
Na noite de lan�amento do longa no Rio de Janeiro, o elenco se reuniu num restaurante na Barra da Tijuca para um drink p�s-sess�o de estreia e Rainer Cadete, ator que interpretou o procurador Deltan Dallagnol, se dizia orgulhoso por encarnar no cinema uma pessoa t�o admir�vel. Marcelo Antunez, diretor do filme, reafirmava a cada entrevista que esta seria uma produ��o to be continued, a primeira de uma trilogia - o filme de Antunez vai at� a condu��o coercitiva de Lula (Ary Fontoura), em 2016.
Seis anos se passaram e Deltan Dallagnol teve seu mandato de deputado federal cassado pelo TSE com base na Lei da Ficha Limpa; Sergio Moro, entre outros revezes para quem aparece como a estrela maior do filme, foi declarado pelo STF como parcial ao condenar o ent�o ex-presidente Lula no caso do tr�plex no Guaruj�... A coisa mudou de figura, mas Antunez n�o se diz surpreso. "Eu n�o costumo criar muitas expectativas sobre o ser humano", afirma.
"N�o acredito em her�is. Somos repletos de falhas de toda ordem. � infantil e perigoso colocar pessoas em pedestais", diz ele, em entrevista � Folha de S.Paulo. Antunez admite que, se o filme fosse feito hoje, "certamente seria diferente". N�o que tenha errado a m�o.
"Meu neg�cio � fazer cinema, e a hist�ria naquele momento era excelente", refor�a ele, que se diz neutro. "Claro que me informo como cidad�o, mas n�o perten�o e n�o devo nada a nenhum movimento pol�tico".
A tal trilogia foi abortada. O cineasta admite que o roteiro da segunda parte j� havia sido escrito, mas tanta coisa mudou com a Vaza Jato [as investiga��es iniciadas p�s o vazamento de conversas atrav�s do Telegram entre integrantes da Opera��o Lava Jato], que mant�-lo n�o faria sentido.
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"O roteiro escrito j� n�o tinha mais nenhuma ader�ncia com o que estava acontecendo de relevante. Redesenhamos o projeto para incluir esses novos movimentos mas, para a surpresa de um total de zero pessoas, quando o governo mudou, o cinema e a cultura, como um todo, foram paralisados. Ali�s, assim como as investiga��es contra a corrup��o, que foram interrompidas."
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Mesmo com a mudan�a no cen�rio pol�tico do pa�s, Antunez diz ter d�vidas sobre o quanto ainda quer fazer filmes relacionados a este tema. Segundo ele, lidar com a "polariza��o exacerbada" � "extremamente desgastante", j� que "r�tulos s�o atribu�dos com muita facilidade".
A julgar por seus projetos mais recentes, o diretor parece ter mesmo virado a p�gina. No ano passado, foi o respons�vel pela dire��o da com�dia rom�ntica "Procura-se", dispon�vel na HBO Max, e j� se prepara o lan�amento de outros dois longas ainda em 2023: "Rodeio Rock", protagonizado por Carla Diaz e Lucas Lucco, e outro sobre o sequestro do Silvio Santos, em agosto de 2001. "Sobre o pa�s, confesso que luto diariamente para me manter otimista", afirma.