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Estado de Minas RESPIRA��O

Por que roncamos e quando isso � um problema?

Estima-se que cerca de metade da popula��o adulta mundial ronque, e 1 em cada 10 crian�as fa�a o mesmo. Ent�o, est� tudo bem porque � normal roncar, certo? Errado.


04/07/2022 09:24 - atualizado 04/07/2022 09:42

Mulher olha para homem roncando
O ronco n�o se resume a sinais de que algo est� errado ou a problemas sociais com quem dorme pr�ximo. A sa�de f�sica, mental e social de quem ronca tamb�m pode ser bastante afetada (foto: Getty Images)

O ronco � um som produzido pela vibra��o dos tecidos da faringe provocada pelo estreitamento da musculatura das vias respirat�rias. As causas s�o diversas: h� pessoas que roncam quando dormem de barriga para cima, ap�s ingerir bebida alco�lica ou usar medicamentos, por exemplo.

 

H� tamb�m quem ronque porque tem altera��es anat�micas, como am�gdalas grandes e c�u da boca estreito, ou por causa de fatores como obesidade, tabagismo, gravidez e hist�rico de doen�as al�rgicas.

 

 

 

"A mudan�a de posi��o para dormir, o relaxamento da musculatura durante o sono e os poss�veis pontos de estreitamento determinam uma altera��o do fluxo a�reo, levando a ru�dos diferentes — roncos — e at� a momentos onde existe o bloqueio total da entrada do ar - apneias", explica Edilson Zancanella, presidente da Associa��o Brasileira de Medicina do Sono, coordenador do servi�o de dist�rbios do sono do Hospital das Cl�nicas da Unicamp e diretor da Associa��o Brasileira do Sono, em entrevista � BBC News Brasil.

Estima-se que cerca de metade da popula��o adulta mundial ronque, e 1 em cada 10 crian�as fa�a o mesmo. Ent�o, est� tudo bem porque � normal roncar, certo? Errado.

 

"O ronco � um sinal de alerta, um sintoma. Habitualmente, o ronco � um sinal de que a via a�rea est� obstru�da, reduzida de tamanho", afirma � BBC News Brasil Luciane Mello, pneumologista e pesquisadora do Instituto do Sono.

Al�m dos efeitos diretos e indiretos, � preciso investigar tamb�m a exist�ncia de patologias, como a Apneia Obstrutiva do Sono, uma obstru��o da via a�rea na garganta que faz com que a pessoa pare temporariamente de respirar (em casos graves ela pode at� matar).

Ou seja, roncar pode at� ser comum, mas para os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil definitivamente n�o � normal, mesmo que seja tratado de forma at� bem humorada pela popula��o.

� comum que um roncador se descubra assim por meio de outra pessoa, geralmente familiares ou algu�m com quem se divide o mesmo espa�o. Muitas vezes, essa companhia se sente incomodada, algumas exigem tratamento e, em alguns casos extremos, at� levam � separa��o do casal.

Al�m dos fatores listados acima, vale lembrar que homens tendem a roncar mais do que as mulheres. "Isso se d� porque a faringe deles � maior e tem maior colapsibilidade. J� as mulheres passam a roncar mais depois da menopausa, na fase do climat�rio, pela redu��o de horm�nios como o estr�geno e a progesterona", explica Danilo Sguillar, otorrinolaringologista coordenador do Departamento de Medicina do Sono da Associa��o Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C�rvico-Facial.

Mas o ronco n�o se resume a sinais de que algo est� errado ou a problemas sociais com quem dorme pr�ximo.

A sa�de f�sica, mental e social de quem ronca tamb�m pode ser bastante afetada. Associada a uma noite intranquila, a piora da qualidade desse sono est� ligada a maior risco de doen�as card�acas, acidente vascular cerebral, transtornos depressivos e outros problemas relacionados � sa�de.

Entenda mais abaixo.

O que � o ronco, e quais s�o os seus efeitos?

A anatomia das nossas vias a�reas superiores � composta pelo nariz, faringe e laringe. E "o ronco nada mais � do que o ar que passa de forma turbilhonada em local de estreitamento da via a�rea superior", explica Sguillar. Com esse estreitamento, h� uma redu��o do fluxo de ar que prejudica a oxigena��o durante o sono, chegando ao bloqueio total em alguns casos (a chamada apneia).

Esse ru�do pode estar ligado tamb�m � flacidez da musculatura, a altera��es no fechamento da faringe, a altera��es hormonais e, muitas vezes, ao uso de subst�ncias que provocam maior relaxamento da musculatura, como �lcool, ansiol�ticos (rem�dios para transtornos de ansiedade) e relaxantes musculares.

H�, portanto, diversas causas poss�veis. A anatomia do pesco�o, como ter garganta estreita ou muito comprida, am�gdalas aumentadas e adenoidite, tamb�m pode causar o ronco. O mesmo vale para hist�rico de doen�as al�rgicas (bronquite, rinite, sinusite etc), doen�as respirat�rias que dificultam a respira��o pelo nariz, adenoides, desvio de septo e at� imperfei��es anat�micas na arcada dent�ria e uso de chupeta.

Sem falar na posi��o em que a pessoa dorme: dormir com a barriga virada para cima pode levar ao ronco porque essa posi��o afeta a posi��o da l�ngua dentro da boca, que fica mais para tr�s.

Esse quadro geralmente � associado a noites mal dormidas.

Dormir bem � um fator importante para a sa�de e qualidade de vida: � no sono que a musculatura relaxa, horm�nios s�o liberados e a mem�ria � fortalecida. Em geral, o sono que descansa e repara n�o tem agita��es ou interrup��es e dura cerca de 7 a 9 horas para os adultos e de 12 a 17 horas para as crian�as, a depender da idade, segundo o Sistema de Sa�de Brit�nico (NHS).

De outro, os efeitos de uma noite mal dormida podem aparecer j� no dia seguinte, comprometendo a capacidade de mem�ria, concentra��o, racioc�nio e coordena��o motora. Irrita��o, dores de cabe�a, press�o arterial alterada tamb�m s�o decorr�ncia disso. Al�m dos efeitos de m�dio e longo prazo, como os mencionados acima.

Diagn�stico dos fatores em torno do ronco

Antes de tudo, � importante enfatizar que somente um profissional de sa�de especializado deve diagnosticar e tratar a causa do ronco. Recomenda-se buscar atendimento de um otorrinolaringologista ou um m�dico especialista em medicina do sono. O tratamento e o diagn�stico podem envolver tamb�m outros profissionais de sa�de, como fonoaudi�logo e cirurgi�o dentista.

O diagn�stico � feito em consulta com an�lise dos sintomas, hist�rico de sa�de detalhado do paciente, e se poss�vel acompanhado de familiares ou companheiro, se tiver, pois essa pessoa pode ajudar muito. "A gente pergunta, se eventualmente junto desse ronco, o parceiro ou uma parceira, observa uma parada respirat�ria associada", explica Mello, do Instituto do Sono.


Mulher usando CPAP
Em alguns casos de apneia, os m�dicos indicam o uso de CPAP, um equipamento que mant�m aberta a passagem de ar na garganta (foto: Getty Images)

A depender da consulta, o m�dico poder� solicitar uma laringoscopia, exame em que se avalia as vias a�reas altas, como o nariz, faringe e laringe, ou exames para diagnosticar dist�rbios respirat�rios do sono (DBS), quando h� um padr�o anormal ao respirar dormindo, que pode ocasionar roncos e at� pausas na respira��o durante a noite.

A avalia��o do sono � feita por um exame chamado polissonografia, que � a vig�lia do paciente dormindo, com sensores que ajudam a monitorar os roncos.

� fundamental que se observe o sono do paciente que ronca e fa�a uma avalia��o do comportamento, se h� agita��o, despertar noturno, falta de ar, padr�o do ronco, intensidade, posi��o corporal etc.

O ronco pode estar associado � apneia obstrutiva do sono, "uma patologia preocupante que pode gerar consequ�ncias graves cardiovasculares, como infarto agudo do mioc�rdio, arritmia, derrame e hipertens�o arterial de dif�cil controle", segundo Sguillar, Associa��o Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C�rvico-Facial.

O que � apneia obstrutiva do sono?

Um estudo publicado na revista cient�fica The Lancet estimou que quase 1 bilh�o de pessoas no mundo sejam afetadas pela apneia obstrutiva do sono (AOS), doen�a que costuma ser ignorada pelos pacientes e at� por alguns m�dicos que n�o se atentam ao sono do paciente, a qual � definida como obstru��o da via a�rea ao n�vel da garganta, fazendo com que a pessoa tenha uma parada na respira��o.

Ela � um dos dist�rbios respirat�rios do sono e est� associada ao ronco, mas nem todo mundo que ronca tem apneia obstrutiva do sono.

H� tr�s tipos de apneia: a apneia central, que � quando n�o h� esfor�o inspirat�rio, apneia obstrutiva que � quando h� esfor�o inspirat�rio associado a cessa��o do fluxo de ar, e apneia mista que � quando acontece as duas ao mesmo tempo.

Segundo o Minist�rio da Sa�de, quando isso acontece pode durar cerca de 20 segundos, mas h� casos de dois minutos, e pode acontecer, inclusive, seguidas vezes ao longo de uma mesma noite.

Homens s�o mais afetados pela Apneia Obstrutiva do Sono, e 30% destes t�m mais de 50 anos de idade. Mas crian�as tamb�m s�o e podem ser afetadas pelo ronco, cerca de 1% a 4% das crian�as t�m apneia obstrutiva do sono.

No caso das crian�as, � fundamental observar sinais ou sintomas, como respirar com a boca aberta, se h� transpira��o e agita��o durante o sono, como ficar trocando de posi��o na cama enquanto dorme, despertar noturno. Urinar dormindo tamb�m pede aten��o. Tudo isso pode ser sinal de apneia obstrutiva do sono durante a noite.

Sonol�ncia excessiva diurna, sono n�o reparador, fadiga, inquieta��o e dor de cabe�a pela manh� tamb�m s�o sinais de alerta, em crian�as e adultos.

Alguns estudos afirmam que cerca de 15% das gestantes acima do peso sofrem de apneia obstrutiva do sono. Nos casos em que a gesta��o � de alto risco, a incid�ncia pode aumentar at� 60%, com impactos inclusive para o beb�.

Os principais sintomas da apneia obstrutiva do sono s�o:

  • Acordar com frequ�ncia durante a noite
  • Roncar alto
  • Altera��o na frequ�ncia da respira��o
  • Ins�nia
  • Irrita��o e inquieta��o durante o dia
  • Sono e cansa�o excessivo durante o dia
  • Boca seca ao acordar

Ela pode ir do est�gio prim�rio, considerado o mais benigno, que � quando a respira��o � obstru�da sem haver falta de ar, e chegar at� a S�ndrome da Apneia-Hipopneia Obstrutiva do Sono (SAHOS), a qual � evolutiva e por isso pode ser leve, moderada ou grave.

Apneia ocorre quando h� interrup��o completa do ar: quando o fluxo de ar para os pulm�es diminui, reduz os n�veis de oxig�nio na corrente sangu�nea e o paciente acorda. No caso da hipopneia, h� redu��o do ar.


Mulher dormindo bem
Boas noites de sono s�o essenciais para a sa�de do corpo e da mente (foto: Getty Images)

Mello, do Instituto do Sono, exemplifica. "�s vezes, o paciente faz um ronco ressuscitativo, um ronco de retorno muito intenso - ele para e depois volta a roncar intensamente. Essa parada muitas vezes est� associada � apneia do sono. Ele ronca, ronca, ronca e para [de respirar]. Ronca, ronca, ronca e para. Essa parada pode ser um fechamento da via a�rea completa."

Em casos graves, o ciclo pode acontecer de 30 a 50 vezes por noite.

Como tratar ou reduzir o ronco?

O tratamento depende da causa e pode envolver diversos departamentos cl�nicos e profissionais de sa�de.

Aos que roncam pouco, baixo e em ocasi�es pontuais, como no caso de obstru��o nasal decorrente de uma gripe, por exemplo, a simples mudan�a da posi��o ao dormir pode ser suficiente para amenizar ou resolver o problema.

Isso inclui tanto dormir de lado quanto inclinar a parte superior do corpo com ajuda de um travesseiro de eleva��o, por exemplo, pode contribuir para manter as vias a�reas superiores abertas (h� op��es de travesseiro antirronco que podem ser recomendados por um profissional de sa�de).

Mudan�as no estilo de vida s�o igualmente recomendadas, como perder peso em caso de pacientes obesos, parar de fumar e tratamentos para alergias e doen�as respirat�rias (se for essa a causa associada ao ronco), praticar atividades f�sicas na rotina, manter a press�o arterial sob controle e realizar exerc�cios que fortalecem a estrutura da garganta.

O tratamento pode contar tamb�m com dilatadores nasais, esteroides intranasais e adenotonsilectomia. Mas, novamente, tudo isso s� poder� ser definido ap�s diagn�stico feito por um profissional de sa�de.

Em casos moderados e graves, o uso de m�quina de press�o positiva cont�nua das vias a�reas (CPAP) pode ser recomendado, pois ajuda a manter as vias a�reas abertas por meio de uma corrente de ar. O uso passa por uma m�scara conectada a um tubo, como as usadas para fazer inala��o, da qual sai uma corrente de ar que vai para a garganta e mant�m a via aberta durante a noite. Quem indica a m�quina e a press�o do ar � o especialista que est� acompanhando o paciente.

Caso nenhuma dessas op��es resolva o problema, o especialista pode avaliar a possibilidade de cirurgia (chamada de uvulopalatofaringoplastia).

"A crian�a tamb�m pode ter apneia obstrutiva do sono, e nestes casos, a indica��o da remo��o das am�gdalas e da adenoide pelo otorrinolaringologista se faz necess�ria", afirma Sguillar, do Departamento de Medicina do Sono da Associa��o Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C�rvico-Facial.

"Se houver uma obstru��o nasal, eventualmente a am�gdala, muitas vezes a gente opera esses pacientes para poder melhorar essa condi��o nasal. Ela � uma coadjuvante dessa hist�ria, que muitas vezes a gente tem que tratar tamb�m. Obstru��o nasal com rinite �s vezes d� ronco noturno e a gente consegue ao tratar a rinite, melhorar o ronco. Muitas vezes, a gente trata a via a�rea com fonoterapia, com fonoaudiologia espec�fica para fortificar a musculatura, o que ajuda nesse perfil de ronco. Mas tudo vai depender da causa. A gente vai analisando cada paciente e avaliando qual � a melhor estrat�gia", conclui Mello, do Instituto do Sono.

Esta reportagem foi originalmente publicada neste link

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