(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas COMPORTAMENTO

"� poss�vel ser gorda e feliz": modelo argentina luta contra gordofobia

Influenciadora e ativista fala sobre a luta contra preconceito, as limita��es que ainda enfrenta na sociedade e a import�ncia do respeito e da toler�ncia


22/07/2022 09:23 - atualizado 22/07/2022 09:25

Agus Cabaleiro
Agus Cabaleiro: "Ser gordo n�o � uma doen�a" (foto: Arquivo pessoa/Agus Cabaleiro)
Agus Cabaleiro se define como uma militante do amor pr�prio. A influenciadora digital argentina de 27 anos, formada em publicidade, modelo e criadora de conte�do, � conhecida por seus milhares de seguidores como Online Mami.

Cabaleiro � ativista do movimento de positividade corporal, que desafia padr�es de est�tica e incentiva que as pessoas amem seus corpos, independente da forma deles.

Ela compartilha mensagens desse tipo em sua conta no Instagram com milhares de seguidores e tamb�m em outras plataformas, assim como em seu livro "Te lo digo por tu bien. Sobre ser gordas y ocupar espacios con libertad" ("Te digo para o seu bem. Sobre ser gorda e ocupar espa�os com liberdade", em tradu��o literal).

A ativista conversou a BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) sobre a sua luta contra a gordofobia.

Leia tamb�m:  Gordofobia: quando o padr�o que importa � o da sua sa�de .

 

BBC News Mundo - Quero come�ar pelo seu livro: "Te digo para o seu bem". Por que esse t�tulo?

Agus Cabaleiro - � uma frase que acredito que todas, todes, escutamos, independente do tamanho do nosso corpo. Obviamente est� muito relacionado a viver e crescer com um corpo gordo, onde as pessoas te recomendam coisas, te d�o conselhos ou te d�o dicas "para seu bem" e muitas vezes com amor, com boas inten��es, mas que basicamente denotam gordofobia.

BBC News Mundo - Que tipo de coisas eles disseram para voc� "para seu pr�prio bem"?

Cabaleiro - Quando eu era mais nova, minha m�e e minha av� me falavam muito "coma um pouco menos porque voc� vai engordar, estou falando isso para o seu pr�prio bem" e tamb�m falavam muito sobre as roupas. "N�o use cal�as brancas, n�o use algo t�o apertado, algo t�o curto, estou dizendo isso para seu bem."


Agus Cabaleiro, argentina
'Podemos ter uma rela��o de amor com o nosso corpo, com toler�ncia e respeito', diz modelo Agus Cabaleiro (foto: Arquivo pessoal/Agus Cabaleiro)

BBC News Mundo - Como voc� entende a gordofobia em sua experi�ncia pessoal?

Cabaleiro - A gordofobia � basicamente avers�o, medo de pessoas com corpos gordos e de ser gordo tamb�m. H� muita gordofobia internalizada.

BBC News Mundo - Voc� diz em seu livro que quer que as pessoas percam o medo da palavra "gordo". Por qu�?

Cabaleiro - Somos educados a entender a palavra "gordo" como um insulto, quando na verdade � um adjetivo como magro, alto, baixo etc. Os problemas s�o todas as no��es que associamos � palavra gorda e � palavra magra. Quando pensamos em algu�m gordo, ou nos ensinam o que �, pensamos em algu�m que n�o � saud�vel, que � burro, desajeitado, que � feio, que n�o faz exerc�cios, etc. E, ao contr�rio, quando algu�m � magro, pensamos que � saud�vel, que se ama e que se cuida. Isso � dessa forma porque somos ensinados assim desde que nascemos. Tantas pessoas d�o voltas pela palavra gordo e procuram eufemismos como "gordinho" ou "grande" para evitar dizer que algu�m � gordo ou n�o se reconhecer como gordo.

 

BBC News Mundo - Por que a palavra em si � t�o importante?

Cabaleiro - Para mim � muito importante, justamente para tirar o estigma que existe. Me lembro de ter 14 ou 15 anos, em plena adolesc�ncia, e que me dava uma esp�cie de c�ibra no est�mago quando ouvia a palavra gorda e n�o podia nome�-la, n�o podia escrev�-la. Ou seja, era nesse n�vel. � como algo muito forte com a palavra em si, com o som, � muito curioso como fen�meno. Ent�o, no come�o do livro, eu digo que um dos objetivos � perder o medo dessa palavra, porque ser gordo n�o � nada mau, � apenas um adjetivo. � uma descri��o do seu corpo.


Leia tamb�m:  Gordofobia: alerta sobre obesidade � mais que necess�rio.


Agus Cabaleiro, modelo
Agus Cabaleiro em um dos eventos do seu livro em Buenos Aires, na Argentina (foto: Arquivo pessoal/Agus Cabaleio)

BBC News Mundo - Em sua conta no Instagram, voc� se define como militante do amor pr�prio. O que significa isso? Qual � a mensagem mais importante que quer passar?

Cabaleiro - A mensagem mais importante � que � poss�vel viver uma vida plena com o corpo que tem, qualquer seja o seu tamanho. E que pode realmente ter uma rela��o de amor consigo mesmo e com o seu corpo porque voc� pode ter toler�ncia, respeito e ter amor pr�prio. Essa � a minha mensagem, � poss�vel viver uma vida plena e feliz, n�o importa o tamanho do seu corpo.

BBC News Mundo - Voltando � sua adolesc�ncia, disse em outras entrevistas que passava o ver�o morrendo de calor com jeans. Quais coisas deixava de fazer?

Cabaleiro - Deixei de fazer milh�es de coisas por ter um corpo gordo, porque me ensinaram que n�o podia fazer.

Quando era crian�a havia um monte de roupas que n�o podia usar porque n�o tinha o meu tamanho e hoje ainda h� um monte de coisas que tampouco posso usar porque n�o h� o meu tamanho.

E hoje em dia, como quando eu era adolescente, h� lugares f�sicos nos quais n�o posso entrar, por exemplo, h� pistas de dan�a onde eles n�o te deixam entrar.

BBC News Mundo - Como n�o te deixam entrar?

Cabaleiro - Isso aconteceu toda a minha vida, sinto que � algo que acontece em toda a Argentina e em todo o mundo. H� lugares para sair para dan�ar. H� circuitos de danceteria e bares. E aconteceu comigo toda vez que tentei entrar (em lugares do tipo) e que claramente n�o era bem-vinda. Eles deixam todas as suas amigas entrarem e te deixam de lado, e te dizem, bem, espere e tenha sua carteira de identidade na m�o. J� cheguei a esperar 40 minutos durante a noite na porta de um lugar para que viessem com desculpas para n�o me deixarem entrar.

E h� momentos em que eles literalmente dizem "seus amigos n�o me disseram que uma garota gorda estava vindo com eles". Isso aconteceu comigo quando eu tinha 16 anos e aconteceu comigo h� dois anos no per�odo pr�-pandemia, essas coisas n�o mudam.

BBC News Mundo - Aconteceu muitas vezes?

Cabaleiro - Aconteceu todas as vezes em que fui (a esses lugares). N�o vivenciei isso mil vezes, porque n�o fui mil vezes expor a minha sa�de mental e a minha integridade por causa de uma danceteria. Te fazem entender que esse lugar n�o � para voc�, porque se voc� n�o entra uma, n�o entra duas vezes e n�o vai mais, e � assim que eles segmentam.


Agus Cabaleiro, ativista
Influenciadora acaba de lan�ar a sua pr�pria linha de roupas (foto: Arquivo pessoal/Agus Cabaleiro)

BBC News Mundo - Voc� j� foi capa de uma revista, � modelo, tem sua linha de roupas e comemora dizendo "n�o ser uma pessoa gorda, mas uma mulher gorda". Por�m, diz tamb�m que "se � gorda n�o te classificam como mulher". Ao que voc� se refere?

Cabaleiro - Como mulheres, temos que cumprir basicamente quatro condi��es, sen�o voc� n�o est� cumprindo o seu papel. Essas condi��es s�o basicamente ser m�es, esposas, bem-sucedidas e sensuais - o que n�o significa dizer que s�o f�ceis, mas algo bonito de ver, um objeto. Mas as mulheres gordas nem se qualificam para serem solicitadas por essas coisas. Aqui na Argentina, homens que est�o com gordas s�o chamados de "comegordas", eles dizem "voc� est� comendo uma gorda". Isso � muito depreciativo. Ser bem-sucedidas? � imposs�vel, porque todas as mulheres gordas "s�o desajeitadas". Na verdade, a boa apar�ncia que pedem nos trabalhos � basicamente ser alto, magro e branco. M�e? Tampouco, porque te dizem que "voc� vai morrer antes que o garoto chegue ao ensino m�dio". � incr�vel, existem ativistas gordas muito famosas nos Estados Unidos que postam uma foto com seus filhos porque foram ao zool�gico, e as pessoas dizem "que mau exemplo voc� � porque est� ensinando a eles que n�o precisa se cuidar" ou "voc� vai morrer antes que seu filho chegue ao ensino m�dio". Ent�o, as mulheres gordas est�o em um degrau abaixo. Porque basicamente veem uma gorda antes de ver uma pessoa, esse � o problema.

Capa do livro da influenciadora, 'Te lo digo por tu bien'
Um dos objetivos do livro � que percam o medo da palavra gorda, porque ser gorda n�o � ser nada mau, � apenas um adjetivo, uma descri��o do seu corpo (foto: Arquivo pessoal/Agus Cabaleiro)

BBC News Mundo - Algumas pessoas fazem coment�rios negativos em suas redes. Como responde �s cr�ticas?

Cabaleiro - Dos coment�rios negativos que chegam �s minhas redes, 80% t�m a ver com sa�de. Nos outros 20% te chamam diretamente de "gorda feia", "morre"... H� muita confus�o sobre o tema da sa�de. Em primeiro lugar, ser gordo n�o � uma doen�a. A OMS [Organiza��o Mundial da Sa�de] define como fator de risco, n�o uma doen�a em si. Mas, por exemplo, brancos s�o mais propensos a ter c�ncer de pele do que negros, e n�o vemos campanhas do dia mundial contra ser branco. Por ser um fator de risco, n�o colocamos algu�m que � branco no Instagram "voc� est� normalizando ser branco e est� passando um recado ruim". Por que com corpos gordos sim?

N�o existe doen�a que todos os corpos gordos tenham e n�o existe doen�a que afete apenas corpos gordos. Diabetes e colesterol alto s�o sempre mencionados, mas tem muita gente que tem diabetes e colesterol que n�o � gorda, e nem todo gordo tem diabetes e colesterol. Por outro lado, al�m do debate se um corpo gordo � saud�vel ou n�o, para mim � bom pensar nessa quest�o de por que uma pessoa gorda feliz � tida como um mau exemplo. Quando as pessoas veem meu conte�do n�o pensam que v�o comer muito ou deixar de ir � academia para serem gordas. O que as pessoas entendem quando veem meu conte�do � que voc� pode ter uma vida plena e feliz com qualquer corpo.


Mulheres sentadas enquanto assistem a Cabalero durante apresentação de seu livro
O p�blico em uma das apresenta��es do livro da influenciadora digital em Buenos Aires (foto: Arquivo pessoal/Agus Cabaleiro)

BBC News Mundo - Voc� tamb�m falou de experi�ncias ruins quando vai ao m�dico...

Cabaleiro - Os m�dicos muitas vezes atribuem qualquer coisa que est� acontecendo com voc� � gordura. Ent�o, eles te mandam para casa sem fazer nenhum teste e mandam voc� emagrecer, caminhar todos os dias e fazer dieta. E voc� vai para casa pensando que esse � o problema, quando talvez a raz�o e o gatilho para essa doen�a ou o que est� acontecendo com voc� seja outra coisa. E isso � muito perigoso. � uma loucura, e ainda est� acontecendo muito.

Leia tamb�m: Est� na hora de criminalizar a gordofobia?

BBC News Mundo - Est�vamos falando das rea��es negativas, mas tamb�m h� muitas rea��es positivas. A quem voc� atinge com sua mensagem?

Cabaleiro - Felizmente, minha mensagem chega a muitas pessoas de muitos g�neros, de muitos tamanhos de corpo, de muitas idades. Meninas que s�o 10 anos mais novas que eu, que s�o adolescentes, que s�o m�es e que talvez tomem meus conte�dos como ferramentas para criar suas filhas, ou meninos ou meninas que s�o muito magros, mas a mensagem ainda os atinge da mesma forma, o que � �timo.


Agus Cabaleiro abraça duas mulheres que assistiram à apresentação de seu livro
Modelo destaca que sua mensagem chega a muitas pessoas de v�rios g�neros, tamanhos de corpo ou de muitas idades" (foto: Arquivo pessoal/Agus Cabaleiro)

BBC News Mundo - Voc� disse que "ningu�m est� a salvo" de cr�ticas, porque elas podem ser direcionadas a um adolescente porque ele � gordinho ou a uma menina magra porque ela n�o tem muitos seios e dizem que ela � uma "t�bua".

Cabaleiro - N�o � tudo a mesma coisa. Uma coisa � ser ensinado que voc� n�o � atraente e outra coisa � n�o ter acesso � sa�de, n�o ter acesso � roupa, n�o ter acesso ao trabalho, que � o que acontece no caso dos corpos gordos, independentemente do g�nero.

Mas, na realidade, o padr�o hegem�nico afeta a todos porque sempre falta algo ou sempre sobra alguma coisa, ent�o, voc� tem que comprar tal produto ou seguir tal dieta e ningu�m est� salvo disso. Porque o neg�cio � que ningu�m � salvo e que todo mundo tem que comprar algo ou fazer alguma coisa e gastar dinheiro com isso, � uma ind�stria.

BBC News Mundo - H� dias em que voc� ainda acha dif�cil se ver dessa forma positiva que transmite?

Cabaleiro - �bvio, ser ativista n�o salva a sua vida. �s vezes eu recebo mensagens que fazem com que eu me sinta mal. N�o me acontece uma vez, acontece mil vezes, porque h� mensagens t�o ofensivas que � muito complexo n�o se importar.

Ent�o, obviamente h� momentos em que o que n�o incomodava em seu corpo vai incomod�-lo ou um coment�rio vai te pegar mais que o outro. Para mim, se incomodar com o seu corpo n�o � ser uma ativista ruim, que n�o gosta de si, mas seria bom come�armos a ter mais toler�ncia e mais respeito por n�s mesmos.


Agus Cabaleiro, influencer
'Acho que um passo muito importante para mim e que ajuda muito no di�logo interno � buscar representatividade' (foto: Arquivo pessoal/Agus Cabaleiro)

BBC News Mundo - Como voc� faz quando mensagens negativas s�o enviadas?

Cabaleiro - Um passo muito importante para mim e que ajuda muito no di�logo interno � buscar representatividade, buscar pessoas parecidas comigo. Achamos que nosso corpo est� errado porque vemos corpos iguais e o nosso � diferente, quando na realidade, dentro da diversidade corporal, existem milh�es de pessoas, milh�es de corpos, cores, alturas, pesos etc.

BBC News Mundo - E al�m de buscar representatividade?

Cabaleiro - Eu acho que um pouco quando voc� se sente mal e � uma coisa de um dia, uma coisa moment�nea, � bom deixar pra l�. Se voc� est� triste ou algo te afeta, n�o � ruim, � uma emo��o normal da vida e � muito dif�cil desmantelar realmente tudo o que nos foi ensinado. Para mim � bom come�ar a fazer pequenas coisas para desenvolver nossa autoestima e desenvolver respeito e toler�ncia por n�s mesmos. ï¿½ come�ar a se encorajar, a talvez usar uma roupa que voc� n�o estava empolgado porque, n�o sei, eles te ensinaram que fica ruim em voc�, que n�o te favorece ou que marca algo que voc� n�o gosta. � se olhar diante do espelho. At� os 18 anos, eu n�o tinha espelhos em minha casa e, agora, minha casa est� cheia de espelhos. Porque n�o queria me ver e agora eu quero me ver. Tem dias que quero muito me ver porque adoro, e tem dias que n�o quero me ver, e � bom entender que isso � normal e que faz parte do processo.

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62231340

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)