
Dois dos principais nomes do governo Lula, o vice-presidente e ministro da Ind�stria e Com�rcio, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), estiveram no meio da tempestade em junho de 2013, quando ocorreram as manifesta��es que tomaram as ruas do Brasil. Respectivamente governador do estado de S�o Paulo e prefeito da capital paulista � �poca, Alckmin, ent�o no PSDB, e Haddad foram talvez, junto com a ent�o presidente Dilma Rousseff (PT), os pol�ticos que mais sofreram press�o do levante popular. � o que mostra a sexta reportagem da s�rie sobre os 10 anos dos protestos de junho de 2013.
No come�o dos movimentos, Alckmin e Haddad, ent�o advers�rios pol�ticos, precisaram dar uma resposta r�pida e incisiva ao que rapidamente se transformou em protestos violentos em S�o Paulo. No entanto, naqueles dias conturbados de junho, os dois participavam de um evento em Paris, onde defendiam a candidatura de S�o Paulo para ser sede da Expo 2020, evento que serve de mesa de negocia��es entre pa�ses e empres�rios do mundo inteiro.
No dia 13 de junho de 2013, em uma quinta-feira, quando a imagem de um policial com o rosto coberto de sangue, agredido por manifestantes, ganhou as manchetes da imprensa, Haddad precisou tirar o foco da reuni�o em Paris para tentar � dist�ncia evitar o pior em S�o Paulo. Ele temia uma retalia��o das for�as de seguran�a contra as pessoas que tomavam as ruas paulistanas, segundo relata o pr�prio ex-prefeito em artigo escrito para a revista Piau� em 2017, intitulado de “Vivi na pele o que aprendi nos livros”.
“Naquele dia eu voltava de uma viagem de trabalho com o governador Geraldo Alckmin e, at� aquele momento, a situa��o nem de longe parecia fora de controle. Aquela foto, entretanto, me impeliu a dar um telefonema ao secret�rio de Seguran�a P�blica do estado: era imprescind�vel um esfor�o para que n�o houvesse um revide da pol�cia. Mas ele veio. E ent�o o pa�s explodiu”, disse.
Na manh� do dia 12 de junho, o ent�o prefeito havia afirmado, em entrevista, que n�o abriria di�logo com os manifestantes devido ao car�ter violento que os protestos teriam adquirido. “N�o vou dialogar em uma situa��o de viol�ncia, falei v�rias vezes. A ren�ncia � viol�ncia � pressuposto ao di�logo. A prefeitura dialoga com todos os movimentos sociais, n�o tem preconceito”, afirmou.
Haddad relutava em abaixar a tarifa da passagem de �nibus, que naquele m�s havia aumentado em 20 centavos, passando de R$ 3 para R$ 3,20, o que a princ�pio motivava os protestos, mas rapidamente se tornou apenas uma das pautas que inflamavam as ruas. “N�o � s� por 20 centavos”, diziam os manifestantes na �poca, e o prefeito paulista reconheceu que o problema ia al�m do pre�o do transporte p�blico.
Ele afirma que a prefeitura e o governo do estado teriam feito um esfor�o para conceder o menor reajuste poss�vel, que ainda teria ficado abaixo da infla��o. “Um reajuste em dois anos e meio da ordem de 6% contra uma infla��o acumulada de mais de 15%. Eu estou cumprindo com aquilo que eu prometi h� menos de um ano, entendo que esse � o caminho para melhorar a qualidade do transporte p�blico”, dizia.
Alckmin tamb�m fazia discursos contra a viol�ncia dos atos e defendeu a a��o da pol�cia, destacando como dever das for�as de seguran�a a preserva��o da integridade das pessoas e do patrim�nio p�blico. “N�o vamos deixar que se confunda baderna com direito � livre manifesta��o. Estranho um movimento que se diz a favor do transporte coletivo destruir �nibus e esta��o de metr�. N�o � direito de express�o, � vandalismo”, disse o ex-governador no dia 12 de junho de 2013.

Revoga��o
Os dois gestores acabaram por ceder �s press�es que vinham das ruas e a um novo pedido do Planalto. No dia 19 de junho, Haddad se encontrou com Alckmin no Pal�cio dos Bandeirantes e juntos anunciaram a revoga��o do reajuste das tarifas do transporte p�blico, que tamb�m atingia a integra��o com o metr� de S�o Paulo e o sistema estadual. “Reconhecemos a legitimidade do debate sobre o transporte p�blico nas grandes metr�poles e a necessidade de aprofund�-lo com serenidade. A decis�o ter� um custo. Vai exigir uma revis�o no cronograma dos investimentos, pois o metr� e a CPTM n�o t�m como arcar com esta redu��o”, dizia o governador.
Mesmo com a tarifa retornando ao patamar anterior aos 20 centavos, as pesquisas refor�avam a insatisfa��o generalizada com a classe pol�tica. Haddad, que havia iniciado seu mandato como prefeito seis meses antes, viu sua aprova��o cair de 34% para 18% no final de junho, segundo levantamento do DataFolha. O ent�o prefeito n�o viria a se recuperar e perdeu a elei��o para o governo de S�o Paulo, em 2016, no primeiro turno, para o empres�rio Jo�o Doria, do PSDB.
J� Alckmin, apesar de conseguir a reelei��o como governador em 2014, viu sua aprova��o cair de 52% para 38% no mesmo per�odo. As jornadas de junho aproximaram os dois pol�ticos. Alckmin se filiou ao PSB em 2022, quando se candidatou � vice-presid�ncia, formando a chapa com o petista Lula, que venceu as elei��es.
Lula defendeu Dilma e Haddad; Bolsonaro elogiou o filho Carlos
Principais nomes do cen�rio pol�tico atual, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram rea��es diferentes durante os levantes de Junho de 2013. Na �poca, o petista usava o seu cacife pol�tico para manter o partido em alta e para dar sustenta��o � popularidade dos aliados Dilma Rousseff, ent�o presidente da Rep�blica, e Fernando Haddad, prefeito de S�o Paulo.
No dia 14 de junho de 2013, Lula compartilhou uma foto com Dilma em um evento em Curitiba. “Temos que tratar os que n�o est�o do nosso lado com tanto carinho quanto os que est�o. O �dio n�o ganha elei��o, o que ganha elei��o � amor”, dizia Lula. J� em 17 de junho, ap�s uma s�rie de atos violentos em S�o Paulo, com centenas de policiais e manifestantes feridos, Lula dizia que os protestos faziam parte da sociedade e que n�o era poss�vel ser contra os movimentos nas ruas. “N�o existe problema que n�o tenha solu��o. A �nica certeza � que o movimento social e as reivindica��es n�o s�o coisa de pol�cia, mas sim de mesa de negocia��o”, afirmou.
Ele tamb�m saiu em defesa de Haddad. “Estou seguro, se bem conhe�o o prefeito Fernando Haddad, que ele � um homem de negocia��o. Tenho certeza que dentre os manifestantes, a maioria tem disposi��o de ajudar a construir uma solu��o para o transporte urbano”, completou sua nota.
O l�der esquerdista tamb�m compartilhou uma s�rie de publica��es em favor de Dilma, que naquele momento anunciava medidas para atender as demandas que vinham das ruas. Ela anunciou cinco pactos para tentar acalmar a f�ria, incluindo a convoca��o de uma assembleia para reforma pol�tica e um projeto para tornar a corrup��o crime hediondo. “Minha convic��o � de que a companheira Dilma vem liderando o pa�s com grande compet�ncia e firmeza, ouvindo a voz das ruas”, disse Lula em 28 de junho.
Baixo clero
Principal nome da direita, Jair Bolsonaro era um deputado com pouca visibilidade em 2013, no seu sexto mandato. Na �poca, ele se ocupava em subir na tribuna do plen�rio da C�mara para fazer discursos para sua base ideol�gica, com conte�dos homof�bicos e machistas. Como correu em 13 de junho, quando ele aproveitou para reclamar de uma coluna de jornal em que era chamado de troglodita.
Mas j� em 19 de junho, quando Paes e Haddad revogaram o aumento da passagem, Bolsonaro finalmente tocou de rasp�o no tema, ao elogiar o filho Carlos, vereador do Rio. "Meu garoto assinou a CPI que investigar� as empresas de �nibus do munic�pio, comprovando que nenhuma liga��o obscura temos com os empres�rios, algo sempre suspeito no legislativo”, disse.
Com a pauta do transporte p�blico se misturando a demandas anticorrup��o e antissistema, Bolsonaro, que sempre se considerou um pol�tico por fora do jogo tradicional, passou a endossar alguns discursos. Ele se pronunciou contr�rio � PEC 37 do Minist�rio P�blico, e contra as propostas de reforma de Dilma Rousseff. “Pr�ximo passo, reforma pol�tica obrigando somente o financiamento p�blico de campanha, lista fechada e grande parte dessa grana toda voltando em forma de caixa 2. Ou voc� acha que o PT agora fala sobre o tema para se prejudicar?”, indagava.
O conservadorismo bolsonarista parece ter ganhado adeptos no m�s da insatisfa��o generalizada. Em 2014, Bolsonaro foi eleito para o s�timo mandato como deputado federal, com a maior vota��o do Rio: 464.572 votos, quatro vezes mais do que no pleito de 2010. Seus filhos tamb�m ganharam mais relev�ncia: Eduardo foi eleito deputado federal por S�o Paulo. Em 2018, Bolsonaro seria eleito presidente da Rep�blica, vencendo Fernando Haddad.