina��o surgem como formas de enfrentar um mundo hostil, que s� oferece opress�o e indiferen�a. Diante do silenciamento imposto a esses indiv�duos, a op��o de interromper o pr�prio discurso talvez seja uma pequena vit�ria. �s vezes, n�o falar � resistir.
Por outro lado, � triste sua l�ngua, uma vez que se expressa no idioma daquele que o submete. No texto, s�o in�meras as vezes em que a fala vem atravessada por negativas: “Nada n�o respondi”. “Nada n�o falei.” “Ningu�m n�o poder�.” Ele � algu�m que morde a pr�pria l�ngua, que sabe ler, mas n�o o faz. A recusa de dizer e a ina��o surgem como formas de enfrentar um mundo hostil, que s� oferece opress�o e indiferen�a. Diante do silenciamento imposto a esses indiv�duos, a op��o de interromper o pr�prio discurso talvez seja uma pequena vit�ria. �s vezes, n�o falar � resistir.
Stefania Chiarelli � professora de literatura brasileira na UFF e coorganizou o volume “Falando com estranhos – O estrangeiro e a literatura brasileira” (7letras, 2016)
TRECHOS
Digo: Como � que � isso? Por que � que � isso? Digo: Algu�m me responda. Digo: Por qu�? J� se cansou meu grande cansa�o, se encheu meu pensamento de ver sofrer, de olhar coisas que n�o se pode ver. Por acaso o homem foi feito pra isso? E n�o fui fiel por acaso? N�o vim do mato pela palavra do mission�rio e vi morrer de peste aqueles que mais amei, vindos pela minha palavra? Disse algo? Pedi algo pra mim? Pedi ser chefe como pensou meu cora��o, salvar meu povo como era meu desejo, n�o passar vergonha diante dos meus como era meu direito? Por acaso eu disse: d�-me outra vez a vis�o de tua grandeza como aquele dia no hotel lavando pratos? Segurei a l�ngua e n�o dei um pio.
Anjo da anta, fa�a-me duro na �gua e na terra para aguentar a �gua e a terra. Anjo do tigre, fa�a-me forte com a for�a do forte. Anjo do xuri, deixe-me correr e esquivar, e d�-me a paci�ncia do macho que cuida da cria. Anjo do sapo cururu, d�-me cora��o frio. Anjo do gua�uet�, traga-me o medo. Anjo do porco, tire-me o medo. Anjo da abelha, ponha-me o mel no dedo. Anjo do aracu�, que eu n�o me canse de dizer Senhor. Digam-me. Venham aqui. Acendam seus fogos aqui. Fa�am suas casas aqui, no cora��o de Eisejuaz, anjos mensageiros do Senhor. Anjo do tatu, pra descer bem fundo, para saber, couro de osso para aguentar. Anjo da serpente, sil�ncio. Venham, digam-me, acendam seus fogos, fa�am suas casas, pendurem suas redes no cora��o de Eisejuaz.

”Eisejuaz”
• Sara Gallardo
• Tradu��o de Mariana Sanchez
• Relic�rio Edi��es
• 230 p�ginas
• R$ 49,90
• Pr�-venda no site da editora: relicarioedicoes.com
Afinidades com Juan
Rulfo e Guimar�es Rosa
Mart�n Kohan
Toda fic��o nos convida a suspender nossas cren�as para p�r, no seu lugar, um sistema de cren�as diferente. O pacto de leitura de “Eisejuaz” parece, em princ�pio, proceder do mesmo modo. No entanto, n�o demoramos para perceber que estamos diante de um caso muito distinto, que estamos diante de um livro excepcional. Porque, uma vez que, como leitores, lan�amos m�o dessa habitual suspens�o de certezas pr�vias, uma vez que aceitamos descrer no j� sabido para poder crer de outro modo, nesse espa�o agora despojado “Eisejuaz” prefere n�o p�r nada.
As cren�as demovidas n�o encontrar�o seu substituto no mundo da fic��o. O que “Eisejuaz” oferece em troca � um estado de vacila��o duradouro, que n�o se poder� – nem se desejar� – resolver. N�o se trata, evidentemente, daquele tipo de vacila��o pr�prio do g�nero fant�stico ou do maravilhoso, que, quando este livro � publicado pela primeira vez, em 1971, j� est� t�o fortemente codificado na literatura argentina que pode at� equivaler a uma certeza.
As cren�as demovidas n�o encontrar�o seu substituto no mundo da fic��o. O que “Eisejuaz” oferece em troca � um estado de vacila��o duradouro, que n�o se poder� – nem se desejar� – resolver. N�o se trata, evidentemente, daquele tipo de vacila��o pr�prio do g�nero fant�stico ou do maravilhoso, que, quando este livro � publicado pela primeira vez, em 1971, j� est� t�o fortemente codificado na literatura argentina que pode at� equivaler a uma certeza.
O estado de vacila��o em que “Eisejuaz” nos coloca e nos mant�m � sem d�vida de outro tipo. Porque sua mat�ria �, justamente, feita de cren�as, e seu dilema, em grande medida, � discernir em que se pode acreditar ou n�o. Sara Gallardo concebeu este romance a partir de viagens que fez � prov�ncia de Salta, Noroeste argentino, no final dos anos 1960. Se essa experi�ncia teve o poder de suscitar a escrita deste livro � sobretudo porque encontrou nela uma nova possibilidade para a l�ngua. Trata-se desse “idioma meio inventado” que t�o brilhantemente se nutre do laconismo parcimonioso da fala ind�gena, e que t�o brilhantemente Sara Gallardo transforma em outra coisa; essa l�ngua que “a princ�pio parece dif�cil de entender”, mas que “logo se aprende”; essa �nfase insistente na nega��o (“nada n�o havia”, “nada n�o falei”, “tampouco nem ouvia”, “nenhum n�o arredou”, “ningu�m n�o poder�”) e essa forma incomum dos reflexivos (“n�s se adoece”, “todos se vieram”, “aqui me estou”), t�o profundamente existencial e t�o prodigiosamente liter�ria.
A afinidade que a cr�tica liter�ria apontou entre “Eisejuaz” e a literatura de Juan Rulfo ou de Jo�o Guimar�es Rosa encontra ali seu fundamento: o qu�o estimulantes as falas regionais podem ser para a explora��o de novas formas liter�rias, desde que liberadas da pasteuriza��o mim�tica do regionalismo costumbrista. Entretanto, existe em Sara Gallardo uma originalidade t�o radical que o mais justo seria inscrev�-la nessa categoria da literatura latino-americana dos livros que n�o se parecem com nada, que n�o se encaixam nem mesmo no c�none da heterodoxia finalmente estabelecida, e que n�o aparecer�o nem ser�o lembrados sem deixar de ser uma descoberta.
A afinidade que a cr�tica liter�ria apontou entre “Eisejuaz” e a literatura de Juan Rulfo ou de Jo�o Guimar�es Rosa encontra ali seu fundamento: o qu�o estimulantes as falas regionais podem ser para a explora��o de novas formas liter�rias, desde que liberadas da pasteuriza��o mim�tica do regionalismo costumbrista. Entretanto, existe em Sara Gallardo uma originalidade t�o radical que o mais justo seria inscrev�-la nessa categoria da literatura latino-americana dos livros que n�o se parecem com nada, que n�o se encaixam nem mesmo no c�none da heterodoxia finalmente estabelecida, e que n�o aparecer�o nem ser�o lembrados sem deixar de ser uma descoberta.
Aquela viagem que Sara Gallardo fez a Salta tamb�m a colocou em contato com um ambiente em que linhas sociais muito diversas se intercruzam, se interferem, convergem e se refratam ou se perseguem de modo muito particular. E “Eisejuaz” parece responder em grande medida a essa percep��o: ali est� o universo ind�gena, a presen�a da Igreja Cat�lica, os gringos que exploram e se aproveitam. A partir de que perspectiva cabe abordar a quest�o das cren�as em “Eisejuaz”? A pergunta � v�lida tanto para os personagens do romance como para seus potenciais leitores.
� poss�vel acreditar no que diz Eisejuaz? E � poss�vel acreditar no pr�prio Eisejuaz, quando diz que acredita nisso? � verdade que o mais sensato seria ver na sua postura t�o somente um del�rio ou uma farsa, a degrada��o particular de um pobre alucinado. Mas ela n�o � menos verdadeira do que os outros regimes de cren�as que aparecem no romance, mais s�lidos e estabelecidos, mais severos e institucionais: o da miss�o de S�o Francisco, da igreja norueguesa e da f� crist� n�o s�o, por si s�s, menos inveross�meis nem menos fabulosos.
� poss�vel acreditar no que diz Eisejuaz? E � poss�vel acreditar no pr�prio Eisejuaz, quando diz que acredita nisso? � verdade que o mais sensato seria ver na sua postura t�o somente um del�rio ou uma farsa, a degrada��o particular de um pobre alucinado. Mas ela n�o � menos verdadeira do que os outros regimes de cren�as que aparecem no romance, mais s�lidos e estabelecidos, mais severos e institucionais: o da miss�o de S�o Francisco, da igreja norueguesa e da f� crist� n�o s�o, por si s�s, menos inveross�meis nem menos fabulosos.
O que Eisejuaz acredita ou diz acreditar � que Deus lhe enviou sinais. E ele procede, seguindo sua figura��o de outro mundo, cada vez mais deslocado das coisas deste mundo. Elena Vinelli fala da “consci�ncia m�stica (ou psic�tica) de um �ndio mataco”, e cita uma carta de Manuel Mujica L�inez a Sara Gallardo na qual fala de “um her�i metade anjo, metade monstro”. Esta � a cis�o de Eisejuaz, se o considerarmos a partir de sua pr�pria perspectiva ou de uma perspectiva externa, se decidirmos admitir suas cren�as ou tomar dist�ncia delas: ser� um salvador ou um torturador, um santo ou um traidor, um m�stico ou um psic�tico, um anjo ou um monstro conforme se pense ou n�o que � verdade aquilo em que ele acredita, conforme se pense ou n�o que ele acredita naquilo de verdade.
Eisejuaz diz de si: “N�o tenho duas palavras”. E � verdade. Por outro lado, tem dois nomes: � “Eisejuaz, Este tamb�m” desde que foi eleito por Deus; e � Lisandro Vega, antes disso acontecer. Dois nomes tem, duas vidas tem: a que levava antes, trabalhando numa caldeira, capataz de um acampamento; e a que Deus, um dia, aparentemente lhe encomendou: salvar um homem, esperar novos sinais que possam ser enviados a ele.
Sara Gallardo havia indagado quest�es semelhantes nos livros que precedem “Eisejuaz”. Em “Enero”, seu primeiro romance, de 1958, havia um pecado indiz�vel, o medo da confiss�o diante de um padre, o ref�gio no sil�ncio, a trag�dia de uma mo�a do campo cercada de fazendeiros ricos. Em “Pantalones azules”, de 1963, � um militante cat�lico quem peca e n�o encontra a oportunidade de se confessar para um padre, at� se ver for�ado ao sil�ncio.
Em “Eisejuaz”, estes mesmos elementos (a falta, a culpa, a poss�vel reden��o, a press�o da Igreja, o sil�ncio inexor�vel) reaparecem, por�m dispostos sob uma mudan�a visceral. Porque quem faz sil�ncio � Deus. E quem espera por sua mensagem � Eisejuaz, que tomou como certos seus sinais d�bios e agora se angustia pela presen�a de seu mutismo. A metade monstruosa desse anjo, a parte psic�tica desse m�stico que � Eisejuaz talvez esteja cometendo um pecado contra o homem que ele levou para obrar sua salva��o. Mas quando grita ao Senhor “se fiz pecado contra voc�, me avise”, Deus permanece terrivelmente calado: “N�o houve resposta.”
Em “Eisejuaz”, estes mesmos elementos (a falta, a culpa, a poss�vel reden��o, a press�o da Igreja, o sil�ncio inexor�vel) reaparecem, por�m dispostos sob uma mudan�a visceral. Porque quem faz sil�ncio � Deus. E quem espera por sua mensagem � Eisejuaz, que tomou como certos seus sinais d�bios e agora se angustia pela presen�a de seu mutismo. A metade monstruosa desse anjo, a parte psic�tica desse m�stico que � Eisejuaz talvez esteja cometendo um pecado contra o homem que ele levou para obrar sua salva��o. Mas quando grita ao Senhor “se fiz pecado contra voc�, me avise”, Deus permanece terrivelmente calado: “N�o houve resposta.”
Calar, n�o falar, nada dizer � a coisa que mais faz Eisejuaz. � imagem e semelhan�a de Deus. Os livros de Sara Gallardo transcorrem sempre nessa faixa, que prefere o n�o dito ao dito. Em “Enero”, esse sil�ncio � opressivo, t�o opressivo como o pr�prio campo; em “Pantalones azules”, alude a uma comunica��o imposs�vel, a que surge da confus�o urbana; em “Los galgos, los galgos”, este sil�ncio se d� no ir e vir entre dois clich�s da classe alta [argentina] – as propriedades rurais e as viagens a Paris –, engenhosamente alterados, desviados, descoloridos.
Em “Eisejuaz”, o espa�o � outro: um povoado de interior isolado pela chuva. E o recorte social tamb�m � outro (Leopoldo Brizuela defende que foi a pedido de H�ctor Murena, marido de Sara Gallardo � �poca, que ela decidiu cruzar os limites da classe social predominante em sua literatura). O mundo dos ind�genas � um mundo de trabalho e explora��o onde “o rio tem dono”, onde � preciso enfrentar o avan�o de uma nova ordem econ�mica: “Est�o nos expulsando daqui. Precisam da terra para plantar cana”. Mas � precisamente dessa situa��o que Eisejuaz desertar�, atra�do por outro tipo de salva��o, por outra reden��o poss�vel. Um intento solit�rio, quase secreto, abstrato, silenciado, em fuga, um intento que � apenas pura cren�a e ao mesmo tempo totalmente incr�vel.
Selado ent�o por um duplo sil�ncio, o dele e o de Deus, Eisejuaz admitir�: “Minha l�ngua ficou grudada”. E, assim, estar� falando de si pr�prio n�o menos do que deste romance. Surgido de uma l�ngua que gruda, “Eisejuaz” brilha no extremo insond�vel de uma l�ngua viscosa: vai dessa l�ngua inusitada, forjada na estranheza, at� o limite do que se cala, porque n�o h� maior verdade que o sil�ncio.
Pref�cio da edi��o brasileira, publicado originalmente na edi��o argentina de “Eisejuaz” (El Cuenco de Plata, Buenos Aires, 2013)