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Estado de Minas MONKEYPOX

Var�ola dos macacos: entenda a transmiss�o, os sintomas e a vacina

Brasil tem 978 casos da var�ola, segundo dados do Minist�rio da Sa�de; homens com menos de 40 anos representam a grande maioria dos infectados


29/07/2022 08:42 - atualizado 29/07/2022 09:38

Mãos com feridas
A var�ola dos macacos causa les�es profundas na pele (foto: CDC/BRIAN W.J. MAHY )
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) declarou, h� seis dias, a var�ola dos macacos como emerg�ncia de sa�de p�blica de interesse internacional. Conhecida internacionalmente como monkeypox, a doen�a, end�mica em regi�es da �frica, j� est� atingiu neste ano 20.637 pessoas em 77 pa�ses.

No Brasil, j� s�o 978 casos, sendo 744 apenas em S�o Paulo. Considerando a import�ncia da informa��o para combater o avan�o do surto, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou nessa quinta-feira (28) um encontro onde especialistas apresentaram o que j� se sabe sobre a doen�a e tamb�m responderam d�vidas de participantes presenciais e online.

"Esse v�rus n�s conhecemos e sabemos como lidar com ele. Temos todos os elementos para fazer sua erradica��o", disse o m�dico Amilcar Tanuri, coordenador do Laborat�rio de Virologia Molecular da UFRJ e consultor do Minist�rio da Sa�de.

Segundo ele, como j� existem muitos estudos sobre a monkeypox, � uma situa��o diferente da covid-19, que surgiu como uma doen�a nova. No entanto, o pesquisador alerta que o sucesso no combate ao surto depender� do compromisso do poder p�blico.

A monkeypox � causada por um poxv�rus do subgrupo orthopoxv�rus, assim como ocorre por outras doen�as como a vaccinia, a cowpox e a var�ola humana, erradicada em 1980 com o aux�lio da vacina��o. O quadro end�mico no continente africano se deve a duas cepas distintas.

Uma delas, considerada mais perigosa por ter uma taxa de letalidade de at� 10%, est� presente na regi�o da Bacia do Congo. A outra, com uma taxa de letalidade de 1% a 3%, encontra-se na �frica Ocidental e � a que deu origem ao surto atual.

No entanto, segundo o m�dico, o v�rus em circula��o sofreu um rearranjo g�nico que contribuiu para sua capacidade de transmiss�o pelo mundo. "Ele teve uma evolu��o disruptiva. Ele sofreu uma muta��o dr�stica", afirmou. O pesquisador afirmou que casos graves n�o s�o recorrentes. A preocupa��o maior abrange os grupos de risco que incluem imunossuprimidos, crian�as acima de 13kg e gestantes.

"A taxa de letalidade tem rela��o com o sistema de sa�de local. No surto atual, at� o momento n�o tivemos �bitos fora das �reas end�micas. Isso mostra que o v�rus da monkeypox � de baixa letalidade", salientou a virologista Clarissa Damaso, chefe do Laborat�rio de Biologia Molecular de V�rus da UFRJ e assessora da OMS.

Transmiss�o e sintomas

A var�ola dos macacos foi descrita pela primeira vez em humanos em 1958. Na �poca, tamb�m se observava o acometimento de macacos, que morriam. Vem da� o nome da doen�a. No entanto, no ciclo de transmiss�o, eles s�o v�timas como os humanos. Na natureza, roedores silvestres representam o reservat�rio animal do v�rus.

"N�o h� reservat�rios descritos em locais fora da �frica. Uma das maiores preocupa��es no surto atual � impedir o v�rus de encontrar um reservat�rio em outros pa�ses. Se isso acontece, � muito mais dif�cil a conten��o", garantiu Clarissa.

Sem um reservat�rio animal, a transmiss�o no mundo vem ocorrendo de pessoa para pessoa. A infec��o surge a partir das feridas, fluidos corporais e got�culas do doente. Isso pode ocorrer mediante contato pr�ximo e prolongado sem prote��o respirat�ria, contato com objetos contaminados ou contato com a pele, inclusive sexual.

O tempo de incuba��o do v�rus varia de 5 a 21 dias. O sintoma mais caracter�stico � a forma��o de erup��es e n�dulos dolorosos na pele. Tamb�m pode ocorrer febre, calafrios, dores de cabe�a, dores musculares e fraqueza.

"As les�es s�o profundas, bem definidas na borda e h� uma progress�o: come�a como uma mancha vermelha que chamamos de m�cula, se eleva tornando-se uma p�pula, vira uma bolha ou ves�cula e, por fim, se rompe configurando um crosta", explicou o infectologista Rafael Galliez, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ.

Pelo protocolo da OMS, devem ser considerados suspeitos os casos em que o paciente tiver ao menos uma les�o na pele em qualquer parte de corpo e se enquadrar em um desses requisitos nos �ltimos 21 dias: hist�rico de viagem a pa�s com casos confirmados, contato com viajantes que estiveram nesses pa�s ou contato �ntimo com desconhecidos.

Diagn�stico e tratamento

O Laborat�rio Molecular de Virologia da UFRJ se firmou como um dos polos nacionais para diagn�stico da doen�a. O primeiro caso no estado do Rio de Janeiro foi detectado em 14 de junho, cinco dias depois da primeira ocorr�ncia no pa�s ser confirmada em S�o Paulo. De l� pra c�, j� s�o 117 resultados positivos no estado do Rio. Outros estados tamb�m t�m enviado  amostras para an�lise na UFRJ.

Essas an�lises s�o realizadas em fluidos coletados diretamente das les�es na pele, usando um swab [cotonete est�ril] seco. Existe a expectativa de que a popula��o tenha, em breve, acesso a testes r�pidos de detec��o de ant�genos, similar aos que foram feitos para a covid-19.

Mesmo nos quadros mais caracter�sticos, o exame � importante para confirmar an�lise cl�nica. Um desafio para a detec��o da doen�a � a semelhan�a de suas les�es com as provocadas pela varicela, doen�a popularmente conhecida como catapora e causada por um v�rus de outro grupo. A mudan�a de perfil dos sintomas tamb�m tem levantado um alerta de especialistas. Na var�ola dos macacos as erup��es costumavam surgir mais ou menos juntas e evolu�am no mesmo ritmo.

"Come�amos a ver casos com les�es �nicas, �s vezes na regi�o genital ou anal, �s vezes no l�bio, �s vezes na m�o. E tamb�m vemos les�es que aparecem em momentos diferentes, de forma mais parecida com a catapora. Esse padr�o � diferente do que se estudava sobre monkeypox", disse o infectologista Rafael.

Uma vez detectada a doen�a, o tratamento se baseia em suporte cl�nico e medica��o para al�vio da dor e da febre. Um antiviral chamado tecovirimat, que bloqueia a dissemina��o do v�rus, j� � usado em alguns pa�ses, mas ainda n�o est� dispon�vel no Brasil.

Segundo o m�dico, 10% dos pacientes t�m sido internados para o controle da dor, geralmente quando h� les�es no �nus, nas partes genitais ou nas mucosas orais, dificultando a degluti��o.

Preven��o e vacinas

A vigil�ncia para a r�pida identifica��o de novos casos e o isolamento dos infectados s�o fundamentais para se evitar a dissemina��o da doen�a. Pode ser necess�rio o per�odo de at� 40 dias para a retomada das atividades sociais. Mesmo que o paciente se sinta melhor, deve se manter enquanto ainda tiver erup��es na pele. "Na catapora, a les�o com crosta j� n�o transmite o v�rus. Na var�ola dos macacos, essa les�o transmite", acentuou Rafael.

O infectologista alertou para a import�ncia de se evitar contato com as pessoas que integram os grupos de risco. Segundo ele, embora existam poucos estudos de casos envolvendo gestantes, os resultados n�o s�o bons. "H� uma letalidade pedi�trica alta. Existe o que a gente chama de transmiss�o vertical, isto �, o acometimento do feto com danos graves: perda das estruturas da placenta e abortos espont�neos. Com o pouco que se sabe, � considerada uma doen�a obst�trica grave. Suspeitos de estarem contaminados devem ser orientados a evitar contato com qualquer pessoa que possa estar gr�vida", alertou.

Os especialistas da UFRJ tamb�m observaram que o uso de preservativo n�o previne a infec��o, j� que o intenso contato e a troca de fluidos corporais durante o ato sexual oferece diversas oportunidades para a transmiss�o do v�rus. Por outro lado, h� ind�cios de que as pessoas vacinadas contra a var�ola humana tenham prote��o contra a monkeypox.

Tamb�m sabe-se que sistema imunol�gico desenvolve prote��o cruzada contra os diferentes orthopoxv�rus. Isso significa que quem j� foi contaminado com a var�ola humana ou com a vaccinia, por exemplo, e possivelmente possui imunidade para a var�ola dos macacos. Foi com base nesse conhecimento que se criou a vacina antivari�lica. Embora voltado para combater a var�ola que acometia exclusivamente humanos e possu�a uma alta taxa de letalidade entre 30% e 40%, o imunizante foi desenvolvido a partir do v�rus da vaccinia, doen�a que costuma infectar o gado leiteiro e os ordenhadores.

Com a erradica��o da var�ola, a vacina��o foi suspensa em todo o mundo por volta de 1980. No Brasil, campanhas mais robustas ocorreram at� 1975, mas at� 1979 o imunizante era aplicado nos postos de sa�de. Os ind�cios apontam que quem nasceu antes dessa data e foi vacinado est� protegido contra a monkeypox. A m�dia de idade dos contaminados est� abaixo dos 38 anos.

Embora j� existam vacinas para ajudar no combate ao surto da var�ola dos macacos, n�o h� previs�o quanto a uma campanha para imuniza��o em massa.

A OMS orienta que se garanta a prote��o de profissionais de sa�de e pesquisadores laboratoriais. Para os demais grupos populacionais, a imuniza��o deve ser ap�s a exposi��o. Segundo a virologista Clarissa, trata-se de usar a estrat�gia de vacina��o em anel: s�o vacinadas pessoas que vivem e que tiveram contato com um paciente positivo na tentativa de bloquear a dissemina��o do v�rus. "Essa vacina funciona muito bem at� quatro dias p�s-infec��o", observou.

Clarissa acrescenta que n�o h� nesse momento vacina para todos e a produ��o mundial vai levar tempo. "Os fabricantes n�o tinham previs�o de produ��o para uma doen�a que afetasse o mundo todo. A produ��o era exclusivamente para estoque estrat�gico de pa�ses que tem programas de biodefesa. O Brasil, como v�rias outras na��es, n�o tem isso", explicou. Segundo Rafael, estudos j� mostraram a efic�cia da estrat�gia de vacina��o em anel em determinados cen�rios de surto.

Perfil dos infectados

Homens com menos de 40 anos representam a grande maioria dos infectados. Estudos no Reino Unido constataram que muitas v�timas se declaram homossexuais ou bissexuais. Os especialistas, no entanto, alertam que a var�ola dos macacos pode acometer qualquer pessoa e n�o apenas aquelas do sexo masculino com vida sexual ativa. Mulheres e adolescentes j� foram diagnosticados com a doen�a pelo Laborat�rio Molecular de Virologia da UFRJ.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, aconselhou esta semana que homens que fazem sexo com homens reduzam, neste momento, o n�mero de parceiros sexuais. Ao mesmo tempo, alertou que "estigma e discrimina��o podem ser t�o perigosos quanto qualquer v�rus e podem alimentar o surto".

Segundo o m�dico Amilcar Tanuri, a desinforma��o pode deixar a sociedade despreparada para lidar com o surto. "Isso nos remonta � hist�ria da AIDS e do HIV. No come�o, ficou um estigma que s� atrapalhou a preven��o da doen�a. Isso ocorre porque quando o v�rus entra por um grupo inicial leva um tempo at� se disseminar para outros grupos. Com o HIV come�ou assim. Depois se percebeu que os hemof�licos estavam com HIV, que as crian�as nasciam com HIV. N�o existe nenhuma evid�ncia biol�gica de que o v�rus da var�ola dos macacos seja espec�fico para um sexo. Ali�s, n�o sei que v�rus tem essa especificidade", finalizou.


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