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Estado de Minas COVID-19

Governo Bolsonaro escondeu proje��es de casos e mortes na pandemia

Mais de mil relat�rios da Abin e do GSI ficaram sob sigilo e alertavam sobre alta da Covid-19, crise pol�tica e vacinas


28/07/2023 09:40 - atualizado 28/07/2023 09:58
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Jair Bolsonaro com máscara de proteção pendurada na orelha
(foto: Reprodu��o)
Agentes de intelig�ncia do governo Jair Bolsonaro (PL) elaboraram mais de mil relat�rios sobre a pandemia, projetando aumento no n�mero de casos e mortes no Brasil, enquanto o ex-presidente boicotava medidas de combate � COVID-19 e o acesso �s vacinas.

 

Mantidos em sigilo durante a gest�o passada, os documentos foram produzidos ao menos de mar�o de 2020 a julho de 2021. O material tem folhas com carimbos da Abin (Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia), GSI (Gabinete de Seguran�a Institucional) ou sem identifica��o de autor.

 

Os documentos refor�am que Bolsonaro ignorou, al�m das recomenda��es do Minist�rio da Sa�de, as informa��es que eram levantadas por agentes de intelig�ncia e dentro do pr�prio Pal�cio do Planalto. Os agentes da Abin e do GSI citam o distanciamento social e a vacina��o como formas efetivas de controlar a doen�a, mostram estudos que desaconselham o uso da cloroquina e alertam sobre possibilidade de colapso da rede de sa�de e funer�ria no Brasil.

 

Os relat�rios ainda reconhecem falta de transpar�ncia do governo Bolsonaro na divulga��o dos dados da pandemia, al�m de lentid�o do Minist�rio da Sa�de para definir estrat�gias de testagem e combate � doen�a. A maior parte dos relat�rios projeta tr�s cen�rios de avan�o de casos e mortes pela Covid no Brasil, do mais ao menos grave, para cerca de duas semanas seguintes.

 

Bolsonaro contrariou t�cnicos da sa�de e agentes de intelig�ncia em frases e no comportamento durante a pandemia ao promover aglomera��es e desdenhar das recomenda��es para evitar a propaga��o do v�rus. Em mar�o de 2020, ele disse que a doen�a "� muito mais fantasia", "n�o � isso tudo que a grande m�dia propaga".

 

Em fevereiro do ano seguinte, afirmou que ainda havia "idiotas que at� hoje ficam em casa". No m�s seguinte, quando o Brasil chegou a marca de 320 mil mortos, o mandat�rio pediu o fim das "frescuras" e do "mimimi" sobre a doen�a.

De forma geral, as estimativas feitas pela Abin se aproximaram dos dados efetivamente registrados. Em alguns casos, a alta da pandemia superou as expectativas dos agentes de intelig�ncia.

 

Em 7 de abril de 2021, o Brasil registrou 341.097 mortos, conforme dados do cons�rcio de ve�culos de imprensa. A proje��o que havia sido feita em 26 de mar�o pelo setor de intelig�ncia era de atingir de 330.216 a 338.558 mortos, no melhor e pior cen�rio, respectivamente, para esta data.

 

Durante a pandemia, o GSI era comandado pelo general Augusto Heleno, enquanto a Abin estava sob chefia de Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL do Rio. Ambos eram aliados fi�is de Bolsonaro e foram procurados pela reportagem, mas n�o se manifestaram.

 

Os ex-ministros Braga Netto (Casa Civil), Eduardo Pazuello (Sa�de) tamb�m n�o quiseram comentar os relat�rios. O ex-presidente Bolsonaro n�o se manifestou at� a publica��o deste texto.

 

Ao menos 18 relat�rios elaborados nos primeiros meses da crise citam risco de "colapso" em diversas regi�es do Brasil. Outros 12 documentos de maio de 2020 afirmam que o Brasil n�o havia atingido o pico da doen�a. Documento da Abin de mar�o de 2020 afirmava que "medidas como essas [distanciamento social] podem reduzir o tempo para que a epidemia alcance o pico do n�mero de caos de cont�gio".

 

Esses pap�is foram originalmente produzidos para as discuss�es do comit� chefiado pela Casa Civil sobre as a��es do governo durante a pandemia, segundo integrantes da gest�o passada. Os documentos n�o eram apresentados a todo o comit� e chegavam �s m�os de assessores de poucos ministros, ainda de acordo com as mesmas autoridades.

 

Tr�s membros da c�pula do Minist�rio da Sa�de de Bolsonaro disseram que desconheciam os relat�rios. Mais de 1.100 arquivos foram disponibilizados � Folha de S.Paulo ap�s diversos pedidos baseados na LAI (Lei de Acesso � Informa��o).

 

A partir de janeiro, os agentes de intelig�ncia passaram a fazer relat�rios sobre a falta de oxig�nio no Amazonas, al�m do risco de a crise se repetir em outras regi�es. � �poca, Bolsonaro disse que o governo foi "al�m daquilo que somos obrigados a fazer" na crise do estado. A gest�o dele, por�m, havia ignorado alertas em s�rie sobre a falta de oxig�nio.

Fora da Presid�ncia, Bolsonaro ainda � pressionado por apura��es sobre a Covid. O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), anulou neste m�s uma decis�o da Justi�a Federal que havia arquivado parte de uma investiga��o sobre irregularidades cometidas pelo ex-presidente na pandemia.

 

Um documento do setor de intelig�ncia do governo, de 2 de fevereiro de 2021, apontou que ainda n�o havia informa��es suficientes para concluir se a variante P.1 da Covid-19 era mais ou menos agressiva. "No entanto, por apresentar maior transmissibilidade, a nova variante aumenta o risco de colapso do sistema de sa�de, levando a maior n�mero de �bitos relacionados", disse o documento.

 

O mesmo papel cita a vacina��o como medida efetiva contra a Covid. "Em um cen�rio de descontrole da pandemia no pa�s, maior seria a chance de o v�rus sofrer muta��es em s�rie e, consequentemente, afetar a efic�cia das vacinas desenvolvidas", afirma o relat�rio que leva carimbo do GSI.

 

Dias mais tarde, em 11 de fevereiro, Bolsonaro disse que "o cara que entra na pilha da vacina, s� a vacina, � um idiota �til. N�s devemos ter v�rias op��es". Ao menos oito informes dos primeiros meses da pandemia citam manifesta��es de entidades cient�ficas e governos estrangeiros desaconselhando o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina.

 

"Estudos recentes realizados em pacientes com Covid-19 que usaram esses medicamentos identificaram graves dist�rbios do ritmo card�aco, em alguns casos fatais, particularmente se utilizados em dosagens altas ou em associa��o com o antibi�tico azitromicina", afirma relat�rio de 23 de abril de 2020.

 

Apesar dessas an�lises, Bolsonaro usou o Laborat�rio do Ex�rcito, al�m do corpo diplom�tico, para produzir e receber doa��es estrangeiras dos f�rmacos, que acabaram encalhados durante a pandemia. Alguns dos relat�rios alertam para o desgaste pol�tico da m� gest�o federal na pandemia.

 

Em documento de 19 de maio de 2020, os agentes afirmam que prov�veis falhas no sistema funer�rio poderiam "acarretar graves consequ�ncias sociais, impactando a percep��o sobre as a��es estatais de enfrentamento � pandemia e, no limite, a pr�pria confian�a da popula��o no Estado". Em 7 de junho, um "briefing" n�o assinado diz que a decis�o do Minist�rio da Sa�de de esconder dados da Covid-19 "gerou desgaste na imagem do minist�rio e do governo federal".

 

"A consequ�ncia desta situa��o espec�fica � o minist�rio perder espa�o pol�tico e controle das informa��es prestadas e, com isso, h� redu��o na transpar�ncia dos dados brasileiros, o que dificultaria a tomada de decis�o nos estados e a ado��o de a��es e pol�ticas para refrear a epidemia no pa�s", disse o relat�rio.

 

O documento ainda citou risco de boicotes internacionais ao pa�s e disse que a Sa�de ainda n�o havia publicado "padr�es t�cnicos" para combate e avalia��o da pandemia nos estados e munic�pios.� �poca, Bolsonaro debochou do atraso na divulga��o dos dados. "Acabou mat�ria no Jornal Nacional", disse ele em 5 de junho de 2021, quando tamb�m se referiu � Globo como "TV funer�ria".

Os pap�is da Abin n�o foram entregues � CPI da Covid. A comiss�o chegou a solicitar previs�es feitas pelo governo sobre a pandemia, mas recebeu apenas an�lises da Sa�de sobre o cen�rio do momento.

 

O governo Bolsonaro negou o acesso � Folha de S.Paulo aos documentos da Abin e do GSI durante a pandemia. "Todos os relat�rios referentes ao novo coronav�rus (Covid-19) s�o instrumentos de estudo e a sua publiciza��o est� resguardada", afirmou uma das respostas do governo passado.

 

A gest�o Lula chegou a impedir o acesso aos relat�rios, mas mudou de postura e passou a apresentar os pap�is a partir de maio. Do in�cio da pandemia at� essa quarta (26), eram registrados 704.659 mortes pela Covid e 37.717.062 casos, segundo o Minist�rio da Sa�de.

 


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