
Um agora ex-funcion�rio do MEC (Minist�rio da Educa��o) apontado pela Pol�cia Federal como envolvido em suposto esquema criminoso de compra de kits de rob�tica com dinheiro p�blico manteve uma s�rie de encontros com o s�cio da empresa fornecedora dos equipamentos. Os dois s�o investigados pela PF e foram alvos de opera��es no in�cio do m�s passado.
Alexsander Moreira, que esteve lotado no MEC de 2016 at� o in�cio de junho deste ano, recebeu 14 vezes Edmundo Catunda, empres�rio pr�ximo do presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL). Catunda � dono da Megalic, a empresa alagoana que tinha contratos com v�rios munic�pios para fornecer kits de rob�tica. Os encontros ocorreram entre 2020 e 2021, ainda no governo Jair Bolsonaro (PL).
Todas as cidades tinham contrato com a mesma empresa, a Megalic. Os recursos federais, liberados e transferidos em velocidade incomum, eram das chamadas emendas de relator, parte bilion�ria do or�amento da Uni�o controlada por Lira. A Folha tamb�m revelou que a Megalic pagou R$ 2.700 pelos rob�s e vendeu para prefeituras por R$ 14 mil.
A fam�lia Catunda tem rela��o estreita com Lira. A Folha mostrou que Edmundo Catunda foi ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa��o) com Luciano Cavalcante, o mais pr�ximo assessor do presidente da C�mara e tamb�m investigado. Os recursos que abasteceram as compras sa�ram do FNDE.
A PF encontrou com Cavalcante documentos com cita��es a Lira e uma lista de pagamentos atrelados ao nome de "Arthur". O documento apreendido relaciona R$ 834 mil em valores pagos em 2022 e 2023 - desse total, em ao menos R$ 650 mil h� � frente do valor o nome "Arthur".
As investiga��es foram parar no STF (Supremo Tribunal Federal) ap�s a PF encontrar as cita��es diretas a Lira. O deputado e seu auxiliar negam irregularidades. Edmundo Catunda e Alexsander Moreira foram procurados, mas n�o responderam aos questionamentos.
Com rela��o a Moreira, as autoridades identificaram movimenta��es financeiras suspeitas de R$ 737 mil, sendo parte do valor depositada em esp�cie, entre outubro de 2021 e novembro de 2022. Ele tamb�m recebeu tr�s dep�sitos de um homem cuja empresa foi representada por Edmundo Catunda.
No governo Bolsonaro, Moreira era coordenador-geral de Apoio �s Redes e Infraestrutura Educacional do MEC. A �rea tem atua��o no sistema de transfer�ncias de recursos por onde saiu o dinheiro para os kits, o chamado PAR (Plano de A��es Articuladas).
Foi ele quem assinou uma nota t�cnica para subsidiar resposta do governo Bolsonaro a indaga��es do TCU (Tribunal de Contas da Uni�o). Um dos pontos questionados pelo tribunal foi o pre�o base de R$ 176 mil para cada solu��o de rob�tica (que inclui os rob�s, material did�tico e treinamentos).
Esse valor constava dentro do PAR, apesar de o governo n�o ter ata de registro para esse tipo de compra. As prefeituras adquiriram os kits a partir de concorr�ncias realizadas nos munic�pios e que tinham a Megalic como vencedora, mas que seriam pagas com dinheiro federal.
Nessas atas municipais, constava o mesmo valor de R$ 176 mil. A nota t�cnica assinada por Moreira defendeu o pre�o inclu�do no PAR. O TCU, por sua vez, concluiu que n�o h� documentos, como mem�ria de c�lculos, capazes de fundamentar esse valor.
Dois filhos de Catunda, o ex-assessor legislativo Jo�o Pedro e o vereador de Macei� Jo�o Victor Catunda (PP), tamb�m estiveram com Moreira ao menos 12 vezes, sendo tr�s delas em companhia do pai. Os dois s�o citados na investiga��o. As informa��es da agenda de Moreira foram obtidas via Lei de Acesso � Informa��o.
Os dados mostram que Moreira ainda teve encontros com uma assessora legislativa do vereador Jo�o Catunda. Chamada Catharyna Davilla Duarte Barbosa, ela foi apontada pela secret�ria de Educa��o de Flexeiras (AL), beneficiada com kits de rob�tica, como consultora na libera��o dos recursos no sistema do MEC.
O vereador Catunda afirmou, em nota, que nunca tratou do tema rob�tica com Moreira, que foi ao MEC por ter atua��o com o tema da educa��o e que encontrou o ex-funcion�rio por indica��o de algu�m do minist�rio, n�o especificado, para falar sobre Fundeb.
"� not�rio que meu foco sempre foi o trabalho junto �s pautas educacionais", diz a nota. Jo�o Catunda afirma ainda que a assessora Catharyna Barbosa esteve com o ex-funcion�rio representando a Comiss�o de Educa��o da C�mara de Macei�, que "tem procurado fiscalizar e acompanhar os conv�nios no �mbito do PAR".
Tamb�m em nota, Catharyna Barbosa argumentou que esteve com Moreira a pedido de Jo�o Catunda, que preside a Comiss�o de Educa��o da C�mara de Macei�, para tratar "exclusivamente sobre os temas de educa��o b�sica do munic�pio de Macei�, no caso espec�fico, de conv�nios de obras de constru��o de creches paralisadas no munic�pio".
Moreira entrou no MEC em novembro de 2016, no governo Michel Temer (MDB), quando o deputado Mendon�a Filho (DEM-PE) era o ministro. Sua agenda indica envolvimento em debates sobre compras de rob�tica ao menos desde 2017.
Antes de chegar ao MEC, ele trabalhou por dois anos na empresa Pete, principal fornecedora dos equipamentos rob�ticos para a Megalic. Moreira tem liga��o com outros dois investigados que tamb�m trabalharam na Pete. Uma dessas pessoas � atualmente funcion�ria da Megalic.
Ele havia sido promovido pelo governo Lula (PT) ao cargo de diretor, mas foi exonerado ap�s ser alvo de opera��o da PF.