(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CANDIDATURAS NEGRAS

PEC da Anistia pode perdoar calote de R$ 740 milh�es de partidos

Principal irregularidade � o descumprimento das regras que estipulam um repasse m�nimo de recursos para a candidatura de pessoas negras


05/06/2023 11:05 - atualizado 05/06/2023 12:31
440

prédio do TSE com a placa escrito 'Tribunal Superior Eleitoral'
Dados oficiais das presta��es de contas entregues ao TSE mostram que os candidatos pretos e pardos deixaram de receber R$ 741 milh�es (foto: Ag�ncia Brasil)
A mobiliza��o dos partidos pol�ticos para aprovar a maior anistia da hist�ria em benef�cio pr�prio tem como pano de fundo o fato de que a maioria deles descumpriu nas elei��es de 2022 as regras que estipulam um repasse m�nimo de recursos para a candidatura de pessoas negras e mulheres.


Dados oficiais das presta��es de contas entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e analisados pela Folha mostram que os candidatos pretos e pardos deixaram de receber R$ 741 milh�es. J� em rela��o �s mulheres, o descumprimento da cota ficou em R$ 139 milh�es.


A Comiss�o de Constitui��o e Justi�a da C�mara j� aprovou a PEC (Proposta de Emenda � Constitui��o) da Anistia, que perdoa o descumprimento das cotas de g�nero e racial, assim como todas as irregularidades cometidas pelos partidos com dinheiro p�blico nos �ltimos anos.


O texto aguarda agora a instala��o de uma comiss�o especial de discuss�o do m�rito, �ltimo passo antes da vota��o em plen�rio. Em seguida, para ser aprovada, a PEC precisa do apoio m�nimo de 60% dos parlamentares (308 de 513 na C�mara e 49 de 81 no Senado), em dois turnos de vota��o em cada Casa. Caso isso ocorra, ela � promulgada e passa a valer, n�o havendo possibilidade de veto do Poder Executivo.

 

 

Dos 33 partidos existentes em 2022, s� os nanicos UP e PSTU repassaram de forma proporcional as verbas p�blicas de campanha aos candidatos pretos e pardos, enquanto o Novo n�o usou verba p�blica.


No ranking dos que mais deixaram de transferir esses recursos, os maiores partidos s�o o PSDB (repassou apenas 39% do que deveria em rela��o ao Fundo Eleitoral) e o PT (57%), siglas que por 25 anos polarizaram a pol�tica nacional.


No caso das mulheres, somente PSOL, Cidadania, MDB, PMB, PSTU, PV, Rede e Republicanos fizeram repasses de verbas em valores superiores ao m�nimo necess�rio.


Apesar de a popula��o negra e feminina ser maioria no Brasil, respectivamente 56% e 51% dos brasileiros, segundo o IBGE, a participa��o de mulheres, pretos e pardos na pol�tica � muito pequena.


Em quase 40 anos de redemocratiza��o, por exemplo, a c�pula da Rep�blica contou com 66 homens e s� 4 mulheres --uma propor��o de 16,5 para 1-- e continua at� hoje comandada majoritariamente por representantes do sexo masculino.


A implanta��o de a��es afirmativas para est�mulo � participa��o feminina teve in�cio nos anos 1990. Em 1998 come�ou a valer a obrigatoriedade de haver no m�nimo 25% de candidaturas femininas nas disputas proporcionais (C�maras Municipais, Assembleias Legislativas e C�mara dos Deputados).


Em 2000, esse n�mero subiu para 30%. Apesar disso, as siglas n�o precisavam distribuir de forma equ�nime os valores entre concorrentes.


O Supremo, 20 anos depois, definiu a necessidade de repassar verba de campanha �s mulheres proporcionalmente ao n�mero de candidatas --ou seja, pelo menos 30% do valor.


A delibera��o, entretanto, levou a pleiteantes laranjas, como revelou a Folha no caso do PSL, ent�o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).


J� em 2020, o TSE decidiu pela obrigatoriedade de repasses do Fundo Eleitoral proporcionais � quantidade de negros e brancos, aplicando a regra tamb�m ao tempo de exposi��o nos meios de comunica��o. Surgiram, entretanto, registros irregulares, inflando o n�mero de pretos e pardos na C�mara.


Al�m da dificuldade de fiscaliza��o, especialmente do tempo de propaganda eleitoral, as determina��es ainda oferecem "excessiva autonomia de escolha na distribui��o dos recursos e constrangimentos legais insuficientes �s lideran�as pol�ticas", afirma a professora de direito e cientista pol�tica Mariana Dion�sio.


"Precisamos ter uma vis�o cr�tica, em raz�o da fluidez dos crit�rios de forma��o das identidades raciais no Brasil. H� muitos candidatos que se declaram [negros] e n�o possuem qualquer tra�o ou qualquer ancestralidade que identifique que sejam pretos ou pardos. Eles fazem isso somente para garantir uma fatia dessa destina��o de recursos", diz.


Desde a proibi��o em 2015 de que empresas financiem os candidatos, os cofres p�blicos passaram a ser a principal fonte de recursos das campanhas. H� dois fundos, o Eleitoral, que em 2022 distribuiu R$ 5 bilh�es aos candidatos, e o Partid�rio, que destina cerca de R$ 1 bilh�o ao ano para as legendas.

 


A mudan�a aumentou as chances de �xito das candidaturas de mulheres e pessoas negras, afirma Tau� Louren�o Pires, coordenadora de justi�a racial e de g�nero da Oxfam Brasil. "As principais campanhas acabam funcionando por autofinanciamento, e o fundo � uma ferramenta que contribui para a diminui��o das desigualdades, democratizando a representa��o pol�tica no pa�s."

 


Uma das propostas apresentadas pelo texto original da PEC da Anistia visa justamente permitir que partidos voltem a receber doa��es e financiamento de iniciativas privadas "para quitar d�vidas com fornecedores contra�das ou assumidas at� agosto de 2015".


"Os partidos n�o t�m interesse em eleger mulheres. Eles querem mulheres candidatas, eles n�o querem mulheres eleitas", diz a advogada e cientista pol�tica Gabriela Rollemberg, cofundadora da Quero Voc� Eleita e ativista a favor da amplia��o da participa��o feminina na pol�tica.


"A gente est� falando de um perd�o que vai muito al�m de R$ 1 bilh�o das elei��es de 2022. N�o tem como os partidos acharem que v�o descumprir a lei, a Constitui��o, as decis�es judiciais e que isso n�o vai gerar responsabilidade. A gente precisa come�ar a debater a responsabiliza��o pessoal dos dirigentes partid�rios."


Gabriela defende a aprova��o de cotas de cadeiras para as mulheres, j� nas elei��es municipais de 2024, em um patamar m�nimo de 30%. Ela lembra que em 2020 nenhuma mulher foi eleita vereadora em mais de 900 cidades do pa�s.


A falta de recursos adequados para a elei��o de mulheres e negros recai principalmente sobre a sociedade, afirma Mariana. Segundo ela, sem uma campanha eleitoral justa, a popula��o n�o tem a oportunidade de conhecer candidatos com ideias e propostas voltadas �s suas realidades.


"Isso traz consequ�ncias para formula��o e execu��o de pol�ticas p�blicas espec�ficas, consolida a perman�ncia de pol�ticos [homens e brancos], como vemos hoje, e pode atrasar o aperfei�oamento de legisla��es como a de combate � viol�ncia contra mulher", afirma.

Segundo Tau�, organiza��es civis continuam em contato com o Supremo Tribunal Federal para anula��o da PEC.

 

Partidos se calam ou negam irregularidades

 

A Folha procurou os 10 partidos que, proporcionalmente, foram os que mais deixaram de repassar as verbas do Fundo Eleitoral aos candidatos pretos e pardos. Desses, apenas tr�s responderam: PT, Democracia Crist� e PSDB.


O PT negou ter descumprido a cota e afirmou ter repartido corretamente os recursos definidos pela Legisla��o e pela Justi�a Eleitoral aos candidatos e candidatas que se declararam negros e negras ao pr�prio partido nas elei��es de 2022.


"A destina��o de recursos para candidaturas proporcionais excluiu o teto autorizado para a campanha da chapa presidencial", afirma.


Encabe�ado por Gleisi Hoffmann, o partido tem apoiado a PEC da Anistia. Ela diz ser a favor das cotas para mulheres e negros, mas diz que as multas a partidos s�o injustas e que a falta de regulamenta��o da destina��o de recursos atrapalha seu cumprimento.


Em nota, o PSDB afirmou que o compromisso com o combate � intoler�ncia e o respeito � diversidade "est� no DNA dos tucanos" e que apresentar� seus esclarecimentos � Justi�a Eleitoral no momento adequado.


O partido se diz "pioneiro na constru��o de setoriais espec�ficas para a constru��o de pol�ticas p�blicas de combate � discrimina��o e de defesa da diversidade em todas as suas formas, tendo sido o primeiro partido a incluir em seu estatuto as cotas de g�nero para os �rg�os de todos os n�veis", diz texto.


J� a diretoria nacional do DC afirmou em nota ter feito as transfer�ncias para os estados "em absoluta conformidade com a legisla��o correspondente".


Sobre a PEC, o partido afirma que "a anistia em vota��o no Congresso Nacional merece prosperar, uma vez que, na legisla��o eleitoral em rela��o �s presta��es de contas dos partidos pol�ticos, n�o existe a possibilidade de a��o rescis�ria em rela��o a senten�as transitas em julgado", diz o texto.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)