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Estado de Minas TECNOLOGIA

15� Cine BH: com os olhos bem abertos

Na Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, tem�tica central ser� justamente 'Cinema e vigil�ncia'


17/09/2021 04:00 - atualizado 17/09/2021 09:01

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(foto: Divulga��o)
Desde a inven��o das tecnologias que permitiram a capta��o e reprodu��o da imagem em movimento, as palavras "cinema" e "vigil�ncia" caminham lado a lado. Filho do capitalismo industrial e s�mbolo da modernidade, o cinema nasce, paradoxalmente, como produtor de encantamento, gra�as � sua capacidade de capturar a vida no tempo, e como um dispositivo que inaugura novas possibilidades de vigil�ncia e controle.

Na 15ª Cine BH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, a tem�tica central ser� justamente "Cinema e vigil�ncia", com o objetivo de discutir essa rela��o complexa, estritamente ligada � hist�ria do cinema e ao mesmo tempo t�o profundamente atual.

Desde os prim�rdios, a dimens�o vigilante das c�meras emerge em diversas obras, como na imagem do patr�o que surge em uma imensa tela para repreender Carlitos oper�rio em "Tempos modernos" (1936). Ou, mais adiante, no lento movimento da lente zoom que vigia um casal em uma pra�a, na abertura do suspense "A conversa��o", de Francis Ford Coppola (1974). Com a chegada das tecnologias digitais, a rela��o entre a produ��o de imagens e a quest�o da vigil�ncia se intensificou e se potencializou gra�as � multiplica��o das c�meras de seguran�a e � onipresen�a das c�meras digitais, agora em qualquer smartphone.

Nos �ltimos 20 anos, as transforma��es do pr�prio capitalismo deram novos sentidos � palavra vigil�ncia. O crescimento de empresas totalmente digitalizadas, como Google e Amazon, que se alimentam de informa��es cada vez mais personalizadas da vida privada de seus usu�rios (como monitoramento de gostos, h�bitos e deslocamentos), somado � emerg�ncia das redes sociais, que alteraram radicalmente os regimes de visibilidade, s� fizeram aumentar a sensa��o de que estamos sendo constantemente observados e vigiados. No p�s-11 de Setembro, sob a justificativa de controle mais rigoroso da seguran�a, milhares de pessoas passaram a ter seus movimentos monitorados, mesmo sem absolutamente nenhuma rela��o com atos terroristas. Em nome de uma suposta maior prote��o coletiva, abre-se m�o da individualidade.

Algoritmos


O s�culo 21 trouxe ainda uma novidade: os algoritmos. Se c�meras e microfones, mesmo quando miniaturizados, s�o sempre concretos e palp�veis, os algoritmos ampliam a sensa��o de uma for�a imaterial que nos monitora – e que ningu�m consegue compreender plenamente. A incid�ncia desse novo estatuto da vigil�ncia, que atravessa a economia, os costumes e o imagin�rio, tem influenciado a imagina��o de cineastas e orientado uma nova intersec��o entre est�tica e pol�tica, privacidade e espet�culo, linguagem e fato.

No tempo das fake news, o mito da imagem como testemunho j� n�o determina mais os problemas do que seria uma dicotomia entre o real e o simulacro. O que a fic��o do cinema durante o s�culo 20 imaginava como distopia de uma sociedade controlada por uma inst�ncia de poder invis�vel – como na s�rie “Doutor Mabuse”, de Fritz Lang – ganhou uma dimens�o inimagin�vel. 

Ao longo da hist�ria do cinema, as tecnologias da imagem e do som conceberam o olhar como um poder perverso de interven��o e controle sobre o real, como se v� nos suspenses de fundo pol�tico que marcam toda a fic��o paranoica p�s-Watergate (que gerou thrillers como o j� mencionado "A conversa��o" ou ainda "Os tr�s dias do condor" e "O efeito Paralax", entre tantos outros), ou nos estudos sobre as imagens como documentos da hist�ria (a obra do alem�o Harun Farocki, por exemplo), e uma certa puls�o esc�pica que apaga a linha t�nue entre vigil�ncia e voyeurismo (como em todo o cinema de Hitchcock). Ou seja: o cinema testemunhou e tomou parte da constru��o de uma tr�ade em que imagem, controle e poder se tornaram elementos estruturais na sociedade da imagem e na "sociedades das telas", como definia o cr�tico Serge Daney. 

O pr�prio imagin�rio da grande ind�stria de Hollywood nas �ltimas duas d�cadas e meia v� nos dispositivos de vigil�ncia uma quest�o pol�tica central, como em "Inimigo do Estado" (1998), de Tony Scott, "O show de Truman" (1998), de Peter Weir, "Guerra sem cortes" (2007), de Brian De Palma, e "Snowden" (2016), de Oliver Stone. Filmes de terror t�m sido especialmente exemplares na cria��o de uma fantasmagoria que atravessa nossa intimidade, como em "Amizade desfeita" (2014 e 2018), "Buscando..." (2018), "Cam" (2018) e "Host" (2020), todos se valendo do formato de desktop movies; ou na emerg�ncia de uma nova categoria de monstros, a dos monstros virais, como em "P�nico 4" (2011), de Wes Craven, um dos grandes filmes contempor�neos a perceber a anomalia cultural que se d� entre a vigil�ncia e a ind�stria das imagens.

A utiliza��o de dispositivos tecnol�gicos altamente sofisticados marca a est�tica e a narrativa desses filmes e de v�rios outros que refletem sobre seus efeitos nocivos ou excludentes, apropriando-se das pr�prias imagens geradas por essas tecnologias com um efeito cr�tico.

* Francis Vogner dos Reis, Marcelo Miranda e Pedro Butcher s�o os curadores da 15ª  edi��o da Mostra CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte 


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