
A simples possibilidade de o Brasil voltar ao tempo do voto de papel – hip�tese aventada na segunda-feira pela Justi�a Eleitoral diante do contingenciamento de recursos pelo governo federal – mexeu com o imagin�rio dos eleitores da era eletr�nica e trouxe lembran�as aos antigos, que participaram do processo manual. At� a d�cada de 1990, quando surgiram as primeiras urnas eletr�nicas, as elei��es eram cercadas de expectativa, tens�o e at� brigas e fraudes. O eleitor demorava dias para saber quem foi escolhido para os cargos que votou. A apura��o era feita em grandes gin�sios, acompanhada de perto pelos fiscais dos partidos, que muitas vezes se desentendiam.
Uma fonte de conflito era a letra dos eleitores. Como nas elei��es proporcionais era preciso que cada um escrevesse o nome do seu candidato, j� que centenas disputam vagas no Legislativo, sempre havia o fiscal querendo puxar a sardinha para o seu lado, garantindo que o nome que estava escrito era o da sua legenda e n�o da outra. Pelo c�digo eleitoral, iniciada a apura��o ela n�o poderia ser interrompida nem aos s�bados e domingos. O trabalho deveria ocorrer pelo menos das 8h �s 18h. A contagem come�ava geralmente na manh� seguinte da vota��o e as urnas eram guardadas pela Pol�cia Militar.
N�o bastasse a demora habitual, em 1992 a elei��o em Belo Horizonte teve duas contagens. Por determina��o legal, os pr�prios mes�rios foram designados para apurar o resultado logo depois da vota��o. Caravanas de candidatos foram ao TRE reclamar e foi determinada nova apura��o, que foi feita � moda antiga. Outro caso pol�mico foi na elei��o de 1994 no Rio de Janeiro. Por suspeita de fraude, o resultado da vota��o proporcional foi anulado e revalidado pelo TSE somente dois anos depois.
Na vota��o de papel, a criatividade dos brasileiros tamb�m proporcionou epis�dios engra�ados. Em 1988, para manifestar insatisfa��o, os eleitores do Rio de Janeiro votaram no Macaco Ti�o, do zool�gico municipal, para a prefeitura. Ele teria ficado em terceiro lugar no pleito. Em 1959, o rinoceronte Cacareco foi “eleito” vereador de S�o Paulo.
TRADI��O O presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Paulo C�zar Dias, disse ontem n�o acreditar na possibilidade de as elei��es de 2016 serem feitas pelo sistema manual. Segundo ele, apesar da nota divulgada na segunda-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter informado que, por quest�es or�ament�rias, o sistema eletr�nico estaria inviabilizado, isso n�o deve ocorrer. “O sistema n�o vai deixar de ser pela urna eletr�nica, que j� � consagrada, j� � uma tradi��o brasileira de apura��o e de capta��o de voto. Isso n�o existe. Essa hip�tese est� descartada, apesar da divulga��o que o assunto teve, eu n�o acredito nisso”, afirmou. Em visita ao presidente da Assembleia, Adalclever Lopes (PMDB), ficou acertado que o Legislativo ter� pontos de recadastramento biom�trico.