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Estado de Minas PENSAR

Mar�al Aquino: 'A zona de confronto tem grandes possibilidades liter�rias'

Em entrevista ao Pensar, o escritor e roteirista Mar�al Aquino responde a perguntas elaboradas a partir de trechos da nova edi��o de 'Faroestes'


08/07/2022 04:00 - atualizado 07/07/2022 22:53

Ilustração de Marçal Aquino
Mar�al Aquino tamb�m � autor de 'Eu receberia as piores not�cias dos seus lindos l�bios' e 'Baixo esplendor' (foto: Ilustra��o/EM/D.A press)
“Rela��es crispadas.” Assim, o ensa�sta Paulo Roberto Pires define, no (excelente) posf�cio da nova edi��o de “Faroestes”, as intera��es entre os personagens dos contos de Mar�al Aquino, “narrativas de gente que resolve a vida batendo de frente” com “momentos tensos, da corda esticada, quando n�o h� espa�o para psicologismos ou tempo para digress�es”.

 

O livro do escritor e roteirista nascido em Amparo (SP), em 1958, havia sido publicado pela finada editora paulista Ci�ncia do Acidente, em 2001. “As narrativas obedeciam a uma unidade tem�tica que chamei de ‘prosa de confronto’, tentativa de dar conta do grande faroeste que o Brasil parecia encenar naquele momento”, conta o autor. 

 

Agora, com nova capa, mas a mesma ep�grafe (“Cave um buraco perto de um inimigo”, retirada de “Eventos do cachorro louco”, do poeta norte-americano Jerome Rothenberg), “Faroestes” volta �s livrarias em edi��o da Companhia das Letras.
 
A seguir, a entrevista do autor de romances como “Eu receberia as piores not�cias dos seus lindos l�bios” (o mais recente � “Baixo esplendor”) sobre a reedi��o, com algumas perguntas elaboradas a partir de trechos de “Faroestes”.
 
De onde vieram as hist�rias de “Faroestes”?
 
“Faroestes” � meu �nico livro que n�o se encaixa naquela esp�cie de “antologia” que todo autor acaba por fazer em cima daquilo que est� produzindo, na hora de preparar uma colet�nea de contos. As narrativas foram escritas em sequ�ncia, especificamente para este volume.
 
Tudo come�ou em 1999, na noite de aut�grafos do livro “Treze”, do Nelson de Oliveira, que o Joca Terron estava lan�ando pelo selo “Ci�ncia do Acidente”, que j� havia publicado, sempre em tiragens reduzidas, obras de alguns dos meus “malditos favoritos”, como Val�ncio Xavier, Manoel Carlos Karam e Glauco Mattoso.
 
O design gr�fico do “Treze” me impactou, e n�o s� a mim, a partir de sua capa, na qual aparece o pr�prio autor, com o t�tulo do livro “costurado” na testa, contra um fundo amarelo um tanto insalubre. E mais nada. Era a primeira vez que eu via por aqui um livro que n�o trazia o nome do autor na capa.
 
Pensei na hora: quero fazer alguma coisa com o Joca, e comuniquei isso a ele. Eu vinha trabalhando na ocasi�o em narrativas que obedeciam a uma unidade tem�tica, que chamei de ‘prosa de confronto’, uma tentativa de dar conta do grande faroeste que o Brasil parecia encenar naquele momento.
 
E eu acabava de sair de dois mergulhos verticais em universos de extrema viol�ncia, um deles liter�rio – a novela de pistoleiros “Cabe�a a pr�mio”, escrita num jorro de 54 dias – e o outro literal, acompanhando em diversas quebradas de S�o Paulo as filmagens quase documentais do longa “O invasor”, do Beto Brant. O livro reflete um pouco esse esp�rito, a come�ar de sua ep�grafe.

“�s vezes voc� fica cansado de ser voc� mesmo. Ent�o gosta de imaginar que � outra pessoa.” Essa m�xima vale tamb�m para a literatura?
 
Acho que vale. Em alguma medida, o escritor acaba por sentir as dores e del�cias a que submete seus personagens, sob pena de faltar verdade � sua composi��o. Se, como leitores, experimentamos a grande vertigem de nos colocar na pele de personagens, imagine que voltagem isso pode ter no caso do escritor.
 
“Prosa de confronto” ainda � uma defini��o adequada para as suas narrativas?
 
Continuo achando a zona de confronto um lugar com grandes possibilidades liter�rias. Relendo “Faroestes” agora, mais de duas d�cadas depois de escrito, constatei que a explos�o de viol�ncia que me levou a escrev�-lo naquela �poca � nada frente aos tempos conflagrados que estamos vivendo agora.
 
A barb�rie triunfou. Talvez seja hora de pensar num segundo volume de narrativas, sabendo de antem�o que a realidade vai superar facilmente a imagina��o.
 
“N�o gosto de conversar sobre o que n�o est� vis�vel no mundo”, afirma um dos personagens. E voc�, n�o gosta de escrever sobre o que n�o est� vis�vel?
 
Talvez escrever n�o seja mais do que isso, tornar vis�veis certas coisas que, num primeiro momento, n�o s�o captadas por todos.
 
“Deve ser horr�vel envelhecer e continuar acreditando que, no fim, as coisas podem acabar, de alguma maneira, dando certo.” Acredita que as coisas podem dar certo?
 
Todo dia, quando saio da cama e procuro de que lado deixei os chinelos, estou movido pela expectativa, que � o nome t�cnico que damos � esperan�a, de que as coisas deem certo. Nem sempre d�. Mas, na manh� seguinte, renovo esses votos.
 
Em 2021, voc� voltou a lan�ar um romance, “Baixo esplendor”. O que vem agora? Uma nova reuni�o de contos ou um novo romance?
 
Estou trabalhando, desde o ano passado, numa novela, ainda sem t�tulo, da qual, para falar a verdade, pouco sei ainda. O que � uma vertigem danada. � uma trama que se afasta um pouco dos grandes centros e se ocupa, em s�ntese, de amor e crime.
 
O tempo dedicado ao trabalho em tempo integral como roteirista de TV impactou na sua literatura?
 
Tenho um amigo que diz que, na hora de escrever, o sujeito deve fechar at� as janelas da casa, pois a forma de uma nuvem no c�u pode distra�-lo. Em alguma medida, a dedica��o di�ria � cria��o de roteiros tem impacto. Todo ru�do � inimigo da literatura.
 
Mas, para mim, escrever �, acima de tudo, um exerc�cio de paix�o e prazer. Ent�o, acaba se sobrepondo a qualquer outro trabalho. Sabe aquela frase? No ju�zo final, eu quero estar na fila dos escritores.
 
Vinte anos depois, o Brasil ainda � a terra dos faroestes e, por isso, � necess�ria uma prosa calibre.38?
 
Acho que n�o d� para contar o Brasil neste momento com eufemismos. Ainda que seja uma tarefa ingl�ria, � preciso chamar as coisas por seus nomes. E tem a hora de sair da trincheira, ao menos para olhar o inimigo nos olhos e descobrir se ele ainda tem muni��o.

O que voc� tem lido ou relido nos �ltimos tempos e que o impressionou?
 
Nunca perco de vista a produ��o brasileira contempor�nea, mas, nos �ltimos dois anos, dediquei muita aten��o aos latino-americanos. Li quase todo o (Juan Jos�, argentino, autor de livros como “O enteado” e “Ningu�m nada nunca”) Saer que ainda n�o havia lido e aproveitei para reler outras coisas dele, como o extraordin�rio “Gloza”. 
 
Ainda entre os argentinos, li bastante o Juan Forn e o Ricardo Piglia, al�m de mulheres incr�veis, como a Sara Gallardo e a Mariana Enr�quez. No momento, estou me deliciando com a monumental biografia do Philip Roth, um catatau de quase mil p�ginas.

O que voc� diria ao escritor Mar�al Aquino se pudesse encontr�-lo no lan�amento de “Faroestes”, em 2001?
 
V� para casa escrever, rapaz, a vida � muito breve.

Estante
 
• “As fomes de setembro” (1991)
• “Miss Dan�bio” (1994)
• “O amor e outros objetos pontiagudos” (1999)
• “Faroestes” (2001/2022)
•  “Fam�lias terrivelmente felizes” (2003)
• “O invasor” (2002)
• “Cabe�a a pr�mio” (2003)
• “Eu receberia as piores not�cias dos seus lindos l�bios” (2005)
• “Baixo esplendor” (2021)

Capa do livro Faroestes
(foto: Companhia das Letras/Reprodu��o)


“Faroestes”
• Mar�al Aquino
• Companhia das Letras
• 152 p�ginas
• R$ 69,90
• Lan�amento virtual no "Sempre Um Papo Itabira", no dia 19/07, ter�a-feira, �s 19h, com transmiss�o no YouTube e Facebook do Sempre Um Papo.




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